quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Capítulo 21 - Difícil falar de Design com um Designer - Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"


Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Capítulo 21 - Difícil falar de Design com um Designer



            Enquanto escrevo as presentes linhas, no meu aparelho de som está “rolando” um disco da banda Count Basie  (mais precisamente o disco de 1957). Claro, não é “punk” (meu estilo favorito) nem mesmo rock: trata-se de Jazz. “Quêêêêê!!! Você, escutando Jazz?” Sim, qual o problema? De qualquer forma, pode ser até surpreendente ver um garoto (como eu) que, na adolescência, trajava calças rasgadas e camiseta dos “Ramones”, hoje, escutando (e gostando) de Jazz. Pois é, as coisas mudam... No entanto, meu estilo preferido continua sendo o “Punk” (e o rock em geral): o Jazz, apenas, é mais um estilo que agreguei no meu “repertório musical” (melhor dizendo, “gosto musical”). Talvez seja a famosa “Metamorfose Ambulante” da qual o Raul Seixas falava... Acho que não é justo (comigo mesmo) me apegar a certos conceitos pré-definidos (ou preconceitos, do tipo “rockeiro só pode escutar rock”) e deixar de conhecer outros estilos, outras tendências...
            Mudando um pouco o foco da “narrativa” (mas tentando, ainda assim, estabelecer uma relação), na História da Arte, por exemplo, tivemos vários episódios onde um estilo de uma época qualquer (considerado a “regra absoluta”) ter sido totalmente questionado e substituído pelo estilo da época seguinte. Artistas (considerados “rebeldes”) cansaram de seguir regras pré estabelecidas e começaram a se aventurar em novas perspectivas (perspectivas consideradas, inicialmente, como sendo de “mau gosto”). No entanto, logo em seguida, o que foi considerado de “mau gosto” se transformou na nova tendência e se tornou “belo” (ou “feio”, mas um “feio” que não deixava de fazer parte da nova (e apreciada) tendência). A referida História da Arte faz parte do Design (ou, quem sabe, o Design faça parte dela): assim sendo, será que a disciplina possui regras absolutas e imutáveis? Acredito que não... Um trabalho que foi menosprezado hoje (por não se adequar às “regras atuais” do Design) pode, quem sabe, se tornar “revolucionário” no futuro. Retornando novamente ao foco do primeiro parágrafo, qual o problema de acrescentarmos os nossos conhecimentos pessoais (como, por exemplo, novas descobertas e novas experimentações) no campo do Design? Nos privar da maravilhosa arte de assimilação e experimentação proveniente das nossas novas descobertas? Bobagem...
            Mas nem todo mundo pensa assim...
            Quando 2007 chegou (nosso terceiro ano de Universidade), as disciplinas começaram a ficar cada vez mais interessantes. No entanto, começamos a ficar estudantes cada vez mais ranzinzas e intolerantes com o trabalho dos colegas. É claro que, no geral, as “regras” do Design devem ser respeitadas, mas se alguém desrespeitasse alguma (tanto por inexperiência (ou preguiça) como por ousadia), grandes discussões se iniciavam durante as aulas, muitas vezes provocando um certo desconforto ao pobres colega que havia desenvolvido o trabalho analisado. Passei, várias vezes, pelo referido desconforto, mas fico feliz por não ter causado o mesmo a ninguém (com críticas, construtivas ou não). Devo admitir, porém, que muitas vezes, em minha mente, formulei críticas e menosprezei vários trabalhos de amigos, trabalhos os quais não gostei (sim, não deixei de menosprezar, embora não tenha revelado minha “terrível” opinião publicamente e, assim, não posso ser “inocentado” da culpa). Porém, em um segundo momento (não sei explicar exatamente o que aconteceu; quem sabe, tenha sido a voz da consciência ou amadurecimento), além de continuar não fazendo críticas ao trabalho dos colegas direta e abertamente, pude “relaxar” minha mente e acabar com as “terríveis” opiniões que por meio dela eu formulava. Ou seja, quem era eu para julgar e dar um “veredicto final” ao trabalho de um amigo? Eu, por acaso, era o professor? Eu conhecia os verdadeiros motivos pelos quais o referido trabalho havia sido produzido? Quem sabe (e com certeza, isso ocorreu) o colega havia colocado “a sua própria alma” naquele trabalho? Ou seja, havia utilizado os seus sentimentos mais escondidos, as suas vivências, os seus medos, enfim, a sua própria vida para desenvolver aquele projeto? A maior parte das vezes, eu também procedi assim em minhas empreitadas.
            Parei com as críticas “íntimas”, fruto da minha mente e comecei a respeitar o trabalho dos amigos... Aquele desrespeito não tinha sentido... E eu também não era o “melhor Designer do Mundo”, fato que não justificava a minha atitude (e nunca desejei ser o “melhor Designer do Mundo”)... No entanto, mesmo que eu fosse o melhor, não era correto o menosprezo pelo trabalho dos outros (mesmo apenas em pensamento). Eu mesmo fui, muitas vezes, incompreendido e menosprezado. Conhecendo exatamente o sentimento de indiferença e sofrendo por causa disso, não poderia fazer o mesmo com os colegas. Seria muita hipocrisia de minha parte.
            Parei, também, de falar de Design com um Designer, fora do ambiente das aulas. Não valia a pena ficar discutindo, ninguém daria “o braço a torcer”: cada um, naquela altura, estava apenas interessado pelas suas ideias e tudo o que viesse de terceiros era, simplesmente, considerado lixo. “Hãããããããã?” Certo, peço perdão, talvez eu esteja exagerando um pouco: não era um desrespeito tão acentuado assim, mas eu achava melhor evitar o mesmo e não ficar com discussões a respeito de Design. E, realmente, nem todos eram desrespeitosos.
            Além disso, se eu amava a minha turma mais do que nunca, para que ficar com brigas desnecessárias? Sinto falta desse pessoal até os dias de hoje (e também dos professores)... Gostaria que nunca tivéssemos nos separado, mas no futuro isso seria inevitável... Afinal, após a faculdade, cada um seguiria seu caminho... Mas que dá saudade, dá saudade mesmo... Uma saudade ao som do Count Basie...