Livro: "A Era do ‘Make in
Touch' – Os anos Unesp sem censura"
Capítulo 22 - A festa
do “trocado”
O presente capítulo teve um “parto”
difícil. O desenvolvimento de novos livros de minha autoria, novos diários de
viagem e uma gripe que me “quebrou as pernas” foram responsáveis pelo longo
intervalo de produção entre o capítulo 21 e o capítulo que o leitor tem agora
em mãos (ou na tela do seu computador, para ser mais específico). Além disso, a
minha “meta” de leitura (incluindo uns seis ou sete livros de outros autores
mais famosos, minha aquisição mais recente) impediu, de maneira considerável, o
desenvolvimento de novas páginas do presente livro. Devo admitir que é muito
mais “gostoso”, para mim, ler livros de outros autores do que escrever os meus
próprios livros (que, talvez, nunca vejam a luz do dia, permanecendo no
ostracismo). Mas, ainda assim, é muito bom escrever! Mesmo que meus livros não
venham a ser publicados, é muito prazeroso produzir o meu próprio material, ao
invés de, apenas, ficar apreciando o dos outros. O referido procedimento de
produzir o próprio material não se limita apenas ao ato de escrever: também
inclui a composição de músicas, a pintura, o aprendizado de novos instrumentos
musicais e os esportes (que eu não pratico, mas admiro quem se dedica à
atividade). “Pô, mas eu não faço nada disso, eu apenas trabalho, vou às
‘baladas’ nos fins de semana e fico atrás da mulherada!”. Meu amigo, não deixa
de ser uma diversão (uma boa diversão, inclusive), mas e o seu legado? O que
você produzirá para contribuir com a sua existência e fazer a diferença nesse
mundo? E quando a “pipa não subir mais”?
Voltando à nossa narrativa,
infelizmente, cometi uma “gafe cronológica”: no capítulo anterior, já comecei a
falar do ano de 2007, esquecendo de um acontecimento digno de nota, ocorrido
ainda em 2006. Estou me referindo à festa
do “trocado”, evento utilizado para comemorar o aniversário de 24 anos de meu
amigo Hughes. A saber: a festa do “trocado” consiste em homens se vestirem de
mulher e mulheres se vestirem de homem. Simples assim! Tímido do jeito que eu
sou, talvez fosse melhor eu ter suprimido conscientemente esse acontecimento de
2006, mas não posso privar meus leitores de um evento tão engraçado! Bom,
engraçado agora, pois na época eu fiquei envergonhadíssimo em ter que me vestir
de mulher, além das aprontadas de Marky.
“Eu me recuso a ter que me vestir de
mulher”: foi o que eu disse ao David, quando o mesmo me falou da referida
“festa do trocado”. Expliquei que eu era muito tímido para fazer isso e “coisa
e tal”, que isso não tinha nada a ver comigo. A partir daí, David me alertou:
“o pessoal pode achar que você está com medo de se vestir de mulher e acabar
gostando disso”. Claro que era pura conversa, uma espécie de “pressão
psicológica”, mas na época eu caí na “lábia” do meu amigo. “Tudo bem, David, eu
me visto de mulher então”: mudei de ideia quase que instantaneamente. Na mesma
hora, minha querida amiga Terry estava com um casaco de veludo rosa em mãos
(ela tinha trazido para alguém utilizar na festa) e disse que eu poderia fazer
“proveito” dele. Um pouco acanhado, provei o casaco e disse logo em seguida:
“Que aperto! Não serve para mim!” As meninas riram de mim e acho que foi a
Líria quem comentou algo do tipo “não é que está apertado, é que roupa de
mulher foi feita para se adequar às curvas do corpo da própria mulher,
entende?” Não, eu realmente não entendia. Nunca tinha provado uma roupa
feminina na vida. E, naquela primeira e única vez, eu não curti nem um pouco
(contrariando a “conversa” de David). Mas não tenho e nunca tive nada contra quem se veste de mulher, só estou dizendo que não levo jeito, ou seja, não tenho nenhum preconceito.
No decorrer da semana que antecedeu
o fim de semana da festa (repeti a palavra “semana” duas vezes), ainda tive
minhas dúvidas se eu compareceria ao evento (vestido de mulher) ou não. Aquilo
não fazia o menor sentido para mim. Fiquei pensando no que algum conhecido
imaginaria caso me visse me dirigindo até a festa, trajando uma roupa feminina
(sem saber que aquilo era só uma brincadeira). Reputação! Era o fator que eu
mais levava em consideração! Aquilo poderia acabar com a minha reputação! Por
fim, comentei o caso com meu amigo Dezones, e o mesmo disse: “Larga de
frescura: bota uma saia e vai se divertir”. Por fim, ele acabou me convencendo!
Na data marcada, a turma se
encontrou no apartamento de minha amiga May, para vestirmos as “fantasias” e,
finalmente, “partir” para a festa. Marky não estava conosco, pois chegaria bem
mais tarde. John não compareceria, pois tinha um outro compromisso na data. Tudo
foi bem esquisito, no começo, quando chegamos à festa. Por outro lado, foi
muito engraçado ver todo mundo vestindo roupas do sexo oposto. Várias amigas
vieram “acariciar” o casaco de veludo rosa que eu estava utilizando (essa parte
eu adorei) e Abraham, querendo “tirar uma” com David, disse que o mesmo tinha
ficado muito bem de mulher e que, inclusive, “dava até para ele encarar”. Sem
comentários! Eu ri muito, mas acho que David ficou um pouco assustado, achando
que Abraham estava falando sério!
Por fim, Marky chegou, vestido com
uma espécie de “moletom feminino”. Juro, ele estava parecendo aquela empregada
do desenho do “Tom & Jerry”! Ficou muito bom o traje dele, bem engraçado e
criativo... No entanto, era óbvio que a roupa feminina ficou boa para ser
utilizada na “festa do trocado”: era questionável a utilização da referida vestimenta
fora do ambiente festivo. Achei que não teria necessidade de dizer isso ao
Marky, mas eu deveria ter dito! Meu Deus, ou alguém deveria ter dito!
Quando a festa terminou, eu retirei
o casaco rosa e voltei a vestir a minha jaqueta de motoqueiro! Estava chovendo
e, pelo que eu me lembro, fui buscar o carro (que estava um pouco longe), pois
havia combinado de dar uma carona para Marky. E assim procedi. Quando Marky
entrou no carro, eu realmente não percebi nada de diferente (talvez pela
“pressa” de me livrar da chuva ou pela ambientação daquelas ruas escuras ou,
ainda, pelo fato de estar aliviado por ter me livrado daquela roupa de mulher).
Enfim, algo fez com que eu não percebesse que Marky ainda estava trajando a sua
roupa feminina. Aí ele vira para mim e diz, naquela sua calma habitual: “Olha
Bil, a fome está apertando e seria extremamente necessário você dar uma parada
no Habibs, para eu pegar algumas esfiras (ou esfihas ou sfiras, vai saber como
é o modo correto de escrever a referida palavra). Aí eu disse “Sem problemas”
e... Bem, eu era meio “bocudão” naquela época e, na verdade, devo ter dito:
“Porra, cara! Que saco, você come pra c..., hein?”, ou algo do tipo. Mas como o
meu “pavio curto” não durava por muito tempo, acabei passando no Habibs (mas
não deveria).
Estacionei o carro bem em frente ao
estabelecimento. E quando Marky desceu do veículo, finalmente percebi que o
mesmo ainda estava vestido de mulher! E o local estava lotado! Meu Deus! Fiquei
pensando na minha reputação, naquele lance de ter pessoas conhecidas no local e
alguém ver a “empregada do Tom & Jerry” saindo de dentro do meu carro!
Fiquei envergonhado e irado ao mesmo tempo! Para o pessoal que estava no
Habib´s, no entanto, deve ter sido algo divertido, pois, por onde Marky
passava, sempre era possível avistar alguém “morrendo de rir”. No meu caso,
devido as minhas razões já citadas, eu não estava achando a menor graça.
Depois de todo o “vexame”,
finalmente Marky retorna “mó animadão”, trazendo uma embalagem lotada de
esfiras (ou esfihas ou sfiras) e me pergunta:
_ Bil, você está servido?
Eu olhei para Marky com aquela cara
de reprovação e respondi:
_ Marky, meu filho, você sabe o que
é reputação?
_ Sim, claro! – Marky disse com
naturalidade (fato que me deixou mais irritado ainda) – Reputação é o ato de se
manter...
E me explicou a porcaria da palavra
“reputação”, nem se “tocando” do que eu realmente me referia.
_ Marky, “peloamordedeus”, como você
tem coragem de entrar no Habib´s vestido de mulher?
_ Na verdade, não é a primeira vez
que eu faço isso: durante o trote, eu me fantasiei de “Daiane dos Santos” e passei
por aqui também - Era verdade! Ele tinha
feito isso mesmo, como se fosse a coisa mais natural do mundo!
O trajeto até à casa de Marky, de
carro, somava uns 20 minutos (mais ou menos) e, durante todo esse trajeto, ele
foi ouvindo o meu sermão! Falei que, se ele viesse reclamar de mulher para mim
(que tava sozinho e “coisa e tal”), tudo seria culpa daquele incidente, que
poderia estragar a sua reputação! Ele não concordou, aí eu “chutei o balde”:
“Marky, escuta só: se eu fosse um cara bonito, eu usava saia na rua... Quem
teria coragem de zombar, me vendo com um monte de mulher a ‘tiracolo’? A gente
é feio, cara! A gente tem só a nossa reputação e mais nada, entende? Mais
nada!”. Na verdade, esse questionamento foi dito por Dezones em alguma ocasião:
eu apenas repeti o mesmo para “tentar” convencer Marky. Não adiantou, pois
algumas semanas depois ele sugeriu um trabalho onde ele se vestiria de mulher
para fazer compras em algum supermercado, para analisar a reação das pessoas.
E, além disso, para o terror de Denis, Marky afirmou que o mesmo possuía umas
pernas bem torneadas!
Posso dizer que hoje, ao me lembrar
desses acontecimentos narrados, não ficou nenhum ressentimento de minha parte:
pelo contrário, ainda dou muitas risadas das loucuras de Marky, cometidas na
festa do “trocado”. No momento que termino essas linhas, espero ansiosamente a
chegada dos “correios” com a minha encomenda: os quatro volumes de “Guerra e
Paz”, do autor Leon Tolstói. Vem leitura nova por aí, gente! Conforme
enfatizei, acho mais divertido ler do que escrever, mas... E o meu legado? Por
isso não deixo de registrar minhas memórias... Apesar que, pensando melhor, que
“raio” de legado é esse, onde eu conto uma história de um cara que se fantasia
de mulher e vai ao “Habibs”?