quarta-feira, 30 de março de 2011

Capítulo 5 - Amor, Doenças e Drogas - Diários de Billy Winston


Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 5 – Amor, Doenças e Drogas):

Happiness Is a Warm Gun (The Beatles) 

http://www.youtube.com/watch?v=ZGrHEUvgt30

CAPÍTULO 5 – AMOR, DOENÇAS E DROGAS

Escrito entre: 03 de outubro de 2010
Período: 28 de setembro a 03 de outubro de 2010



            Na terça-feira, enquanto estava em meu carro escrevendo um diálogo entre Billy Winston e Karie (para o livro “Jimball Bilangs”), não pude deixar de recordar o assunto das “temporadas” novamente. Geralmente, nos seriados (ficção ou real), o personagem principal sempre termina com a pessoa amada. O meu “seriado”, no entanto, é um dos únicos onde o personagem principal (eu) nunca fica com a garota que ama. O amor, no meu caso, é uma ficção dentro da própria realidade. Amor: uma ficção dentro da realidade! Gostei dessa!
            Tive pouco contato com a maior parte das garotas que amei. Marry foi uma delas. Ela teve um pequena participação em “Cicatrizar e Recomeçar”, mas foi em “Jimball Bilangs” que dei a minha verdadeira impressão a respeito da personagem, a maneira como eu a enxergava quando a conheci, em 1986: uma garota meiga, delicada, misteriosa, silenciosa, bonita, incapaz de fazer mal a alguém. No referido ano, foram pouquíssimas vezes que conversei com ela. O diálogo mais comprido que tive com a mesma foi quando fizemos um trabalho em grupo, na classe, juntamente com o finado Barral, um amigo que estudava conosco. A partir de 1987, nunca mais estudamos na mesma classe e, assim, nunca mais nos falamos. 
           


            Um sonho muito estranho, na noite de terça para quarta: meu irmão Freddy (aos 8 anos de idade, mais ou menos) diz que não vai assistir ao jogo da seleção brasileira da Copa do Mundo (1ª opção), pois ele prefere, na verdade, assistir ao jogo da seleção brasileira da Copa do Mundo (2ª opção) (!?). Fico furioso, e falo que, se ele quiser assistir ao jogo da seleção brasileira (me referindo à 2ª opção, já que a 1ª opção é a minha), que vá assistir pela Internet. Mas ele não me dá ouvidos e, para aumentar minha raiva, minha mãe e meu pai acabam concordando com ele. Vou furioso para o meu quarto e encontro um pneu de carro na minha cama (um presente esquisito, mas que, na verdade, eu estava precisando muito). Tento arranjar outras soluções para o meu dilema em relação ao jogo: penso em ir à Lan house ou comprar uma parabólica (!?). Por fim, tenho outra idéia: pegar a estrada, tipo o livro “On the Road”, de Jack Kerouac (!?). No entanto, depois de toda essa confusão (tão comum em sonhos), finalmente me vem um pensamento racional: “Eu estou com muito ódio, por causa de toda essa situação ridícula com o meu irmão: como isso é possível, se não é de minha natureza ter ódio dos outros?”. E acabei acordando, depois desse pensamento.
            Para que relatar um sonho tão confuso como esse? Apesar de não ter ideia de como interpretar sonhos, a minha conclusão referente a ele é a seguinte: todo esse sentimento de ódio (por uma coisa contraditória e banal, como assistir ao jogo da seleção ao invés de assistir ao jogo da seleção), quem sabe, pode ser o tipo de ódio que o depressivo sente. Ou seja, a vida pode estar uma maravilha, com todos os seus gostos totalmente satisfeitos (verdade representada pelo pneu), mas a depressão faz com que essa pobre pessoa sinta um ódio irracional, oriundo do nada. E, no meu caso, pude sentir, nesse sonho, o ódio que o depressivo sente. E posso garantir que é um sentimento horrível... Que Deus tenha piedade desses pobres convalescentes!  


            Na quarta-feira à tarde, antes de dar aula para dois amigos (a senhora Isís e seu marido, o senhor Marty), dei uma passada no mercado e, quando olhei para uma das filas no caixa, vi um amigo dos velhos tempos, o Dudley, juntamente com a sua mãe. Não fui conversar com ele, pois fiquei com medo que o mesmo não quisesse que eu visse o seu estado desolador: olhos vidrados, o andar duro e hesitante, enfim, uma aparência mórbida. Pobre Dudley! As drogas acabaram com ele! Nem parecia mais aquele garoto forte e de bom coração que eu tinha conhecido no passado.
            E, por falar em antigos amigos e mercados, finalmente vou ter uma resposta para um dos e-mails que a minha amiga Cyrinda me mandou, há muito tempo atrás: qual o paradeiro (ou destino) de Hal (antigo vocalista de uma das minhas bandas, a “Soma”)? Para recordar: Hal tinha aquela doença gravíssima, chamada “Lúpus” que, mesmo com tratamento, existe o risco de morte. E Hal, infelizmente, não se tratava! A última vez em que eu havia visto o mesmo foi por volta de 2004. Assim, eu não sabia se o pobre Hal ainda estava vivo. Mas, graças a Deus, encontrei ele (há um mês, mais ou menos)  em um mercado, onde o mesmo estava trabalhando. Hal me disse que, agora, estava fazendo o tratamento de maneira correta. Nem precisava dizer, visto que pude perceber, de cara, a ausência daquela enorme mancha (em “formato de borboleta”) que cobria boa parte de seu rosto. Também falamos a respeito de nosso amigo Micky (guitarrista da “Soma” e personagem nos meus outros dois livros) que, agora, fazia parte de uma banda de muito sucesso em Curitiba, chamada “Herderos do Nada”.
            Por fim, só me resta desejar a Dudley toda a sorte do mundo: que ele se recupere de sua doença, assim com Hal se recuperou.

           
            Na noite de sábado, Carl, Bibi e Cyrinda vieram em casa para, finalmente, “scanear” as fotos que serão utilizadas no casamento. Foi um encontro legal, como sempre: além de mexer com as fotos, pedimos comida (esfirras), rimos com alguns vídeos da Teena (que é, tipo, uma versão feminina do Lang) e tentamos jogar alguns joguinhos no meu (velho e bom) computador MSX (mas o joystick acabou dando problema). E, o mais legal de tudo, pudemos falar sobre a Bíblia e seus ensinamentos, assunto que nos interessa muito.
            Não tenho a intenção (e também não acho correto) de usar a palavra de Deus para me vangloriar e contar vantagem. Mesmo assim, ouso dizer que, talvez, estejamos passando por um novo estágio de desenvolvimento da nossa própria fé. Carl, Eugene e Diane são de formação evangélica, enquanto Bibi e Cyrinda tem formação católica; eu tenho formação católica, mas sou simpatizante do espiritismo. Apesar de cada um ter a sua própria origem religiosa, não existe nada que nos faça entrar em conflito uns com os outros ainda que, algumas vezes, expressemos opiniões diferentes a respeito do assunto. É a tolerância religiosa vivida na prática, sem fanatismos nem exageros. E nossa fé não reprime o nosso próprio senso crítico e não faz com que viremos as costas para a ciência e seus mistérios (vida em outros planetas, por exemplo). Enfim, a palavra de Deus é motivo de união e não de discórdia entre nós.
            Mais uma coisa... Durante a semana, eu havia preparado dois exemplares do meu livrinho de poesia (“Sentimento e Insensatez”) para dar de presente: um para Carl e Bibi, o outro para Cyrinda. E acabei me esquecendo de entregar os mesmos... Afff!

segunda-feira, 28 de março de 2011

Capítulo 4 - As temporadas da Vida - Diários de Billy Winston


Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 4 – As temporadas da vida):

Swallow My Pride (Ramones) 

http://www.youtube.com/watch?v=TnrNV_7qc5M

CAPÍTULO 4 – AS TEMPORADAS DA VIDA

Escrito entre: 26 de setembro
Período: 24 e 25 de setembro


             Graças a Deus: Lucia acabou me contando que o médico, o qual ela havia visitado, era um psiquiatra! As coisas não podiam estar melhores! E, já que é assim, fico mais convencido de que deverei calar a minha boca durante o Chá Bar, caso minha aparência seja questionada. Mas ainda estávamos na sexta-feira (um dia antes da referida festa) e, nesse dia específico, como é de costume, fui até à Escola de Desenho Artístico, pertencente ao meu amigo John, para continuar a minha pintura dos “Banana Splits” (utilizando tinta guache).
            Comentei algo interessante com ele, ao lhe revelar a minha árdua tarefa em escrever o presente livro: a nossa vida é como um seriado, dividido em temporadas. A cada temporada, os personagens (que são nossos amigos) vão se modificando. Além disso, os referidos personagens vão aumentando ou diminuindo a sua participação em nossas vidas. Por exemplo: antes de 2005 (ano em que comecei a cursar Desenho Industrial, na Unesp), a participação de John, em minha vida, se limitava aos “episódios” de sábado a tarde, quando nos encontrávamos no curso de Desenho do nosso professor Mitsu. Passou um tempinho e John acabou abandonando o curso (e, consequentemente, o meu “seriado”, fazendo apenas algumas “participações especiais” quando nos encontrávamos eventualmente). Quando 2005 chegou e comecei a faculdade, John se tornou um dos personagens principais do meu “seriado”, pelo fato de nos encontrarmos na mesma classe (com participações obrigatórias nos meus “episódios” noturnos de segunda à sexta e, também, no sábado de manhã). Atualmente, como já estamos formados, as participações de John, na minha “série” diminuíram um pouco, se resumindo aos “episódios” de sexta a noite, com algumas participações especiais nos “episódios” de sábado (durante algum evento).
            Juntamente com John e sua namorada Liria, os personagens principais, presentes na atual temporada da minha vida, são Carl, Bibi, Cyrinda, Diane e Eugene. No passado, a maioria dos meus amigos (presentes nos meus dois livros anteriores, “Cicatrizar e Recomeçar” e “Jimball Bilangs”), que eram os personagens principais, hoje estão praticamente ausentes do meu “seriado”. A minha amada Vicky, por exemplo, esteve presente, apenas, na temporada de 1993. Lang, por sua vez, abandonou a “série” em meados de 1995. Todos são personagens marcantes e especiais que hoje, infelizmente, participam de minha vida apenas por meio de “flashbacks”, lembranças antigas ou até mesmo sonhos.
            Em se tratando de sonhos, ouvi falar, certa vez, que não existe distinção entre a nossa realidade e os nossos próprios sonhos (agora não me lembro a fonte de onde extraí tal informação). Ou seja,  os nossos sonhos também podem ser considerados pura realidade, consistindo em aventuras vividas em outros mundos, onde qualquer personagem de nossa vida (independente da época) pode participar. Como o presente livro não tem um roteiro pré-determinado (e nunca sei qual vai ser o rumo da história, por se tratar de um diário), a única maneira de incluir os personagens antigos seria encontrá-los, eventualmente, no decorrer dos meus dias (mundo real), ou em sonhos ou lembranças. Munido dessas novas ideias, aproveito para relatar o retorno de Adam Ball em minha “série”, por meio de um dos inúmeros sonhos que tive na noite de sexta para sábado.
            Porém, antes de tratar do referido sonho, gostaria de comentar que grande parte da história de Adam Ball está devidamente relatada no meu livro “Cicatrizar e Recomeçar”. No entanto, conheci Adam (e também seu irmão Sylvain) bem antes dos episódios contados no referido livro: foi por volta de 1984, quando finalmente estabeleci residência no Vista Alegre (Grass Valley). A primeira vez em que vi Adam e Sylvain, o primeiro estava na garupa da bicicleta do meu amigo Regie, enquanto o segundo se encontrava na garupa da bicicleta do meu amigo Roy (irmão mais velho de Regie). A primeira vez que conversei com eles, foi em uma novena realizada na casa de August. Ainda éramos muito novos: eu devia ter uns 8 anos de idade e, Adam e Sylvain, 5 anos e 4 anos, respectivamente. A partir dessa época, Adam tornou-se um dos personagens principais da minha vida, diminuindo sua participação no meu “seriado” em meados de 2005 (quando casou-se com Evelyn e mudou-se do Grass Valley) e saindo definitivamente da “série” em 2008, quando deixei a Empresa de autopeças, a qual nós dois trabalhávamos juntos. Depois disso, fez apenas duas pequenas participações especiais: a primeira, durante a festa de final de ano, na referida Empresa de autopeças (onde fui convidado a participar, em 2008); a segunda, quando veio visitar seus pais no Grass Valley e me encontrou no ponto de ônibus (em 2009). Depois disso, “paradeiro desconhecido”, utilizando uma das frases preferidas do próprio Adam Ball, ditas num tom de voz calmo e pausado.
            O enredo do sonho, o qual me referi, teve início quando Adam veio até a mim, dizendo que havia um belo carro antigo a venda. Não se tratava de um Karmann Ghia (o carro dos meus sonhos), estava mais próximo de um Alfa Romeo, mas me interessei pelo veículo mesmo assim. Então fomos, de repente, “teletransportados” ao local onde o carro estava sendo vendido. Assim, do nada, já estávamos no meu Uno vermelho, estacionados na Alameda dos Heliótropos, perto do bar de um antigo conhecido, o finado Fernando. A rua estava lotada, com carros estacionados dos dois lados e várias faixas amarelas, que proibiam o estacionamento. No próprio sonho, acabei lembrando de um conselho de um tio, que também já havia falecido (no mundo real): “Nunca mostre interesse em algo que você esteja interessado, na hora da compra”. Então, para não mostrar o interesse pelo Alfa Romeu (que estava estacionado em uma oficina, quase na frente do bar do Fernando), entramos em uma loja de tapetes que havia por perto. E o que uma loja de tapetes tem a ver com o fato de não mostrar interesse pelo carro? Não sei: nos sonhos, é normal tomarmos atitudes idiotas e sem sentido. Depois de um tempo, eu e Adam Ball saímos da loja e voltamos para o Uno, onde acabei percebendo que a embreagem estava quebrada. P... que pariu! Quase dois dias inteiros para arrumar a porcaria da embreagem, quase R$ 700,00 desembolsados no conserto (essas lembranças são provenientes do mundo real) e ela me quebra novamente? Finalmente, um belo momento de lucidez, no próprio sonho: “De que adianta eu comprar um Alfa Romeu (ou até mesmo um Karmann Ghia)? Não consigo dar conta nem do meu Uno! Vou querer arranjar mais um carro velho só para me dar dor de cabeça?”. Depois que esse pensamento surgiu em minha mente, acabei acordando e, aliviado, pude lembrar que, como tudo havia sido um sonho, a embreagem do Uno ainda estava intacta, no mundo real.
            Na parte da manhã fui, como de costume, na aula de gaita do senhor Cash. Quase na hora do almoço, quando estava retornando da aula, acabei vendo Jim (personagem de “Cicatrizar e Recomeçar” e “Jimball Bilangs”), chegando do serviço. Ele me acenou e eu retribuí o aceno. Nos velhos tempos, estávamos sempre juntos, escrevendo nossas poesias, trocando nossos discos de vinil, brigando pelo amor de Pam (outra personagem dos livros citados anteriormente) e agora, na atualidade, éramos apenas meros vizinhos, que raramente se viam. Para completar o sentimento de nostalgia, na parte da tarde, aquele jovem loiro, que mora em frente de casa, estava recebendo os amigos, todos na maior algazarra (talvez estivesse organizando uma festa, quem sabe). Então, recordei que, no passado, era eu quem recebia os amigos na esquina de casa, gritando, contando piadas e nos divertindo: Adam Ball, Jim, Lang, Micky, Jordy, Turky, Cindy, Pam e muitos outros. Senti um enorme desgosto, vindo das profundezas da minha alma. Tive vontade de ligar para cada um deles (não importa onde os mesmos estivessem), armar a bateria (e os outros instrumentos) na garagem e tocar o nosso rock n´roll, como nos velhos tempos. A ideia foi frustrada pela lembrança de que, cada um deles, nos dias de hoje, tinham outros interesses (e problemas) completamente diferentes dos meus. Por que se preocupariam com um velho amigo (tolo e sentimental) que estava, apenas, sentindo saudades?
            Mas eu tinha outros amigos agora (conforme expliquei, a partir do lance do seriado e das temporadas), que estariam me esperando no aguardado Chá Bar, na parte da noite. Acabou sendo um evento divertido, com poucas críticas referentes à minha aparência. Assim, não precisei me esforçar muito no teste de paciência. Que bom seria se todas as festas fossem assim! A única coisa ruim é que não terei mais nada de interessante para escrever, a respeito da referida festa. Talvez seja verdade o pensamento que diz que, para fazer boa arte, é necessário sofrer. Que saco!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Capítulo 3 - O Fogo - Diários de Billy Winston




Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 3 – O Fogo):

Flaming (Pink Floyd):

http://www.youtube.com/watch?v=GCjbILaXogc

CAPÍTULO 3 – O FOGO

Escrito entre: 19 de setembro de 2010 e 24 de setembro de 2010
Período: 18 de setembro


            A Bíblia é, para mim, um dos livros mais interessantes e inspiradores, fato que não engloba fanatismos, preconceitos ou que enfraqueça meu senso crítico. Por exemplo, imagine a possibilidade de ler a Bíblia ao som do Black Sabbath, ao mesmo tempo que se estabelece uma relação entre o conteúdo dos seus livros sagrados e a doutrina de Allan Kardec. Antes de qualquer contestação, só para relembrar: “não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons”. Ou seja, não existe nada de ilícito no Livro dos Espíritos, assim como não existe nada de satânico nas músicas do Black Sabbath (apenas temas de terror inseridos em letras de rock n´ roll, coisa que qualquer pesquisador sério conhece muito bem). E, mesmo se existisse algo de satânico, o problema seria todo da banda e não meu, já que eu não estaria, de forma alguma, seguindo as suas ideias macabras: pelo contrário, estaria apenas apreciando a sua música, na maior inocência, sem me deixar influenciar pelo mal. Mas não existem pessoas que se matam ou praticam o pecado, influenciadas pelo rock? Com certeza! No entanto, nem todas as pessoas tem cabeça fraca (e eu me incluo entre elas). Certa vez, um tio me disse: “Quem anda com Deus não tem medo do diabo”.
            A Bíblia, também, é muito reconfortante em certas situações, ou seja, é um consolo para os nossos momentos de tristeza e decepção. No entanto, confesso que um dos livros, presente em seu acervo, me deixa triste e desolado: o Apocalipse. Não que seja um livro ruim (muito pelo contrário, é um dos meus preferidos), o fato é que o seu conteúdo é pesado e assustador (muito mais assustador do que qualquer música do Black Sabbath, pode acreditar). Por outro lado, esse mal estar que o livro me proporciona é benigno, visto que reforça aquela ideia de sempre procurar fazer o bem (de todo o coração, sem falsidades) para merecer, no dia do juízo, a compaixão de Deus e não a sua ira (reservada aos pecadores). Também fortalece aquela ideia de que essa vida não é a definitiva, verdade tão óbvia que, no entanto, acabamos nos esquecendo (mesmo a morte provando tudo isso).
            Apocalipse significa revelação, ou seja, nos revela o destino da humanidade. Tal livro, escrito pelo apóstolo João, contém uma narrativa repleta de tragédias (muitas delas envolvendo causas naturais, como elementos do céu, terra e ar, por exemplo). Mesmo o livro tratando de tragédias mais abrangentes e universais, confesso que (pensando por um lado mais pessoal) considero algumas fases da minha vida inseridas em um “completo Apocalipse”: brigas familiares, desilusões amorosas, injustiças... No entanto, não posso deixar de admitir que a minha sensação, depois que a “fase de Apocalipse” passa, é uma das mais felizes e confortáveis.
            Na tarde de sábado, depois de uma semana repleta de altos e baixos (problemas com o carro), recebi um telefonema da minha prima Shirley, me dizendo que minha outra prima (Clare) havia chegado em Bauru, trazendo seu filho recém-nascido, que ainda não conhecíamos. Concordamos em visitar Clare e o pequeno Johnny, na casa de sua mãe (nossa tia mais velha) e, também, aproveitar para rever os parentes que não víamos há algum tempo. Depois de alguns minutos e de mais uma pequena discussão com Lucia (tentando, inutilmente, explicar que a mágoa só é ruim para quem guarda a mesma consigo), ouvi Shirley me chamando no portão de casa. Entramos no meu carro e partimos. No caminho, apanhamos minha tia Nancy (que também queria conhecer o pequeno Johnny e rever a família) e seguimos para o nosso destino, chegando até ele em poucos minutos. Apesar das tradicionais explanações ao meu respeito, só para me deixar triste (do tipo “o inocente que não conhece a vida e não tem noção do que está fazendo”), foi uma reunião divertida, que me fez relembrar os velhos tempos. E o pequeno Johnny, realmente, é uma criança adorável, e acabou compensando todos os inevitáveis contratempos. Na hora de partir, outra prima (Mila) nos acompanhou, juntamente com as suas lindas filhas (Line, de 6 anos e Luly, de 4 anos). Deixei Shirley em sua casa e levei tia Nancy, Mila e suas duas crianças em casa, para rever Lucia. Naquela noite, conforme eu havia marcado em minha agenda para não esquecer, se realizaria a festa (Chá Bar) dos meus amigos Carl e Bibi, que se casariam em breve. Dessa forma, tomei meu banho, me troquei e separei os presentes que eu levaria para a festa (entre eles, um retrato do casal, feito com a técnica do pontilhismo). Em seguida, depois de ficar brincando com a minha gatinha Melody, juntamente com Line e Luly, peguei o carro e parti para o meu destino. Aproveitei para deixar Mila e suas meninas na casa de sua mãe e, depois, minha tia Nancy em sua casa. Finalmente, segui para o “Chá Bar”, não imaginando que, naquela noite, teria uma pequena amostra do meu “Apocalipse pessoal”, percepção que comentei anteriormente.
            No meio do caminho, me lembrei que precisaria levar um refrigerante para a festa, então aproveitei para comprá-lo naquele tradicional mercado da Vila Falcão. Estava achando o céu terrivelmente sombrio, não tanto pelo seu aspecto, mas sim pelas preocupações referentes à doença de Lucia. A impressão que tenho, às vezes, é que os elementos naturais se tornam bonitos ou feios segundo o nosso estado de espírito. Depois de comprar o refrigerante, enquanto estava no estacionamento do mercado, me veio à mente, do nada, aquele velho pensamento referente à nossa vida no Planeta Terra: o fato da mesma não ser a definitiva, conforme já citei. Logo em seguida, me veio outro pensamento, complementando o anterior: “Se essa não é a vida definitiva, porque se importar tanto com as coisas? Onde está a sua paciência?”. Não era um pensamento “inédito”: apenas havia me esquecido dele e estava recordando do mesmo, naquele exato momento. Paciência! Que tal, então, fazer um teste de paciência? Eu sabia que teria de aturar, como em toda festa que se preze, desagradáveis satisfações ao meu respeito: cabelo, aparência (peso e altura), “encalhações” e outros elementos não duráveis. Mesmo me sentindo ofendido com essas satisfações (tendo consciência de que muitas pessoas não tinham a intenção de me ofender), foram poucas as vezes que eu devolvi o “insulto”, na mesma medida, para o “agressor”. O grande problema é ficar me remoendo depois (por dias e até meses) por causa dessas horríveis considerações ao meu respeito. Então tomei uma decisão: durante o desenrolar da festa, além de não revidar, não ficaria me remoendo, posteriormente, com as críticas feitas ao meu aspecto físico. A minha mente sempre compreendeu que as mágoas, referentes às críticas que recebemos (no meu caso, a aparência física) são pura obra do orgulho. Mesmo assim, sempre me enfurecia quando era “ofendido”, ou seja, entendia muito bem a “teoria da mágoa”, mas não praticava. Eu mesmo não havia falado para Lucia, anteriormente, que guardar mágoa não é bom? Que hipocrisia é essa? E, caso alguém me julgue pela aparência, o erro é da própria pessoa e não meu, certo? Será que todas essas futilidades, a respeito do meu físico, seriam mais importantes que a cura de Lucia?
            Por fim, com todas essas ideias povoando a minha mente, misturadas às imaginações referentes à animada festa, parti para o meu destino. Sabia que alguma coisa de diferente aconteceria, naquela noite. No entanto, quando parei em frente à casa da família de Bibi, foi como se eu tivesse acordado de um sonho ou, talvez, morrido e acordasse em outra vida. As imaginações as quais me referi (por exemplo, muitos carros parados na porta, muitas pessoas entrando e saindo da casa, risadas, pessoas queridas vindo me receber) foram substituídas pelo silêncio e pelo aspecto desértico que tomava conta da rua. Achei até que havia chegado cedo demais e olhei para o relógio, constatando que eu estava até um pouco atrasado. Com certeza, havia me enganado a respeito da data da festa ou a mesma havia sido cancelada. Mesmo assim, resolvi conferir e apertei a campainha. Carl, em seguida, veio me receber e acabei me adiantando: “Puxa vida, acho que marquei errado, na minha agenda, o dia da festa, não é mesmo?”. Carl achou graça e me disse que, realmente, a festa seria no sábado seguinte.  Mas me chamou para entrar, e eu aproveitei para entregar para ele e para Bibi os presentes. Para não perder a noite, combinamos de nos dirigir até minha casa para “escanear” algumas fotos antigas, que seriam utilizadas para o casamento. Bibi ou Carl (agora não me lembro) ligaram para Cyrinda, para que a mesma se juntasse a nós.
            Novamente, a mesma estranha sensação: como se eu tivesse acordado de um sonho ou, até mesmo, morrido e acordado em outra vida. Escutamos os gritos da avó de Bibi (que morava na casa da frente) e em seguida da própria Bibi. Quando eu e Carl saímos para constatar o que acontecia, a primeira impressão que tive foi a de que o céu estava vermelho, pegando fogo. E o primeiro pensamento foi “finalmente, chegou o dia do Apocalipse”, me lembrando da passagem que fala dos sete anjos, cada um deles com uma taça contendo o furor de Deus: “O quarto anjo despejou sua taça no sol. E o sol recebeu permissão de queimar os homens com fogo”. Mas eu estava enganado: o que deu essa impressão foram as altas labaredas que estavam atingindo a casa, provenientes do terreno vizinho.
            Enquanto Bibi ligava para os Bombeiros, Carl me pediu para desenrolar uma mangueira que estava conectada à torneira, no fundo do quintal. Em seguida, conseguiu subir no telhado com ela. Liguei a torneira e Carl começou, aos poucos, apagar as chamas que se alastravam rapidamente, por causa do forte vento que soprava. Pensei em utilizar uma outra mangueira que existia por ali e, antes mesmo de colocar em prática o procedimento, a avó de Bibi já havia pensado na possibilidade, entrando em ação logo em seguida. Infelizmente, constatamos que de nada adiantaria nossa boa vontade: ligando uma torneira a mais, o resultado seria uma diminuição do fluxo de água na mangueira que Carl estava utilizando. Então restou, apenas ao meu amigo, a árdua tarefa de conter as chamas.
            Cyrinda havia chegado naquela altura, enquanto um grande mal-estar nos dominava. Meus olhos ardiam, meu nariz escorria: era uma sensação de “inferno na Terra”, enaltecida com a estranha mistura do conjunto fogo-fumaça-cinzas, mergulhadas às trevas daquela noite sombria. Num certo momento, uma espécie de labareda com fogo, por pouco, não atingiu meu rosto, já que Carl conseguiu me avisar a tempo. Se eu já estava passando mal no solo, imaginei a situação dele, que estava no telhado, tão próximo das chamas. A única coisa que pude fazer foi lançar, para ele, o meu gorro da “Copa de 94”, para que ele colocasse o mesmo no rosto e se protegesse. E Carl continuava naquele combate incessante contra o fogo, ao mesmo tempo que xingava, com raiva e em alto tom de voz, os autores daquele crime. Ou seja, meu amigo Carl me provou uma ideia que eu já tinha comentado, certa vez, com meu amigo Dezones: “É preferível ter raiva, ao invés de permanecer depressivo”. A raiva, em muitos casos, é um sentimento benigno, visto que nos dá coragem para agir (ao contrário da depressão, que nos deixa com medo e impotentes). Carl “tirou de letra” esse pensamento e, quando os bombeiros chegaram, boa parte do fogo já havia sido combatido. Os bombeiros, então, terminaram de fazer o serviço que restava.
            Quando todo o drama terminou, me lembro de várias pessoas em frente à casa da família de Bibi. Foi engraçado porque, num certo momento, estávamos comentando que o fogo chegou a atingir a caixa-d'água, e o bombeiro disse para Bibi: “Fia, quando você ligar pra gente, nunca fale que está pegando fogo na caixa-d'água, pois a gente vai achar que é trote”. Depois do susto, quando todo o pessoal foi embora, resolvemos deixar para “escanear” as fotos do casamento outro dia: pediríamos uma pizza e assistiríamos um filme, por lá mesmo. Antes, fui tomar um banho e Carl me emprestou uma calça e uma camisa dele (pois a minha estava cheirando fumaça).
            E uma sensação muito boa invadiu o meu ser, aquela sensação maravilhosa depois de todo o “Apocalipse”. Depois de viver momentos de tensão e de passar mal com a fumaça, posso dizer que aquele momento posterior (junto aos meus amigos, assistindo ao filme e comendo pizza), me passou uma sensação de conforto que poucas vezes senti em minha vida. Não sei nem como explicar... Imaginei, então, o momento posterior ao da destruição relatada nas profecias do Apocalipse da Bíblia, quando o reino de Deus finalmente será instaurado. Se o nosso “Apocalipse” daquela noite (incêndio) me trouxe uma agradável sensação após todo o acontecido, imagine a sensação posterior ao “Apocalipse divino”.
            Situações engraçadas sempre são importantes para quebrar um pouco a tensão referente aos acontecimentos trágicos (tipo a caixa-d'água pegando fogo, por exemplo). E no final da noite, fomos brindados com mais uma: o fogo acabou voltando (em menor intensidade, proveniente das poucas brasas que haviam restado), atingindo, dessa vez, a cerca do vizinho. Carl correu para avisá-lo: “Vizinho, Fogo!”. E o referido vizinho saiu cambaleando de dentro de sua morada, perguntando algo do tipo: “Como você sabe que eu estou de fogo?”.
            Bom, comecei a escrever essas lembranças no Domingo (dia seguinte à noite do incêndio) e, por falta de tempo, só consegui concluí-las agora, nessa Sexta-feira nublada. Dessa forma, amanhã (Sábado) é o dia oficial do “Chá Bar”, onde terei, enfim, a oportunidade de testar a minha paciência, procedimento que já expliquei anteriormente. Deus deve estar muito contente comigo (e não estou disposto a desapontá-lo com a minha impaciência), pois me concedeu uma graça: Lucia acaba de ir ao médico se tratar (em companhia de minha tia Nancy). Parece um fato corriqueiro, mas para quem não queria aceitar nenhuma forma de tratamento ou médico, a sua ida ao consultório é, com certeza, uma grande vitória (mesmo não sendo, talvez, um consultório de psiquiatria). Por ora, não sei mais o que escrever, visto que todo o material, pertencente ao próximo capítulo, será revelado apenas amanhã, até o momento do esperado “Chá bar”.
           

quarta-feira, 16 de março de 2011

Capítulo 1 - Nosso Lar / Capítulo 2 - O Mercado - Diários de Billy Winston

  
DIÁRIOS DE BILLY WINSTON (de Alê Braz Gardiolo)


Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 1 – Nosso Lar):

Nocturnal Me (Echo & The Bunnymen) 

http://www.youtube.com/watch?v=CZFScP4B4Q4


CAPÍTULO 1 – NOSSO LAR

Escrito em: 07 de setembro de 2010
Período: 04 de setembro de 2010


            Varrer a calçada durante uma ventania, a preocupação em ser famoso sabendo que um dia irá morrer, o ressentimento pelo fato da fé de outra pessoa ser diferente: alguns pensamentos que estavam na minha cabeça, durante aquela melancólica noite. Felizmente, eu tinha consciência que tudo isso não passava de meras futilidades, não aprovando, de maneira nenhuma, tais ideias. Mas confesso que, talvez, eu estivesse me remoendo pelo fato de muitas pessoas pensarem dessa maneira. Pois é, ninguém é perfeito...
           Eu, que já passei por tantos problemas (como todas as pessoas), agora enfrento um dilema que jamais imaginei, um dia, poder encarar. Talvez, se pudesse ter refletido antes, poderia até me preparar para evitar tudo. Mas, como eu poderia imaginar um problema dessa natureza, onde os mais nobres argumentos são inúteis e até mesmo Deus é colocado de lado, substituído por futilidades e sentimentos egoístas? E pior, quando defendo Deus e seus ensinamentos, sou injustamente acusado de falsidade, mesmo as minhas boas atitudes, aos olhos de todas as pessoas conhecidas, mostrarem o contrário. Jesus não disse que “não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons”? Não tenho inimigos, não consigo guardar mágoa de ninguém, não me envolvo em atos ilícitos, sou educado com todos: então, qual o motivo para ser julgado? Apenas com essas palavras, muitos já devem ter adivinhado a doença que estou enfrentando e concluído que a tal doença nem mesmo é minha. Pois é, tenho que dar conta das minhas próprias enfermidades e das enfermidades dos outros também.
            No entanto, naquela noite, mesmo mergulhado nessa confusão desagradável de pensamentos, sentado em um banco de supermercado, comecei a contemplar a beleza das estrelas e sentir, com alegria, a brisa suave que “golpeava” carinhosamente o meu rosto. Depois de um tempo, como já era hora de partir, entrei no meu carro. Dei a partida e, durante o trajeto, comecei a reparar nas belas casas, prédios e ruas que muitos seres humanos tiveram a capacidade de construir. Quantas pessoas com competência e inteligência (virtudes dadas por Deus, diga-se de passagem) participaram daquelas construções, ou seja, se dedicaram para que tudo ficasse bonito e usual? E as árvores criadas por Deus que, mesmo de noite, misturadas com as luzes dos postes, criavam uma atmosfera mágica e acolhedora?
            Passado mais algum tempo, apanhei minha amiga Cyrinda em sua casa e, logo em seguida, a minha amiga Bibi e... Que pessoas maravilhosas! Acabei me lembrando, também, de muitos outros amigos que estavam ausentes naquela noite (inclusive aqueles que já não estavam mais entre nós). Finalmente, chegamos ao cinema e assistimos a um filme maravilhoso (o filme “Nosso Lar”). A noite terminou, levei minhas amigas para suas respectivas casas e me despedi. Em seguida, tomei o meu caminho e, quando cheguei em minha própria casa, fui recebido com carinho pelo meu cão Ritchie, um dos cachorrinhos mais bonzinhos e simpáticos que tive a oportunidade de conhecer nessa vida.
            Agora eu pergunto: o Planeta Terra é um planeta de expiação? Certamente! No entanto, isso não é desculpa para ser infeliz ou para deixar de se divertir. Deus, em sua infinita bondade, mesmo nos colocando nesse “planeta prisão”, nos deu alternativas para reduzir ou nosso sofrimento, seja com a beleza de suas criações, seja com a nossa inteligência, seja com os nossos maravilhosos amigos. Ah, antes que eu me esqueça: e o que pensar das pobres pessoas que não tem nem o que comer e nem onde morar? Será que não estamos chorando de barriga cheia? Será que toda a nossa lamentação tem sentido? Pensemos nisso antes de nos entregar à Depressão.




Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 2 – O Mercado):

Fixing a Hole (The Beatles) 

http://www.youtube.com/watch?v=j0I2ZrBuFdQ
 
CAPÍTULO 2 – O MERCADO

Escrito em: 12 de setembro de 2010
Período: 07 de setembro a 10 de setembro

Ritchie

            Finalmente, naquela terça-feira de feriado, a chuva veio, depois de um longo período de estiagem. Nunca pensei que um dia de chuva pudesse ser tão lindo! E o meu sofrido nariz pôde respirar aliviado, novamente.
            Passaram-se dois dias. Em uma certa manhã, fui despertado por um barulho estranho e, quando cheguei à cozinha, presenciei Lucia raspando a mesa. O tratamento da madeira da referida mesa tinha algumas regiões escuras e Lucia imaginou que fosse algum tipo de sujeira. Aproveitou a ocasião para me acusar de ter sujado a mesa. Filmagens e fotografias de tempos mais felizes (e não são poucas), onde a família inteira se reunia para a refeição, atestam a minha inocência: as manchas escuras da mesa sempre existiram. Pensei em mostrar as provas da minha inocência para Lucia mas, depois, mudei de ideia: fiquei com medo que ela me acusasse, dessa vez, de ter falsificado as filmagens e as fotos mostrando as tais manchas... O interesse pelas possibilidades que a vida nos oferece e toda a grandiosidade do nosso planeta são substituídas por discussões fúteis a respeito de manchas de mesa! Percebe-se, mais uma vez, que os seres humanos são incorrigíveis...
            No dia seguinte, fui pagar a conta de luz. Existia, na própria conta, o endereço de um mercado onde esse tributo poderia ser pago. Ficava no bairro São Geraldo, que é vizinho do meu bairro (Vista Alegre). No entanto, eu não conhecia aquela rua mostrada na conta. Resolvi, então, me dirigir para a rua “Flor do Amor” (rua principal do bairro São Geraldo). Comecei a procurar aquela desconhecida rua do mercado que, segundo minha intuição, formaria um cruzamento com a própria “Flor do Amor”. Acertei em cheio e, em pouco tempo, estava no Mercado, pagando a minha conta.
            Que estranho! Um mercado tão perto de minha casa, e eu nem sabia da sua existência! O que dizer, então, de toda a grandiosidade do nosso planeta, a qual me referi anteriormente? Quantos lugares e paisagens (todos disponíveis para serem visitados), estão a nossa espera, enquanto ficamos discutindo e brigando por manchas de mesa e outras futilidades? Coloque aqui a futilidade que você quiser: qualquer futilidade é fruto do nosso orgulho, ou seja, “é tudo farinha do mesmo saco”.
            Aquele acolhedor mercadinho me fez lembrar de “José Bonifácio”, no tempo em que meus tios moravam por lá. Eu era muito novo, não tenho lembranças muito claras do lugar. Apenas me lembro que a janela da casa de meu tio e de minha tia dava para o quintal de um mercado vizinho. Me lembro, também, dos brinquedos do meu primo Simon (dispostos, para brincar, na parte traseira do carro do meu pai, uma Brasília vermelha), da Kombi dirigida por alguém (onde eu ficava no banco de trás e meu avô paterno acompanhava o motorista no banco da frente), da tempestade que fez meu pai parar a Brasília no acostamento (durante a viagem), da ponte de um clube que se localizava no meio de muitas cachoeiras (um lugar mágico) e dos “brinquedos “porta balas” (comprados no posto). Se um simples mercado do São Geraldo me trouxe a tona todas essas boas lembranças, imagine lugares mais aprazíveis, como montanhas floridas, campos de trigo e florestas desabitadas. Vale a pena ficar discutindo por futilidades?        
            E, falando em natureza, que tal trazer uma parte dela para a nossa própria casa? Não é preciso gastar muito para cultivar um jardim. Naquele fim de semana, comprei terra vegetal, vasos e várias sementes de flores para mim (Dálias, Margaridas, Cravos e Cravinas) e também “Catnip” (a erva dos gatos) para os meus bichanos (Melody, Jean, Jane e, também, para Mimi, que já não pertence a esse plano). Para não ser injusto com Ritchie, meu cachorro, plantei um vaso com Erva-doce para ele (ele adora). Pois é: sempre se pode plantar um jardim quando a vida parece não oferecer mais nada...