Livro: Triste ao sonhar com os anjos
Capítulo 4 – Momento Mágico
Uma dúvida me ocorreu, quando eu
estava com meus dezoito anos: eu seria capaz de satisfazer uma mulher? Era
muito, mas muito fácil me apaixonar por alguma garota, mas será que eu seria
capaz de fazer alguma se apaixonar por mim também? A respeito dessa dúvida, na
minha lembrança, eu sempre visualizava Vicky: a garota loira e bonita que não
levava nada a sério, que fazia brincadeira com tudo e que falava o que bem
entendia, sem o menor remorso. Qual seria sua reação se eu lhe contasse que eu
era apaixonado por ela? Será que ela levaria a sério? Será que eu teria a
capacidade de satisfazê-la no amor? Um fato bastante corriqueiro sobre Vicky é
que ela sempre lavava os seus lindos cabelos antes de ir para a aula e, quando
sentava perto de mim, no intuito de arrumar as sua franjas, balançava a cabeça
de maneira que os seus cabelos batiam levemente em meu rosto. Assim, eu podia sentir aquele perfume
maravilhoso, que dela provinha, invadir as minhas narinas. Ela nunca percebia
que suas madeixas atingiam em cheio o meu rosto ou, quem sabe, fingia não
perceber. Enfim, eu não conseguia visualizar uma chance de romance com Vicky,
pelos motivos que eu citei. Porém, com Cindy e com Pam, as chances pareciam
mais prováveis.
Cindy era a melhor amiga de Pam e,
da mesma forma que ela, apresentava uma beleza descomunal: era um pouco mais
baixa que Pam, tinha um corpo ao mesmo tempo forte e escultural, cintura fina e
cabelos loiros. Lembrava Vicky. Conheci Cindy em uma festa que fizemos em minha
casa, uma espécie de “brincote”, realizada alguns dias depois do “Concerto
Death” em que as meninas compareceram. Ao som de algumas baladas mais lentas,
tive a oportunidade de chamar Pam para dançar, o que foi algo surpreendente,
levando em consideração toda a minha timidez. Ao dançar com ela, diferente de
dançar com as outras garotas, senti alguma coisa especial, um sentimento
difícil de explicar. Resumindo: em meu pensamento, eu tinha clara a ideia de
estar dançando com uma garota tão bonita quanto Vicky e, o melhor de tudo,
muito mais acessível.
Alguns dias mais tarde, em outra
“brincote” realizada agora na casa de meu amigo Jim, acabei ficando com Cindy,
enquanto Paul e Pam ficaram juntos mais uma vez. Apesar deste último fato, foi
surpreendente a reação de Pam em relação a mim: a mesma demonstrou, com seus
elogios, que estava nutrindo uma espécie de admiração pela minha pessoa. Comecei
a desenvolver uma espécie de romantismo à medida que pensava cada vez mais em
Pam e Cindy, de maneira intensa. Essa paixão me fez lembrar de um desenho
animado que eu assistia na infância, o “Archie Show”. No desenho, não ficava
claro se o personagem principal gostava da sua amiga loira ou de sua amiga
morena, da mesma maneira que eu ficava na dúvida se eu gostava mais de Cindy ou
de Pam.
Apesar de tudo, comecei a ter uma
certa preocupação doentia com a minha aparência, principalmente com o meu
cabelo. Eu queria ter um “topete estilo
anos 50”, mas a maneira que eu cortava o cabelo não permitia que esse tipo de
penteado ficasse perfeito, do jeito que eu queria. Além disso, o meu cabelo era
um pouco “crespo” nessa época, fato que dificultava ainda mais o penteado “anos
50”. Meus amigos Jim e Matt , por exemplo, possuíam cabelos “descolados”,
apesar de não pentearem do jeito que eu tinha em mente.
Além do problema do cabelo, passei
por aquele tipo de “depressão adolescente” quando, em determinado momento, tive
dúvidas se Pam e Cindy realmente gostavam de mim. Muitas vezes, eu me sentia
esquecido! Na “brincote” realizada na casa de Jim, Sandy havia se declarado a
Adam Ball, dizendo que nutria uma paixão por ele já fazia algum tempo. Pam havia me feito alguns elogios, nunca foi
tão direta e franca como Sandy foi para com Adam Ball. Cindy, por sua vez,
nunca demonstrou (ou comentou) se realmente gostava de mim de verdade ou não. Para
amenizar a dor, a melhor solução, para mim, era a música. Antes de dormir, era obrigatório eu pegar o
meu “discman” e ficar escutando meu rock, sonhando com dias melhores, apesar
das coisas não estarem tão ruins assim.
E não estavam mesmo!
Alguns dias após a “brincote”, encontrei
Pam nas proximidades de sua casa. Ela estava diferente, como se estivesse
escondendo algo de mim. Depois de conversarmos um pouco, ela chamou um garoto,
que era seu vizinho, e disse algo no ouvido dele. O mesmo, por sua vez, me
chamou de lado e, como num sonho, perguntou se eu gostaria de ficar com Pam.
Foram as palavras arrebatadoras “você quer ficar com Pam” que me deixaram
totalmente a vontade, “senhor de mim”, de modo que, em seguida, consegui, com
desenvoltura, perguntar diretamente a Pam se era verdade o que o garoto havia
me perguntado. Ela confirmou e tive vontade de beijá-la ali mesmo, porém
preferi ser mais discreto e perguntei se poderia ficarmos na próxima
“brincote”, a qual me esforçaria para marcar o mais rápido o possível. Pam
aceitou.
Para mim, é muito especial o momento
em que alguma garota diz que está disposta a “ficar”: durante o dia, o céu
parece ficar mais azul e, durante a noite, as estrelas parecem ficar mais
brilhantes. Um momento mágico que se desenrola bem na frente de nossos olhos. É
justamente o referido momento que nos traz saudade no futuro, como se
tivéssemos perdido algo no tempo.