sábado, 28 de setembro de 2019

Capítulo 7 - Um novo amor no colegial - Livro: O livro do amor para os corações solitários


Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 7 - Um novo amor no colegial



            Chegou o terceiro colegial (1993) e, para variar, as coisas foram bem turbulentas no início. Era uma classe nova, um misto de alunos de várias classes dos anos anteriores. Meu caráter introvertido, provavelmente, foi confundido com arrogância por parte de algumas pessoas, sendo que cheguei até a receber ameaças, por telefone, de alguns novos colegas de classe. Cara, é muito louco pensar nisso hoje, já que considero esses colegas, atualmente, pessoas muito queridas e especiais. A juventude, realmente, é uma fase onde todos nós fazemos coisas impensáveis, coisas que nos dias de hoje sempre são motivo de arrependimento. Lembremos daquela famosa frase do David Bowie: “Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que você sempre deveria ter sido”.
            O que penso da minha timidez, que sempre me acompanhou durante a época do colegial? Bom, posso dizer que não era um sentimento muito confortável. Eu, volta e meia, questionava: “Cara, essa timidez está pegando mal para mim”. Enfim, não era algo do qual eu me orgulhava. Hoje em dia, pelo contrário, apesar de não ser tão tímido como antes, acho a timidez algo bastante “cool”. É um sentimento de tranquilidade e, por que não dizer, uma opção pessoal. Se estou quieto e não estou dizendo nada em determinada situação, é meramente por opção pessoal, não por causa de algum sentimento desconfortável. Hoje, não me sinto nenhum pouco incomodado com isso. Inclusive, um dos meus ídolos, o ator James Dean, era um cara muito tímido algumas vezes, acreditem ou não. Mas no colegial, tenho que ser sincero, ser tímido era algo que me incomodava muito. Bom, pensando nisso, preciso falar agora da minha amiga Fab.
            Fab se aproximou de minha pessoa lá pelos tempos do primeiro colegial, mas não posso dizer, com certeza, que foi por um motivo de simpatia. Tinha uma amiga dela também, que agora não me recordo o nome, que era tão sarcástica quanto ela. Percebendo que eu era uma pessoa tímida, Fab ”meio que achou” esse fato um motivo legal para me provocar, uma diversão que, para ela, deveria ser inofensiva. Mas não foi, era algo muito constrangedor! Ela dizia que eu era namorado de uma amiga dela, uma coisa que eu achava totalmente sem sentido. Não estávamos na mesma classe nessa época, porém, no terceiro colegial, aquele fato iria mudar. Agora, não só estávamos na mesma classe, como sentávamos próximos um do outro.
            Pois bem, no meio de todas essas circunstâncias, uma nova amiga começou a me chamar a atenção. Além de ser muito simpática, ela tinha um sorriso lindo, fato que notei logo na primeira vez em que eu a vi. Ingvill era o seu nome e, para a minha felicidade, eu percebia que ela tinha uma certa simpatia por mim, diferente de Fab. Algumas vezes ela, inclusive, se sentava ao meu lado, na classe. Outras vezes, vinha conversar comigo no ponto de ônibus... Enfim, na minha concepção, era uma nova amizade que estava nascendo ali. Eu podia perceber também, para meu deleite, que a minha timidez não era algo que incomodava Ingvill, pelo menos no início. Uma imagem que eu guardo em minha mente, até os dias de hoje, foi em uma ocasião em que teve uma espécie de “palestra” com alguns políticos, referente à votação do tipo de governo que seria incorporado no Brasil, naquela época (monarquia, parlamentarismo ou presidencialismo). A “palestra” aconteceu no pátio do Objetivo, ao ar livre. A imagem, a qual me refiro, foi avistar Ingvill sentada em um dos bancos do pátio. Ela estava tão linda! O sol fazia com que o seu rosto e os seus cabelos tivessem um certo brilho, algo realmente angelical e, para a minha felicidade, aquele anjo me avistou e acenou para mim, com aquele sorriso lindo de sempre. Ingvill, realmente, sem exagero, poderia ser considerada um anjo, se levarmos em conta a sua beleza. Mas, e quanto à sua personalidade?
            Ingvill não era uma pessoa ruim, muito pelo contrário: era uma garota que tinha bons sentimentos. Porém, os referidos sentimentos caminhavam, lado a lado, com uma espécie de insensatez. Ou seja, ela era uma mistura de sentimento com uma certa insensatez ou, em outras palavras, de uma maneira mais popular, uma “doidinha com sentimentos”. É a melhor definição que podemos estabelecer. Não estou querendo dizer, de maneira alguma, que essa insensatez era uma espécie de loucura (Ingvill nunca foi louca), era apenas um pouco de falta de juízo, por causa da sua idade. Por outro lado, a referida insensatez a tornavam uma pessoa muito engraçada. Mas os professores, apesar de gostarem muito dela, às vezes precisavam tomar algumas atitudes mais drásticas. Foram inúmeras vezes, por exemplo, em que ela foi convidada a se retirar da classe, por causa de suas “aprontações”. Uma vez, ela estava pensando em soltar uma barata “voadora” na classe, para assustar todo mundo. Ingvill acabou não realizando a referida proeza. Mas, na ocasião em que entrou um rato na nossa classe, não teve como eu não questionar se foi ela quem trouxe aquele roedor para amedrontar a todos. É claro que não foi ela, mas ao me lembrar do lance da barata “voadora”, não teve como eu não pensar nessa possibilidade, na época. Um fato curioso: minutos antes do rato entrar na classe, recebi um bilhetinho de amor de alguma garota misteriosa, que dizia “Fui tirar um raio x, imagine a confusão, o seu nome estava escrito, dentro do meu coração”. Vocês devem estar achando a referida frase muito brega, mas na época eu achei algo muito “fofo”. Até que entrou aquele rato na classe e estragou todo o clima. A garota assinava os bilhetinhos como “5AA3”, “código” que, até hoje, eu não sei o que significa e que é um dos grandes mistérios da minha vida. Já fiz até uma música com o nome de “5AA3”. As duas letras “A” do código eram escritas em forma de triângulo, então eu não sabia se eram realmente duas letras “A” ou se eram dois símbolos de delta. Enfim, amigos leitores, se alguém conseguir decifrar o que significa “5AA3”, coloque aqui nos comentários e esclareçam um dos grandes enigmas de toda a minha vida. Sempre tive curiosidade em saber o significado.
            Bom, mas aquele bilhete que recebi no dia do rato não havia sido o primeiro. Já fazia algum tempo que eu estava recebendo vários bilhetes dessa tal de “5AA3”. Meu grande e velho amigo dos tempos de São José, o Laurence, havia ingressado no Objetivo e estava na minha classe do terceiro colegial. Inclusive, aquela pendência relativa às ameaças que recebi por telefone foi resolvida por ele, que conversou com os autores dos trotes telefônicos e acabou selando uma espécie de “tratado de paz” entre as duas partes (no caso, eu e os bullies). Informei Laurence sobre os bilhetes, mas ele não conseguiu, assim como eu, decifrar o que significava “5AA3”. Não conseguiu descobrir, também, quem era a autora dos bilhetes. Na opinião de Laurence, no código “5AA3” não se tratava de duas letras “A”, e sim de dois símbolos de delta, como eu também havia notado.
            Uma grande curiosidade: naquela época (1993), não existia acesso à internet (pelo menos para o “povão” brasileiro). A internet existia, mas era mais para fins científicos e boa parte do grande público não tinha nem conhecimento da existência da rede. Mas esse fato nunca impediu Laurence e eu de manter uma conexão via computador, isso desde meados de 1989. Sério, não estou brincando! Qual era o procedimento? Nós, por acaso, éramos “hackers”? Calma, vou explicar! Na verdade, não era propriamente a internet, e sim uma espécie de “ancestral” da mesma, chamado Videotexto. A partir dos nossos computadores MSX, conectávamos um modem na linha telefônica (na verdade, o modem era uma espécie de cartucho conectado no computador, do qual saía um fio que era conectado, por sua vez, na linha telefônica). Assim procedendo, tínhamos acesso à essa “primitiva internet”, que apresentava serviços de bate-papo, horóscopo, estórias de terror, jogos, notícias, etc. Como Laurence faltava muito às aulas, as nossas conversas eram realizadas, na maioria das vezes, através do bate-papo do Videotexto. Para os padrões de hoje, comparado à internet, o Videotexto era algo bem rudimentar. Mas, para a época, era algo impressionante.
            Bom, vamos voltar aos acontecimentos da nossa classe. Continuei recebendo os misteriosos bilhetes e, por incrível que pareça, uma garota misteriosa publicou uma mensagem de amor para mim, no jornal da escola. Não posso dizer, com certeza, que a mensagem foi publicada, também, pela “5AA3”, pois ela não assinou. Pretendo falar um pouco mais sobre os referidos bilhetes, que ainda estão comigo, no próximo capítulo. Sim, os bilhetes estão em meu poder há quase 26 anos! Mas, antes, preciso contar algo extraordinário, que aconteceu logo depois do período das férias. Percebi que Ingvill, nesse período, havia estabelecido uma forte amizade com algumas garotas que eu tinha mais afinidade, ou seja, minhas melhores amigas. As mesmas, inclusive, sentavam perto de mim, na classe. Certo dia, algo incomum aconteceu, algo que mudou totalmente os rumos da minha vida e, por que não dizer, repercute até os dias de hoje: entre as várias carteiras vagas que haviam na primeira fileira onde eu sentava, Ingvill escolheu a que estava justamente ao meu lado para se acomodar. As meninas aproveitaram para tirar um “sarrinho”, tipo: “Ah, fez questão de sentar do lado do Billy, hein?”. Ingvill, então, encosta a carteira dela na minha, olha para mim com um grande sorriso sedutor e me diz: “Só que hoje, Billy, nós vamos sentar bem pertinho um do outro, tá bom?”. Nunca soube se aquela atitude foi um fato premeditado, por parte de Ingvill, ou se foi influenciada pela brincadeira das meninas. Só sei que aquilo foi surreal! Não preciso nem dizer que, naquelas circunstâncias, me apaixonar por Ingvill foi algo quase automático. Para variar, foi uma paixão repleta de problemas, como vou explicar no próximo capítulo.

         Nota: para obter mais informações sobre a informática dos anos 80, caso você tenha gostado, no presente capítulo, do assunto sobre o Videotexto, o “ancestral” da internet, consulte o intrigante capítulo 19 do meu livro "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura". Trata-se do “Capítulo 19 - Como era o “download” na década de 80?”. Acesse pelo link:




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