domingo, 25 de janeiro de 2015

Capítulo 4 – Momento Mágico - Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Capítulo 4 – Momento Mágico


             Uma dúvida me ocorreu, quando eu estava com meus dezoito anos: eu seria capaz de satisfazer uma mulher? Era muito, mas muito fácil me apaixonar por alguma garota, mas será que eu seria capaz de fazer alguma se apaixonar por mim também? A respeito dessa dúvida, na minha lembrança, eu sempre visualizava Vicky: a garota loira e bonita que não levava nada a sério, que fazia brincadeira com tudo e que falava o que bem entendia, sem o menor remorso. Qual seria sua reação se eu lhe contasse que eu era apaixonado por ela? Será que ela levaria a sério? Será que eu teria a capacidade de satisfazê-la no amor? Um fato bastante corriqueiro sobre Vicky é que ela sempre lavava os seus lindos cabelos antes de ir para a aula e, quando sentava perto de mim, no intuito de arrumar as sua franjas, balançava a cabeça de maneira que os seus cabelos batiam levemente em meu rosto.  Assim, eu podia sentir aquele perfume maravilhoso, que dela provinha, invadir as minhas narinas. Ela nunca percebia que suas madeixas atingiam em cheio o meu rosto ou, quem sabe, fingia não perceber. Enfim, eu não conseguia visualizar uma chance de romance com Vicky, pelos motivos que eu citei. Porém, com Cindy e com Pam, as chances pareciam mais prováveis.
            Cindy era a melhor amiga de Pam e, da mesma forma que ela, apresentava uma beleza descomunal: era um pouco mais baixa que Pam, tinha um corpo ao mesmo tempo forte e escultural, cintura fina e cabelos loiros. Lembrava Vicky. Conheci Cindy em uma festa que fizemos em minha casa, uma espécie de “brincote”, realizada alguns dias depois do “Concerto Death” em que as meninas compareceram. Ao som de algumas baladas mais lentas, tive a oportunidade de chamar Pam para dançar, o que foi algo surpreendente, levando em consideração toda a minha timidez. Ao dançar com ela, diferente de dançar com as outras garotas, senti alguma coisa especial, um sentimento difícil de explicar. Resumindo: em meu pensamento, eu tinha clara a ideia de estar dançando com uma garota tão bonita quanto Vicky e, o melhor de tudo, muito mais acessível.
            Alguns dias mais tarde, em outra “brincote” realizada agora na casa de meu amigo Jim, acabei ficando com Cindy, enquanto Paul e Pam ficaram juntos mais uma vez. Apesar deste último fato, foi surpreendente a reação de Pam em relação a mim: a mesma demonstrou, com seus elogios, que estava nutrindo uma espécie de admiração pela minha pessoa. Comecei a desenvolver uma espécie de romantismo à medida que pensava cada vez mais em Pam e Cindy, de maneira intensa. Essa paixão me fez lembrar de um desenho animado que eu assistia na infância, o “Archie Show”. No desenho, não ficava claro se o personagem principal gostava da sua amiga loira ou de sua amiga morena, da mesma maneira que eu ficava na dúvida se eu gostava mais de Cindy ou de Pam.
            Apesar de tudo, comecei a ter uma certa preocupação doentia com a minha aparência, principalmente com o meu cabelo.  Eu queria ter um “topete estilo anos 50”, mas a maneira que eu cortava o cabelo não permitia que esse tipo de penteado ficasse perfeito, do jeito que eu queria. Além disso, o meu cabelo era um pouco “crespo” nessa época, fato que dificultava ainda mais o penteado “anos 50”. Meus amigos Jim e Matt , por exemplo, possuíam cabelos “descolados”, apesar de não pentearem do jeito que eu tinha em mente.
            Além do problema do cabelo, passei por aquele tipo de “depressão adolescente” quando, em determinado momento, tive dúvidas se Pam e Cindy realmente gostavam de mim. Muitas vezes, eu me sentia esquecido! Na “brincote” realizada na casa de Jim, Sandy havia se declarado a Adam Ball, dizendo que nutria uma paixão por ele já fazia algum tempo.  Pam havia me feito alguns elogios, nunca foi tão direta e franca como Sandy foi para com Adam Ball. Cindy, por sua vez, nunca demonstrou (ou comentou) se realmente gostava de mim de verdade ou não. Para amenizar a dor, a melhor solução, para mim, era a música.  Antes de dormir, era obrigatório eu pegar o meu “discman” e ficar escutando meu rock, sonhando com dias melhores, apesar das coisas não estarem tão ruins assim.
            E não estavam mesmo!
            Alguns dias após a “brincote”, encontrei Pam nas proximidades de sua casa. Ela estava diferente, como se estivesse escondendo algo de mim. Depois de conversarmos um pouco, ela chamou um garoto, que era seu vizinho, e disse algo no ouvido dele. O mesmo, por sua vez, me chamou de lado e, como num sonho, perguntou se eu gostaria de ficar com Pam. Foram as palavras arrebatadoras “você quer ficar com Pam” que me deixaram totalmente a vontade, “senhor de mim”, de modo que, em seguida, consegui, com desenvoltura, perguntar diretamente a Pam se era verdade o que o garoto havia me perguntado. Ela confirmou e tive vontade de beijá-la ali mesmo, porém preferi ser mais discreto e perguntei se poderia ficarmos na próxima “brincote”, a qual me esforçaria para marcar o mais rápido o possível. Pam aceitou.
            Para mim, é muito especial o momento em que alguma garota diz que está disposta a “ficar”: durante o dia, o céu parece ficar mais azul e, durante a noite, as estrelas parecem ficar mais brilhantes. Um momento mágico que se desenrola bem na frente de nossos olhos. É justamente o referido momento que nos traz saudade no futuro, como se tivéssemos perdido algo no tempo.