segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Capítulo 26 - Sentimento e Insensatez - Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Capítulo 26 - Sentimento e Insensatez



            A rotina é realmente algo perturbador! Sempre os mesmos caminhos, sempre as mesmas pessoas, sempre as mesmas ocupações... Agora entendo como é tão fácil ficar entediado! Mas, felizmente, encontrei várias soluções para evitar o tédio que a rotina nos impõem: visitar lugares onde não vou regularmente, mudar o trajeto ao me dirigir ao meu emprego (“ao” duas vezes, não consegui encontrar uma frase melhor), conversar com pessoas que não pertencem ao meu círculo de amizades... Enfim, mudar a própria rotina, ou seja, não ficar fazendo as mesmas coisas “todo santo dia”. No entanto, me lembro que, nos tempos de faculdade, eu seguia uma mesma rotina, todo dia, e não ficava entediado. Qual era o segredo? Me arrisco a dizer que seria a enorme quantidade de trabalhos para entregar em um prazo pré-determinado pelo professor, fato que impedia a nossa mente de pensar na rotina (não dava tempo). Por exemplo: o trabalho de conclusão de curso, o qual “coloquei a minha alma” na elaboração do mesmo, fez com que a rotina mal fosse notada. Vou falar um pouco dele no presente capítulo.
             Por volta de 2009, eu já havia deixado, há alguns meses, a empresa de autopeças a qual trabalhei por 9 anos. Devido a esse acontecimento, é claro que a “ânsia” de arranjar um novo emprego estava presente. No entanto, por outro lado, uma enorme sensação de liberdade me contagiava, visto que, agora, eu tinha muito mais tempo para realizar os meus projetos pessoais. Tudo isso coincidiu com a época do trabalho de conclusão de curso, o qual eu deveria apresentar para finalmente ter o meu diploma.
            A inspiração para realizar o trabalho final ocorreu por volta de 2008, no final do último semestre de faculdade. Era na época em que meus amigos de classe Taylor e Richard moravam em um apartamento próximo ao residencial Parque das Camélias. Na ocasião, estávamos fazendo um trabalho sobre “patentes curiosas”, pertencente à disciplina de “Legislação e normas”. Foi o último trabalho regular antes de começarmos, cada um de nós, os seus respectivos trabalhos de conclusão de curso. Após o fechamento do trabalho, lembro de ter deixado Richard em seu apartamento e, de carro, por algum motivo que desconheço, resolvi seguir um caminho diferente ao voltar para casa (uma espécie de “quebra” de rotina, conforme relatei no primeiro parágrafo). Quando dei por mim, estava percorrendo a avenida principal do parque das Camélias e várias lembranças vieram à minha mente: o ano de 1995, os amigos, minha paixão por Vicky (já que ela morava no residencial Camélias), enfim, lembranças daquele passado mágico que jamais voltará.
            Certa vez, uma garota que conheci me falou a respeito de uma teoria muito interessante: todas as canções já existem antes de serem compostas e que nossa inspiração nos permite o acesso às mesmas. Como se as referidas canções ficassem vagando pelo espaço, sem rumo, e que, num acesso de criatividade e inspiração de nossa parte, as mesmas se tornassem acessíveis. Não sei se a referida teoria possui comprovação, porém poderia tranquilamente explicar o “surto de inspiração” que me ocorreu ao vagar pela avenida principal do Parque das Camélias. Naquele exato momento, uma canção, do nada, começou a ser formulada por minha mente. Lembro de até mesmo ter cantarolado o seu primeiro verso, juntamente com a melodia: “Sempre quando me sinto só você sabe onde estarei, debaixo do bloco 42, apartamento 33”. Não tinha em mãos uma caneta para anotar a letra que começou a se formar, nem um gravador para gravar a melodia que eu cantava. Para não esquecer, a solução foi cantarolar a música até eu chegar em casa. Depois disso, não me recordo com muita clareza o que aconteceu. Só sei que, alguns dias depois, eu estava com uma canção pronta para gravar, inclusive com todos os arranjos em minha mente. Nascia a música “Sentimento e Insensatez”, a melhor música que já escrevi e que realmente não me lembro com muitos detalhes o seu processo de composição. Apenas me recordo que, depois da inspiração ocorrida no carro, eu cheguei em casa e gravei uma demo no computador (essa demo existe). Em seguida, devo ter escrito a letra de maneira tão rápida e precisa que chega me falhar a memória se me perguntarem a respeito do referido procedimento.  Quem sabe, conforme aquela garota tinha me dito, a música já existisse e estava a vagar pelo espaço, apenas esperando o momento em que minha inspiração tivesse acesso à mesma?
            A partir daí, decidi que o meu trabalho de conclusão seria um Cd com as músicas que eu havia composto e que as personagens, que por sua vez ilustrariam a capa, fossem baseadas no livro o qual eu escrevia na época (Jimball Bilangs). No próprio livro, como parte integrante da estória, a banda Jimball Bilangs, no decorrer do enredo, lançaria alguns discos independentes e faria um certo sucesso em seu meio. Assim, resolvi confeccionar os próprios discos que seriam lançados no decorrer do livro, como se eu pudesse “arrancá-los” de dentro da estória e deixá-los totalmente palpáveis, no mundo real. A ideia, inicialmente, seria produzir quatro compactos (com duas músicas cada), porém, por falta de tempo (já que o trabalho de conclusão exigia um relatório um pouco complexo), acabei produzindo apenas dois discos. O estilo das canções seria o punk, com um pouco de melodias dos anos 60. No primeiro compacto, as duas canções seriam mais românticas (uma delas era “Sentimento e Insensatez”) e, no segundo, canções de protesto, daquelas do tipo “colocar o dedo na ferida”.
            Foi um ano bastante promissor o de 2009 (incluo aqui o final de 2008 também), pois, além de me dedicar ao trabalho de conclusão, participei de um projeto onde os alunos da Unesp deveriam ministrar aulas de informática aos funcionários da Universidade. Foi quando, a partir da experiência, pude perder boa parte do medo de falar em público. O fato refletiu, um ano depois, na apresentação do trabalho de conclusão, pois, ausente o medo de me expor, pude apresentar o referido trabalho com uma desenvoltura surpreendente. E, assim, terminou o meu período como estudante da Unesp. Só restava, agora, esperar a formatura.

            Podemos concluir que a rotina é perturbadora em alguns casos, porém pode se tornar algo animador, caso seja “bem explorada”. Além do procedimento de mudar a própria rotina, relatado anteriormente, é interessante, sempre, possuirmos projetos pessoais a serem concretizados: por exemplo, uma nova canção, um novo texto, uma nova ilustração... Se ocorrer a impossibilidade de alterar a rotina, que pelo menos ela nos seja agradável, assim como a rotina dos tempos de faculdade.