sábado, 5 de outubro de 2019

Capítulo 8 - E o colegial acabou (mas o amor permaneceu) - O livro do amor para os corações solitários


Livro: O livro do amor para os corações solitários

Capítulo 8 - E o colegial acabou (mas o amor permaneceu)



Bom, vamos começar o presente capítulo com um trecho do meu primeiro livro, o polêmico “Cicatrizar e recomeçar”: “Eu me lembro de certa vez em que eu saí da escola e estava a caminho do ponto de ônibus. Estava com o coração extremamente partido e uma angústia que não consigo definir. Há alguns dias atrás, uma garota (que não se identificou) começou a me mandar alguns bilhetinhos me dizendo que havia gostado de mim. Fiquei, de início, muito surpreso e feliz, pois fazia tempos em que não me acontecia algo do tipo. Porém, nesse dia em que eu estava caminhando até o meu ponto de ônibus, comecei a ter ideias pessimistas a respeito do assunto. Antes do Laurence se mandar, cheguei a mostrar os bilhetes para ele, que se propôs a tentar descobrir os autores. Mas, como eu disse, ele foi embora e acabou não descobrindo nada. Um outro amigo meu, o Caz, sabia quem era mas não quis me dizer e eu, na minha santa inocência, resolvi não perguntar. Ele somente me disse o sobrenome dela (que agora não me lembro) e eu, verificando um dos bilhetinhos em que a suposta garota havia escrito seu telefone, juntei as informações e acabei descobrindo seu endereço. Não tive coragem de ligar por causa da minha enorme timidez (sempre ela), mas eu, junto com o Walter e o Sylvain (irmão mais novo do Adam Ball), chegamos a passar em frente à casa dela, mas não descobrimos nada de diferente, pois eram mais de meia noite e precisávamos voltar para casa”. Assim estava o meu estado de espírito, até que Ingvill começou, supostamente, a tentar me seduzir.
Vamos falar sobre a ansiedade, mais uma vez, que sempre aparece quando enfrento uma situação desconhecida para mim. Uma garota linda com Ingvill tentar supostamente me seduzir era algo totalmente desconhecido, fora da minha realidade (ainda que pudesse ser apenas uma brincadeira da parte dela). Ela foi muito mais ousada que Ashley (vide capítulo 4) que, apesar de ser um pouco rebelde, ficou somente nos telefonemas e olhares mais apaixonados. Ingvill foi mais incisiva com seus beijos, abraços e “declarações de amor” um pouco mais “picantes”. É claro que muita gente vai dizer “E qual o problema, bobão? Você não estava apaixonado por Ingvill?”. Pois é, mas temos que analisar as circunstâncias que me impediam de agir de alguma maneira: além da ansiedade, eu tinha aquela timidez enorme que sempre me acompanhava. E, para piorar, Ingvill procurava sempre me “provocar” em público, ou seja, nunca tivemos um momento só nosso, mais reservado. Acredito que, se estivéssemos sozinhos, mesmo nessas circunstâncias não muito favoráveis para minha pessoa, talvez até tivesse “rolado” algum sentimento mais forte entre nós, mesmo não sendo algo realmente sério (pelo menos da parte de Ingvill, já que eu a amava mais que tudo). Cheguei a cogitar que Ingvill estava com o mesmo pensamento de Fab em relação a mim, ou seja, se aproveitar de minha timidez para se divertir. Mas, analisando melhor a situação, talvez não: apesar de eu ser vítima da sua insensatez, havia momentos em que os sentimentos de Ingvill falavam mais alto e ela “meio que maneirava” nas brincadeiras quando estas atingiam um patamar muito constrangedor para minha pessoa. Como eu disse no capítulo anterior, Ingvill era uma “mistura” de sentimento com uma certa insensatez.
Apesar de todo o constrangimento, confesso que eu comecei a gostar daquele assédio de Ingvill em relação a mim. Mesmo não tendo coragem de reagir, eu pensava: “Ingvill, continue tomando a iniciativa”. Eu imaginava que, em certo momento, aquele assédio se tornaria algo comum e, assim, a ansiedade haveria de se extinguir, por completo, me deixando mais a vontade para tomar uma atitude. Eu achava Ingvill realmente linda e sua personalidade, por mais que me intimidasse, era simplesmente maravilhosa. Vou dizer algo, agora, em primeira mão: a beleza de Ingvill lembrava muito a beleza de minha mãe (tirando o fato de que minha mãe tinha olhos verdes e Ingvill não, o que não representava, para mim, problema nenhum, já que as duas eram lindas de qualquer jeito).
Agora, existiu algum tipo de conversa séria entre Ingvill e eu, nessa época? Quase teve, e, primeiramente, foi algo relacionado à minha timidez, que até o momento não tinha sido nenhum incômodo para Ingvill. Talvez ela tenha se chateado com o fato de eu não tomar nenhuma iniciativa em relação a ela. Certo dia, ela me chamou de sua carteira (naquele dia ela não estava sentada ao meu lado). Quando ouvi a sua voz, achei que ela havia me chamado para ficar me mandando beijos, como ela sempre fazia. Mas não! Ela estava muito séria e, apontando o dedo indicador para mim, perguntou: “Eu quero saber o motivo de você ficar tão incomodado quando você está perto das pessoas. E eu quero uma resposta”. Na verdade, não era que eu ficava incomodado em estar perto das pessoas, eu simplesmente me achava mais a vontade quando eu estava longe delas. Porém, no caso de Ingvill, sua presença me intimidava pelo fato dela ser muito bonita e, o mais importante, pelo fato de eu estar apaixonado por ela. Assim como foi com Desiree, minha antiga paixão dos tempos de primário (vide capítulo 3). Estranhamente, Ingvill não ficou sabendo de minha resposta, pois parece ter se esquecido do assunto posteriormente.
Quero tecer algumas considerações sobre os bilhetinhos que eu estava recebendo que, de certa forma, dizimaram a minha amizade com Ingvill, infelizmente. De início, achei que ela fosse a misteriosa “5AA3”, porém quando Ingvill me mandava bilhetinhos de amor, ela sempre assinava o seu nome. Então tive minhas dúvidas. Verificando as caligrafias existentes nos bilhetes (sim, estou com eles aqui na minha frente, enquanto escrevo o presente capítulo), podemos perceber que a caligrafia de Ingvill é um pouco diferente da misteriosa “5AA3” (apesar de conter algumas leves semelhanças como, por exemplo, a letra “A”, que é escrita em forma de triângulo ou delta). Será que Ingvill teria duas caligrafias diferentes? Será que ela era a “5AA3”? Segundo a própria justificativa de Ingvill, ela não era a “5AA3”. Vamos explicar, chegando, finalmente, à parte mais triste do presente capítulo.
Era aula de língua portuguesa, ministrada pelo professor Gi. Ele era muito legal, mas, em determinadas ocasiões, ele era muito debochado. De repente, a “5AA3” me manda um bilhetinho que, infelizmente, não veio parar em minha mão. Pior: foi parar na mão do próprio professor Gi, que leu o mesmo em voz alta, para a classe. Fiquei muito envergonhado, não sabia onde enfiar minha cara de tanto constrangimento. Enquanto isso, os garotos da minha classe, que já tinham conhecimento do assédio de Ingvill em relação a mim, começaram a “zoar” a mesma, dizendo que ela era a autora do bilhetinho de amor. Eu mesmo achei que fosse ela, porém um fato inédito aconteceu, me deixando com muitas dúvidas em relação ao caso. Depois do acontecido, Ingvill veio até a minha carteira, sentou perto de mim e pude perceber que ela estava muito chateada. Achei que ela estivesse arrependida e fosse até pedir desculpa por ter mandado o bilhete, porém ela afirmou que não havia sido ela a autora. Vou colocar aqui as suas palavras, ditas de maneira muito triste: “Olha Billy, eu sei que você deve estar achando que fui eu quem mandei o bilhete, mas eu juro que não foi. Esses babacas da classe me acusam de tudo o que acontece por aqui. Eu até pensei em começar a sentar aqui na frente, do seu lado, e ser quieta como você é, pra ninguém falar mal de mim”. Ingvill, falando naquele tom tão abatido, provavelmente estava falando a verdade. Eu disse a ela que para esquecermos tudo aquilo e seguirmos em frente. Porém, Ingvill não se convenceu de que eu estava acreditando nela. Então ela revelou: “Eu sei quem foi a autora do bilhete. Foi a Fab”. Sim, exatamente: Fab era a misteriosa “5AA3”.
O que aconteceu nos dias seguintes foi o que levou à ruína todo o meu “relacionamento” com Ingvill. Ela simplesmente se afastou de mim: nunca mais sentou ao meu lado, nunca mais me mandou beijos, enfim, nunca mais trocou uma palavra comigo. Provavelmente, Ingvill achou que eu ainda estava chateado com ela, achou que eu ainda imaginava ser ela a autora do fatídico bilhete. Fab, sem saber, acabou tirando de mim a garota que eu amava. A partir dali, foram dias terríveis para mim, de muita solidão e saudade. Mesmo o constrangimento causado pelo assédio de Ingvill em relação a mim, praticado em público, era muito melhor do que estar longe dela. Longe dela para sempre...
Felizmente, naquele difícil momento, algumas boas ideias começaram a surgir em minha mente. Eu não ligava muito para a minha aparência naquela época e, ainda assim, consegui chamar a atenção de Ingvill.  Então, resolvi começar a cuidar melhor de meu aspecto físico: primeiramente, voltei a usar aparelho nos dentes. Depois, ao cortar o cabelo, mantive o topete, porém comecei a pedir para a cabeleireira passar a máquina nos lados (sugestão da própria Ingvill). Alguns anos depois, fiz a minha mudança mais radical: uma plástica no nariz, que alterou completamente o meu rosto. Além do lance da aparência, não posso deixar de lembrar da influência de Ingvill relacionada ao meu amor pelas artes. Antes de Ingvill, eu não produzia praticamente nada, do ponto de vista artístico. A partir da ausência dela, comecei a escrever poesias, desenhar e, o mais legal, pensar seriamente em montar uma banda de rock, já que eu estava começando a tocar guitarra naquela época. Foram procedimentos cruciais para me preparar para o melhor ano da minha vida, que foi 1994. Um ano repleto de paixões, diga-se de passagem. Ainda assim, o colegial acabou e a minha paixão por Ingvill permaneceu. Jamais me esqueci daquele seu sorriso lindo! A minha paixão por Ingvill foi, realmente, um “divisor de águas” em minha vida...



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