segunda-feira, 20 de junho de 2011

Capítulo 01 – A Má “trícula” - Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Capítulo 01 – A Má “trícula”



            Hoje eu estou, realmente, muito feliz! Talvez não devesse: nenhum acontecimento especial, mas ainda assim estou me sentindo bem! Quando isso acontece, geralmente duas conclusões surgem em minha mente: ou alguma coisa está errada comigo (felicidade suprema no planeta Terra?) ou admito que é o momento certo de aproveitar ao máximo esse estado de graça, antes que algo de ruim aconteça. Hoje eu fico com a segunda opção, me baseando naquele famoso ditado que diz que tudo o que é bom dura pouco.
            No entanto, há mais ou menos dois meses atrás, uma outra ideia diferente, a respeito da felicidade, surgiu para me animar: “A felicidade não tem morada fixa, então temos que seguir a mesma, para onde ela for”. Assim, como os acontecimentos não estavam tão animadores aqui em Bauru, eu e Cyrinda concluímos que a felicidade poderia estar na grande cidade de Curitiba, com suas ruas verdes e seus bosques acolhedores. Então resolvemos seguir a mesma, ainda que a felicidade não pudesse ser considerada aquele tipo de amiga fiel para com os seus seguidores. Na verdade, ela é ingrata, injusta e, muitas vezes, falsa... Ah, que horrível aquela falsa felicidade, que nos gera falsas esperanças! Em outras ocasiões diferentes, ela entra em nossa vida sorrateiramente, de maneira que não conseguimos perceber a sua presença. Quando ela finalmente vai embora (como sempre), pronunciamos outro ditado popular muito comum: “eu era feliz e não sabia!”. A tristeza é algo desagradável, no entanto é mais honesta e muito mais fiel que a felicidade. Mas por que estou a divagar tanto? Por que não ir direto ao assunto e falar do início dos preparativos da viagem até Curitiba? Não sei, só posso dizer que, ao iniciar essa narrativa, acabo de digitar quase metade de uma página em apenas 10 segundos. E fiquei muito feliz de começar o livro de maneira tão rápida. Assim, devo admitir que a felicidade pode surgir até mesmo em algo comum e banal, como a rapidez do fluxo de ideias e a sua posterior digitação. E, nesse ínterim, acabo de encontrar algo comum entre a tristeza e a felicidade: ambas podem se manifestar a partir de coisas banais.
            Pois é, bem que eu tentei difamar a felicidade nas linhas anteriores, mas, no final das contas, sou obrigado a concluir que ela ainda é muito melhor que a tristeza: ficar triste por banalidades é ridículo, mas ficar feliz com banalidades talvez seja algo sublime. Se o caro leitor está achando esse início um pouco confuso, então vou resumir o que de mais importante eu disse até aqui: o importante é ser feliz (ou pelo menos tentar). Então, “seja feliz e cale a boca!”.
            Marquei com Cyrinda um local, na rodoviária, para nos encontrarmos: perto do boneco “Bauruzinho”. E foi inevitável a lembrança dos meus anos de Unesp e seus acontecimentos marcantes, a partir da visão daquele boneco que causou tanta polêmica no nosso meio acadêmico. Muitas e muitas recordações vieram (ou melhor, voltaram à tona), referentes àqueles anos felizes (sem o “glamour” dos velhos tempos, é verdade, mas ainda assim muito divertidos). Bom, enquanto eu e Cyrinda organizamos os preparativos para a viagem, aproveito para relatar, aqui, as lembranças desse tempo tão feliz, que jamais irá voltar. Aproveito, também, para enxugar as lágrimas (não que eu seja um cara exagerado).
            A minha história na Unesp (e também a história de meus colegas de classe) começou em 2005, quando ingressei na referida universidade, após vários anos de tentativas frustradas no vestibular. Epa, mas peraí! Pensando melhor, posso dizer que a história que irei relatar se iniciou mesmo em 2004, quando os nossos “veteranos” iniciaram o curso (Desenho Industrial ou Design): afinal, os mesmos não deixam de ser personagens (principais e importantes) nos acontecimentos que aqui serão comentados. É aquela velha história, do tipo “seriado”, que já comentei em outras publicações (ah não, você vai falar disso de novo?): a “primeira temporada da série” começou em 2004, onde os personagens principais eram os nossos veteranos (que eram “bixos”, na referida época); na “segunda temporada da série” em 2005, os personagens da minha classe finalmente entraram no seriado (como “bixos”); em seguida, “na temporada de 2006”, se tornaram “veteranos” e vieram novos “bixos”... E assim por diante, até o final dos tempos (ou até as nossas “classes de papelão”, as famosas “cinqüentas”, desabarem por falta de melhores cuidados e o curso vier a ser extinto pelo referido motivo).
            Obviamente, iniciarei a narrativa a partir da temporada em que vivi, ou seja, a de 2005, já que não tenho ideia do que aconteceu antes do referido período... Mas... Veja bem, eu poderia tentar perguntar para o meu amigo Marky o que aconteceu em 2004, mesmo ele tendo ingressado na faculdade em 2005, juntamente com a minha turma... Afinal, já que ele nasceu por volta de 1984 e se lembra perfeitamente da Copa de 1982 (ou seja, nem era vivo ainda), recordar o que aconteceu em 2004, para ele, seria muito mais fácil... Grande Marky!
            Então vamos lá... Como se estivéssemos numa máquina do tempo, vamos recordar o que aconteceu... E o que não aconteceu... E o que poderia ter acontecido...

           
            No início de 2005, em um tradicional salão de cabeleireiro, localizado no centro de Bauru, o professor Mitsu esperava tranquilamente a sua vez de cortar o cabelo quando Gilbert, dono do salão, comenta:
            _ Seu aluno do curso particular de desenho, o Billy, apareceu por aqui semana passada, para cortar o cabelo e arrumar o seu topete estilo “Elvis Presley”!
            O professor Mitsu, indignado, comentou logo em seguida:
            _ Ah, que grande besteira ele fez! A lista de aprovados de Desenho Industrial saiu ontem, e eu vi que ele estava incluído nela! Ele jogou fora o dinheiro do corte de cabelo!
            Pois bem, dias depois eu apareci no salão de Gilbert com o cabelo todo “pitimbado” (que Diana Fish, Hamil e outros amigos de trabalho me fizeram o favor de estragar) e, com cara de besta, disse:
            _ Pois é, Gilbert, pode raspar meu cabelo: o seu belo trabalho no meu topete já era, passei no vestibular!
            O legal foi que Gilbert (por dó) não cobrou para fazer o serviço. Mas confesso que me senti muito mal em ter que me desfazer do meu topete e ficar careca... Só não chorei (como a Carolina Dickman da novela) por motivos de força maior (vergonha)...
            Passaram-se alguns dias e chegou, finalmente, a data da matrícula. Imaginei que os “veteranos” iriam dar aos “bixos” uma bela “pintada” (no bom sentido), utilizando as famosas tintas guache de segunda categoria. No entanto, o que acabamos recebendo foi, na verdade, um verdadeiro banho de tinta. Pois é, concluí, a partir dessa atitude exagerada, que as relações de animosidade (entre “bixos” e “veteranos”) não haviam mudado tanto desde os meus tempos de colegial (sim, quem passava da 8ª série para o primeiro colegial, na década de 80, tinha a cabeça raspada). “Que merda!”, pensei comigo mesmo. Ou seja, até o dia da libertação dos “bixos”, teríamos que nos sujeitar a ouvir, calados, as grosserias dos “veteranos”, aguentar as brincadeiras tontas (medir um prédio utilizando palitos de fósforo, matar formiga no grito e outras babaquices) e (o pior e mais vergonhoso): quando nos tornássemos “veteranos”, esquecer de todas as afrontas recebidas e cometer as mesmas atrocidades com os nossos “bixos”. Resumindo: fazer tudo o que estava contra os meus princípios...
            Bom, o que realmente salvou o dia da matrícula foi poder ter uma ideia das pessoas com quem eu conviveria nos meus próximos anos de Unesp, inclusive alguns que eu já conhecia (John e Marky, por exemplo). Também conheci Lydia que, por ser um pouco mais velha, enganou os “veteranos”, dizendo que estava fazendo a matrícula para alguém, por procuração. Mas a pessoa que estava fazendo o processo da matrícula (cara chato do inferno) revelou toda a mentira e Lydia não escapou do banho de tinta. Pobre Lydia!
            Quando chegou a véspera do início das aulas, meu grande amigo August Richard me telefonou (ele era um dos meus veteranos) para avisar que havia confeccionado um bela fantasia (azul) para mim. Eu utilizaria a mesma no “primeiro dia de aula”, ou seja, eu seria o “bixo” que August iria trajar. Alguns esclarecimentos (para os leitores que não estudaram na Unesp): no primeiro dia, existe uma comemoração realizada pelos “veteranos” de Desenho Industrial, um misto de trote com baile a fantasia, onde cada “bixo” utiliza uma traje diferente. Apesar dos elogios que eu havia ouvido, referentes à tradicional comemoração, aquele horrível banho de tinta (recebido na matrícula) ainda estava em minha lembrança, de modo que eu não tinha boas expectativas em relação ao referido evento. Ainda mais que August, pelo telefone, me alertou: “vá na comemoração com a sua roupa mais velha e com o seu tênis mais vagabundo”. No dia seguinte, eu realmente faria o que ele pediu, em relação à roupa. Mas, infelizmente, me esqueci do detalhe referente ao tênis vagabundo...