sábado, 30 de novembro de 2019

Capítulo 16 – A linda e especial garota da assessoria - Livro: O livro do amor para os corações solitários


Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 16 – A linda e especial garota da assessoria



            Após o final da banda Máfia de Memphis em 2004, contrariando todas as minhas expectativas, acabei passando no vestibular, na Unesp, no curso de Desenho Industrial (depois o nome foi alterado para Design). Incrivelmente, não me apaixonei por nenhuma garota durante o referido período. Então, como o presente livro é sobre amor, eu não teria nada para comentar aqui referente aos anos Unesp. E, também, nem precisaria falar sobre o assunto, já que escrevi um livro falando somente dos meus anos na faculdade (vide o livro “A era do make in touch”, já publicado no presente blog).
            Em 2009 me formei e, já em 2010, fui trabalhar como designer “freelance”, além de também ministrar aulas particulares de informática. Foram dois trabalhos muito lucrativos, porém o grande problema eram as fases onde eu não tinha nenhum cliente ou aluno. Então, por volta do final de 2011, fiquei sabendo do serviço de cobrança (que era meio período) e mandei meu currículo para a MC. Passei na entrevista e comecei a trabalhar na referida assessoria, alguns dias depois. Portanto, minha vida ficou assim: de manhã eu dava aulas e trabalhava com meus projetos “freelance”, a tarde eu trabalhava na MC. Outro fato interessante é que eu usava cabelo comprido, até o ombro, mas acabei cortando assim que entrei na assessoria.
            E, na assessoria, acabei me apaixonando por uma garota muito especial.  Eu me lembro de olhar para aqueles corredores enormes, repletos de operadores de cobrança. E, no meio de todo aquele pessoal, eu só conseguia enxergar ela, a garota que eu amava, sua imagem em destaque no corredor. O presente capítulo vai ser um pouco diferente, pois não vou precisar escrever sobre a assessoria, já que está tudo escrito. Sim, eu tinha um diário onde eu falava sobre toda a minha vida na assessoria. E um diário bem completo e esclarecedor. Vou transcrever aqui as partes mais importantes e mais tocantes. Antes de tudo, gostaria de explicar a minha teoria sobre a “frieza benigna”, citada no diário. A “frieza benigna” é uma linha de pensamento, criada por mim, onde aplicamos em nossa própria personalidade uma frieza voltada para o bem, ou seja, uma frieza que nos proporciona serenidade e faz com que tenhamos a capacidade de resolver os problemas sem stress. Não é aquela frieza voltada para o mal (como a de um delinquente, por exemplo). A “frieza benigna” é a chave do mistério para toda a minha serenidade, que tanto as pessoas elogiam.
            Segue, então, a reprodução do diário:

            “Em um livro escrito em forma de diário, as coisas mais inesperadas podem acontecer. Mal eu havia me referido à “frieza benigna” (e elogiado a sua permanência, por tanto tempo, em minha vida) e ela, pela primeira vez, me abandonou. O leitor pode até não considerar o presente capítulo a coisa mais tocante já escrita, mas pelo menos tenha a certeza que eu realmente tive a intenção de fazer com que ele atingisse esse patamar. Eu gostaria, nesse momento, de estar em um futuro distante, lendo estas linhas (que já não seriam tão recentes) e apenas “relembrando” os fatos: até mesmo com uma certa saudade, mas, pelo menos, sem sofrimento. Mas não posso fugir da minha realidade, do meu presente e, assim, a tristeza é inevitável na narração dos acontecimentos. Apesar de tudo, devo admitir que não aconteceu nada de grave: realmente, por causa desse motivo, me referi ao futuro, como uma espécie de escapatória aos dilemas do presente. Conforme o ditado “só o tempo para curar as feridas”.
            (...)
            Como havia dito anteriormente, comecei um trabalho na área de cobrança, o qual não tem nada a ver com nada do que fiz em toda a minha vida (e, exatamente por isso, é um tipo de trabalho diferente, que me dá muito prazer).
             (...)
            A garota dos meus sonhos, a qual idealizei há cerca de dois anos atrás, simplesmente se materializou diante dos meus olhos!
            (...)
            A nossa amizade começou logo nas primeiras semanas de trabalho, de maneira inesperada. Ela sempre utilizou perfumes deliciosos e, em nosso primeiro contato, ela me perguntou se o seu perfume tinha um cheiro bom (pergunta óbvia, “claro que sim”, foi o que respondi). Ainda não sabia o seu nome e nem se ela trabalhava no meu setor. Poucos dias depois, eu estava em minha mesa de trabalho e ela resolveu ser um pouco mais ousada: “Moço, você pode amarrar a minha sandália?”. Corei com o pedido! Mas fiz o que ela pediu, de maneira respeitosa. Agradecida, ela por fim me disse: “Obrigado moço, não vou esquecer disso”. E assim, no decorrer dos dias, aos poucos, começou a minha amizade com Amy.
            (...)
            O que aconteceu foi o nascimento de uma grande amizade, uma união de espíritos simpáticos um em relação ao outro, uma irmandade realmente difícil de definir em palavras.
            (...)
Fora as suas “aprontações” no trabalho (sem nenhuma maldade) e o seu comportamento correto em relação aos relacionamentos, percebi uma certa insegurança da parte de Amy em certos aspectos: ela me contou que tinha a impressão de que todas as pessoas olhavam “feio” para ela, quando ela chegava ao ambiente de trabalho (preocupante, pois parecia o início de uma fobia social); quando ela mudava a cor de cabelo ou usava uma nova roupa, ela me perguntava várias vezes, no decorrer do dia, se ela estava com uma boa aparência (sempre estava bonita, mas era difícil convencê-la do fato); Amy tinha muitas dúvidas se ela era uma boa operadora de cobrança (por mais que os seus recebimentos fossem bons e eu afirmasse constantemente essa verdade para ela); certa vez, foi difícil convencê-la a participar de um café da manhã com a nossa equipe (prometi ficar ao lado dela o tempo inteiro, para lhe dar segurança, até que ela resolveu participar). E toda essa insegurança de Amy caminhava, lado a lado, com a sua alegria de viver, com a sua simpatia, com seu bom humor, com o seu bom relacionamento em relação à maior parte das pessoas...
(...)
Provavelmente, quase ninguém percebeu esse lado mais angustiado da minha amiga, pois a sua alegre personalidade predominava na sua convivência com as outras pessoas. Eram tantas conversas, tantas alegrias, tantas risadas: era impossível ficar de mau humor ao seu lado.
(...)
Quando Amy ficava irritada com alguma coisa relacionada ao trabalho, tomava algumas atitudes precipitadas que prejudicavam ela mesma (ir embora no meio do expediente, por exemplo). Mas eu acabei me tornando (com muito orgulho) uma espécie de anjo da guarda, que conseguia mantê-la no bom caminho (com meus conselhos, que, na maioria das vezes, ela concordava). Além disso, eu sempre procurava incentivar a minha amiga a seguir o caminho do conhecimento (ela tinha o sonho de ser técnica de enfermagem). Ainda no campo do conhecimento, lembro de uma ocasião em que ela me perguntou: “Bil, é verdade que as pessoas que gostam de rock fazem pactos com o demônio?”. Fiquei bastante triste com a pergunta, não tanto pelo fato de eu gostar de rock (e por essa história de pactos ser uma tremenda mentira), mas pelo fato de Amy estar tendo as suas ideias e, por que não dizer, a sua personalidade manipulada pelos líderes religiosos. Todos clamam pelo retorno de Jesus (por vários motivos), mas, no meu caso, a primeira coisa que me vêm na mente, relacionado a esse retorno, é o fim de toda essa “enganação” por parte das instituições religiosas. Tenho certeza que Jesus não deixaria “barato” toda essa “palhaçada” e mostraria, com toda a sua sabedoria, quais igrejas realmente agem de acordo com seus ensinamentos e quais as que enganam o povo com suas mentiras. Enfim, expliquei à ela que o rock, muitas vezes, pode se tornar um estilo de vida e, dessa maneira, os líderes religiosos tem medo que seus seguidores saiam da igreja para seguir o referido estilo (e por isso tentam difamar o rock). Para provar que os “pactos com demônio” não passam de um boato infundado, citei vários “rockeiros” que são cristãos e, por fim, falei de mim mesmo (que amo o rock e sou muito religioso, e isso eu digo na prática, não na teoria). Deixei claro, ainda, que não achava errado ela ir à igreja, caso ela tomasse essa atitude com muito senso crítico, ou seja, tendo em mente que o seu líder religioso (ou qualquer outro fiel de sua igreja) também é um ser humano de carne e osso, sujeito a erros ou interpretações erradas referente aos ensinamentos bíblicos. Por fim, disse que muitos líderes religiosos farão de tudo para que os seus fiéis não abandonem a sua igreja, pregando coisas erradas a respeito de outras igrejas (fugindo do princípio da tolerância religiosa), além de afastar as pessoas do caminho do verdadeiro conhecimento. Provavelmente, não consegui convencê-la de todos os pontos analisados, mas tentei fazer o possível. Para mim, que levo os preceitos religiosos a sério (não os rituais e tradições, mas sim o “amar o próximo”), é muito difícil ver vários de meus amigos subjugados por esse tipo de dominação religiosa (mais calcada em tradições do que em atitudes santas).
Depois de oito meses de uma convivência maravilhosa, eis que o destino me separaria da minha amiga Amy (chegamos, enfim, ao motivo de toda a minha tristeza). Há alguns meses atrás, ela já havia me avisado que gostaria de arranjar outro trabalho e, por fim, o dia chegou: Amy pediu a sua dispensa da Assessoria de Cobrança. Foi em uma quinta-feira, fiquei sabendo por intermédio das minhas duas queridas coordenadoras (Mi e Jor, que também adoravam ela). Não ocorreu, comigo, aquele lance de “ainda não caiu a ficha” e, assim, senti a dor da ausência da minha amiga na hora: fiquei amargurado automaticamente, com aquele nó na garganta o dia inteiro (sorte que eu consigo disfarçar e ninguém percebeu). Cheguei a comentar com as minhas amigas Ann e Sil o fato, mas não deixei transparecer toda a intensidade da dor que eu estava sentindo (apesar de ambas também estarem muito tristes pela partida de Amy). No final do dia, uma das meninas que trabalham no meu setor me entregou um pedacinho de papel com o telefone de minha tia, que havia ligado, e que precisava falar comigo com urgência. Tremi da cabeça aos pés, pois achei que alguém da minha família havia aprontado alguma (não preciso nem mencionar quem). Avisei Louis (o coordenador que estava cuidando da equipe) e ele permitiu que eu ligasse a partir do celular (DDR) da empresa. Estava tão nervoso que nem conseguia discar o número de telefone (Ann discou para mim) e, quando o telefone atendeu, ouvi uma voz dizendo: “Oi, bem!”. Pensei: “Amy sua doidinha!”. Ela ligou para dizer o quanto gostava de mim e como já estava sentindo saudades! Foi um alívio saber que não era nenhum problema familiar (ela disse que era minha tia só para disfarçar), além de ser muito reconfortante ouvir a voz da minha amiga novamente. Não conseguimos conversar muito, mas prometi ligar assim que chegasse em casa. E dessa maneira procedi. Pode ter sido apenas impressão minha, mas notei uma certa tristeza na voz de Amy. Ela disse que, no dia seguinte, ela estaria na empresa para acertar toda a documentação e poderíamos nos despedir. No final da ligação, ela me disse como foi difícil ter saído da empresa, pelo fato da nossa separação. Não aguentei e, assim que ela desligou, comecei a chorar de emoção!
Mas foi no dia seguinte (uma sexta) que as coisas começaram a ficar realmente tristes! Na parte da manhã, fui dar aula e tive que me conter para não chorar... Realmente, eu não estava me reconhecendo: sempre consegui conter as minhas emoções, mas era só lembrar de Amy que os meus olhos começavam a ficar marejados de lágrimas! Depois, uma pequena crise de ansiedade (que fazia tempos que eu não tinha, a última foi há aproximadamente, 3 anos) começou a trabalhar em seus efeitos colaterais. Infelizmente, não tive escolha: precisei tomar um calmante (a última vez que tomei um calmante, também foi há cerca de 3 anos atrás). Na empresa, apesar de eu tentar disfarçar a emoção de todas as maneiras (o calmante, muito fraco, não ajudou muito), Barô percebeu que havia algo errado comigo: “Você está muito abatido, Bil! Parece que está mais magro do que você já era!”. Realmente, eu estava me alimentado muito mal naquele dia, por causa da ansiedade. Mas não revelei, para minha amiga, o motivo do meu abatimento. Também não encontrei Amy naquela data (talvez ela tenha vindo em outro horário). Mas acredito que tenha sido melhor assim: não queria que minha amiga me visse naquele estado lamentável.
No sábado, um café da manhã (para mim, melancólico) foi realizado na empresa (inevitável a lembrança de Amy e do último café, evento que ela participou). Na parte da noite, foi aniversário da afilhada de Carl e Bibi, a pequena Raf. Foi reconfortante rever os amigos novamente mas, num certo momento, tive que contar à Cyrinda o que eu estava sentindo. Ela me disse que havia passado pelo mesmo problema (inclusive, quando também trabalhava em outra empresa de cobrança): ela tinha uma amiga muito próxima, que também abandonou o serviço. Esse fato, aliás, foi o “estopim” para que Cyrinda pedisse demissão, algum tempo depois. O que me tranquilizou um pouco foi que ela me contou que, nos primeiros dias, a tristeza também a consumiu e fez com que ela chorasse muito, mas depois de um tempo restou apenas uma saudade que foi se amenizando, à medida que os dias passavam. Fato bastante coerente: afinal, não aconteceu nenhuma tragédia, apenas uma mudança de emprego, no caso de nossas amigas. Foi um alívio saber que eu não estava “ficando louco” e que a partida de pessoas queridas do nosso meio, realmente, pode causar um grande sofrimento para outras pessoas também (e não só comigo, que já não estava me reconhecendo por causa de todo esse estado de ansiedade). Quando a festa terminou, passei com o meu carro em frente à assessoria de cobrança (meu querido emprego que, até agora, só havia me trazido alegria) e, pela primeira vez, olhei a fachada da empresa com um certo desgosto (não pelo trabalho em si, que eu adoro, mas pela ausência de Amy). Lembrei de uma ocasião, há alguns meses atrás, onde ela estava passando mal, com cólicas, e me pediu um remédio (que eu tomava quando tinha dores estomacais). Dei o remédio à minha amiga, me despedi (já era o final do expediente) e tive vontade de chorar, quando vi sua imagem desaparecendo no final da rua escura, enquanto ela se encaminhava ao seu ponto de ônibus. Apesar de não ser nenhum problema de saúde grave (quem nunca teve cólicas?), ainda assim fiquei com pena de vê-la naquela situação, pois eu realmente me preocupava com ela e, qualquer sofrimento seu, por menor que fosse, já era suficiente para alterar meu estado de espírito. A frase de Exupéry (“você se torna eternamente responsável por aquilo que você cativa”), por mais tradicional que seja, fez todo o sentido nessa ocasião. Foi inevitável lembrar, também, de dois momentos felizes da semana anterior (que precederam a partida de Amy) e ficar indignado pelo fato das coisas terem mudado da “água para o vinho”, da felicidade para a tristeza, de maneira tão brusca. O primeiro momento foi na quarta à noite, onde eu e meu irmão assistimos, pela Televisão, nosso time de futebol ganhar a sua primeira taça Libertadores da América. A felicidade não foi só pela vitória, mas também pela sensação de conforto em estar na minha própria casa, na companhia do meu irmão (e também da minha mãe, apesar da mesma estar dormindo), juntamente com os nossos bichanos (Melody, Jean e Jane), assistindo a partida, torcendo, vibrando, me divertindo, enfim, sentindo que faço parte de um lar. O segundo momento feliz aconteceu no sábado, onde nos reunimos, no apartamento de Carl e Bibi, para assistir a luta “Silva x Sonnen” (estavam presentes eu, Cyrinda, Felícia Mendel, Felícia Nelly, além de Carl e Bibi, é claro).
(...)
Mas, infelizmente, Amy partiu e a tristeza tomou conta da minha vida. Passou a segunda, a terça e na quarta-feira a tristeza ainda não havia amenizado. Para falar a verdade, a situação ficou ainda pior: Ann (que, assim como Amy, é uma das minhas melhores amigas) mudou para o turno da manhã e Sam (que é o melhor amigo) “desapareceu” nestes últimos (e tristes) dias (pensei que o mesmo tivesse “pedido a conta” no serviço).  Resumindo: eu estava me sentindo a pessoa mais solitária do universo. De quebra, para piorar ainda mais toda a minha situação, fui transferido da equipe das minhas coordenadoras Mi e Jor (pessoas que eu adorava e me dava bem) para trabalhar em outra equipe, com um equipamento que eu não sabia manejar (chamado “altitude”). Mas, surpreendentemente, um duro golpe (bem pior do que tudo o que havia acontecido até agora) fez com que eu conseguisse me recompor (mais uma velha frase, “alguns males vêm para o bem”, pode ser aplicada na situação que relatarei a seguir). Um amigo dos tempos em que eu trabalhava na empresa de autopeças, o policial Ker, também estava trabalhando, agora, na assessoria, na parte de segurança. Foi com grande contentamento que pude revê-lo e ele, simpático como sempre, também havia feito amizade com Amy e minhas outras amigas. Na quarta-feira, a qual eu estava me referindo, ele me contou que havia encontrado Amy em outra ocasião (ela realmente veio na sexta-feira, só que em outro horário). E Ker, com o seu jeito irreverente e brincalhão, havia dito à Amy que eu estava sentindo a sua falta (óbvio), pois eu dava risada com ela o dia inteiro. Ker disse, ainda, que Amy interpretou a última informação de maneira equivocada (por mais que ele tenha tentado deixar claro que ela estava tirando conclusões precipitadas). Amy achou que eu a considerava apenas como uma “comediante” da turma, uma pessoa que só servia para fazer os outros rirem e nada mais. Meu Deus! Que ironia do destino! Eu sofrendo como um “condenado” por causa da ausência da minha amiga e ela pensando que eu estava menosprezando a sua amizade! A tristeza acabou se convertendo em raiva, não por Amy pensar assim ou por Ker, talvez, ter se expressado mal. A raiva foi contra o próprio mundo, pelo funcionamento das suas próprias coisas e pela “lógica” que, às vezes, aparece apenas para nos levar à ruína. Todavia, esse fato desagradável foi a melhor coisa que poderia ter acontecido (recapitulando, “alguns males vêm para o bem”). Como eu já havia dito em outras publicações, é muito melhor ter raiva do que estar depressivo, já que a raiva nos encoraja a agir diante das adversidades, enquanto a depressão nos deixa prostrados, sem ação. Assim, mandei uma mensagem para Amy, utilizando meu celular, apenas com a palavra “Saudade”. Não deu outra: no final do expediente, Amy (agora disfarçada de cliente) me ligou (para dizer o quanto sentia a minha falta) e eu, tentando disfarçar o melhor que pude, disse que ligaria para ela depois do expediente. Assim procedi, percebendo, dessa vez, que Amy estava muito animada, pois havia conseguido um novo emprego (que ela pediu para não revelar para ninguém, por enquanto). E o melhor: não estava nem um pouco chateada comigo, fato que foi um alívio e que acabou dissipando a minha tristeza. Afinal, é muito melhor ter uma amiga distante que goste de você do que outra, na mesma situação, que esteja com raiva de você sem motivo.
Fui escrevendo o presente capítulo aos poucos, de modo que, ao final dessas linhas, a “frieza benigna” retornou para perto de mim, ou seja, o futuro, o qual me referi no primeiro parágrafo (futuro nem tão distante assim) acabou amenizando toda a minha tristeza (da maneira que eu desejava). As coisas finalmente se acertaram: Sam retornou (havia apenas ganhado uma “licença-prêmio”, por isso estava afastado da empresa), Ann e eu ainda continuamos nos vendo (nos encontramos nas trocas de turno) e Lenny agora é o meu coordenador (tão bacana e simpático quanto Mi e Jor). Quanto à Amy, nunca mais a vi pessoalmente, após a sua saída da Assessoria (apesar de termos conversado outras vezes por telefone e ter trocado mensagens de celular). Curiosamente, após a sua partida, algumas coisas desagradáveis começaram a acontecer no ambiente de trabalho (por exemplo, alguns desentendimentos entre pessoas que se davam bem). Não pude deixar de lembrar que, no tempo que Amy estava conosco, os mesmos eram raros (pelo menos, no nosso setor). Será que Amy possuía uma espécie de santidade que fazia com que o ambiente ficasse agradável e acolhedor, evitando os conflitos? Para mim, foi inevitável pensar nessa possibilidade, ocasionada por uma das amigas mais incríveis e fiéis que eu conheci nessa vida... De qualquer maneira, não posso citar aquele velho ditado “eu era feliz e não sabia” ou “não aproveitei a felicidade enquanto ela ainda estava ao meu alcance”. Pelo contrário: durante a convivência com Amy, estive sempre consciente de estar vivendo uma das melhores épocas da minha existência. Apenas contemplando o céu azul e a estranha percepção de sua beleza, a qual me trouxe muitas memórias da infância perdida, eu sabia que eu não estava enganado em relação a todo esse período especial, proporcionado pela presença da minha amiga em minha vida.  É por essa razão que, sempre quando penso nela, eu posso sentir a mesma felicidade dos velhos tempos, como se os mesmos ainda fizessem parte do meu cotidiano e jamais fossem me abandonar... Tenho certeza que Amy também pensa em mim: assim, a sensação de ser amado é fundamental para que eu tenha coragem para continuar seguindo em frente, não importa em que sentido... Simplesmente seguindo em frente... Seguindo em frente para sempre...”

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