domingo, 11 de dezembro de 2011

Capítulo 12 – A personagem que deveria estar no inferno (e não no meu livro) - Livro: "A Era do 'Make in Touch' - Os anos Unesp sem censura"


Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"
 
Capítulo 12 – A personagem que deveria estar no inferno (e não no meu livro)



          Publicar ou não publicar? Eis a questão, que surge quando eu penso no primeiro livro que escrevi, chamado “Cicatrizar e Recomeçar”. É um livro que eu adoro, mas a ideia de divulgá-lo (seja no blog, seja para os amigos) me causa calafrios. “Cicatrizar e Recomeçar” contém um relato que abrange a época entre 1982 e 2005 (ou seja, os fatos apresentados no presente livro, “A era do Make In Touch”, podem ser encaixados logo após “Cicatrizar e Recomeçar”; resumindo, um é continuação do outro). Mas, qual o motivo de todo esse receio? O que o livro apresenta “de errado”? Na verdade, não apresenta “nada de errado” (e é justamente esse o motivo do referido receio). Vou explicar melhor...

          Certa vez, no segundo ano de faculdade (cujo relato está próximo, levando em consideração a cronologia do presente livro), o nosso professor de semiótica (Joe Vincent) disse algo muito interessante, “mais ou menos” com essas palavras: “Eu não reprovo nenhum aluno. Na verdade, o aluno que se reprova. Se ele falta à aula, eu apenas marco a falta dele em meu relatório. Se eu peço algum trabalho, eu apenas registro, em meu relatório, se ele entregou ou não o que eu pedi. No final do semestre, eu analiso todas essas informações e verifico se o aluno passou ou não”. Pois bem: aí está explicado todo o processo que eu utilizei para escrever “Cicatrizar e Recomeçar”. Ou seja, eu apenas relatei o que aconteceu: se alguém se portou mal (ou me prejudicou de alguma maneira, me deixando magoado), eu apenas relatei o que essa pessoa fez. Se alguém me dissesse “Ah, mas veja bem, você não poderia ter registrado isso publicamente, você expôs o que eu fiz para você no passado”, eu poderia responder “E você não deveria ter feito o que fez, me prejudicando; foi você quem escreveu a sua própria história; eu sou um escritor, e toda a “matéria prima” do que eu escrevo estão nos acontecimentos do meu passado; assim, todas as coisas (boas ou ruins) que você me fez agora me pertencem”. Dessa maneira, eu não deveria ter o menor receio de escrever sobre os referidos assuntos, já que todos eles formam a história da minha vida. Mas, confesso, como disse anteriormente, que eu realmente tenho o referido receio, justamente pelo fato das pessoas acharem que eu relatei tudo apenas por vingança ou para denegrir a imagem das mesmas. E o pior: boa parte dos meus personagens (até os que me fizeram mal no passado), hoje são meus amigos (mesmo os que sejam amigos apenas “via facebook” ou “orkut”). Ou seja, não restou nenhuma mágoa de minha parte em relação aos mesmos: os meus relatos em “Cicatrizar e Recomeçar” estão presentes apenas por ter sido interessantes, e não possuem a intenção de prejudicar ninguém (e nem poderia, já que o nome dos personagens estão todos ocultos, por meio de pseudônimos).

        No processo de escrita do meu livro “Diários de Billy Winston” (e, agora, que escrevo “A era do Make in Touch”) percebi que os meus relatos pareciam estar mais amenos e maleáveis em relação aos personagens, e atribuí esse fato à minha maturidade, à minha visão de mundo (mais realista) e à minha crescente admiração pelo ser humano (e pelo seu criador, Deus). Depois de um tempo, pensando melhor, concluí que não apenas eu me tornei uma pessoa mais amena, mas os meus amigos também: todos, da mesma maneira que aconteceu comigo, tiveram um crescimento espiritual e intelectual muito grande. Então, consequentemente, os relatos dos acontecimentos também ficaram bem mais leves e agradáveis, diferentes de todo o drama psicológico presente em “Cicatrizar e Recomeçar”. Mas existem algumas exceções... Pois bem, o amigo leitor, agora, tem em mãos (ou melhor, na tela de seu computador) o capítulo que está mais próximo do estilo de “Cicatrizar e Recomeçar”, fato que pôde ser confirmado a partir da leitura do próprio título (“Ai, que medo, quem será a personagem que deveria estar no inferno?”).
        Estávamos no final do segundo semestre, tudo estava correndo muito bem, nossa classe estava cada vez mais unida (os grupos existiam apenas por afinidade entre as pessoas, mas “todos eram amigos de todos”). No entanto, essa “personagem” se “adentrou” justamente ao meu grupo de amigos mais queridos, e causou uma divisão, uma espécie de ruptura, que jamais pôde ser “restaurada”. “Quem é essa personagem, meu Deus, fale logo, estou morrendo de curiosidade”. Então lá vai: é uma personagem velha, que também fez parte dos meus outros livros citados, que atende pelo nome de “panelinha” (“Ufaaaaaaaaaaaaaaaaa, que alívio!”). Se assustaram, achando que era alguém em especial, que estava estudando em nossa classe? Na verdade, eu não poderia culpar ninguém pelo que aconteceu, então culpei esse “processo de isolar certas pessoas” e formar grupinhos, cujo nome popular é “panelinha”. Esse “processo” é muito popular, e parece surgir de tempos em tempos, como uma espécie de “estraga prazeres”, pronto para destruir amizades lindas e significativas. Pode ser que tenha existido algum “personagem” que tenha sido o “pioneiro” em “disseminar” o movimento da “panelinha” em meu grupo de amigos de classe, mas até hoje eu tenho as minhas dúvidas quando penso em responsabilizar alguém pelo acontecido. Prefiro acreditar (ao invés de acusar alguém) que a “panelinha”, como referi anteriormente, é esse procedimento horrível que atinge os grupos de amigos, de tempos em tempos. Para entender melhor, vocês terão a chance de ler um trechinho de “Cicatrizar e Recomeçar”, onde eu relato o que eu acho das “panelinhas”. Aqui está ele:


       “Como eu disse, Jordy tinha alguns amigos que eram prioridade para ele: Bad Landon, Walter, John Paul e agora o Ferdinand também (irmão mais novo de Turky). Quando ele marcava algum esquema, sair para algum lugar, coisa e tal, ‘tinham’ que ir somente essas pessoas e mais ninguém. Nunca entendi a razão disso. Por volta de 1993 e 1994, quando eu, Lang, Adam Ball e o resto do pessoal íamos para o Shopping, quanto mais amigos a gente conseguisse reunir para o evento, melhor. Maior seria a diversão. Não fazíamos nenhuma maldita exclusão, como Jordy fazia. E, como eu disse anteriormente, com o tempo ele foi excluindo até o seu irmão, o Mick. Mick me contou de uma ocasião em que eles iriam para algum lugar, uma cidadezinha por perto e o carro já estava cheio. Na última hora, Bad Landon resolveu ir. Jordy simplesmente chegou para Mick e disse: ‘Olha, você não vai poder ir mais. O Bad Landon vai no seu lugar’.”



     Que coisa, não? Pois é, algo semelhante ao desprezo de Jordy pelo seu irmão Mick aconteceu comigo, nesse período da faculdade (quando o movimento “panelinha” já estava disseminado). John havia combinado algum evento com o pessoal (não me lembro ao certo o que foi, mas com certeza deve ter sido algo muito divertido (sempre era)) e eu, ainda sem saber do movimento “panelinha”, fui todo “animadão” convidar justamente as pessoas que haviam se afastado do nosso grupo. Fui recebido da maneira mais fria que se pode imaginar: ninguém ao menos respondeu se aceitaria o convite ou não, todos me olharam seriamente e apenas resmungaram alguma coisa. Se fosse qualquer pessoa, talvez eu não ficaria tão arrasado. Mas ali estavam as pessoas que eu considerava, que eu adorava, que para mim eram “modelos perfeitos de amizade”. Maldita “panelinha”! A última reunião da “turma completa e realmente unida” (ainda sem as “panelinhas”) ocorreu em fevereiro de 2006, onde foram registradas lindas fotos. Foi um churrasco na república onde Líria morava, na época. Na capinha do “Cd”, onde tenho as fotos gravadas, escrevi o título “Churrasco ‘Nós éramos uma turma linda’”. E éramos mesmo, podem ter certeza. Depois disso, até o final do curso, aconteceram algumas reuniões com a referida turma, mas já não era a mesma coisa. Uma pena!

       E qual o motivo da “personagem” (ou melhor, do “sentimento” chamado “panelinha”), “dever estar no inferno” (conforme diz o título do capítulo)? Escolhi o referido título ao me lembrar do último disco do Raul Seixas (juntamente com o Marcelo Nova), cujo nome é “A Panela do Diabo”. Devia ser essa “panelinha” que o Raul e o Marcelo estavam se referindo, não é mesmo?