Livro: O livro do
amor para os corações solitários
Capítulo
9 – Pasmem: dançar a dois, atualmente, é considerado uma babaquice
Dois fatos marcantes
aconteceram na passagem de 1993 para 1994. O primeiro, foi que meu pai adquiriu
o nosso primeiro aparelho de cd, fato que estimulou a compra de cds de novas
bandas que eu ainda não ouvia. Acabei virando um colecionador de cds de rock. O
segundo fato foi assistir ao filme “Beatles, nasce um sonho”, que aumentou
ainda mais a minha vontade de montar uma banda. Mostrei o filme ao meu amigo e
vizinho Jim e ele também gostou.
Quando 1994 finalmente
chegou, um grupo de garotas começou, aos poucos, a se enturmar com a minha “gangue”
de amigos. Na verdade, podemos dizer que eram vários grupos de garotas, que geralmente
não se davam bem entre si. Em algumas situações, ocorriam até mesmo brigas
entre elas, tanto verbais como físicas. No entanto, eu me dava bem com todas as
“facções”, apesar da minha timidez que, aos poucos, foi sendo amenizada. Isso
pelo fato das minhas novas amigas me tratarem muito bem (algumas até “bem
demais”, como vou explicar no decorrer do presente capítulo). Como as coisas estavam
fluindo muito bem, isso incentivou minha turma a organizar algumas das chamadas
“festas dançantes” ou “Brincotes”, muito populares nas décadas de 80 e 90, que
ocorriam em minha casa ou na casa de Jim.
O ritmo que fazia
sucesso entre os jovens, naquela época, era a Dance Music. Eu simplesmente
detestava! Porém, nas “Brincotes”, para a minha felicidade, além da Dance, rolava
também músicas lentas e românticas, para se dançar a dois. Inclusive, as
músicas que compunham a fita cassete das lentas eram escolhidas por mim. Agora
preciso falar algo que nunca ouvi ninguém comentar. Hoje em dia, nas festas,
pelo menos as que eu frequento, não existe mais o hábito de dançar a dois,
aquele lance de dançar abraçado, com o rosto colado ao de uma garota. Será que
a geração atual não curte esse tipo de intimidade? Resolvi perguntar a um amigo
meu (que é mais novo) e ele me disse que é um hábito que não existe mais nos
dias de hoje. Inclusive, falou que se eu fosse à alguma festa e sugerisse uma
dança desse tipo, as outras pessoas ririam da minha cara, pois dançar junto é
uma coisa muito babaca. Não acredito! Aí, eu retruquei: “Peraí, você está
dizendo que dançar juntinho à uma garota (quem sabe, uma garota que você até
mesmo ame) é um negócio babaca? Como assim? Isso é sério?”. Meu amigo, então,
pensou um pouco, mas ficou sem resposta por um tempo. Depois disse: “É, deveria
ser algo legal naquela época, mas hoje...”. Os tempos mudaram, drasticamente,
no que diz respeito ao romantismo.
A primeira “Brincote”
foi realizada em minha residência e, praticamente, não teve Dance Music: o que
predominou foram as músicas românticas. Não demorou muito e logo se formaram
vários casais, no intuito de dançar na nossa improvisada pista de dança,
localizada no quintal de minha casa. Até aquele momento, eu estava tímido no
meu canto, quando avistei uma garota, na garagem de minha casa, que também não
dançava com ninguém. Eu ainda não tinha consciência de que havia avistado um
dos grandes amores de toda a minha vida. Seu nome era Pam. Eu a conhecia de
vista, porém fazia algum tempo que não a via. Reparei que ela havia sofrido,
nesse meio tempo, uma drástica transformação: de uma garotinha ela havia se
tornado uma linda mulher. Ela era tão linda quanto Ingvill, apesar de não
lembrar em nada a mesma (por exemplo, Pam tinha cabelos negros, enquanto Ingvill
tinha cabelos loiros). Fiquei tão fascinado com a beleza de Pam que,
surpreendentemente, minha timidez simplesmente desapareceu e eu me aproximei
dela, convidando a mesma para dançar. E, para minha felicidade, ela aceitou!
Não consigo definir com palavras o meu prazer em estar tão próximo de uma
garota tão bonita, que naquele momento me abraçava até mesmo com uma certa
ternura. Ficamos dançando por algum tempo mas, infelizmente, ela disse que
precisava ir embora, pois tinha horário marcado para chegar em casa, já que era
noite. Seus pais, inclusive, eram muito rígidos em relação a isso. Então nos
despedimos. Mesmo ela indo embora tão cedo, aquela dança com Pam havia
representado muito para mim. Lembremos aquela frase de Saint-Exupéry, que pode
definir o meu estado de espírito naquela aproximação com Pam: “Ao partir,
deixamos as ternuras para trás com um doloroso aperto no coração, mas também
com um estranho sentimento de tesouro escondido sob a terra”.
Mais para o final da
festa, tive a oportunidade de dançar com a melhor amiga de Pam, chamada Cindy,
fato que para mim foi muito prazeroso. Porém, apesar da mesma também ser muito
bonita e lembrar muito Ingvill (com os seus cabelos loiros), tenho que admitir
que não ocorreu o mesmo impacto que senti quando dancei com Pam. No entanto,
percebi que Cindy não parava de me encarar um minuto, mesmo depois da dança ter
terminado. Quando a festa acabou, não foi uma surpresa o que meu amigo Paul veio
me dizer: Cindy havia gostado de mim. E que poderíamos até mesmo “ficar” em uma
próxima ocasião. Ficar com Cindy, uma garota parecida com Ingvill: aquilo
parecia um sonho, mesmo com a imagem de Pam ainda gravada em minha mente.
E assim aconteceu! A
próxima “brincote” ocorreu na casa de Jim e acabei ficando com Cindy. O nosso
primeiro beijo foi durante uma dança a dois, ao som da música “In a Darkened
Room”, da banda Skid Row. Música muito bonita, inclusive (recomendo, procurem
ouvir). Comprei o cd do Skid Row por influência de meu amigo Walter. Foi um
grande privilégio ter ficado com Cindy, uma garota tão bela, porém não nos
tornamos amigos nessa ocasião. Sequer trocamos algumas palavras entre nós
durante a “brincote” onde, inclusive, Paul estava ficando com Pam. Por incrível
que pareça, não senti ciúmes, apesar do fascínio que Pam despertava em mim.
Provavelmente, isso ocorreu pelo fato de eu também estar vivento, ali, um
momento especial com Cindy.
Porém, nem tudo estava
perdido. Ao contrário de Cindy, na “brincadeira dançante”, eu tive a
oportunidade de conversar muito com Pam. Em determinado momento, inclusive, ela
me abraçou e disse que me adorava. Não tinha certeza se eu havia causado nela o
mesmo impacto que ela havia causado em mim, mas tudo bem: aquele elogio de Pam
já era um bom começo para o meu mundo se tornar, a partir dali, um lugar
realmente especial para se viver. O ano de 1994, como eu já disse, foi o melhor
ano da minha vida, sem dúvida nenhuma. Muitas coisas estavam para acontecer
ainda.
Oi Alê! Realmente essa geração não sabe o que está perdendo! Nunca vai saber como é ser chamada pra dançar por aquele gatinho que vc paquerava. Uma pena para eles!
ResponderExcluirEstou super curiosa pra saber mais sobre o que aconteceu em 1994.
Não posso deixar de comentar que o amor é cego mesmo. Ingvill parecia um anjo, mas planejou trazer uma barata pra sala de aula kkkkk
Coisas de adolescentes!
Um abraço e continue escrevendo
Obrigado por acompanhar o blog, Camélia! Realmente, dançar a dois, na década de 90, era algo muito especial! Veja o caso do presente capítulo: o meu primeiro beijo aconteceu em uma dança com a Cindy. Ela continua sendo uma das minhas melhores amigas, até os dias de hoje, somos quase como irmãos. Vou falar sobre isso nos próximos capítulos. Quanto à Ingvill, cara, ela era demais! Kkkkk Quem diria, tão "arteira" no passado, hoje uma moça muito responsável! kkkk Grande abraço!
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