Livro: "A
Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"
Capítulo 19 - Como
era o “download” na década de 80 ?
Isso mesmo! O título fala por si
mesmo! Não foi com o “lançamento” da internet que o referido procedimento
surgiu. “Mas por que ele está falando nesse assunto? O livro que eu estou lendo
não é sobre os anos Unesp?”: o leitor, certamente, está perguntando. Na
verdade, estou tocando no assunto pelo fato de ter apresentado um seminário na
Unesp (juntamente com John e Marky) falando sobre a história dos computadores.
E sobre o referido tipo de download, infelizmente, acabamos nos esquecendo de
explicá-lo no seminário (justamente um dos assuntos mais legais). Então, decidi falar dele no presente capítulo.
A ideia do seminário sobre os
computadores surgiu quando a professora Leidy, que ministrava as aulas de
“História do Desenho Industrial”, propôs um trabalho onde cada grupo deveria
escolher um objeto e contar a sua história, desde os primórdios. No ato,
lembrei dos meus computadores antigos que ainda guardo com carinho (um Msx
Hotbit e um Pc XT) e perguntei a John e Marky o que eles achavam de um trabalho
sobre a História dos Computadores (equipamento tão popular nos dias de hoje),
com direito à exposição dos meus velhos equipamentos na sala de aula. Os dois
acharam a ideia muito boa e, assim, começamos a preparar o conteúdo da apresentação,
desde os tempos do ábaco (considerado, por muitos, o primeiro computador) até
os computadores mais atuais. E no dia do seminário, instalei, na sala de aula,
meu velho Pc XT (com direito à uma demonstração do seu barulho de “turbina de
avião”, ao ser ligado) e o meu MSX. Um fato que me deixou um pouco desapontado
(estou exagerando, não é para tanto) é que a maior parte do pessoal achou que o
MSX era um videogame, pelo fato de ser ligado direto em uma TV (na época de seu
lançamento, os monitores eram monocromáticos e, por esse fato, utilizávamos a
TV para desfrutar de suas cores). Quando o seminário começou e, finalmente,
pude apresentar a minha parte (referente aos computadores da década de 80),
entendi o motivo do engano (referente ao monitor improvisado): apesar de ter
sido muito popular no Brasil, boa parcela de meus amigos nunca tinha ouvido
falar de um MSX (pelo fato de serem mais novos que eu). Justificando esse
desconhecimento, foi com assombro que eles receberam a informação referente ao
armazenamento de dados, realizado por meio de Fita Cassete (isso mesmo, a mesma
utilizada para gravar músicas). A Fita Cassete era uma alternativa “barata”
para quem não tinha condições de comprar os drives que utilizavam “disquetes”. No
entanto, o armazenamento de programas em fita cassete, apesar de ser uma
alternativa barata, não era a mais eficiente. Na maior parte dos programas, o
carregamento demorava cerca de 10 a 15 minutos (alguns demoravam até mais), isso
quando não aparecia a mensagem irritante de “Erro Periférico” e era preciso
rebobinar a fita, iniciando o carregamento desde o princípio. E aqui,
finalmente, com essas últimas explicações, posso falar do assunto referente ao
download na década de 80 (o qual esqueci de relatar no seminário).
O que aconteceria se pegássemos uma
Fita Cassete com um programa de computador e colocássemos para tocar em um
aparelho de som convencional? Eu já fiz isso e o resultado é um ruído
ensurdecedor que sai das caixas de som. Apesar de eu não saber explicar em
termos mais técnicos todo o processo, é justamente o referido ruído que contém
todos os dados para o carregamento do programa. As Fitas Cassetes eram uma
verdadeira decepção no carregamento de programas, porém era possível
transmitir, via rádio FM, o referido ruído que elas proporcionavam. Assim, se
você estivesse em sua casa, bastava sintonizar a rádio FM e gravar todo ruído
transmitido em uma Fita Cassete qualquer. Em seguida, era só colocar a mesma em
seu computador e mandar carregar o programa. Pronto, era assim o download
naquela época! E não estou “viajando na maionese”, pois existiam algumas rádios
universitárias, na época, que realmente transmitiam os programas para os seus
alunos via rádio FM. Eu, particularmente, não tive a chance de realizar o
experimento (pois fiquei sabendo do mesmo muitos anos depois, quando os
disquetes já “dominavam”). Porém, desfrutei da oportunidade de ver o meu pai
unindo dois “toca-fitas” (naquele tempo ainda não existiam os aparelhos com
“duplo deck”, ou seja, com dois gravadores) e gravando o ruído dos programas de
uma fita para a outra (para fazer “back-up” dos referidos programas).
Pois é! E nos dias de hoje, às
vezes, eu ainda reclamo quando o computador fica lento! A lentidão de hoje
seria considerada “a velocidade da luz” na década de 80. Apesar disso, a época
dos primeiros computadores pessoais me deixou muitas saudades!