domingo, 21 de junho de 2015

Capítulo 6 - Palhaçadas - Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Capítulo 6 - Palhaçadas


             Lang partiu, mas suas “aprontadas” ficaram gravadas em nossa mente. São tantos fatos que receio me esquecer de algum, mas vou tentar narrar tudo o que lembro, aos poucos.
            Certa vez, Lang resolveu ser uma espécie de “montador” em cavalos, como Paul já era. Paul possuía os apetrechos necessários (como a sela de montaria), ao contrário de Lang, que nada tinha. Assim, Lang montava direto nas próprias costas dos cavalos, “no pêlo”, sem sela nenhuma. Suas primeiras tentativas de montaria até que tiveram um certo êxito: Lang montava, o cavalo dava algumas voltas e, quando se cansava, nosso amigo descia sem problemas das costas do animal. Isso até o dia em que um dos cavalos “disparou”, com Lang em suas costas. Gritando em desespero (“peloamordedeus”, “peloamordedeus”), Lang só foi descer do cavalo quando este trombou em um portão. Por sorte, ninguém se machucou (nem o cavalo, nem Lang). Mas foi sua última tentativa de montaria.
            Lang brincava e “tirava sarro” de todo mundo, mas se deu mal duas vezes ao fazer isso com nosso amigo Chad. A primeira vez foi quando os garotos resolveram empinar suas pipas e Lang, com seu “Cerol”, cortou a linha de Chad, na frente da avó do mesmo. A velhinha ficou possessa e Lang teve que ouvir uma “enorme bronca”.  Na segunda vez, Lang pegou a bola de futebol de Chad e chutou atrás do muro da igreja, onde havia alguns cães ferozes. Enquanto isso, outro amigo nosso, o Wand, aproveitava para imitar a voz da avó de Chad: “O que é que você quer com o Chad? O Chad não está aqui, o Chad morreu!”. Chad ficou furioso com Lang e Wand: correu para sua casa, para avisar os seus familiares que os dois estavam mexendo com ele. Wand aproveitou esse meio tempo para ir embora, pois não queria ouvir os xingos da família de Chad. Lang resolveu ficar e ver o que iria acontecer. Em poucos instantes, foi possível visualizar, virando a esquina, quase a família inteira de Chad: sua mãe, sua avó, seu tio, suas tias... Lang viu que a coisa ficaria feia e, assim que toda a gangue chegou perto dele, já tirou do bolso algumas notas e disse que estava disposto a pagar a bola perdida. O tio de Chad não aceitou, dizendo que jogaria Lang do outro lado do muro, com os cães, se o mesmo não fosse buscar, de livre e espontânea vontade, a bola original. Lang não conseguiu pular o muro (e enfrentar os cachorros). Assim, teve que dar a Chad uma bola de futebol que lhe pertencia.
            Em outra ocasião, Lang entrou em uma discussão durante um jogo de futebol. O cara chato com quem ele discutia não me lembro ao certo, mas o mesmo conseguiu tirar a paciência de Lang. Em um dado momento da discussão, Lang tirou sua própria camisa, ateou fogo na mesma e correu atrás do infeliz, que teve que fugir para não ser “queimado vivo”.
            Os mergulhos na poça d´água (existente no centro do campo de futebol) também se tornaram célebres: Lang tomava distância, vinha correndo e mergulhava de barriga na água imunda. Ele parecia ficar contente quando a bola era chutada na lama, pois era mais uma chance dele dar um bom mergulho, enquanto nosso amigo Cearense Bud protestava: “Não faça isso menino, essa água suja entra no seu pênis e te contamina”. Mas o aviso era em vão, Lang não se intimidava e não tinha medo nenhum de pegar alguma doença (e, por sorte, nunca pegou).
            Falando ainda em futebol, Lang dava duro durante os jogos, transpirava muito, de modo que sua camisa ficava totalmente fétida. Ao final dos jogos, Lang corria atrás dos meninos menores que ficavam lhe provocando e esfregava sua camisa na cara dos mesmos.  “É nitroglicerina pura”, dizia ele. Ou, ao invés disso, pegava aqueles coquinhos melados (que dava nos coqueiros, não me lembro ao certo a sua denominação) e esfregava na cabeça dos menores provocadores, dizendo que era shampoo.
            Lang, realmente, era o rei das “aprontações”, mas não era o único. Lumium, outro amigo nosso, também aprontava bastante. Sua vítima constante era o nosso amigo peso pesado Dudley. Certa vez, o pobre Dudley está sentado na calçada, quando Lumium ajeitou uma bola de futebol na direção do garoto e a chutou direto no seu rosto. Dudley queria acabar com Lumium, que teve de correr para não apanhar (Dudley era muito forte). Mas o caso mais célebre foi quando os dois combinaram de cada um ficar em uma esquina e, em dado momento, virem correndo um na direção do outro (Lumium de bicicleta, Dudley com todo o seu peso) de modo que, no final, tudo resultasse em uma grande “trombada”. Dudley levou uma pancada no joelho, proveniente do pneu dianteiro da bicicleta, enquanto Lumium acabou sendo lançado da mesma, ganhando alguns arranhões.
            Em um mundo onde impera a tristeza e a maldade, é muito bom aproveitar os momentos com os amigos para dar boas risadas. São fatos que ficam para sempre em nossa mente, e não é difícil, mesmo com o passar do tempo, lembrarmos novamente das “aprontações” e ainda acharmos graça de tudo aquilo que aconteceu. 

sábado, 7 de março de 2015

Capítulo 5 - Quando a felicidade se transforma em tristeza - Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Capítulo 5 - Quando a felicidade se transforma em tristeza



            Não era apenas com Pam e Cindy que eu me estava envolvendo, por essa época. Uma outra garota, chamada Lisa, estava se tornando minha amiga. Ela, que tinha uma amizade fortíssima com Pam, acabou cortando relações com a mesma, por motivos que desconheço.  Lisa era baixa, magra e tinha cabelos negros e compridos. Era um pouco sistemática e impaciente (inclusive, acredito que foi esse o motivo do desentendimento dela com Pam). Em certa ocasião, fiquei sabendo (por intermédio de alguém) que Lisa estava apaixonada por mim.
            Deve ter sido, com muito pesar, que Lisa contemplou uma terrível visão (para ela): eu e Pam nos beijando, na sala da casa de Paul. Estava ocorrendo uma festa naquela noite, e foi a oportunidade perfeita de eu poder ficar com Pam. Aquilo, com certeza, abalou a minha amizade com Lisa. Se, pelo menos, eu estivesse com alguma outra garota que não fosse Pam! Mas o destino quis que eu beijasse a menina que Lisa mais tinha rancor.
            A festa, aparentemente, estava animada. A única coisa estranha era que Lang ainda não havia comparecido ao local. Durante essa época, Lang não fazia outra coisa senão ficar atormentando as garotas com suas brincadeiras. Eu achava muito engraçado, mas as meninas não gostavam nenhum pouco. Lang utilizava o adjetivo “gostosa” regularmente e frases do tipo “está chovendo na minha hortinha”. Certa vez, Lang ficou provocando Pam até que a mesma perdesse a paciência e corresse atrás dele, enquanto ele gritava “pare, isto não está na constituição”.
            No decorrer da festa, Adam Ball, bastante abatido, finalmente nos esclareceu tudo a respeito de Lang: ele havia se desentendido com seu pai e havia sido expulso de casa. Foi horrível receber aquela notícia! Jim e eu ficamos transtornados! Lang era um cara louco, mas por outro lado era legal, irreverente, engraçado... Enfim, tinha seus defeitos, mas era um grande amigo. Alguns minutos mais tarde, ele acabou aparecendo na festa para se despedir. Fiz questão de acompanhar Lang até o ponto de ônibus. Ele disse que passaria a noite na casa de um parente. Na manhã seguinte, partiria para a cidade de Americana, talvez para nunca mais voltar.
            Depois que Lang tomou o ônibus, voltei sozinho para a casa de Paul. Já passava das 21h e, contemplando a escuridão da noite, pude averiguar como as nossas felicidades são substituídas facilmente pelas tristezas, de uma hora para a outra. Apesar de magoar Lisa, foi um momento bastante especial ter ficado com Pam naquela noite, uma felicidade substituída, posteriormente, pela tristeza de perder o amigo Lang. A intensidade da tristeza, muitas vezes, ultrapassa facilmente a intensidade da alegria (como no presente caso).


            Adam Ball, por sua vez, foi muito mais lesado pelas circunstâncias do que eu: além da perda de Lang, não conseguiu se aproximar de Sandy, pois a mesma estava sendo vigiada pelas irmãs July e Clau (a pedido da mãe de Sandy).

domingo, 25 de janeiro de 2015

Capítulo 4 – Momento Mágico - Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Capítulo 4 – Momento Mágico


             Uma dúvida me ocorreu, quando eu estava com meus dezoito anos: eu seria capaz de satisfazer uma mulher? Era muito, mas muito fácil me apaixonar por alguma garota, mas será que eu seria capaz de fazer alguma se apaixonar por mim também? A respeito dessa dúvida, na minha lembrança, eu sempre visualizava Vicky: a garota loira e bonita que não levava nada a sério, que fazia brincadeira com tudo e que falava o que bem entendia, sem o menor remorso. Qual seria sua reação se eu lhe contasse que eu era apaixonado por ela? Será que ela levaria a sério? Será que eu teria a capacidade de satisfazê-la no amor? Um fato bastante corriqueiro sobre Vicky é que ela sempre lavava os seus lindos cabelos antes de ir para a aula e, quando sentava perto de mim, no intuito de arrumar as sua franjas, balançava a cabeça de maneira que os seus cabelos batiam levemente em meu rosto.  Assim, eu podia sentir aquele perfume maravilhoso, que dela provinha, invadir as minhas narinas. Ela nunca percebia que suas madeixas atingiam em cheio o meu rosto ou, quem sabe, fingia não perceber. Enfim, eu não conseguia visualizar uma chance de romance com Vicky, pelos motivos que eu citei. Porém, com Cindy e com Pam, as chances pareciam mais prováveis.
            Cindy era a melhor amiga de Pam e, da mesma forma que ela, apresentava uma beleza descomunal: era um pouco mais baixa que Pam, tinha um corpo ao mesmo tempo forte e escultural, cintura fina e cabelos loiros. Lembrava Vicky. Conheci Cindy em uma festa que fizemos em minha casa, uma espécie de “brincote”, realizada alguns dias depois do “Concerto Death” em que as meninas compareceram. Ao som de algumas baladas mais lentas, tive a oportunidade de chamar Pam para dançar, o que foi algo surpreendente, levando em consideração toda a minha timidez. Ao dançar com ela, diferente de dançar com as outras garotas, senti alguma coisa especial, um sentimento difícil de explicar. Resumindo: em meu pensamento, eu tinha clara a ideia de estar dançando com uma garota tão bonita quanto Vicky e, o melhor de tudo, muito mais acessível.
            Alguns dias mais tarde, em outra “brincote” realizada agora na casa de meu amigo Jim, acabei ficando com Cindy, enquanto Paul e Pam ficaram juntos mais uma vez. Apesar deste último fato, foi surpreendente a reação de Pam em relação a mim: a mesma demonstrou, com seus elogios, que estava nutrindo uma espécie de admiração pela minha pessoa. Comecei a desenvolver uma espécie de romantismo à medida que pensava cada vez mais em Pam e Cindy, de maneira intensa. Essa paixão me fez lembrar de um desenho animado que eu assistia na infância, o “Archie Show”. No desenho, não ficava claro se o personagem principal gostava da sua amiga loira ou de sua amiga morena, da mesma maneira que eu ficava na dúvida se eu gostava mais de Cindy ou de Pam.
            Apesar de tudo, comecei a ter uma certa preocupação doentia com a minha aparência, principalmente com o meu cabelo.  Eu queria ter um “topete estilo anos 50”, mas a maneira que eu cortava o cabelo não permitia que esse tipo de penteado ficasse perfeito, do jeito que eu queria. Além disso, o meu cabelo era um pouco “crespo” nessa época, fato que dificultava ainda mais o penteado “anos 50”. Meus amigos Jim e Matt , por exemplo, possuíam cabelos “descolados”, apesar de não pentearem do jeito que eu tinha em mente.
            Além do problema do cabelo, passei por aquele tipo de “depressão adolescente” quando, em determinado momento, tive dúvidas se Pam e Cindy realmente gostavam de mim. Muitas vezes, eu me sentia esquecido! Na “brincote” realizada na casa de Jim, Sandy havia se declarado a Adam Ball, dizendo que nutria uma paixão por ele já fazia algum tempo.  Pam havia me feito alguns elogios, nunca foi tão direta e franca como Sandy foi para com Adam Ball. Cindy, por sua vez, nunca demonstrou (ou comentou) se realmente gostava de mim de verdade ou não. Para amenizar a dor, a melhor solução, para mim, era a música.  Antes de dormir, era obrigatório eu pegar o meu “discman” e ficar escutando meu rock, sonhando com dias melhores, apesar das coisas não estarem tão ruins assim.
            E não estavam mesmo!
            Alguns dias após a “brincote”, encontrei Pam nas proximidades de sua casa. Ela estava diferente, como se estivesse escondendo algo de mim. Depois de conversarmos um pouco, ela chamou um garoto, que era seu vizinho, e disse algo no ouvido dele. O mesmo, por sua vez, me chamou de lado e, como num sonho, perguntou se eu gostaria de ficar com Pam. Foram as palavras arrebatadoras “você quer ficar com Pam” que me deixaram totalmente a vontade, “senhor de mim”, de modo que, em seguida, consegui, com desenvoltura, perguntar diretamente a Pam se era verdade o que o garoto havia me perguntado. Ela confirmou e tive vontade de beijá-la ali mesmo, porém preferi ser mais discreto e perguntei se poderia ficarmos na próxima “brincote”, a qual me esforçaria para marcar o mais rápido o possível. Pam aceitou.
            Para mim, é muito especial o momento em que alguma garota diz que está disposta a “ficar”: durante o dia, o céu parece ficar mais azul e, durante a noite, as estrelas parecem ficar mais brilhantes. Um momento mágico que se desenrola bem na frente de nossos olhos. É justamente o referido momento que nos traz saudade no futuro, como se tivéssemos perdido algo no tempo.