Livro: "A Era
do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"
Capítulo 21 - Difícil
falar de Design com um Designer
Enquanto escrevo as presentes
linhas, no meu aparelho de som está “rolando” um disco da banda Count Basie (mais precisamente o disco de 1957). Claro,
não é “punk” (meu estilo favorito) nem mesmo rock: trata-se de Jazz.
“Quêêêêê!!! Você, escutando Jazz?” Sim, qual o problema? De qualquer forma,
pode ser até surpreendente ver um garoto (como eu) que, na adolescência,
trajava calças rasgadas e camiseta dos “Ramones”, hoje, escutando (e gostando)
de Jazz. Pois é, as coisas mudam... No entanto, meu estilo preferido continua
sendo o “Punk” (e o rock em geral): o Jazz, apenas, é mais um estilo que
agreguei no meu “repertório musical” (melhor dizendo, “gosto musical”). Talvez
seja a famosa “Metamorfose Ambulante” da qual o Raul Seixas falava... Acho que
não é justo (comigo mesmo) me apegar a certos conceitos pré-definidos (ou
preconceitos, do tipo “rockeiro só pode escutar rock”) e deixar de conhecer outros
estilos, outras tendências...
Mudando um pouco o foco da
“narrativa” (mas tentando, ainda assim, estabelecer uma relação), na História
da Arte, por exemplo, tivemos vários episódios onde um estilo de uma época
qualquer (considerado a “regra absoluta”) ter sido totalmente questionado e
substituído pelo estilo da época seguinte. Artistas (considerados “rebeldes”)
cansaram de seguir regras pré estabelecidas e começaram a se aventurar em novas
perspectivas (perspectivas consideradas, inicialmente, como sendo de “mau
gosto”). No entanto, logo em seguida, o que foi considerado de “mau gosto” se
transformou na nova tendência e se tornou “belo” (ou “feio”, mas um “feio” que
não deixava de fazer parte da nova (e apreciada) tendência). A referida
História da Arte faz parte do Design (ou, quem sabe, o Design faça parte dela):
assim sendo, será que a disciplina possui regras absolutas e imutáveis?
Acredito que não... Um trabalho que foi menosprezado hoje (por não se adequar
às “regras atuais” do Design) pode, quem sabe, se tornar “revolucionário” no
futuro. Retornando novamente ao foco do primeiro parágrafo, qual o problema de
acrescentarmos os nossos conhecimentos pessoais (como, por exemplo, novas
descobertas e novas experimentações) no campo do Design? Nos privar da
maravilhosa arte de assimilação e experimentação proveniente das nossas novas
descobertas? Bobagem...
Mas nem todo mundo pensa assim...
Quando 2007 chegou (nosso terceiro
ano de Universidade), as disciplinas começaram a ficar cada vez mais interessantes.
No entanto, começamos a ficar estudantes cada vez mais ranzinzas e intolerantes
com o trabalho dos colegas. É claro que, no geral, as “regras” do Design devem
ser respeitadas, mas se alguém desrespeitasse alguma (tanto por inexperiência
(ou preguiça) como por ousadia), grandes discussões se iniciavam durante as
aulas, muitas vezes provocando um certo desconforto ao pobres colega que havia
desenvolvido o trabalho analisado. Passei, várias vezes, pelo referido
desconforto, mas fico feliz por não ter causado o mesmo a ninguém (com
críticas, construtivas ou não). Devo admitir, porém, que muitas vezes, em minha
mente, formulei críticas e menosprezei vários trabalhos de amigos, trabalhos os
quais não gostei (sim, não deixei de menosprezar, embora não tenha revelado minha
“terrível” opinião publicamente e, assim, não posso ser “inocentado” da culpa).
Porém, em um segundo momento (não sei explicar exatamente o que aconteceu; quem
sabe, tenha sido a voz da consciência ou amadurecimento), além de continuar não
fazendo críticas ao trabalho dos colegas direta e abertamente, pude “relaxar”
minha mente e acabar com as “terríveis” opiniões que por meio dela eu
formulava. Ou seja, quem era eu para julgar e dar um “veredicto final” ao
trabalho de um amigo? Eu, por acaso, era o professor? Eu conhecia os
verdadeiros motivos pelos quais o referido trabalho havia sido produzido? Quem
sabe (e com certeza, isso ocorreu) o colega havia colocado “a sua própria alma”
naquele trabalho? Ou seja, havia utilizado os seus sentimentos mais escondidos,
as suas vivências, os seus medos, enfim, a sua própria vida para desenvolver
aquele projeto? A maior parte das vezes, eu também procedi assim em minhas
empreitadas.
Parei com as críticas “íntimas”,
fruto da minha mente e comecei a respeitar o trabalho dos amigos... Aquele
desrespeito não tinha sentido... E eu também não era o “melhor Designer do
Mundo”, fato que não justificava a minha atitude (e nunca desejei ser o “melhor
Designer do Mundo”)... No entanto, mesmo que eu fosse o melhor, não era correto
o menosprezo pelo trabalho dos outros (mesmo apenas em pensamento). Eu mesmo
fui, muitas vezes, incompreendido e menosprezado. Conhecendo exatamente o
sentimento de indiferença e sofrendo por causa disso, não poderia fazer o mesmo
com os colegas. Seria muita hipocrisia de minha parte.
Parei, também, de falar de Design
com um Designer, fora do ambiente das aulas. Não valia a pena ficar discutindo,
ninguém daria “o braço a torcer”: cada um, naquela altura, estava apenas
interessado pelas suas ideias e tudo o que viesse de terceiros era,
simplesmente, considerado lixo. “Hãããããããã?” Certo, peço perdão, talvez eu
esteja exagerando um pouco: não era um desrespeito tão acentuado assim, mas eu
achava melhor evitar o mesmo e não ficar com discussões a respeito de Design. E,
realmente, nem todos eram desrespeitosos.
Além disso, se eu amava a minha
turma mais do que nunca, para que ficar com brigas desnecessárias? Sinto falta
desse pessoal até os dias de hoje (e também dos professores)... Gostaria que
nunca tivéssemos nos separado, mas no futuro isso seria inevitável... Afinal,
após a faculdade, cada um seguiria seu caminho... Mas que dá saudade, dá
saudade mesmo... Uma saudade ao som do Count Basie...