segunda-feira, 18 de julho de 2011

Capítulo 03 - Por quê? Pra quê? - Livro: "A Era do 'Make in Touch' - Os anos Unesp sem censura"


Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Capítulo 03 – Por quê? Pra quê?



Bom, lá estava eu, finalmente, com a fantasia de “Megaman”, todo sorridente e um pouco mais aliviado. Ou seja, os efeitos das 15 miligramas de Buspirona em seu “estado máximo”. Troquei algumas breves palavras com o “bixo” Abraham (que estava com a fantasia do “Yoshi”), com o “bixo” Reynold (trajado de “Tigrão”) e com a “bixete” Dilis (vestida com a fantasia de “pastora”). Os três foram bastante simpáticos comigo. Lembro também de David, com os seus olhos aparecendo logo acima da boca do personagem “Homer” e, o mais curioso, o mesmo segurava uma latinha de refrigerante na mão: afinal, como será que ele fazia para beber, sendo que a boca amarela de seu personagem tapava-lhe completamente os lábios?

De repente, eis que surge o “veterano” Chan, com um pincel e uma lata de tinta guache nas mãos, me dizendo: “Bixo, tira o capacete para eu pintar a sua orelha”. No entanto, August tinha passado tanto durex (para fechar o capacete) que seria impossível retirá-lo na minha cabeça sem estragá-lo. Expliquei para Chan que não tinha como retirar o capacete, pensando comigo mesmo: “Huhuu! Me livrei da tinta na orelha! Que bela ideia August teve em fazer essa fantasia de ‘Megaman’, hein? Como minha vida é maravilhosa! Viva!”. No entanto, para acabar com a minha breve felicidade (maiores detalhes sobre ela no primeiro capítulo), Chan conseguiu arranjar um pincel com um cabo bem mais comprido, que alcançava facilmente o fundo da minha orelha, protegida (aparentemente) no interior da fantasia. E dá-lhe tinta!

Depois de algum tempo, os “veteranos” conduziram os “bixos”, em fila, para a cantina da Unesp. Na verdade, não em fila, mas sim de uma maneira bem cansativa, denominada “elefantinho”, bem parecida com o “aperto de mão secreto do clubinho Banana Split”, dos estúdios Hanna-Barbera (do que esse cara tá falando?). Confesso que invejei a “bixete” Bell que, vestida de “lombada”, apenas ficava deitada no chão, enquanto os outros “bixos”, na cansativa posição de “elefantinho”, tinham a pesarosa tarefa de pular a mesma.

Enquanto a fila seguia o seu caminho, os “veteranos”, pedindo a colaboração dos “bixos”, cantavam os seus engraçados “hinos de guerra do curso”. A “veteranete” Samantha, vendo que eu não cantava, me deu um bronca: “Ei, você é o único ‘bixo’ que não está cantando!”. E não era o caso de eu estar me fazendo de rebelde e ignorando os cantos: na verdade, o capacete de “Megaman”, envolvendo minha cabeça, estava “agindo” como uma espécie de isolante acústico, de modo que era muito difícil ouvir, com clareza, as canções. Então, para deixar Samantha mais calma, comecei a dublar as canções, ou seja, apenas mexia a boca, fingindo que estava cantando.

Chegando à cantina, cada “bixo” teria que fazer uma coreografia diferente, de acordo com o seu personagem. Aí a coisa ficou muito legal, criativa e divertida: foi quando comecei a ver o trote com bons olhos! O único inconveniente foi que eu me encontrava na metade da fila e, infelizmente, não pude ver todas as performances dos “bixos” que estavam na minha frente. Quando chegou a minha vez, estiquei o braço direito para a frente e ergui uma de minhas pernas (tipo saci). Em seguida, saí rodopiando pela cantina como se fosse um peão. Não sei como consegui realizar essa “proeza”, já que sou muito tímido. Quem sabe, a explicação poderia até ser as 15 miligramas de Buspirona. No entanto, até onde eu sei, o medicamento tira apenas a ansiedade (e não a timidez). Para finalizar a minha participação, tive que lutar com John (vestido de “Army Man”). Inesquecível!

Quando todos os “bixos” terminaram de fazer as suas performances, os “veteranos” explicaram os procedimentos do pedágio (para arrecadar dinheiro para as festas do curso) e nos encaminharam até o bar “Ubaiano”. Ainda um pouco receoso, fui conversar com alguns dos “veteranos” (agora não me lembro quem eram), a fim de explicar a minha situação: como eu trabalhava de segunda a sexta, com certeza não poderia estar presente nos pedágios. E eles foram muito simpáticos comigo, entendendo perfeitamente os meus motivos e dizendo que não tinha problema se eu não pudesse comparecer. Depois, comecei a perambular solitário pelo bar, quando alguns “veteranos” do terceiro ano, vendo a minha “solidão”, me chamaram para participar da roda deles (entre eles estava Reg, que eu já conhecia).

Por fim, os efeitos da Buspirona passaram e eu concluí que já tinha condições de dirigir meu carro de volta para a casa (não fui à festa que se desenrolou mais tarde, naquela noite, já que teria que trabalhar no dia seguinte). Quando cheguei ao meu carro, estacionado próximo às salas “cinqüentas”, fui tentar tirar o meu capacete de “Megaman”, pois não queria passar a vergonha de enfrentar o trânsito de Bauru fantasiado (diferente de Marky, que, naquela mesma noite, compareceu ao Habib´s trajado de “Diane dos Santos”). “Pôxa, cara, o que eu fiz de mais? Normal ir fantasiado de ‘Diane dos Santos’ ao Habib´s!”, Marky deve estar dizendo, ao ler essas linhas. Alguns “veteranos”, vendo a minha dificuldade em retirar o capacete da cabeça, vieram me ajudar. Eu agradeci e, finalmente, voltei para casa.

No dia seguinte, terça-feira, ao chegar à Unesp, o “veterano” Nathan, veio me cumprimentar. Diferente do dia anterior (onde ele parecia muito mal humorado), ele estava muito simpático (e assim foi durante todo o tempo que estudei na Unesp). Fiquei feliz com a sua atitude e até pensei comigo: “Nossa! Eu pensei que ele não tinha ido com a minha cara!”. E, assim, toda a minha má impressão, referente aos trotes e “veteranos”, começou, aos poucos, a ir “por água abaixo” (desde o momento das performances dos “bixos” até aquele encontro com Nathan, no segundo dia de aula), de modo que foi inevitável o questionamento: “Então, por quê aquele horrível banho de tinta, no dia da matrícula? Pra quê toda aquela intimidação no ato de vestir as fantasias?”. Ou seja, se a integração entre “bixos” e “veteranos” era algo desejável, qual a finalidade de todas essas coisas desagradáveis, acontecidas anteriormente? Por quê não ir direto à parte criativa e legal de todo o evento, ou seja, o desfile das fantasias? Entendo e considero lamentável o fato de meus “veteranos”, quando “bixos”, talvez terem “sofrido” nas mãos de seus próprios “veteranos”. No entanto, eu e os outros “bixos” do meu ano nada tínhamos a ver com esse fato! Sabe, me lembra aquele caso (muito comum) da criança que, em seus tempos de escola, sofreu Bullying e que, anos mais tarde, volta ao local de seu sofrimento e mata outras crianças que não tiveram nada a ver com os seus problemas do passado. Não sei se resolveu muita coisa mas, no primeiro ano, sempre que foi possível, procurei influenciar o pessoal da minha turma a “pegar leve” com os nossos “bixos” (mas essa é outra história, que relatarei mais para frente).

Mas, nada de ressentimentos e posso dizer, sem exagero, que tive os melhores “veteranos” do mundo. Se, num primeiro momento, acabei odiando os mesmos, em compensação acabaria gostando deles para o resto da vida. Bom, pelo menos, gostaria depois daquele terrível acontecimento na república Vinoma...



segunda-feira, 4 de julho de 2011

Capítulo 02 – 15 Miligramas - Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Agradecimentos especiais aos amigos Antônio Neto e Henrique Ferraresso pela pequena (mas importante) ajuda referente à produção do presente capítulo. Muito Obrigado!

 Capítulo 02 – Quinze Miligramas

 
            Buspirona: qual a dosagem máxima permitida por dia? Consultei a bula do medicamento e verifiquei que eram 15 miligramas. Perfeito: 15 miligramas para eliminar o estado de ansiedade e enfrentar os trotes do primeiro dia de aula numa boa. Naquela época, eu utilizava, no meu tratamento para ansiedade, 5 miligramas por dia, quantidade suficiente para me acalmar os ânimos. Com 15 miligramas, certamente me tornaria uma rocha inabalável. Assim, logo que terminou o meu expediente na empresa de autopeças, tomei as minhas 15 miligramas de Buspirona, calculando de antemão o tempo que a droga faria efeito, ou seja, eu teria tempo suficiente para dirigir meu carro até a Unesp antes de ficar “grogue”. E também poderia voltar para casa tranquilamente após os trotes, já que o efeito da droga, àquela altura, já estaria totalmente amenizado. Sim, eu lia todas as bulas dos remédios que eu tomava e tinha consciência total dos seus efeitos (meninão responsável, hein?).
            Por fim, chegando à Unesp, estacionei meu carro nas vagas localizadas próximas às salas “cinquentas” Foi uma coincidência, pois eu não sabia que as salas “de papelão” eram pertencentes ao Curso de Desenho Industrial. Tirei minha roupa de trabalho e me vesti com uma roupa bem vagabunda (no dia da matrícula, inclusive, eu tinha perdido a minha camisa preferida dos Ramones no maldito banho de tinta; assim, mudei as vestimentas para evitar algo semelhante). Só me esqueci de colocar algum tipo de tênis velho no pé (estava trajando um All Star novinho). Que saco! Sempre esqueço de alguma coisa!
            Depois de trocar as roupas, ao descer do carro, avistei August saindo detrás das salas “de papelão” (onde eu e os outros “bixos” iríamos, com certeza, passar por um “papelão”). Ele foi simpático como sempre, apenas um pouco mais “durão” (afinal, ele era meu “veterano”). Nos dirigimos para o pátio das “cinquentas” e eu entrei em uma fila de “bixos”, enquanto August foi dar os últimos retoques em minha fantasia (além de ir preparar uma plaquinha com o nome do meu personagem). Tentei cumprimentar o “bixo” que estava logo na minha frente (que seria um dos meus grandes amigos), mas ele apenas me olhou com desdém, como se quisesse me dizer “Tá pensando que é gente, seu imbecil?”. Já que a Buspirona, àquela altura, já estava começando a fazer o seu efeito, acabei não me sentindo (muito) mal com a atitude de meu futuro amigo.
            Uma “veteranete” passou recolhendo, de cada “bixo”, um “pé” de cada tênis (um dos “pés” de meu All Star foi embora) e, logo em seguida, outra “veteranete”, a Diana Pier, colocou em meu pescoço uma plaquinha com a indicação “Bixo Smurf”. Eu devia estar um pouco perdido em relação ao evento, visto que nem procurei protestar, tipo “Ei, eu já tenho dono, eu sou o ‘bixo’ de August, ele me ligou ontem, nós já combinamos, etc...”. Por falar em August, não entendia o porquê da sua demora com a minha fantasia.
            Todavia, eis que surge, do nada, o “veterano” Nathan, com um semblante de mau. Nathan olhou pra mim e disse que eu seria o seu “bixo”. Pensei: “Ah, com certeza ele fez a fantasia de Smurf em parceria com aquela moça bonita que, agora há pouco, colocou a plaquinha no meu pescoço; mas, aos diabos, onde se meteu August?”. Nathan, então, pediu que eu o acompanhasse até o banheiro. Ele parecia tão mal-humorado que eu imaginei que ele não tinha ido com a minha cara. Até pensei em dizer: “Ei cara, veja bem, eu sei que eu pareço um idiota à primeira vista, mas na verdade eu sou bem legal... Sério! O pessoal do cursinho do Objetivo me adorava, não conheci uma pessoa neste mundo (e olha que esse mundo é grande, hein?) que não gostasse de mim depois de me conhecer melhor, e...”. Por fim, acabei não dizendo nada, mas, “sem ressentimentos de minha parte”: 15 miligramas de Buspirona, o efeito já era de uma névoa ao redor de mim, que me protegia de todo o mal (nossa, “mó Xuxa” isso!)”. Então, quando chegamos ao banheiro, ele finalmente viu a minha placa “bixo Smurf”. “Porra, bixo, você já está com placa? Por que não me avisou?”. E eu (15 miligramas), tipo “Nossa cara, não esquenta com isso, vamos passar um corretivo nessa placa, coloca o nome do seu personagem aqui, posso ser seu bixo e... Porra, onde está August?”. Então Nathan me levou de volta à fila dos “Bixos” e foi procurar outro que já não tivesse dono. A fantasia que ele tinha confeccionado era a do “Seu Boneco” e seria Hughes quem a usaria, a partir de então. Bom, se August não voltasse a tempo, pelo menos eu seria “bixo” de Diana Pier, a moça bonita (e, aparentemente, mais “boazinha” que Nathan).
            Todavia, August finalmente apareceu e foi, tipo “Mas que porra de placa é essa no seu pescoço?”. E eu (15 miligramas): “É a placa do ‘bixo’ Smurf, cara!”. “’Bixo’ Smurf é o C..., você vai ser o ‘bixo” Megaman, a partir de agora”. Em seguida, August retirou a placa com a indicação “Bixo Smurf” do meu pescoço e a colocou no pescoço de Richard (que estava ali por perto).
            Quando eu e os outros “bixos” entramos em uma das salas “cinqüentas”, eu já carregava comigo a plaquinha “bixo Megaman”. Por fim, August trouxe a minha respectiva fantasia, que consistia em um capacete azulado e uma espécie de “bazuca de mão”. Trouxe, também, tinta guache da cor azul, que usaria para pintar o meu corpo. Quando comecei a me trajar, finalmente “saquei” (15 miligramas) qual seria o meu personagem: “Ah, agora entendi, aquele carinha azul da Nintendo, daqueles chatíssimos jogos de plataforma, onde se enfrentava uns outros carinhas de armadura, não é mesmo?”. Os fãs que me desculpem, mas eu nunca tive paciência de jogar os “games” do Megaman. No entanto, nada tenho contra o personagem em questão e, inclusive, achei que a fantasia confeccionada por August ficou realmente muito boa. Mas prefiro jogar “Pong” do que jogar “Megaman” (não que eu seja um cara velho).
            Mas, por fim, confesso não estava achando as coisas nem um pouco animadoras naqueles primeiros contatos com os trotes da Unesp. Em minha modesta opinião (como já comentei), eu entendia que a animosidade entre “bixos” e “veteranos”, a partir das minhas lembranças do final da década de 80, não havia mudado praticamente nada. Todos os acontecimentos desagradáveis, referentes ao trote, eram assustadores para mim, que tinha problemas de ansiedade. Mas as coisas estavam prestes a mudar!