Livro: O livro do
amor para os corações solitários
Capítulo
16 – A linda e especial garota da assessoria
Após o final da banda Máfia de
Memphis em 2004, contrariando todas as minhas expectativas, acabei passando no
vestibular, na Unesp, no curso de Desenho Industrial (depois o nome foi
alterado para Design). Incrivelmente, não me apaixonei por nenhuma garota
durante o referido período. Então, como o presente livro é sobre amor, eu não
teria nada para comentar aqui referente aos anos Unesp. E, também, nem
precisaria falar sobre o assunto, já que escrevi um livro falando somente dos
meus anos na faculdade (vide o livro “A era do make in touch”, já publicado no
presente blog).
Em 2009 me formei e, já em 2010, fui
trabalhar como designer “freelance”, além de também ministrar aulas
particulares de informática. Foram dois trabalhos muito lucrativos, porém o
grande problema eram as fases onde eu não tinha nenhum cliente ou aluno. Então,
por volta do final de 2011, fiquei sabendo do serviço de cobrança (que era meio
período) e mandei meu currículo para a MC. Passei na entrevista e comecei a
trabalhar na referida assessoria, alguns dias depois. Portanto, minha vida
ficou assim: de manhã eu dava aulas e trabalhava com meus projetos “freelance”,
a tarde eu trabalhava na MC. Outro fato interessante é que eu usava cabelo
comprido, até o ombro, mas acabei cortando assim que entrei na assessoria.
E, na assessoria, acabei me
apaixonando por uma garota muito especial.
Eu me lembro de olhar para aqueles corredores enormes, repletos de
operadores de cobrança. E, no meio de todo aquele pessoal, eu só conseguia
enxergar ela, a garota que eu amava, sua imagem em destaque no corredor. O
presente capítulo vai ser um pouco diferente, pois não vou precisar escrever
sobre a assessoria, já que está tudo escrito. Sim, eu tinha um diário onde eu
falava sobre toda a minha vida na assessoria. E um diário bem completo e
esclarecedor. Vou transcrever aqui as partes mais importantes e mais tocantes. Antes
de tudo, gostaria de explicar a minha teoria sobre a “frieza benigna”, citada
no diário. A “frieza benigna” é uma linha de pensamento, criada por mim, onde
aplicamos em nossa própria personalidade uma frieza voltada para o bem, ou
seja, uma frieza que nos proporciona serenidade e faz com que tenhamos a
capacidade de resolver os problemas sem stress. Não é aquela frieza voltada
para o mal (como a de um delinquente, por exemplo). A “frieza benigna” é a
chave do mistério para toda a minha serenidade, que tanto as pessoas elogiam.
Segue, então, a reprodução do diário:
“Em um livro escrito em forma de
diário, as coisas mais inesperadas podem acontecer. Mal eu havia me referido à “frieza
benigna” (e elogiado a sua permanência, por tanto tempo, em minha vida) e ela,
pela primeira vez, me abandonou. O leitor pode até não considerar o presente
capítulo a coisa mais tocante já escrita, mas pelo menos tenha a certeza que eu
realmente tive a intenção de fazer com que ele atingisse esse patamar. Eu
gostaria, nesse momento, de estar em um futuro distante, lendo estas linhas
(que já não seriam tão recentes) e apenas “relembrando” os fatos: até mesmo com
uma certa saudade, mas, pelo menos, sem sofrimento. Mas não posso fugir da
minha realidade, do meu presente e, assim, a tristeza é inevitável na narração
dos acontecimentos. Apesar de tudo, devo admitir que não aconteceu nada de
grave: realmente, por causa desse motivo, me referi ao futuro, como uma espécie
de escapatória aos dilemas do presente. Conforme o ditado “só o tempo para
curar as feridas”.
(...)
Como havia dito anteriormente,
comecei um trabalho na área de cobrança, o qual não tem nada a ver com nada do
que fiz em toda a minha vida (e, exatamente por isso, é um tipo de trabalho
diferente, que me dá muito prazer).
(...)
A garota dos meus sonhos, a qual
idealizei há cerca de dois anos atrás, simplesmente se materializou diante dos
meus olhos!
(...)
A nossa amizade começou logo nas
primeiras semanas de trabalho, de maneira inesperada. Ela sempre utilizou
perfumes deliciosos e, em nosso primeiro contato, ela me perguntou se o seu
perfume tinha um cheiro bom (pergunta óbvia, “claro que sim”, foi o que
respondi). Ainda não sabia o seu nome e nem se ela trabalhava no meu setor.
Poucos dias depois, eu estava em minha mesa de trabalho e ela resolveu ser um
pouco mais ousada: “Moço, você pode amarrar a minha sandália?”. Corei com o
pedido! Mas fiz o que ela pediu, de maneira respeitosa. Agradecida, ela por fim
me disse: “Obrigado moço, não vou esquecer disso”. E assim, no decorrer dos
dias, aos poucos, começou a minha amizade com Amy.
(...)
O que aconteceu foi o nascimento de
uma grande amizade, uma união de espíritos simpáticos um em relação ao outro,
uma irmandade realmente difícil de definir em palavras.
(...)
Fora
as suas “aprontações” no trabalho (sem nenhuma maldade) e o seu comportamento
correto em relação aos relacionamentos, percebi uma certa insegurança da parte
de Amy em certos aspectos: ela me contou que tinha a impressão de que todas as
pessoas olhavam “feio” para ela, quando ela chegava ao ambiente de trabalho
(preocupante, pois parecia o início de uma fobia social); quando ela mudava a
cor de cabelo ou usava uma nova roupa, ela me perguntava várias vezes, no
decorrer do dia, se ela estava com uma boa aparência (sempre estava bonita, mas
era difícil convencê-la do fato); Amy tinha muitas dúvidas se ela era uma boa
operadora de cobrança (por mais que os seus recebimentos fossem bons e eu
afirmasse constantemente essa verdade para ela); certa vez, foi difícil
convencê-la a participar de um café da manhã com a nossa equipe (prometi ficar
ao lado dela o tempo inteiro, para lhe dar segurança, até que ela resolveu
participar). E toda essa insegurança de Amy caminhava, lado a lado, com a sua
alegria de viver, com a sua simpatia, com seu bom humor, com o seu bom
relacionamento em relação à maior parte das pessoas...
(...)
Provavelmente,
quase ninguém percebeu esse lado mais angustiado da minha amiga, pois a sua
alegre personalidade predominava na sua convivência com as outras pessoas. Eram
tantas conversas, tantas alegrias, tantas risadas: era impossível ficar de mau
humor ao seu lado.
(...)
Quando
Amy ficava irritada com alguma coisa relacionada ao trabalho, tomava algumas
atitudes precipitadas que prejudicavam ela mesma (ir embora no meio do
expediente, por exemplo). Mas eu acabei me tornando (com muito orgulho) uma
espécie de anjo da guarda, que conseguia mantê-la no bom caminho (com meus
conselhos, que, na maioria das vezes, ela concordava). Além disso, eu sempre
procurava incentivar a minha amiga a seguir o caminho do conhecimento (ela
tinha o sonho de ser técnica de enfermagem). Ainda no campo do conhecimento,
lembro de uma ocasião em que ela me perguntou: “Bil, é verdade que as pessoas
que gostam de rock fazem pactos com o demônio?”. Fiquei bastante triste com a
pergunta, não tanto pelo fato de eu gostar de rock (e por essa história de
pactos ser uma tremenda mentira), mas pelo fato de Amy estar tendo as suas
ideias e, por que não dizer, a sua personalidade manipulada pelos líderes
religiosos. Todos clamam pelo retorno de Jesus (por vários motivos), mas, no
meu caso, a primeira coisa que me vêm na mente, relacionado a esse retorno, é o
fim de toda essa “enganação” por parte das instituições religiosas. Tenho
certeza que Jesus não deixaria “barato” toda essa “palhaçada” e mostraria, com
toda a sua sabedoria, quais igrejas realmente agem de acordo com seus
ensinamentos e quais as que enganam o povo com suas mentiras. Enfim, expliquei
à ela que o rock, muitas vezes, pode se tornar um estilo de vida e, dessa
maneira, os líderes religiosos tem medo que seus seguidores saiam da igreja
para seguir o referido estilo (e por isso tentam difamar o rock). Para provar
que os “pactos com demônio” não passam de um boato infundado, citei vários
“rockeiros” que são cristãos e, por fim, falei de mim mesmo (que amo o rock e
sou muito religioso, e isso eu digo na prática, não na teoria). Deixei claro,
ainda, que não achava errado ela ir à igreja, caso ela tomasse essa atitude com
muito senso crítico, ou seja, tendo em mente que o seu líder religioso (ou
qualquer outro fiel de sua igreja) também é um ser humano de carne e osso,
sujeito a erros ou interpretações erradas referente aos ensinamentos bíblicos.
Por fim, disse que muitos líderes religiosos farão de tudo para que os seus
fiéis não abandonem a sua igreja, pregando coisas erradas a respeito de outras
igrejas (fugindo do princípio da tolerância religiosa), além de afastar as
pessoas do caminho do verdadeiro conhecimento. Provavelmente, não consegui
convencê-la de todos os pontos analisados, mas tentei fazer o possível. Para
mim, que levo os preceitos religiosos a sério (não os rituais e tradições, mas
sim o “amar o próximo”), é muito difícil ver vários de meus amigos subjugados
por esse tipo de dominação religiosa (mais calcada em tradições do que em
atitudes santas).
Depois
de oito meses de uma convivência maravilhosa, eis que o destino me separaria da
minha amiga Amy (chegamos, enfim, ao motivo de toda a minha tristeza). Há
alguns meses atrás, ela já havia me avisado que gostaria de arranjar outro
trabalho e, por fim, o dia chegou: Amy pediu a sua dispensa da Assessoria de
Cobrança. Foi em uma quinta-feira, fiquei sabendo por intermédio das minhas
duas queridas coordenadoras (Mi e Jor, que também adoravam ela). Não ocorreu,
comigo, aquele lance de “ainda não caiu a ficha” e, assim, senti a dor da
ausência da minha amiga na hora: fiquei amargurado automaticamente, com aquele
nó na garganta o dia inteiro (sorte que eu consigo disfarçar e ninguém
percebeu). Cheguei a comentar com as minhas amigas Ann e Sil o fato, mas não
deixei transparecer toda a intensidade da dor que eu estava sentindo (apesar de
ambas também estarem muito tristes pela partida de Amy). No final do dia, uma
das meninas que trabalham no meu setor me entregou um pedacinho de papel com o
telefone de minha tia, que havia ligado, e que precisava falar comigo com
urgência. Tremi da cabeça aos pés, pois achei que alguém da minha família havia
aprontado alguma (não preciso nem mencionar quem). Avisei Louis (o coordenador
que estava cuidando da equipe) e ele permitiu que eu ligasse a partir do
celular (DDR) da empresa. Estava tão nervoso que nem conseguia discar o número
de telefone (Ann discou para mim) e, quando o telefone atendeu, ouvi uma voz
dizendo: “Oi, bem!”. Pensei: “Amy sua doidinha!”. Ela ligou para dizer o quanto
gostava de mim e como já estava sentindo saudades! Foi um alívio saber que não
era nenhum problema familiar (ela disse que era minha tia só para disfarçar),
além de ser muito reconfortante ouvir a voz da minha amiga novamente. Não
conseguimos conversar muito, mas prometi ligar assim que chegasse em casa. E
dessa maneira procedi. Pode ter sido apenas impressão minha, mas notei uma
certa tristeza na voz de Amy. Ela disse que, no dia seguinte, ela estaria na
empresa para acertar toda a documentação e poderíamos nos despedir. No final da
ligação, ela me disse como foi difícil ter saído da empresa, pelo fato da nossa
separação. Não aguentei e, assim que ela desligou, comecei a chorar de emoção!
Mas
foi no dia seguinte (uma sexta) que as coisas começaram a ficar realmente
tristes! Na parte da manhã, fui dar aula e tive que me conter para não
chorar... Realmente, eu não estava me reconhecendo: sempre consegui conter as
minhas emoções, mas era só lembrar de Amy que os meus olhos começavam a ficar
marejados de lágrimas! Depois, uma pequena crise de ansiedade (que fazia tempos
que eu não tinha, a última foi há aproximadamente, 3 anos) começou a trabalhar
em seus efeitos colaterais. Infelizmente, não tive escolha: precisei tomar um
calmante (a última vez que tomei um calmante, também foi há cerca de 3 anos
atrás). Na empresa, apesar de eu tentar disfarçar a emoção de todas as maneiras
(o calmante, muito fraco, não ajudou muito), Barô percebeu que havia algo
errado comigo: “Você está muito abatido, Bil! Parece que está mais magro do que
você já era!”. Realmente, eu estava me alimentado muito mal naquele dia, por
causa da ansiedade. Mas não revelei, para minha amiga, o motivo do meu
abatimento. Também não encontrei Amy naquela data (talvez ela tenha vindo em
outro horário). Mas acredito que tenha sido melhor assim: não queria que minha
amiga me visse naquele estado lamentável.
No
sábado, um café da manhã (para mim, melancólico) foi realizado na empresa (inevitável
a lembrança de Amy e do último café, evento que ela participou). Na parte da
noite, foi aniversário da afilhada de Carl e Bibi, a pequena Raf. Foi
reconfortante rever os amigos novamente mas, num certo momento, tive que contar
à Cyrinda o que eu estava sentindo. Ela me disse que havia passado pelo mesmo
problema (inclusive, quando também trabalhava em outra empresa de cobrança):
ela tinha uma amiga muito próxima, que também abandonou o serviço. Esse fato,
aliás, foi o “estopim” para que Cyrinda pedisse demissão, algum tempo depois. O
que me tranquilizou um pouco foi que ela me contou que, nos primeiros dias, a
tristeza também a consumiu e fez com que ela chorasse muito, mas depois de um
tempo restou apenas uma saudade que foi se amenizando, à medida que os dias
passavam. Fato bastante coerente: afinal, não aconteceu nenhuma tragédia,
apenas uma mudança de emprego, no caso de nossas amigas. Foi um alívio saber
que eu não estava “ficando louco” e que a partida de pessoas queridas do nosso
meio, realmente, pode causar um grande sofrimento para outras pessoas também (e
não só comigo, que já não estava me reconhecendo por causa de todo esse estado
de ansiedade). Quando a festa terminou, passei com o meu carro em frente à
assessoria de cobrança (meu querido emprego que, até agora, só havia me trazido
alegria) e, pela primeira vez, olhei a fachada da empresa com um certo desgosto
(não pelo trabalho em si, que eu adoro, mas pela ausência de Amy). Lembrei de
uma ocasião, há alguns meses atrás, onde ela estava passando mal, com cólicas,
e me pediu um remédio (que eu tomava quando tinha dores estomacais). Dei o
remédio à minha amiga, me despedi (já era o final do expediente) e tive vontade
de chorar, quando vi sua imagem desaparecendo no final da rua escura, enquanto
ela se encaminhava ao seu ponto de ônibus. Apesar de não ser nenhum problema de
saúde grave (quem nunca teve cólicas?), ainda assim fiquei com pena de vê-la
naquela situação, pois eu realmente me preocupava com ela e, qualquer
sofrimento seu, por menor que fosse, já era suficiente para alterar meu estado
de espírito. A frase de Exupéry (“você se torna eternamente responsável por
aquilo que você cativa”), por mais tradicional que seja, fez todo o sentido
nessa ocasião. Foi inevitável lembrar, também, de dois momentos felizes da
semana anterior (que precederam a partida de Amy) e ficar indignado pelo fato
das coisas terem mudado da “água para o vinho”, da felicidade para a tristeza,
de maneira tão brusca. O primeiro momento foi na quarta à noite, onde eu e meu
irmão assistimos, pela Televisão, nosso time de futebol ganhar a sua primeira
taça Libertadores da América. A felicidade não foi só pela vitória, mas também
pela sensação de conforto em estar na minha própria casa, na companhia do meu
irmão (e também da minha mãe, apesar da mesma estar dormindo), juntamente com
os nossos bichanos (Melody, Jean e Jane), assistindo a partida, torcendo,
vibrando, me divertindo, enfim, sentindo que faço parte de um lar. O segundo
momento feliz aconteceu no sábado, onde nos reunimos, no apartamento de Carl e
Bibi, para assistir a luta “Silva x Sonnen” (estavam presentes eu, Cyrinda, Felícia
Mendel, Felícia Nelly, além de Carl e Bibi, é claro).
(...)
Mas,
infelizmente, Amy partiu e a tristeza tomou conta da minha vida. Passou a
segunda, a terça e na quarta-feira a tristeza ainda não havia amenizado. Para
falar a verdade, a situação ficou ainda pior: Ann (que, assim como Amy, é uma
das minhas melhores amigas) mudou para o turno da manhã e Sam (que é o melhor
amigo) “desapareceu” nestes últimos (e tristes) dias (pensei que o mesmo
tivesse “pedido a conta” no serviço).
Resumindo: eu estava me sentindo a pessoa mais solitária do universo. De
quebra, para piorar ainda mais toda a minha situação, fui transferido da equipe
das minhas coordenadoras Mi e Jor (pessoas que eu adorava e me dava bem) para
trabalhar em outra equipe, com um equipamento que eu não sabia manejar (chamado
“altitude”). Mas, surpreendentemente, um duro golpe (bem pior do que tudo o que
havia acontecido até agora) fez com que eu conseguisse me recompor (mais uma
velha frase, “alguns males vêm para o bem”, pode ser aplicada na situação que
relatarei a seguir). Um amigo dos tempos em que eu trabalhava na empresa de
autopeças, o policial Ker, também estava trabalhando, agora, na assessoria, na
parte de segurança. Foi com grande contentamento que pude revê-lo e ele,
simpático como sempre, também havia feito amizade com Amy e minhas outras
amigas. Na quarta-feira, a qual eu estava me referindo, ele me contou que havia
encontrado Amy em outra ocasião (ela realmente veio na sexta-feira, só que em
outro horário). E Ker, com o seu jeito irreverente e brincalhão, havia dito à Amy
que eu estava sentindo a sua falta (óbvio), pois eu dava risada com ela o dia
inteiro. Ker disse, ainda, que Amy interpretou a última informação de maneira
equivocada (por mais que ele tenha tentado deixar claro que ela estava tirando
conclusões precipitadas). Amy achou que eu a considerava apenas como uma
“comediante” da turma, uma pessoa que só servia para fazer os outros rirem e
nada mais. Meu Deus! Que ironia do destino! Eu sofrendo como um “condenado” por
causa da ausência da minha amiga e ela pensando que eu estava menosprezando a
sua amizade! A tristeza acabou se convertendo em raiva, não por Amy pensar
assim ou por Ker, talvez, ter se expressado mal. A raiva foi contra o próprio
mundo, pelo funcionamento das suas próprias coisas e pela “lógica” que, às
vezes, aparece apenas para nos levar à ruína. Todavia, esse fato desagradável
foi a melhor coisa que poderia ter acontecido (recapitulando, “alguns males vêm
para o bem”). Como eu já havia dito em outras publicações, é muito melhor ter
raiva do que estar depressivo, já que a raiva nos encoraja a agir diante das
adversidades, enquanto a depressão nos deixa prostrados, sem ação. Assim,
mandei uma mensagem para Amy, utilizando meu celular, apenas com a palavra
“Saudade”. Não deu outra: no final do expediente, Amy (agora disfarçada de
cliente) me ligou (para dizer o quanto sentia a minha falta) e eu, tentando
disfarçar o melhor que pude, disse que ligaria para ela depois do expediente.
Assim procedi, percebendo, dessa vez, que Amy estava muito animada, pois havia
conseguido um novo emprego (que ela pediu para não revelar para ninguém, por
enquanto). E o melhor: não estava nem um pouco chateada comigo, fato que foi um
alívio e que acabou dissipando a minha tristeza. Afinal, é muito melhor ter uma
amiga distante que goste de você do que outra, na mesma situação, que esteja
com raiva de você sem motivo.
Fui
escrevendo o presente capítulo aos poucos, de modo que, ao final dessas linhas,
a “frieza benigna” retornou para perto de mim, ou seja, o futuro, o qual me referi
no primeiro parágrafo (futuro nem tão distante assim) acabou amenizando toda a
minha tristeza (da maneira que eu desejava). As coisas finalmente se acertaram:
Sam retornou (havia apenas ganhado uma “licença-prêmio”, por isso estava
afastado da empresa), Ann e eu ainda continuamos nos vendo (nos encontramos nas
trocas de turno) e Lenny agora é o meu coordenador (tão bacana e simpático
quanto Mi e Jor). Quanto à Amy, nunca mais a vi pessoalmente, após a sua saída
da Assessoria (apesar de termos conversado outras vezes por telefone e ter
trocado mensagens de celular). Curiosamente, após a sua partida, algumas coisas
desagradáveis começaram a acontecer no ambiente de trabalho (por exemplo,
alguns desentendimentos entre pessoas que se davam bem). Não pude deixar de
lembrar que, no tempo que Amy estava conosco, os mesmos eram raros (pelo menos,
no nosso setor). Será que Amy possuía uma espécie de santidade que fazia com
que o ambiente ficasse agradável e acolhedor, evitando os conflitos? Para mim,
foi inevitável pensar nessa possibilidade, ocasionada por uma das amigas mais
incríveis e fiéis que eu conheci nessa vida... De qualquer maneira, não posso
citar aquele velho ditado “eu era feliz e não sabia” ou “não aproveitei a
felicidade enquanto ela ainda estava ao meu alcance”. Pelo contrário: durante a
convivência com Amy, estive sempre consciente de estar vivendo uma das melhores
épocas da minha existência. Apenas contemplando o céu azul e a estranha
percepção de sua beleza, a qual me trouxe muitas memórias da infância perdida,
eu sabia que eu não estava enganado em relação a todo esse período especial,
proporcionado pela presença da minha amiga em minha vida. É por essa razão que, sempre quando penso
nela, eu posso sentir a mesma felicidade dos velhos tempos, como se os mesmos
ainda fizessem parte do meu cotidiano e jamais fossem me abandonar... Tenho
certeza que Amy também pensa em mim: assim, a sensação de ser amado é
fundamental para que eu tenha coragem para continuar seguindo em frente, não
importa em que sentido... Simplesmente seguindo em frente... Seguindo em frente
para sempre...”
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