domingo, 24 de novembro de 2019

Capítulo 15 - Hoje é o dia dos namorados... E o que minha banda tem a ver com isso? - Livro: O livro do amor para os corações solitários

Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 15 - Hoje é o dia dos namorados... E o que minha banda tem a ver com isso?



            Quando 2004 chegou, a minha banda, a Máfia de Memphis, já estava com a sua formação definida. Burt entrou na banda e se tornou nosso guitarrista solo. Como Rog saiu para se tornar nosso agente, Caleb (irmão de Burt) assumiu o baixo. Então a formação ficou assim:  eu na guitarra base, Burt na guitarra solo, Caleb no baixo, Andrew na bateria e Aaron no vocal. A Máfia de Memphis foi a primeira banda que montei que finalmente fez um pequeno sucesso local. Não éramos os melhores músicos do mundo, porém conseguíamos apresentar um show espetacular, tamanha a nossa energia no palco. Eu, por exemplo, treinei por horas para conseguir tocar guitarra e pular ao mesmo tempo e, também, tocar guitarra e dançar ao mesmo tempo. Aaron conseguia, por sua vez, imitar com muita maestria os trejeitos e danças do Elvis. A energia era a marca registrada de nossa banda, sem dúvida.
            Muitas pessoas que assistiam a nossos shows vinham me perguntar se eu era o líder da banda. Eu não me via, sinceramente, como um líder: eu me considerava mais como um organizador. Eu decorava o repertório, muitas vezes ajudava os integrantes quando alguém esquecia alguma parte da música e, o mais importante: zelava pela manutenção do tom correto durante a execução das canções. Não sou muito bom em teoria musical e também não sou um músico muito virtuoso, mas se houver algo que não está correto em uma canção, eu consigo identificar imediatamente o problema. Então fui muito útil nesse sentido, organizando os tons corretos, afinações dos instrumentos, vocais e outros pontos importantes. E sem ser um ditador, como eu era em tempos mais remotos. Eu havia melhorado muito como pessoa e como músico também.
            Por falar em não ser mais um ditador dentro da banda, eu fui o que menos me envolvi em conflitos mais sérios e discussões. Quando algum problema ocorria, eu procurava resolver tudo através de um diálogo amigável, sem brigas. Certa vez, Caleb chegou dizendo que tinha arranjado algo para dar uma boa incrementada no show. Fiquei curioso e perguntei o que seria. E ele me mostrou duas enormes “pantufas pé de urso”. Não acreditei naquilo! Então, com bastante tato, expliquei para ele que, para uma banda cover do Elvis, a utilização de duas “pantufas pé de urso” durante os shows, não iria combinar com o estilo da banda. Não era um show dos Mamonas Assassinas, e sim de uma banda de rock dos anos 50. Caleb ficou um pouco decepcionado, mas entendeu os motivos, desistindo da ideia das pantufas posteriormente.
            Infelizmente, para quebrar toda aquela minha paz de espírito e, como uma exceção à minha regra de evitar os conflitos através de um bom diálogo, acabei me desentendendo com todos os outros integrantes da banda, justamente no último show com aquela formação. Apesar de toda a minha serenidade, devo admitir que paciência tem limite. E perdi minha paciência naquela ocasião. Vou explicar melhor.
            Foi um show no chamado Anthigus Bar e, por coincidência, aquele show caiu bem no dia dos namorados. Enquanto estávamos arrumando todo o som, na parte da tarde, os meus quatro amigos, integrantes da banda, me chamaram para conversar. Disseram que estavam com uma nova ideia para o show, durante a música “Can't Help Falling In Love”, a música mais lenta e romântica do nosso repertório. Como o bar possuía vários bancos próximos ao palco, me perguntaram o que eu achava de, durante a referida canção, tocarmos sentados, num clima mais intimista, como em um show acústico. Um número executado dessa maneira para, inclusive, celebrar o dia dos namorados. Achei a ideia sensacional! Apesar de toda a nossa energia no palco, Can't Help Falling In Love” era um momento onde essa energia era substituída por um clima mais calmo, mais romântico. Assim, tocarmos sentados, como um acústico, durante a referida canção, não atrapalharia de maneira alguma a nossa performance mais “selvagem”, mostrada nas outras músicas. Inclusive, me comprometi em levar meu violão elétrico, para que Burt o utilizasse durante a canção. Terminamos de conversar e cada um foi cuidar dos seus afazeres e instrumentos, para o show daquela noite.
            Passou mais alguns minutos e, de repente, meus quatro amigos voltam e dizem que precisavam conversar comigo mais uma vez. Haviam mudado de ideia: ao invés de tocarem sentados apenas em Can't Help Falling In Love”, haviam decidido tocar sentados o show inteiro, por causa da por** do dia dos namorados. Eu não acreditei que estava ouvindo aquilo! Era sério? Incrédulo, expliquei que o nosso show perderia toda a energia, se procedêssemos daquela maneira. Então Andrew, nosso baterista, explica que “era essa a intenção”. P*** que pariu! Os caras, por acaso, estavam de brincadeira com minha cara? Vejam bem: como eu disse, a marca registrada de nossa banda era a energia no palco. Como abrir mão de nossa maior qualidade? Ainda mais por causa de um mero dia dos namorados? E quanto as pessoas, as muitas pessoas que veriam o nosso show pela primeira vez? Que raio de banda era aquela onde todo mundo tocava sentado? Aquilo era uma ideia absurda e procurei explicar todo o meu ponto de vista, mas ninguém quis concordar com os meus argumentos. Nem mesmo Aaron! Então perdi a boa, e resolvi falar a real: o dia dos namorados não significava nada para mim! Nada! Era um dia que só me trouxe desgosto, durante toda a minha vida. E, para completar todo o desgosto, aquela comemoração, agora, queria estragar todo o show da nossa banda! Como uma espécie de vingança final! Falei, ainda, que a dia dos namorados foi criado pensando no comércio, uma maneira de lucrar com a compra de presentes. O desgraçado que inventou essa data não estava nem aí com você ou sua namorada. Era tudo uma questão de lucro, apenas. Tocar sentado por causa do dia dos namorados? Quer dizer então que, no dia da independência, dia 7 de setembro, deveríamos todos tocar de verde e amarelo? E a discussão seguiu e, como não estava chegando a nenhum resultado favorável, como parecia não terminar nunca, então resolvi dizer: “Tudo bem, se vocês quiserem tocar sentados, podem tocar, sem problemas. Eu, porém, vou tocar em pé, como eu sempre fiz, por amor à nossa banda”. Meus quatro amigos, então, me viraram as costas, me deixando sozinho. E, com muita raiva, disseram que eu era muito “estrelinha”. E era “estrelinha” mesmo, coisas que eles também deveriam ser. Claro, aquilo era um show, meu Deus do céu! Ser “estrelinha” fazia parte de toda aquela empreitada. Não tinha como ser diferente! Mas as coisas ainda iriam piorar mais...
            Na parte da noite, cheguei ao Anthigus Bar, com minha guitarra, e um dos funcionários disse que tinha alguém querendo falar conosco. Eu era o único membro da banda que estava no bar, naquele momento, então fui conversar com o cidadão. Era um velho, muito mal-humorado, dizendo que era da Ordem dos Músicos. E queria ver minha carteirinha de músico. Eu disse que não tinha carteirinha nenhuma. Então o velho, muito arrogante, disse que eu seria autuado caso eu subisse no palco. Tentei argumentar, mas o velhote foi irredutível. Perguntou se alguém da minha banda possuía a carteirinha e que, caso a resposta fosse afirmativa, liberaria nosso show. Eu sabia que ninguém tinha a carteirinha. Porém, para ganhar tempo, eu disse que, talvez, o nosso vocalista tivesse. Então o velho afirmou que iria esperar Aaron chegar, para conferir. Entrei no setor do bar onde ficavam as mesas e já tinha muita gente. Inclusive minha mãe. Cumprimentei todo mundo e chamei minha mãe de lado, dizendo que, talvez, o show seria cancelado naquela noite, por causa da Ordem dos Músicos. Minha mãe, então, foi conversar com o velho, que disse para ela ter paciência, pois ele estava esperando o restante da banda chegar para ver o que seria decidido. Resolvi ligar para Rog que, como eu disse, agora era o nosso agente. Rog disse para que eu ficasse tranquilo pois, se o suposto membro da Ordem proibisse nosso show naquela noite, ele simplesmente mandaria fechar as portas do bar, mantendo o público que lá estava, e tudo seria como se fosse um show particular.
            Fui para fora do bar, para refrescar as ideias, quando Aaron e os outros finalmente chegaram. Expliquei toda a situação e Aaron ficou muito chateado. Fomos então conversar com o temido velho. Chegando na recepção, onde o cidadão estava, o mesmo olhou para Aaron, muito surpreso, e disse “então você é membro da banda, também?” Sim, o velho conhecia Aaron! A partir daí, o velhote abandonou sua arrogância habitual e começou a explicar, amigavelmente, a necessidade da lei ser cumprida. E que, em consideração a Aaron, não impediria a nossa apresentação. Somente disse para providenciarmos a carteirinha, para evitar problemas futuros. A situação estava resolvida!
            Quando o velho foi embora, fui conversar com Aaron sobre toda aquela situação da Ordem e o mesmo, sorrindo, me disse: “Você não sabe da maior. Ele nem é da Ordem dos Músicos”. Na verdade, aquele velho era apenas um grande “dedo-duro”, um verdadeiro “estraga-prazeres”, que em nome da lei gostava de infernizar a vida dos outros. P*** que pariu! Quer dizer que ele havia ficado todo aquele tempo no Bar (mais ou menos 1 hora e meia), esperando a banda chegar, sendo que ele nem era da Ordem? Desperdiçou 1 hora e meia do seu tempo, no intuito de impedir um bando de garotos de tocar num Bar? Meu Deus, como existem pessoas sistemáticas nesse mundo! Aquilo era inacreditável!
            Por incrível que pareça, aquele foi um dos nossos melhores shows. Toquei em pé, conforme eu havia decidido. E pulei muito! E dancei muito! No decorrer da apresentação, os demais integrantes, meus queridos amigos, quase meus irmãos, decidiram tocar em pé também. As diferenças e mágoas foram superadas a partir daquele momento. Não questionei o porquê daquela mudança brusca de opinião. Provavelmente, devem ter entendido meu ponto de vista. Não é a questão de querer ser o “dono da verdade”: muitas vezes nós temos a convicção de que estamos com a razão. E eu estava com a razão, a energia era um fator fundamental em nossas apresentações. Depois do show, eu e Aaron conversamos e eu pude explicar para ele, com um pouco mais de argumentação, todas as desvantagens de se tocar sentado. E ele entendeu melhor meu ponto de vista a partir daquele momento. Era nossa banda, cara! Jamais poderíamos abrir a mão de nossa qualidade... Jamais! Infelizmente, aquela formação da banda acabou se dissolvendo. Porém, ainda faríamos um último show, na Cervejaria dos Monges, com uma nova formação. Ainda não sabíamos que seria o último show.
             No referido show, na Cervejaria, fui acompanhado de uma linda garota. Não era Jenny, que eu confesso ainda estar amando. O nome dela era Katy e, finalmente, tive a oportunidade de poder tratar uma garota da maneira que ela merecia: como uma verdadeira princesa. Isso pelo fato de Katy ter ficado o tempo inteiro comigo, no camarim, o qual tinha muitas e muitas comodidades: bebidas e aperitivos a vontade, ambiente lindo e agradável, poltronas de todos os tipos e tamanhos... Sempre quis proporcionar esse tipo de conforto a uma mulher e, naquela noite, na cervejaria, tive a oportunidade de realizar esse sonho. Após o show, tudo terminou, no meu carro, com um longo e romântico beijo ao amanhecer, ao som de “Anna (Go to him)”, na versão dos Beatles. A minha noite na companhia de Katy, com certeza, foi melhor do que qualquer dia dos namorados, data que nunca me deu nada de especial.

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