sábado, 28 de setembro de 2019

Capítulo 7 - Um novo amor no colegial - Livro: O livro do amor para os corações solitários


Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 7 - Um novo amor no colegial



            Chegou o terceiro colegial (1993) e, para variar, as coisas foram bem turbulentas no início. Era uma classe nova, um misto de alunos de várias classes dos anos anteriores. Meu caráter introvertido, provavelmente, foi confundido com arrogância por parte de algumas pessoas, sendo que cheguei até a receber ameaças, por telefone, de alguns novos colegas de classe. Cara, é muito louco pensar nisso hoje, já que considero esses colegas, atualmente, pessoas muito queridas e especiais. A juventude, realmente, é uma fase onde todos nós fazemos coisas impensáveis, coisas que nos dias de hoje sempre são motivo de arrependimento. Lembremos daquela famosa frase do David Bowie: “Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que você sempre deveria ter sido”.
            O que penso da minha timidez, que sempre me acompanhou durante a época do colegial? Bom, posso dizer que não era um sentimento muito confortável. Eu, volta e meia, questionava: “Cara, essa timidez está pegando mal para mim”. Enfim, não era algo do qual eu me orgulhava. Hoje em dia, pelo contrário, apesar de não ser tão tímido como antes, acho a timidez algo bastante “cool”. É um sentimento de tranquilidade e, por que não dizer, uma opção pessoal. Se estou quieto e não estou dizendo nada em determinada situação, é meramente por opção pessoal, não por causa de algum sentimento desconfortável. Hoje, não me sinto nenhum pouco incomodado com isso. Inclusive, um dos meus ídolos, o ator James Dean, era um cara muito tímido algumas vezes, acreditem ou não. Mas no colegial, tenho que ser sincero, ser tímido era algo que me incomodava muito. Bom, pensando nisso, preciso falar agora da minha amiga Fab.
            Fab se aproximou de minha pessoa lá pelos tempos do primeiro colegial, mas não posso dizer, com certeza, que foi por um motivo de simpatia. Tinha uma amiga dela também, que agora não me recordo o nome, que era tão sarcástica quanto ela. Percebendo que eu era uma pessoa tímida, Fab ”meio que achou” esse fato um motivo legal para me provocar, uma diversão que, para ela, deveria ser inofensiva. Mas não foi, era algo muito constrangedor! Ela dizia que eu era namorado de uma amiga dela, uma coisa que eu achava totalmente sem sentido. Não estávamos na mesma classe nessa época, porém, no terceiro colegial, aquele fato iria mudar. Agora, não só estávamos na mesma classe, como sentávamos próximos um do outro.
            Pois bem, no meio de todas essas circunstâncias, uma nova amiga começou a me chamar a atenção. Além de ser muito simpática, ela tinha um sorriso lindo, fato que notei logo na primeira vez em que eu a vi. Ingvill era o seu nome e, para a minha felicidade, eu percebia que ela tinha uma certa simpatia por mim, diferente de Fab. Algumas vezes ela, inclusive, se sentava ao meu lado, na classe. Outras vezes, vinha conversar comigo no ponto de ônibus... Enfim, na minha concepção, era uma nova amizade que estava nascendo ali. Eu podia perceber também, para meu deleite, que a minha timidez não era algo que incomodava Ingvill, pelo menos no início. Uma imagem que eu guardo em minha mente, até os dias de hoje, foi em uma ocasião em que teve uma espécie de “palestra” com alguns políticos, referente à votação do tipo de governo que seria incorporado no Brasil, naquela época (monarquia, parlamentarismo ou presidencialismo). A “palestra” aconteceu no pátio do Objetivo, ao ar livre. A imagem, a qual me refiro, foi avistar Ingvill sentada em um dos bancos do pátio. Ela estava tão linda! O sol fazia com que o seu rosto e os seus cabelos tivessem um certo brilho, algo realmente angelical e, para a minha felicidade, aquele anjo me avistou e acenou para mim, com aquele sorriso lindo de sempre. Ingvill, realmente, sem exagero, poderia ser considerada um anjo, se levarmos em conta a sua beleza. Mas, e quanto à sua personalidade?
            Ingvill não era uma pessoa ruim, muito pelo contrário: era uma garota que tinha bons sentimentos. Porém, os referidos sentimentos caminhavam, lado a lado, com uma espécie de insensatez. Ou seja, ela era uma mistura de sentimento com uma certa insensatez ou, em outras palavras, de uma maneira mais popular, uma “doidinha com sentimentos”. É a melhor definição que podemos estabelecer. Não estou querendo dizer, de maneira alguma, que essa insensatez era uma espécie de loucura (Ingvill nunca foi louca), era apenas um pouco de falta de juízo, por causa da sua idade. Por outro lado, a referida insensatez a tornavam uma pessoa muito engraçada. Mas os professores, apesar de gostarem muito dela, às vezes precisavam tomar algumas atitudes mais drásticas. Foram inúmeras vezes, por exemplo, em que ela foi convidada a se retirar da classe, por causa de suas “aprontações”. Uma vez, ela estava pensando em soltar uma barata “voadora” na classe, para assustar todo mundo. Ingvill acabou não realizando a referida proeza. Mas, na ocasião em que entrou um rato na nossa classe, não teve como eu não questionar se foi ela quem trouxe aquele roedor para amedrontar a todos. É claro que não foi ela, mas ao me lembrar do lance da barata “voadora”, não teve como eu não pensar nessa possibilidade, na época. Um fato curioso: minutos antes do rato entrar na classe, recebi um bilhetinho de amor de alguma garota misteriosa, que dizia “Fui tirar um raio x, imagine a confusão, o seu nome estava escrito, dentro do meu coração”. Vocês devem estar achando a referida frase muito brega, mas na época eu achei algo muito “fofo”. Até que entrou aquele rato na classe e estragou todo o clima. A garota assinava os bilhetinhos como “5AA3”, “código” que, até hoje, eu não sei o que significa e que é um dos grandes mistérios da minha vida. Já fiz até uma música com o nome de “5AA3”. As duas letras “A” do código eram escritas em forma de triângulo, então eu não sabia se eram realmente duas letras “A” ou se eram dois símbolos de delta. Enfim, amigos leitores, se alguém conseguir decifrar o que significa “5AA3”, coloque aqui nos comentários e esclareçam um dos grandes enigmas de toda a minha vida. Sempre tive curiosidade em saber o significado.
            Bom, mas aquele bilhete que recebi no dia do rato não havia sido o primeiro. Já fazia algum tempo que eu estava recebendo vários bilhetes dessa tal de “5AA3”. Meu grande e velho amigo dos tempos de São José, o Laurence, havia ingressado no Objetivo e estava na minha classe do terceiro colegial. Inclusive, aquela pendência relativa às ameaças que recebi por telefone foi resolvida por ele, que conversou com os autores dos trotes telefônicos e acabou selando uma espécie de “tratado de paz” entre as duas partes (no caso, eu e os bullies). Informei Laurence sobre os bilhetes, mas ele não conseguiu, assim como eu, decifrar o que significava “5AA3”. Não conseguiu descobrir, também, quem era a autora dos bilhetes. Na opinião de Laurence, no código “5AA3” não se tratava de duas letras “A”, e sim de dois símbolos de delta, como eu também havia notado.
            Uma grande curiosidade: naquela época (1993), não existia acesso à internet (pelo menos para o “povão” brasileiro). A internet existia, mas era mais para fins científicos e boa parte do grande público não tinha nem conhecimento da existência da rede. Mas esse fato nunca impediu Laurence e eu de manter uma conexão via computador, isso desde meados de 1989. Sério, não estou brincando! Qual era o procedimento? Nós, por acaso, éramos “hackers”? Calma, vou explicar! Na verdade, não era propriamente a internet, e sim uma espécie de “ancestral” da mesma, chamado Videotexto. A partir dos nossos computadores MSX, conectávamos um modem na linha telefônica (na verdade, o modem era uma espécie de cartucho conectado no computador, do qual saía um fio que era conectado, por sua vez, na linha telefônica). Assim procedendo, tínhamos acesso à essa “primitiva internet”, que apresentava serviços de bate-papo, horóscopo, estórias de terror, jogos, notícias, etc. Como Laurence faltava muito às aulas, as nossas conversas eram realizadas, na maioria das vezes, através do bate-papo do Videotexto. Para os padrões de hoje, comparado à internet, o Videotexto era algo bem rudimentar. Mas, para a época, era algo impressionante.
            Bom, vamos voltar aos acontecimentos da nossa classe. Continuei recebendo os misteriosos bilhetes e, por incrível que pareça, uma garota misteriosa publicou uma mensagem de amor para mim, no jornal da escola. Não posso dizer, com certeza, que a mensagem foi publicada, também, pela “5AA3”, pois ela não assinou. Pretendo falar um pouco mais sobre os referidos bilhetes, que ainda estão comigo, no próximo capítulo. Sim, os bilhetes estão em meu poder há quase 26 anos! Mas, antes, preciso contar algo extraordinário, que aconteceu logo depois do período das férias. Percebi que Ingvill, nesse período, havia estabelecido uma forte amizade com algumas garotas que eu tinha mais afinidade, ou seja, minhas melhores amigas. As mesmas, inclusive, sentavam perto de mim, na classe. Certo dia, algo incomum aconteceu, algo que mudou totalmente os rumos da minha vida e, por que não dizer, repercute até os dias de hoje: entre as várias carteiras vagas que haviam na primeira fileira onde eu sentava, Ingvill escolheu a que estava justamente ao meu lado para se acomodar. As meninas aproveitaram para tirar um “sarrinho”, tipo: “Ah, fez questão de sentar do lado do Billy, hein?”. Ingvill, então, encosta a carteira dela na minha, olha para mim com um grande sorriso sedutor e me diz: “Só que hoje, Billy, nós vamos sentar bem pertinho um do outro, tá bom?”. Nunca soube se aquela atitude foi um fato premeditado, por parte de Ingvill, ou se foi influenciada pela brincadeira das meninas. Só sei que aquilo foi surreal! Não preciso nem dizer que, naquelas circunstâncias, me apaixonar por Ingvill foi algo quase automático. Para variar, foi uma paixão repleta de problemas, como vou explicar no próximo capítulo.

         Nota: para obter mais informações sobre a informática dos anos 80, caso você tenha gostado, no presente capítulo, do assunto sobre o Videotexto, o “ancestral” da internet, consulte o intrigante capítulo 19 do meu livro "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura". Trata-se do “Capítulo 19 - Como era o “download” na década de 80?”. Acesse pelo link:




sábado, 21 de setembro de 2019

Capítulo 6 – Objetivo: um murro na cara do veterano folgado - Livro: O livro do amor para os corações solitários

Livro: O livro do amor para os corações solitários

Capítulo 6 – Objetivo: um murro na cara do veterano folgado



            Gostaria de iniciar citando, aqui, um trecho de outro livro meu (no caso, o livro “Triste ao sonhar com os anjos”), onde eu consegui definir de maneira muito exata o meu “estado de espírito” ao iniciar o colegial na escola Objetivo: “Não era porque eu não queria me comunicar com ninguém: na verdade, eu não tinha realmente nada a dizer. Toda minha infância e parte da adolescência foi marcada por desenhos animados antigos, computadores dos anos 80 e rock dos anos 60. O meu silêncio dentro da minha sala de aula do colegial era decorrente da incompatibilidade entre os meus gostos pessoais e o gosto dos meus colegas. O grande lance da época era sair aos fins de semana para se encontrar na boate Camaro ou numa lanchonete chamada Baby Batatas. Aquilo não fazia o menor sentido para mim, então por que eu deveria comparecer a estes locais contra a minha vontade?” Sim, se eu já era um cara introvertido no ginásio, no colegial esse fato se acentuou cada vez mais. Uma escola nova, uma classe nova, muitos colegas novos... Fiquei muito inseguro em relação aos fatores citados, apesar dos meus novos colegas de classe serem maravilhosos.
            Um fato curioso, no final da década de 80 e início da década de 90, eram os trotes. Sim, quem se formava na oitava série, no caso os garotos, tinham as cabeças raspadas e sofriam com os trotes, a coisa mais inútil da face da Terra, conforme sempre foi a minha opinião. A única exceção em relação a essa minha opinião foi, muitos tempos depois, na faculdade de Design, onde os calouros ou “bixos” (sim, conforme a tradição, se escreve com “x”) eram fantasiados no primeiro dia de aula (eu, por exemplo, fui o personagem Megaman). Muito legal! Ainda assim, para conter algumas pessoas adeptas ao “trote violento”, sempre que possível, procurava orientar o pessoal da minha classe, tipo “olha, vamos pegar leve com os bixos”. Felizmente, as minhas orientações eram acatadas, sem maiores problemas.
Quando entrei no primeiro colegial do Objetivo, em 1991, a diretoria havia proibido o trote, pelo menos os “trotes físicos” (cortar o cabelo, por exemplo), apesar que a referida proibição havia chegado tarde demais, visto que muita gente já havia ficado careca nessa época. Eu escapei, nunca conseguiram me pegar, algo que me orgulha muito. O problema foi que, por causa disso, o trote em um sentido mais “psicológico” foi o substituto natural ao “trote físico”. Dentro da escola, eu tive sorte pelo fato de boa parte dos “veteranos ficarem com dó” de me maltratarem, pelo fato de eu aparentar ser apenas um garotinho (sim, como sempre, eu aparentava ter uma idade muito inferior à minha verdadeira idade). Às vezes, até tiravam um “sarrinho” por causa disso, mas nada mais grave. O grande problema foi o que aconteceria no ônibus, no fim da aula, ao regressar para a minha casa. Sempre tive a vantagem de poder pegar vários ônibus diferentes, pois vários deles se dirigiam ao meu bairro. Aquela minha ansiedade referente ao meu medo de pegar o ônibus pela primeira vez já havia sido superada, porém foi substituída por um outro tipo de ansiedade, talvez muito pior. Vou explicar.
Dos vários ônibus disponíveis, o melhor era o do Jardim Pagani, pois era o que parava mais próximo de casa, em relação aos outros (não era “tão mais perto assim”, mas era o melhor). Era, também, o ônibus que passava primeiro no ponto.  Logo no primeiro dia, quando entrei no referido ônibus, percebi que os “veteranos” estavam “zoando” muito com alguns “bixos” que eu conhecia de vista. Aqui, cabe uma crítica: percebam que eu estou escrevendo a palavra “veterano” entre aspas. Pudera, aqueles caras eram “veteranos” em quê? Um bando de moleques em torno dos 16 anos, totalmente inexperientes em relação à vida, achando que eram os maiorais. Pergunto, mais uma vez: “Veteranos” em quê? Veteranos eram, por exemplo, nossos pais, que já trabalhavam há muito tempo para nos sustentar e nos dar um bom padrão de vida, além de outros sacrifícios que deveríamos agradecer até o fim de nossos dias. Bom, continuando: pelo fato de eu aparentar ser bem mais novo, nenhum “veterano” percebeu que eu era um “bixo” do primeiro colegial, visto que eu ainda não era conhecido por ninguém. Porém, uma garota que eu não sei ao certo quem foi, naquele dia, me “dedurou” para os veteranos, segundo uma amiga minha me contou algum tempo depois. Assim, começou aquela “zoação” em relação à minha pessoa por parte dos “veteranos”, que de início eu até encarei com bom humor. Uma “zoação” que, apesar de não concordar, eu achava inevitável.
Com o passar dos dias, porém, percebi que um dos “veteranos”, que chamava Vel, começou a nutrir um certa antipatia por mim, que refletia nas provocações que ele me fazia dentro do ônibus. Já não era apenas um caso de trote de um “veterano” para com um “bixo”, e sim de uma verdadeira rixa pessoal para comigo. São coisas que são difíceis de entender, visto que eu era um cara muito pacífico, quieto, que não amolava ninguém. Sempre respeitei e tratei bem as pessoas, seja qual fosse o tipo de personalidade de cada uma (mais introvertida ou extrovertida), mas, em relação às pessoas pacíficas, confesso que eu sempre tive um carinho muito maior. Vel, provavelmente, deveria ter uma outra visão das coisas, tipo “uma pessoa pacífica é bem mais divertido de se ‘zoar’, pois é uma pessoa inofensiva”. Outra coisa que não posso me esquecer de citar, para comprovar que era uma rixa pessoal: os outros “veteranos” do ônibus, naquela altura, nem me “zoavam” mais, apenas o Vel. Como descíamos, por coincidência, no mesmo ponto de ônibus, ele aproveitava a ocasião para me dizer coisas horríveis. Certa vez, Vel me disse, por exemplo, que eu era uma pessoa muito feia (como se ele fosse o cara mais lindo do universo). Não convém nem comentar a fundo a grosseria de uma crítica dessa natureza, a “deselegância” de você chegar em alguém e dizer que ela é feia (inclusive, falei sobre isso no primeiro capítulo, sobre a atração superar a beleza). É claro que, no início, eu fiquei ofendido por causa disso, mas eu jamais acreditei nas palavras de Vel em relação à minha aparência, pois eu me lembrava do interesse de Ashley por mim, nos últimos tempos de ginásio. Mesmo não sendo bonito, eu consegui atrair a atenção de uma garota, era isso o que importava. A referida lembrança me ajudou muito, nesse sentido, a superar essa ofensa específica de Vel. Mas devo acrescentar que ele me fez ofensas muito piores do que essa, com certeza. Até que a minha paciência esgotou.
Foi inevitável, comecei a nutrir uma grande mágoa por Vel. Eu não merecia ouvir aquelas provocações. Então, um dia, antes de descer do ônibus, Vel chegou perto de mim, aproximou os seus lábios próximos ao meu ouvido e começou a me ofender, aproveitando que estava acompanhado de uma amiga dele. Um lance para se mostrar para a garota, provavelmente. Confesso que não pensei muito: fechei meu punho direito e direcionei um forte murro na direção do seu rosto. Infelizmente (ou talvez felizmente, dependendo do ponto de vista), ele percebeu minha atitude e, com reflexos muito rápidos, tentou desviar do soco, que chegou até atingir o seu rosto, porém de “raspão”. Inicialmente, Vel ficou estarrecido com a minha atitude, com a minha ousadia em desferir um murro na cara dele, um murro na cara de um “veterano”. Depois ele ficou possesso e disse que, assim que o ônibus parasse, ele iria me pegar de “porrada”. Eu respondi: “Tudo bem, me pegue de ‘porrada’ então”. O curioso é que, no passado, sempre que me envolvi em alguma briga, era algo comum eu ficar ansioso (mesmo sabendo que as chances de ganhar as referidas brigas estavam ao meu favor, o que não era o caso, naquela situação específica). Não foi o que aconteceu naquela ocasião: eu estava com tanta raiva de Vel que a minha ansiedade nem se manifestou. Conforme sempre digo, muitas vezes a raiva não pode ser considerada um sentimento ruim, visto que ela nos dá coragem para enfrentarmos as situações difíceis. Diferente da ansiedade, que nos deixa prostrados, com medo, sem ação. Assim, desci do ônibus e rapidamente me virei em direção à porta, imaginando que Vel chegaria me agredindo com tudo. Ele desceu e veio em minha direção. Diferente do que eu imaginava, ele apenas se aproximou e ficou me encarando nos olhos por algum tempo. Vel era maior que eu e poderia ganhar uma provável briga facilmente. Porém, logo em seguida, ele apenas me deu as costas e foi embora com a sua amiga. Quem sabe, ele não quis mostrar a ela sua ignorância, agredindo um garoto menor que ele. Enfim, não posso dizer com certeza o que se passou na cabeça dele.
Após toda a situação relatada, tive minhas dúvidas em relação ao meu futuro no Objetivo. Será que eu sofreria represálias dos “veteranos”, por causa da minha ousada atitude? Decidi que o melhor a se fazer seria pegar outro ônibus diferente, a fim de me afastar de Vel. Na escola, eu quase não me encontrava com ele, então o referido afastamento não foi algo tão difícil de se realizar. Nas poucas vezes em que cruzei o seu caminho novamente, Vel, pelo menos, nunca mais me ofendeu. Assim, provavelmente, nenhum veterano deve ter ficado sabendo do caso.
Durante o período do primeiro e segundo colegial, nenhuma garota específica havia me chamado a atenção. Eu ainda amava Ashley, mesmo não sabendo do seu paradeiro. O fato só iria mudar no terceiro colegial, quando conheci Ingvill, por quem me apaixonei. Falaremos sobre isso no próximo capítulo.

sábado, 14 de setembro de 2019

Capítulo 5 – Polêmicas no último ano ginasial (1990) - Livro: O livro do amor para os corações solitários

Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 5 – Polêmicas no último ano ginasial (1990)



Antes de falarmos do início do período colegial, gostaria de falar sobre a oitava série (1990), onde ocorreram fatos marcantes.
Sempre houve uma certa rivalidade entre meninos e meninas naquela época, mas, naquele ano, as coisas saíram um pouco de controle. Muitas vezes, confesso que cheguei a perder a paciência e dizer algumas ofensas por causa de algumas amigas que ficavam me provocando. Algo que, apesar de ser uma questão de defesa de minha parte, hoje me causa muito arrependimento. O que me alivia um pouco é saber que eu nunca comecei as referidas discussões. Pudera, se eu era tão tímido até mesmo para iniciar um diálogo com qualquer uma delas, imagine xingar alguém, então! É aquela velha história: uma provocação aqui, outra provocação ali, mais uma provocação acolá e eu acabava não aguentando a pressão. E estourava! Assim, eu acabava dizendo algumas ofensas. Era algo automático, quando eu “caia na razão”, eu já havia dito alguma coisa desagradável e até pensava: “Meu Deus, peguei pesado!”. E as coisas não precisavam ser assim, conforme vou explicar agora.
No fundo, eu gostava muito das meninas da minha classe. Não só aquelas com quem eu me dava bem, mas até mesmo com as que eu tinha uma certa rivalidade. É claro que, naquela idade, por causa de uma questão de orgulho, eu jamais iria admitir isso. Mas eu gostava muito delas, realmente, pois cada uma tinha uma personalidade diferente e marcante. Quanto às provocações, no final das contas eu ficava mais magoado do que com raiva. Um fato que comprova isso: eu era muito sonhador e criativo e, ao som dos Beatles e outras bandas, eu imaginava filmes completos em minha mente, onde meus amigos e amigas eram personagens. E ninguém ficava de fora do enredo! Ninguém! Personagens muito especiais, diga-se de passagem! Eu lembro que eu até gravava em fita cassete a trilha sonora dos meus filmes, em ordem cronológica, onde cada música representava uma cena específica do enredo. Parece loucura, mas eu devo ter criado por volta de uns três filmes completos em minha cabeça, além de muitos “videoclipes” também, desde os tempos do primário. Quem sabe, um dia, eu possa transformar as minhas referidas “produções cinematográficas” em livros? É uma possibilidade.
Agora, um fato que ficou na minha memória, foi uma desavença dos garotos da minha classe com uma das professoras. Foi, inclusive, o último fato marcante de 1990. Sempre fui relutante em descrever toda a situação, visto que um dos meus amigos que participaram diretamente do fato não gosta de falar sobre o assunto. E outro amigo, que também teve uma participação maior, infelizmente não está mais entre nós para dar a sua opinião. Mas eu preciso falar sobre isso, preciso desabafar de alguma forma e, até mesmo, citar as lições que eu aprendi com toda a situação. E as coisas começaram muito antes de culminar com toda a ação dos meus amigos. Vamos aos fatos então.
Mais ou menos por volta do último bimestre de 1990, na oitava série, nossa professora de português nos passou um trabalho de literatura, onde cada um dos grupos falaria de um movimento literário específico. Hoje a literatura é uma das minhas grandes paixões, porém, devo admitir que, na época, eu não dei a mínima ao trabalho (imaturidade). Antes de cada grupo começar desenvolver a pesquisa, nossa professora passou uma folha com um resumo sobre cada movimento, para dar uma noção geral. Eu não me lembro, agora, do movimento que meu grupo trabalhou em cima. A ideia da formação de um grupo de trabalho era que todos trabalhassem em equipe, e não que cada um fizesse uma parte específica do trabalho e depois juntasse tudo. Infelizmente, seguimos o último procedimento citado, por falta de tempo. Não seria um grande problema caso eu não cometesse um erro terrível, impensado, que culminaria em uma das maiores “broncas” que eu levaria de uma professora, em toda a minha vida. E, o pior: “bronca” de uma das professoras que eu mais gostava. Rod e Barral haviam passado um texto falando sobre o movimento literário em questão, para que eu e Ros pudéssemos fazer um resumo e digitar (foi a nossa parte no trabalho). Não consegui me encontrar com Ros para realizarmos o trabalho juntos, então resolvi fazer tudo sozinho. Ao analisar o texto em questão, achei que ele era um pouco fraco (tinha mais exemplos de trechos de livros do que explicações referentes ao movimento literário). Então, qual a besteira que eu fiz? Ao invés de procurar um texto melhor, simplesmente peguei o resumo que a professora havia nos passado e inseri no trabalho. Somente o resumo e mais nada, simples assim!
Chegou o dia da entrega do trabalho. Não sei se poderia ser pior, mas a professora deu uma folheada no mesmo e reparou que o resumo que ela tinha nos passado estava incluído. Ela chamou Rod e mostrou aquele absurdo, dizendo que iria nos tirar nota por causa da inclusão daquele resumo. Tanto a professora como Rod ficaram muito irritados com aquilo, sendo que Rod não se “aguentou” e disse: essa parte foi o Billy quem fez. Pronto, estava armada a confusão! A professora, então, chamou Barral, Ros e eu até a sua mesa, e começou todo aquele sermão. Primeiramente, ela disse que era um trabalho em grupo e que era errado termos feito tudo separadamente. Até aí, a “bronca” era para o grupo todo. De repente, ela se voltou para mim e perguntou como eu tive a ousadia de utilizar o mesmo resumo que ela havia nos apresentado? Segundo suas próprias palavras, era o “resumo do resumo do resumo”. Tive vontade de falar que o texto que Barral e Rod haviam me indicado era uma “porcaria”, mas não respondi. Então ela se voltou, agora, para Ros, perguntando o que ele tinha feito no trabalho. Ros respondeu: “nada”. Aí a professora ficou possessa mesmo. Ela pegou um lápis e começou a desenvolver círculos em torno do nome de Ros (na capa do trabalho), perguntando “O que seu nome está fazendo aqui então?”. Ela estava quase arreganhando os dentes, tamanha a irritação. Queridos leitores, eu sei que vocês estão segurando a risada por causa da gravidade da situação, mas podem rir à vontade (eu mesmo estou gargalhando ao escrever esses fatos, apesar que, na época, foi muito tenso). Depois de ter me “esculachado” por mais algum tempo (sim, eu fui quem mais a irritou), a professora disse que, por consideração ao Rod (um dos seus melhores alunos), ela deixaria que refizéssemos o trabalho.
Apesar de ter errado, fiquei muito magoado com a professora (que eu gostava muito), pelo fato dela ter acabado comigo publicamente (inclusive, a cada “tirada” que ela me dava, a classe caia na gargalhada). Mas, francamente, não tinha como ela fazer de outra maneira. Tipo: “Billy, vem aqui, vamos em um lugar mais reservado para conversar, fora da classe”. Pelo menos ela foi legal em permitir que refizéssemos o trabalho. Fiquei abalado por um tempo, mas depois de alguns dias a mágoa, felizmente, passou. Só não entendi o que se passou com o humor da professora alguns dias depois. Ela não devia estar em uma boa fase, visto que ela se desentendeu com vários amigos meus (coisa que ela geralmente não fazia), confiscou o livro de meu amigo August (que era edição de professor) e obrigou que meu amigo Ricky refizesse seis vezes uma tarefa que ele havia deixado de fazer. Quando um aluno deixava de fazer a tarefa, ela obrigava, como castigo, que o mesmo refizesse a tarefa três vezes. Eu, inclusive, já havia sofrido a referida punição várias ocasiões. Como Ricky persistiu na atitude de não refazer uma tarefa (a qual ele já deveria refazer três vezes), a professora então “aumentou a pena” para seis vezes. E ficou uma grande mágoa da parte de Ricky em relação à professora.
Bom, passaram alguns dias e tivemos a nossa “missa de formatura”. Naquele ano, a escola estava em reforma e, provavelmente, por falta de espaço, não teve uma formatura mais tradicional (com entrega de diplomas, baile, aquelas coisas todas), apenas uma missa na catedral. Quem celebrou a missa foi o nosso querido Padre Jonas, que, muitos anos mais tarde (por volta de 2014), infelizmente, sofreria um grave acidente de carro em Tucumán (na Argentina) e faleceria. Bom, voltando a 1990, aquela ocasião da missa foi a última vez em que vi Ashley, que me olhou ternamente mais uma vez, visto que eu estava muito elegante, de roupa social. E ela estava linda também! Eu estava muito feliz naquele dia, pois fiquei sabendo que havia passado em matemática, matéria que eu tinha muita dificuldade. Meu amigo Barral, que também havia passado na referida matéria, chegou a me dizer: “Billy, se passamos em matemática, praticamente passamos em tudo”. Enfim, estava tudo em ordem, tudo em paz, até que chegou um dos últimos dias de aula. Aquele fatídico dia...
No Colégio São José, a coisa mais rara que podia acontecer era termos uma aula vaga. Ainda mais a última aula. E foi isso que justamente aconteceu, em um dos últimos dias de aula. Não tenho vergonha de dizer que foi algo muito difícil para mim, pois eu nunca havia andado de ônibus sozinho em toda a minha vida! Sério, eu era muito inocente! Lembro que conversei alguma coisa com August na saída e, muito assustado, me dirigi para o ponto de ônibus (pois levaria muito tempo para a minha condução normal chegar, então o mais prático seria ir embora de ônibus). Mais assustado ainda fiquei quando o cobrador do ônibus disse que o meu dinheiro não era suficiente para a passagem (faltavam algumas moedas). Mas ele foi legal: disse que eu poderia pagar no dia seguinte. Fiquei amargurado, pois eu sabia que não iria pegar ônibus no dia seguinte. Cheguei em casa e perguntei para o meu pai se, de repente, eu não poderia ficar no ponto de ônibus e pagar a quantia que eu devia ao primeiro cobrador que eu encontrasse, caso não pudesse localizar aquele que foi legal comigo. Minha honestidade era um pouco patética (e talvez ainda seja, até os dias hoje), mas, ainda assim, era uma honrada honestidade, algo de que me orgulho muito. Meu pai ficou com pena de mim e disse que não adiantaria eu pagar a passagem para qualquer um, que deveria fazer isso quando eu encontrasse o cobrador em questão. Ainda assim, meu pai também deve ter ficado muito orgulhoso com a minha atitude.
No dia seguinte, na aula de português, eis que a professora entra na classe de cara fechada, juntamente com a nossa diretora, a irmã Louise. E solta uma verdadeira “bomba”: ela aplicaria, para toda a classe, uma prova incluindo a matéria do ano todo, caso os culpados por furarem os pneus do seu carro e por estragarem a pintura do mesmo não se apresentassem. Eu não acreditei naquilo! Como assim, os culpados por furarem os pneus e estragarem a pintura do seu carro? Eu realmente não estava sabendo de nada a respeito daquela história! Se aquilo havia acontecido, porque ninguém me contou? Apesar da professora ter dito que tinha certeza que foram os alunos da minha classe, fiquei com medo dela estar enganada e, assim, estar cometendo uma tremenda injustiça. Algumas meninas protestaram, dizendo que, se os suspeitos eram os meninos, elas não mereciam fazer a prova. Ficou aquela discussão, ninguém se apresentou como culpado, então a irmã Louise autorizou a aplicação da prova. Como ela estava próxima da minha carteira, eu olhei para ela, suplicante, e disse: “Irmã, não faça isso!”. Ela não me respondeu, apenas me retribuiu um olhar um pouco triste e sem graça, como se quisesse dizer que não tinha outra escolha. Estava tudo perdido, meu mundo praticamente acabou ali! E pensar na minha felicidade anterior, por causa da minha aprovação em matemática! Como as coisas puderam chegar naquele patamar? Já estava sem nenhuma esperança, quando, de repente, meu amigo Casey levantou da carteira e disse: “Ninguém vai fazer prova!”. Achei que era um ato de rebeldia de sua parte, pois ainda não conseguia imaginar que algum de meus colegas pudessem ter realizado aquele delito. Mas realizaram! A pedido dos mesmos, Casey revelou os verdadeiros culpados: Ricky e Barral. Além de revelar, também, todos os que estavam presentes na ocasião, deixando bem claro que eu não havia participado de nada.
Tive um sentimento muito estranho na ocasião, que não consigo sequer definir.  Enquanto, no dia anterior, eu estava naquela minha ansiedade em relação ao ônibus, ao cobrador e à passagem incompleta, meus amigos estavam “vandalizando” com o carro da professora. Tudo foi explicado depois: eram comum, no final das aulas, todos se dirigirem ao apartamento de nosso amigo Pad, com a finalidade de se protegerem dos “veteranos” do primeiro colegial, que queriam raspar nossas cabeças (sim, havia trote contra os garotos da oitava série naquela época, fato que falarei com mais detalhes no próximo capítulo). Acharam o carro da professora próximo ao prédio de Pad e, devido aos fatos referentes ao seu mau humor dos dias anteriores, resolveram se vingar. Quem “dedurou” foi o porteiro do prédio, onde Pad morava. Barral e Ricky, arrependidos, pediram desculpas à professora, que chorou muito na ocasião (fiquei com muita pena dela). Ricky revelou, inclusive, que teve aquela desastrosa atitude pelo fato de estar muito nervoso por causa da tarefa, que ele deveria refazer seis vezes. A professora então disse que muitos outros alunos haviam sofrido aquela punição, e nem por isso haviam “depredado” o seu veículo. Então, algo surpreendente aconteceu. Ela se voltou para mim e disse, para exemplificar tudo: “Billy, você que já teve de refazer sua tarefa três vezes, em várias ocasiões, alguma vez foi estragar meu carro por causa disso?”. Confesso que fiquei emocionado com aquela pergunta e, para não chorar, apenas balancei a cabeça negativamente. Na verdade, eu gostaria de ter dito: “Não, professora, eu jamais pensei em fazer isso, pois eu realmente sempre gostei muito de você, mesmo depois de você ter me repreendido duramente pelo trabalho de literatura”. São pensamentos e percepções que jamais saíram de minha mente. Por fim, Barral e Ricky, arrependidos, se prontificaram a pagar todo o dano causado.
Assim terminou a nossa história dentro do Colégio São José, de maneira um pouco “caótica”. Só não imaginava que aqueles dias confusos seriam os últimos em que eu veria meu amigo Barral pessoalmente, já que o mesmo, infelizmente, faleceria por volta de 2005. Que Deus o tenha! Mas, e quanto à nossa querida turma de 1990? Continua firme e forte, até os dias de hoje, sempre combinando algum encontro, quando possível, para reunir os amigos e amigas novamente. Não tenho palavras para exprimir o amor que eu sinto por cada um deles, sem exceção.

sábado, 7 de setembro de 2019

Capítulo 4 – Um olhar que a gente nunca esquece - Livro: O livro do amor para os corações solitários


Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 4 – Um olhar que a gente nunca esquece



Queridos amigos leitores, antes de mais nada, observem o título do presente capítulo. Não o significado “sentimental” da frase (a qual iremos explicar no decorrer dos próximos parágrafos), mas sim as palavras. Gostaria de alertar vocês de um erro muito grave que muitas pessoas cometem, principalmente ao escrever alguma coisa no facebook, por exemplo. Estou falando da expressão “a gente”. Percebam a separação: primeiro a vogal “a”, depois a palavra “gente”. Sim, isso mesmo: quando utilizarmos a referida expressão para exprimir “nós”, a expressão “a gente” é escrita utilizando a separação entre o “a” e a palavra “gente”. Ao escrevermos “agente”, no caso o “a” e o “gente” sem a separação, estamos nos referindo, por exemplo, ao “agente da polícia”, ao “agente do FBI”, ao “agente da natureza” e por aí vai. Errar é humano (também cometo muitos erros de português às vezes), por isso, ao invés de ficar criticando alguém que escreve algo errado, prefiro ensinar educadamente a maneira correta, sempre que possível.
Bom, por volta de 1989, na sétima série, resolvi mudar meu penteado. Antigamente, eu utilizava um cabelo estilo Beatles, com uma franja. Confesso que, apesar de gostar dos Beatles, nunca me identifiquei muito com esse penteado: eu gostava mais dos penteados do ano 50, tipo o Elvis Presley. Em outras ocasiões, eu afirmei que eu nunca tive influência no visual do Elvis, pelo fato de não conhecer a sua obra nessa época, mas, pensando melhor, eu acho que teve a influência dele sim. Isso pelo fato de eu assistir, de vez em quando, alguns de seus filmes que passavam na sessão da tarde. Influência do James Dean não foi, pois eu nunca havia ouvido falar dele naquele tempo. Então é mais provável que foram os filmes do Elvis (aqueles em que ele tomava banho de mar e não desmanchava o topete) que influenciaram meu visual. Agora, imaginem você usar um penteado estilo Beatles por boa parte da sua vida e, de repente, do nada, você aparecer na escola com um topete estilo Elvis Presley. O resultado vocês já sabem, não é? “Dá-lhe Bullying” mais uma vez, algo que não acontecia já fazia muito tempo. Minha vida se tornou um verdadeiro inferno! Meu cabelo novo gerou uma espécie de reação em cadeia, onde eu fui insultado (ou “zoado”) até mesmo pelos meus colegas mais próximos. Lembro que Ros, que era um dos meus melhores amigos, certa vez pegou uma régua e inseriu dentro do meu novo topete, para medir a altura do mesmo. Em determinado momento, já não aguentando mais as críticas e provocações, decidi que o melhor seria voltar a pentear o meu cabelo no estilo dos Beatles. Mas, calma! Por incrível que pareça, preciso falar agora do meu amigo Robert.
Conhecia Robert há muito tempo e, desde essa época, tivemos um relacionamento, às vezes, um pouco conturbado. Era uma espécie de relação de amor e ódio. Muitas vezes, ele criticava muito a minha aparência. Ele dizia, por exemplo, que eu tinha braços muito finos. Mas preciso ser justo com Robert, assim como fiz com Jimmy. Robert, no fundo, era um cara muito legal! Muito legal mesmo, sem exagero! Suas atitudes erradas em relação a mim (e também às outras pessoas) era só uma maneira dele manter “sua fama de mau” e ser respeitado pelos amigos. Coisas de garoto! Ou seja, quando ele estava com a sua turma, ele podia ser extremamente desagradável, mas, conversando a sós com ele, não era difícil perceber que ele era um cara excelente, bem-humorado e, por que não dizer, de “bem com a vida”. Isso não é apenas opinião minha, muitos outros amigos também relataram esse fato relacionado à personalidade de Robert.
             Pois bem, eis que, certo dia, conversando com Robert no intervalo de uma aula (e eu naquela paranoia, pensando em desmanchar meu topete e voltar com a franja), ele me faz o seguinte elogio: “Billy, seu cabelo ficou muito bom penteado desta maneira”. Meu Deus! Senti como se o mundo tivesse parado naquele momento! Aquilo foi arrebatador: Robert me elogiou e, o mais impressionante, elogiou o meu cabelo, que era a causa dos meus problemas naquele período. Justo o Robert que, muitas vezes, havia criticado a minha aparência! Sabe, aquele elogio dele foi uma espécie de alívio, por descobrir que, talvez, pelo menos uma vez na vida, ele não estava zangado comigo e tinha encontrado algo em mim que ele achava legal. E ele estava falando sério, de maneira nenhuma estava sendo irônico. Assim, sabe o que eu pensei? Foi meio que “dane-se as críticas e ofensas” e mantive o meu topete, isso até os dias de hoje. Se Robert falou que o meu cabelo estava bom, então não tive mais dúvidas em manter o meu novo visual da maneira que estava. Impressionante, não é? Mas o melhor ainda estava por vir.
Bom, antes de tudo, preciso relatar aqui um fato que é muito difícil de falar (pelo menos para mim), mas é extremamente necessário comentar sobre o assunto. Estou me referindo à inveja. Quando uma pessoa nos ofende, tomando por base o lance da aparência e visual (que relatei anteriormente), não necessariamente é porque o nosso estilo está errado. Ou porque estamos feios. Vejam o meu caso: a escola inteira me “zoando” por causa do meu novo penteado e justamente o Robert, que já havia criticado a minha aparência, veio me elogiar. E realmente meu novo cabelo não estava ruim e, justamente por causa disso, aquilo incomodou várias pessoas, gerando uma espécie de inveja coletiva. Veja bem, também não posso afirmar com certeza que 100% das pessoas que me criticavam estavam com inveja, mas boa parte eu sentia que estavam sim. Mas, ainda assim, podemos pensar na possibilidade da opinião de Robert ser um fato isolado e das outras pessoas estarem certas em relação ao meu novo cabelo. Tive algumas dúvidas a respeito disso, porém, tempos depois, tive certeza absoluta que a opinião de Robert estava correta, ou seja, meu visual estava muito bom pois, pela primeira vez na vida, eu chamaria a atenção de uma menina. Só não imaginei que seria a menina mais linda da escola, que só foi reparar em mim quando eu mudei o cabelo. Sim, Robert estava certíssimo, eu havia mudado para melhor. Vamos então comentar sobre Ashley, a garota em questão, por quem acabei me apaixonando posteriormente.
Ashley, apesar de sua beleza estonteante, nunca havia me chamado tanto a atenção, visto que estudávamos em classe separadas. Mesmo assim, eu percebia que ela era uma garota muito avançada, “dona de si”, de personalidade forte, muito diferente das minhas paixões anteriores (Naomi e Desiree), que possuíam uma personalidade um pouco mais tranquila e delicada.  Ashley nunca havia reparado em mim, mas, eis que em um determinado intervalo entre aulas, esse fato iria mudar. Eu estava sentado em minha carteira e notei que alguém estava na porta, me encarando. Era Ashley! Ela me olhava de uma maneira tão terna e ao mesmo tempo tão sedutora, que tive que desviar o olhar, pois fiquei muito encabulado. Aquilo era surreal! Nunca nenhuma garota havia me olhado de uma maneira tão apaixonante! Quando ela se foi (a aula estava para recomeçar), fiquei com aquela imagem de Ashley na mente por um tempo. Qual era a sua intenção? Será que ela havia gostado de mim? Depois desse impacto inicial, não pensei mais no assunto e continuei a levar minha vida normalmente.
O sábado chegou, já era noite, e eu estava jogando algum jogo no meu velho computador MSX, uma das minhas paixões na época. De repente, o telefone tocou. Achei que era Laurence, um dos meus melhores amigos, que também tinha um MSX. Quando eu atendi, não acreditei: não era Laurence, era uma voz feminina que falava do outro lado! E era a voz de Ashley, inconfundível! A garota mais linda do colégio estava me ligando, aquilo era algo extraordinário! Mais extraordinário ainda foi o que ela me disse (vou colocar as palavras na íntegra, pois jamais me esqueci delas): “Oi Billy, aqui é a Ashley, eu peguei o seu telefone com a Debby. Eu queria saber se a gente podia se encontrar no colégio, na segunda, para conversar.” E eu, ingênuo do jeito que era, perguntei: “Mas porque você quer conversar comigo?”. E ela, com ternura e paciência, me respondeu: “Bem, eu gostei de você e queria te conhecer melhor. E aí, que hora e em qual lugar eu posso te encontrar?”. Fiquei extremamente tenso, mas respondi: “Bom, que tal na hora da saída?”. E ela topou: “Pode ser, segunda a gente se fala então, beijão.” E desligou.
Fiquei com o telefone na mão por um tempo, totalmente desnorteado. Foi a primeira manifestação de um problema que tive tempos mais tarde de maneira um pouco mais grave: a ansiedade. A ansiedade, no meu caso, sempre aparece quando eu enfrento uma situação desconhecida para mim. No caso, uma linda garota ligando para mim, querendo me conhecer, era uma situação muito desconhecida. Nunca havia vivenciado uma situação daquelas. Vamos lembrar que, naquela época, final dos anos 80, os relacionamentos não eram tão liberais como hoje, em tempos de “lacração”. Ah, não! Essa horrível palavra novamente! De qualquer modo, naquela época não existia ainda aquele lance de “ficar”, pelo menos nunca conheci ninguém que marcou o encontro com uma garota com essa intenção. Enfim, sofrendo os efeitos da ansiedade, nem consegui dormir direito aquela noite.
No domingo, fui ao parque de diversões juntamente com meu amigo Roy e sua família. Da vizinhança, provavelmente Roy era o garoto que fazia mais sucesso entre as mulheres: loiro, de olhos verdes, personalidade forte... Pensei em conversar com ele a respeito de Ashley e do encontro (quem sabe ele poderia me dar alguns conselhos), mas no fim acabei desistindo da ideia. Conversar com Laurence também estava fora de cogitação, visto que ele era um pouco debochado em relação às mulheres e ficava me “zoando” por eu amar Desiree, anteriormente. Ashley e Desiree, inclusive, estudavam na mesma classe de Laurence.
Finalmente, segunda-feira chegou e passei a manhã inteira ainda em estado de pura ansiedade. Quando as aulas se encerraram, percebi que não tinha condições nenhuma de conversar com Ashley. Seria um vexame total, eu não estava nem um pouco preparado para articular as palavras que eu gostaria de dizer para ela: como ela era linda, como aquele seu olhar na porta da classe fez toda a diferença na minha vida, como aquelas palavras ditas no telefone me fizeram tão bem para a alma... E, o principal: como eu a amaria a partir daquele momento, quem sabe pelo resto de toda a minha vida. Assim, na hora da saída, com um peso enorme na consciência, nem fui encontrar com ela e simplesmente fui embora, arrasado pela minha falta de maturidade, destruído pela minha própria ansiedade.
Achei que Ashley ficaria chateada comigo pela minha “furada”, mas, nos dias seguintes, percebi que isso não aconteceu. Não tivemos a oportunidade de conversarmos a sós, mas quando Ashley me avistava (como aconteceu, por exemplo, quando eu estava em uma aula de educação física) ela ainda me encarava com aquele olhar terno de sempre. Outras vezes, Debby vinha me dizer que Ashley queria marcar um encontro comigo e eu sempre dava uma desculpa para não comparecer, vítima da ansiedade. Tirando o telefonema, a única vez que Ashley teve a oportunidade de me dirigir a palavra novamente foi, também, da porta da classe, uma situação parecida com o dia da sua “primeira encarada”. Ela estava conversando com alguém e, ao me avistar, sentado em minha carteira, disse: “Menininho, você é lindo, eu adoro você”. E foi embora, me deixando em estado de êxtase.
Em outros tempos, devo admitir que o fato da minha incapacidade de ter estabelecido um vínculo mais forte com Ashley foi uma grande decepção para mim. Foi como se eu tivesse perdido a melhor oportunidade da minha vida, digamos, no campo dos relacionamentos. Hoje em dia, ao imaginar toda a situação, consigo ver tudo pelo lado positivo: o interesse de Ashley por mim foi muito importante para que eu percebesse que eu não era uma pessoa tão medíocre quanto as pessoas diziam e, porque não dizer, uma pessoa medíocre como eu mesmo imaginava ser. Inclusive, a lembrança do sentimento de Ashley por mim seria essencial para passar pelas provações que viriam durante o período do colegial (que falarei nos próximos capítulos). O que restou disso tudo, atualmente, foi apenas uma curiosidade insana em saber os bastidores de toda essa história com Ashley. Qual suas intenções em relação a mim? Namoro ou amizade? Provavelmente amizade, mas sei que vou morrer e nunca vou descobrir. Mas aquele olhar dela ficou e vai ficar estampado em minha mente até o fim dos meus dias. Um olhar que a gente nunca esquece! Se você já recebeu um olhar desse tipo, você sabe do que eu estou falando: é um privilégio, um verdadeiro presente de Deus. Obrigado, Ashley! Você foi e ainda é muito especial para mim! E obrigado também ao meu grande amigo Robert, que influenciou o visual que eu uso até os dias de hoje.