sábado, 7 de setembro de 2019

Capítulo 4 – Um olhar que a gente nunca esquece - Livro: O livro do amor para os corações solitários


Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 4 – Um olhar que a gente nunca esquece



Queridos amigos leitores, antes de mais nada, observem o título do presente capítulo. Não o significado “sentimental” da frase (a qual iremos explicar no decorrer dos próximos parágrafos), mas sim as palavras. Gostaria de alertar vocês de um erro muito grave que muitas pessoas cometem, principalmente ao escrever alguma coisa no facebook, por exemplo. Estou falando da expressão “a gente”. Percebam a separação: primeiro a vogal “a”, depois a palavra “gente”. Sim, isso mesmo: quando utilizarmos a referida expressão para exprimir “nós”, a expressão “a gente” é escrita utilizando a separação entre o “a” e a palavra “gente”. Ao escrevermos “agente”, no caso o “a” e o “gente” sem a separação, estamos nos referindo, por exemplo, ao “agente da polícia”, ao “agente do FBI”, ao “agente da natureza” e por aí vai. Errar é humano (também cometo muitos erros de português às vezes), por isso, ao invés de ficar criticando alguém que escreve algo errado, prefiro ensinar educadamente a maneira correta, sempre que possível.
Bom, por volta de 1989, na sétima série, resolvi mudar meu penteado. Antigamente, eu utilizava um cabelo estilo Beatles, com uma franja. Confesso que, apesar de gostar dos Beatles, nunca me identifiquei muito com esse penteado: eu gostava mais dos penteados do ano 50, tipo o Elvis Presley. Em outras ocasiões, eu afirmei que eu nunca tive influência no visual do Elvis, pelo fato de não conhecer a sua obra nessa época, mas, pensando melhor, eu acho que teve a influência dele sim. Isso pelo fato de eu assistir, de vez em quando, alguns de seus filmes que passavam na sessão da tarde. Influência do James Dean não foi, pois eu nunca havia ouvido falar dele naquele tempo. Então é mais provável que foram os filmes do Elvis (aqueles em que ele tomava banho de mar e não desmanchava o topete) que influenciaram meu visual. Agora, imaginem você usar um penteado estilo Beatles por boa parte da sua vida e, de repente, do nada, você aparecer na escola com um topete estilo Elvis Presley. O resultado vocês já sabem, não é? “Dá-lhe Bullying” mais uma vez, algo que não acontecia já fazia muito tempo. Minha vida se tornou um verdadeiro inferno! Meu cabelo novo gerou uma espécie de reação em cadeia, onde eu fui insultado (ou “zoado”) até mesmo pelos meus colegas mais próximos. Lembro que Ros, que era um dos meus melhores amigos, certa vez pegou uma régua e inseriu dentro do meu novo topete, para medir a altura do mesmo. Em determinado momento, já não aguentando mais as críticas e provocações, decidi que o melhor seria voltar a pentear o meu cabelo no estilo dos Beatles. Mas, calma! Por incrível que pareça, preciso falar agora do meu amigo Robert.
Conhecia Robert há muito tempo e, desde essa época, tivemos um relacionamento, às vezes, um pouco conturbado. Era uma espécie de relação de amor e ódio. Muitas vezes, ele criticava muito a minha aparência. Ele dizia, por exemplo, que eu tinha braços muito finos. Mas preciso ser justo com Robert, assim como fiz com Jimmy. Robert, no fundo, era um cara muito legal! Muito legal mesmo, sem exagero! Suas atitudes erradas em relação a mim (e também às outras pessoas) era só uma maneira dele manter “sua fama de mau” e ser respeitado pelos amigos. Coisas de garoto! Ou seja, quando ele estava com a sua turma, ele podia ser extremamente desagradável, mas, conversando a sós com ele, não era difícil perceber que ele era um cara excelente, bem-humorado e, por que não dizer, de “bem com a vida”. Isso não é apenas opinião minha, muitos outros amigos também relataram esse fato relacionado à personalidade de Robert.
             Pois bem, eis que, certo dia, conversando com Robert no intervalo de uma aula (e eu naquela paranoia, pensando em desmanchar meu topete e voltar com a franja), ele me faz o seguinte elogio: “Billy, seu cabelo ficou muito bom penteado desta maneira”. Meu Deus! Senti como se o mundo tivesse parado naquele momento! Aquilo foi arrebatador: Robert me elogiou e, o mais impressionante, elogiou o meu cabelo, que era a causa dos meus problemas naquele período. Justo o Robert que, muitas vezes, havia criticado a minha aparência! Sabe, aquele elogio dele foi uma espécie de alívio, por descobrir que, talvez, pelo menos uma vez na vida, ele não estava zangado comigo e tinha encontrado algo em mim que ele achava legal. E ele estava falando sério, de maneira nenhuma estava sendo irônico. Assim, sabe o que eu pensei? Foi meio que “dane-se as críticas e ofensas” e mantive o meu topete, isso até os dias de hoje. Se Robert falou que o meu cabelo estava bom, então não tive mais dúvidas em manter o meu novo visual da maneira que estava. Impressionante, não é? Mas o melhor ainda estava por vir.
Bom, antes de tudo, preciso relatar aqui um fato que é muito difícil de falar (pelo menos para mim), mas é extremamente necessário comentar sobre o assunto. Estou me referindo à inveja. Quando uma pessoa nos ofende, tomando por base o lance da aparência e visual (que relatei anteriormente), não necessariamente é porque o nosso estilo está errado. Ou porque estamos feios. Vejam o meu caso: a escola inteira me “zoando” por causa do meu novo penteado e justamente o Robert, que já havia criticado a minha aparência, veio me elogiar. E realmente meu novo cabelo não estava ruim e, justamente por causa disso, aquilo incomodou várias pessoas, gerando uma espécie de inveja coletiva. Veja bem, também não posso afirmar com certeza que 100% das pessoas que me criticavam estavam com inveja, mas boa parte eu sentia que estavam sim. Mas, ainda assim, podemos pensar na possibilidade da opinião de Robert ser um fato isolado e das outras pessoas estarem certas em relação ao meu novo cabelo. Tive algumas dúvidas a respeito disso, porém, tempos depois, tive certeza absoluta que a opinião de Robert estava correta, ou seja, meu visual estava muito bom pois, pela primeira vez na vida, eu chamaria a atenção de uma menina. Só não imaginei que seria a menina mais linda da escola, que só foi reparar em mim quando eu mudei o cabelo. Sim, Robert estava certíssimo, eu havia mudado para melhor. Vamos então comentar sobre Ashley, a garota em questão, por quem acabei me apaixonando posteriormente.
Ashley, apesar de sua beleza estonteante, nunca havia me chamado tanto a atenção, visto que estudávamos em classe separadas. Mesmo assim, eu percebia que ela era uma garota muito avançada, “dona de si”, de personalidade forte, muito diferente das minhas paixões anteriores (Naomi e Desiree), que possuíam uma personalidade um pouco mais tranquila e delicada.  Ashley nunca havia reparado em mim, mas, eis que em um determinado intervalo entre aulas, esse fato iria mudar. Eu estava sentado em minha carteira e notei que alguém estava na porta, me encarando. Era Ashley! Ela me olhava de uma maneira tão terna e ao mesmo tempo tão sedutora, que tive que desviar o olhar, pois fiquei muito encabulado. Aquilo era surreal! Nunca nenhuma garota havia me olhado de uma maneira tão apaixonante! Quando ela se foi (a aula estava para recomeçar), fiquei com aquela imagem de Ashley na mente por um tempo. Qual era a sua intenção? Será que ela havia gostado de mim? Depois desse impacto inicial, não pensei mais no assunto e continuei a levar minha vida normalmente.
O sábado chegou, já era noite, e eu estava jogando algum jogo no meu velho computador MSX, uma das minhas paixões na época. De repente, o telefone tocou. Achei que era Laurence, um dos meus melhores amigos, que também tinha um MSX. Quando eu atendi, não acreditei: não era Laurence, era uma voz feminina que falava do outro lado! E era a voz de Ashley, inconfundível! A garota mais linda do colégio estava me ligando, aquilo era algo extraordinário! Mais extraordinário ainda foi o que ela me disse (vou colocar as palavras na íntegra, pois jamais me esqueci delas): “Oi Billy, aqui é a Ashley, eu peguei o seu telefone com a Debby. Eu queria saber se a gente podia se encontrar no colégio, na segunda, para conversar.” E eu, ingênuo do jeito que era, perguntei: “Mas porque você quer conversar comigo?”. E ela, com ternura e paciência, me respondeu: “Bem, eu gostei de você e queria te conhecer melhor. E aí, que hora e em qual lugar eu posso te encontrar?”. Fiquei extremamente tenso, mas respondi: “Bom, que tal na hora da saída?”. E ela topou: “Pode ser, segunda a gente se fala então, beijão.” E desligou.
Fiquei com o telefone na mão por um tempo, totalmente desnorteado. Foi a primeira manifestação de um problema que tive tempos mais tarde de maneira um pouco mais grave: a ansiedade. A ansiedade, no meu caso, sempre aparece quando eu enfrento uma situação desconhecida para mim. No caso, uma linda garota ligando para mim, querendo me conhecer, era uma situação muito desconhecida. Nunca havia vivenciado uma situação daquelas. Vamos lembrar que, naquela época, final dos anos 80, os relacionamentos não eram tão liberais como hoje, em tempos de “lacração”. Ah, não! Essa horrível palavra novamente! De qualquer modo, naquela época não existia ainda aquele lance de “ficar”, pelo menos nunca conheci ninguém que marcou o encontro com uma garota com essa intenção. Enfim, sofrendo os efeitos da ansiedade, nem consegui dormir direito aquela noite.
No domingo, fui ao parque de diversões juntamente com meu amigo Roy e sua família. Da vizinhança, provavelmente Roy era o garoto que fazia mais sucesso entre as mulheres: loiro, de olhos verdes, personalidade forte... Pensei em conversar com ele a respeito de Ashley e do encontro (quem sabe ele poderia me dar alguns conselhos), mas no fim acabei desistindo da ideia. Conversar com Laurence também estava fora de cogitação, visto que ele era um pouco debochado em relação às mulheres e ficava me “zoando” por eu amar Desiree, anteriormente. Ashley e Desiree, inclusive, estudavam na mesma classe de Laurence.
Finalmente, segunda-feira chegou e passei a manhã inteira ainda em estado de pura ansiedade. Quando as aulas se encerraram, percebi que não tinha condições nenhuma de conversar com Ashley. Seria um vexame total, eu não estava nem um pouco preparado para articular as palavras que eu gostaria de dizer para ela: como ela era linda, como aquele seu olhar na porta da classe fez toda a diferença na minha vida, como aquelas palavras ditas no telefone me fizeram tão bem para a alma... E, o principal: como eu a amaria a partir daquele momento, quem sabe pelo resto de toda a minha vida. Assim, na hora da saída, com um peso enorme na consciência, nem fui encontrar com ela e simplesmente fui embora, arrasado pela minha falta de maturidade, destruído pela minha própria ansiedade.
Achei que Ashley ficaria chateada comigo pela minha “furada”, mas, nos dias seguintes, percebi que isso não aconteceu. Não tivemos a oportunidade de conversarmos a sós, mas quando Ashley me avistava (como aconteceu, por exemplo, quando eu estava em uma aula de educação física) ela ainda me encarava com aquele olhar terno de sempre. Outras vezes, Debby vinha me dizer que Ashley queria marcar um encontro comigo e eu sempre dava uma desculpa para não comparecer, vítima da ansiedade. Tirando o telefonema, a única vez que Ashley teve a oportunidade de me dirigir a palavra novamente foi, também, da porta da classe, uma situação parecida com o dia da sua “primeira encarada”. Ela estava conversando com alguém e, ao me avistar, sentado em minha carteira, disse: “Menininho, você é lindo, eu adoro você”. E foi embora, me deixando em estado de êxtase.
Em outros tempos, devo admitir que o fato da minha incapacidade de ter estabelecido um vínculo mais forte com Ashley foi uma grande decepção para mim. Foi como se eu tivesse perdido a melhor oportunidade da minha vida, digamos, no campo dos relacionamentos. Hoje em dia, ao imaginar toda a situação, consigo ver tudo pelo lado positivo: o interesse de Ashley por mim foi muito importante para que eu percebesse que eu não era uma pessoa tão medíocre quanto as pessoas diziam e, porque não dizer, uma pessoa medíocre como eu mesmo imaginava ser. Inclusive, a lembrança do sentimento de Ashley por mim seria essencial para passar pelas provações que viriam durante o período do colegial (que falarei nos próximos capítulos). O que restou disso tudo, atualmente, foi apenas uma curiosidade insana em saber os bastidores de toda essa história com Ashley. Qual suas intenções em relação a mim? Namoro ou amizade? Provavelmente amizade, mas sei que vou morrer e nunca vou descobrir. Mas aquele olhar dela ficou e vai ficar estampado em minha mente até o fim dos meus dias. Um olhar que a gente nunca esquece! Se você já recebeu um olhar desse tipo, você sabe do que eu estou falando: é um privilégio, um verdadeiro presente de Deus. Obrigado, Ashley! Você foi e ainda é muito especial para mim! E obrigado também ao meu grande amigo Robert, que influenciou o visual que eu uso até os dias de hoje.

2 comentários:

  1. Oi Alê! Realmente ousada essa nossa amiga! Kkkkk
    Muitas meninas dessa turma se tornaram mulheres cheias de atitudes e correram atrás dos seus objetivos.
    Obrigada por compartilhar suas lembranças conosco. Não tenha pressa de chegar nas memórias do colegial. Tenho certeza que você ainda tem muita coisa para contar sobre os tempos de São José! Um abraço!

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    1. Obrigado, Camélia!
      Realmente, nossa amiga era muito ousada para os padrões daquela época. Kkkkk Hoje em dia, talvez fosse algo normal. Grande abraço!

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