sábado, 12 de outubro de 2019

Capítulo 9 – Pasmem: dançar a dois, atualmente, é considerado uma babaquice - Livro: O livro do amor para os corações solitários


Livro: O livro do amor para os corações solitários

Capítulo 9 – Pasmem: dançar a dois, atualmente, é considerado uma babaquice



Dois fatos marcantes aconteceram na passagem de 1993 para 1994. O primeiro, foi que meu pai adquiriu o nosso primeiro aparelho de cd, fato que estimulou a compra de cds de novas bandas que eu ainda não ouvia. Acabei virando um colecionador de cds de rock. O segundo fato foi assistir ao filme “Beatles, nasce um sonho”, que aumentou ainda mais a minha vontade de montar uma banda. Mostrei o filme ao meu amigo e vizinho Jim e ele também gostou.
Quando 1994 finalmente chegou, um grupo de garotas começou, aos poucos, a se enturmar com a minha “gangue” de amigos. Na verdade, podemos dizer que eram vários grupos de garotas, que geralmente não se davam bem entre si. Em algumas situações, ocorriam até mesmo brigas entre elas, tanto verbais como físicas. No entanto, eu me dava bem com todas as “facções”, apesar da minha timidez que, aos poucos, foi sendo amenizada. Isso pelo fato das minhas novas amigas me tratarem muito bem (algumas até “bem demais”, como vou explicar no decorrer do presente capítulo). Como as coisas estavam fluindo muito bem, isso incentivou minha turma a organizar algumas das chamadas “festas dançantes” ou “Brincotes”, muito populares nas décadas de 80 e 90, que ocorriam em minha casa ou na casa de Jim.
O ritmo que fazia sucesso entre os jovens, naquela época, era a Dance Music. Eu simplesmente detestava! Porém, nas “Brincotes”, para a minha felicidade, além da Dance, rolava também músicas lentas e românticas, para se dançar a dois. Inclusive, as músicas que compunham a fita cassete das lentas eram escolhidas por mim. Agora preciso falar algo que nunca ouvi ninguém comentar. Hoje em dia, nas festas, pelo menos as que eu frequento, não existe mais o hábito de dançar a dois, aquele lance de dançar abraçado, com o rosto colado ao de uma garota. Será que a geração atual não curte esse tipo de intimidade? Resolvi perguntar a um amigo meu (que é mais novo) e ele me disse que é um hábito que não existe mais nos dias de hoje. Inclusive, falou que se eu fosse à alguma festa e sugerisse uma dança desse tipo, as outras pessoas ririam da minha cara, pois dançar junto é uma coisa muito babaca. Não acredito! Aí, eu retruquei: “Peraí, você está dizendo que dançar juntinho à uma garota (quem sabe, uma garota que você até mesmo ame) é um negócio babaca? Como assim? Isso é sério?”. Meu amigo, então, pensou um pouco, mas ficou sem resposta por um tempo. Depois disse: “É, deveria ser algo legal naquela época, mas hoje...”. Os tempos mudaram, drasticamente, no que diz respeito ao romantismo.
A primeira “Brincote” foi realizada em minha residência e, praticamente, não teve Dance Music: o que predominou foram as músicas românticas. Não demorou muito e logo se formaram vários casais, no intuito de dançar na nossa improvisada pista de dança, localizada no quintal de minha casa. Até aquele momento, eu estava tímido no meu canto, quando avistei uma garota, na garagem de minha casa, que também não dançava com ninguém. Eu ainda não tinha consciência de que havia avistado um dos grandes amores de toda a minha vida. Seu nome era Pam. Eu a conhecia de vista, porém fazia algum tempo que não a via. Reparei que ela havia sofrido, nesse meio tempo, uma drástica transformação: de uma garotinha ela havia se tornado uma linda mulher. Ela era tão linda quanto Ingvill, apesar de não lembrar em nada a mesma (por exemplo, Pam tinha cabelos negros, enquanto Ingvill tinha cabelos loiros). Fiquei tão fascinado com a beleza de Pam que, surpreendentemente, minha timidez simplesmente desapareceu e eu me aproximei dela, convidando a mesma para dançar. E, para minha felicidade, ela aceitou! Não consigo definir com palavras o meu prazer em estar tão próximo de uma garota tão bonita, que naquele momento me abraçava até mesmo com uma certa ternura. Ficamos dançando por algum tempo mas, infelizmente, ela disse que precisava ir embora, pois tinha horário marcado para chegar em casa, já que era noite. Seus pais, inclusive, eram muito rígidos em relação a isso. Então nos despedimos. Mesmo ela indo embora tão cedo, aquela dança com Pam havia representado muito para mim. Lembremos aquela frase de Saint-Exupéry, que pode definir o meu estado de espírito naquela aproximação com Pam: “Ao partir, deixamos as ternuras para trás com um doloroso aperto no coração, mas também com um estranho sentimento de tesouro escondido sob a terra”.
Mais para o final da festa, tive a oportunidade de dançar com a melhor amiga de Pam, chamada Cindy, fato que para mim foi muito prazeroso. Porém, apesar da mesma também ser muito bonita e lembrar muito Ingvill (com os seus cabelos loiros), tenho que admitir que não ocorreu o mesmo impacto que senti quando dancei com Pam. No entanto, percebi que Cindy não parava de me encarar um minuto, mesmo depois da dança ter terminado. Quando a festa acabou, não foi uma surpresa o que meu amigo Paul veio me dizer: Cindy havia gostado de mim. E que poderíamos até mesmo “ficar” em uma próxima ocasião. Ficar com Cindy, uma garota parecida com Ingvill: aquilo parecia um sonho, mesmo com a imagem de Pam ainda gravada em minha mente.
E assim aconteceu! A próxima “brincote” ocorreu na casa de Jim e acabei ficando com Cindy. O nosso primeiro beijo foi durante uma dança a dois, ao som da música “In a Darkened Room”, da banda Skid Row. Música muito bonita, inclusive (recomendo, procurem ouvir). Comprei o cd do Skid Row por influência de meu amigo Walter. Foi um grande privilégio ter ficado com Cindy, uma garota tão bela, porém não nos tornamos amigos nessa ocasião. Sequer trocamos algumas palavras entre nós durante a “brincote” onde, inclusive, Paul estava ficando com Pam. Por incrível que pareça, não senti ciúmes, apesar do fascínio que Pam despertava em mim. Provavelmente, isso ocorreu pelo fato de eu também estar vivento, ali, um momento especial com Cindy.
Porém, nem tudo estava perdido. Ao contrário de Cindy, na “brincadeira dançante”, eu tive a oportunidade de conversar muito com Pam. Em determinado momento, inclusive, ela me abraçou e disse que me adorava. Não tinha certeza se eu havia causado nela o mesmo impacto que ela havia causado em mim, mas tudo bem: aquele elogio de Pam já era um bom começo para o meu mundo se tornar, a partir dali, um lugar realmente especial para se viver. O ano de 1994, como eu já disse, foi o melhor ano da minha vida, sem dúvida nenhuma. Muitas coisas estavam para acontecer ainda.


2 comentários:

  1. Oi Alê! Realmente essa geração não sabe o que está perdendo! Nunca vai saber como é ser chamada pra dançar por aquele gatinho que vc paquerava. Uma pena para eles!
    Estou super curiosa pra saber mais sobre o que aconteceu em 1994.
    Não posso deixar de comentar que o amor é cego mesmo. Ingvill parecia um anjo, mas planejou trazer uma barata pra sala de aula kkkkk
    Coisas de adolescentes!
    Um abraço e continue escrevendo

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    1. Obrigado por acompanhar o blog, Camélia! Realmente, dançar a dois, na década de 90, era algo muito especial! Veja o caso do presente capítulo: o meu primeiro beijo aconteceu em uma dança com a Cindy. Ela continua sendo uma das minhas melhores amigas, até os dias de hoje, somos quase como irmãos. Vou falar sobre isso nos próximos capítulos. Quanto à Ingvill, cara, ela era demais! Kkkkk Quem diria, tão "arteira" no passado, hoje uma moça muito responsável! kkkk Grande abraço!

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