sábado, 14 de setembro de 2019

Capítulo 5 – Polêmicas no último ano ginasial (1990) - Livro: O livro do amor para os corações solitários

Livro: O livro do amor para os corações solitários


Capítulo 5 – Polêmicas no último ano ginasial (1990)



Antes de falarmos do início do período colegial, gostaria de falar sobre a oitava série (1990), onde ocorreram fatos marcantes.
Sempre houve uma certa rivalidade entre meninos e meninas naquela época, mas, naquele ano, as coisas saíram um pouco de controle. Muitas vezes, confesso que cheguei a perder a paciência e dizer algumas ofensas por causa de algumas amigas que ficavam me provocando. Algo que, apesar de ser uma questão de defesa de minha parte, hoje me causa muito arrependimento. O que me alivia um pouco é saber que eu nunca comecei as referidas discussões. Pudera, se eu era tão tímido até mesmo para iniciar um diálogo com qualquer uma delas, imagine xingar alguém, então! É aquela velha história: uma provocação aqui, outra provocação ali, mais uma provocação acolá e eu acabava não aguentando a pressão. E estourava! Assim, eu acabava dizendo algumas ofensas. Era algo automático, quando eu “caia na razão”, eu já havia dito alguma coisa desagradável e até pensava: “Meu Deus, peguei pesado!”. E as coisas não precisavam ser assim, conforme vou explicar agora.
No fundo, eu gostava muito das meninas da minha classe. Não só aquelas com quem eu me dava bem, mas até mesmo com as que eu tinha uma certa rivalidade. É claro que, naquela idade, por causa de uma questão de orgulho, eu jamais iria admitir isso. Mas eu gostava muito delas, realmente, pois cada uma tinha uma personalidade diferente e marcante. Quanto às provocações, no final das contas eu ficava mais magoado do que com raiva. Um fato que comprova isso: eu era muito sonhador e criativo e, ao som dos Beatles e outras bandas, eu imaginava filmes completos em minha mente, onde meus amigos e amigas eram personagens. E ninguém ficava de fora do enredo! Ninguém! Personagens muito especiais, diga-se de passagem! Eu lembro que eu até gravava em fita cassete a trilha sonora dos meus filmes, em ordem cronológica, onde cada música representava uma cena específica do enredo. Parece loucura, mas eu devo ter criado por volta de uns três filmes completos em minha cabeça, além de muitos “videoclipes” também, desde os tempos do primário. Quem sabe, um dia, eu possa transformar as minhas referidas “produções cinematográficas” em livros? É uma possibilidade.
Agora, um fato que ficou na minha memória, foi uma desavença dos garotos da minha classe com uma das professoras. Foi, inclusive, o último fato marcante de 1990. Sempre fui relutante em descrever toda a situação, visto que um dos meus amigos que participaram diretamente do fato não gosta de falar sobre o assunto. E outro amigo, que também teve uma participação maior, infelizmente não está mais entre nós para dar a sua opinião. Mas eu preciso falar sobre isso, preciso desabafar de alguma forma e, até mesmo, citar as lições que eu aprendi com toda a situação. E as coisas começaram muito antes de culminar com toda a ação dos meus amigos. Vamos aos fatos então.
Mais ou menos por volta do último bimestre de 1990, na oitava série, nossa professora de português nos passou um trabalho de literatura, onde cada um dos grupos falaria de um movimento literário específico. Hoje a literatura é uma das minhas grandes paixões, porém, devo admitir que, na época, eu não dei a mínima ao trabalho (imaturidade). Antes de cada grupo começar desenvolver a pesquisa, nossa professora passou uma folha com um resumo sobre cada movimento, para dar uma noção geral. Eu não me lembro, agora, do movimento que meu grupo trabalhou em cima. A ideia da formação de um grupo de trabalho era que todos trabalhassem em equipe, e não que cada um fizesse uma parte específica do trabalho e depois juntasse tudo. Infelizmente, seguimos o último procedimento citado, por falta de tempo. Não seria um grande problema caso eu não cometesse um erro terrível, impensado, que culminaria em uma das maiores “broncas” que eu levaria de uma professora, em toda a minha vida. E, o pior: “bronca” de uma das professoras que eu mais gostava. Rod e Barral haviam passado um texto falando sobre o movimento literário em questão, para que eu e Ros pudéssemos fazer um resumo e digitar (foi a nossa parte no trabalho). Não consegui me encontrar com Ros para realizarmos o trabalho juntos, então resolvi fazer tudo sozinho. Ao analisar o texto em questão, achei que ele era um pouco fraco (tinha mais exemplos de trechos de livros do que explicações referentes ao movimento literário). Então, qual a besteira que eu fiz? Ao invés de procurar um texto melhor, simplesmente peguei o resumo que a professora havia nos passado e inseri no trabalho. Somente o resumo e mais nada, simples assim!
Chegou o dia da entrega do trabalho. Não sei se poderia ser pior, mas a professora deu uma folheada no mesmo e reparou que o resumo que ela tinha nos passado estava incluído. Ela chamou Rod e mostrou aquele absurdo, dizendo que iria nos tirar nota por causa da inclusão daquele resumo. Tanto a professora como Rod ficaram muito irritados com aquilo, sendo que Rod não se “aguentou” e disse: essa parte foi o Billy quem fez. Pronto, estava armada a confusão! A professora, então, chamou Barral, Ros e eu até a sua mesa, e começou todo aquele sermão. Primeiramente, ela disse que era um trabalho em grupo e que era errado termos feito tudo separadamente. Até aí, a “bronca” era para o grupo todo. De repente, ela se voltou para mim e perguntou como eu tive a ousadia de utilizar o mesmo resumo que ela havia nos apresentado? Segundo suas próprias palavras, era o “resumo do resumo do resumo”. Tive vontade de falar que o texto que Barral e Rod haviam me indicado era uma “porcaria”, mas não respondi. Então ela se voltou, agora, para Ros, perguntando o que ele tinha feito no trabalho. Ros respondeu: “nada”. Aí a professora ficou possessa mesmo. Ela pegou um lápis e começou a desenvolver círculos em torno do nome de Ros (na capa do trabalho), perguntando “O que seu nome está fazendo aqui então?”. Ela estava quase arreganhando os dentes, tamanha a irritação. Queridos leitores, eu sei que vocês estão segurando a risada por causa da gravidade da situação, mas podem rir à vontade (eu mesmo estou gargalhando ao escrever esses fatos, apesar que, na época, foi muito tenso). Depois de ter me “esculachado” por mais algum tempo (sim, eu fui quem mais a irritou), a professora disse que, por consideração ao Rod (um dos seus melhores alunos), ela deixaria que refizéssemos o trabalho.
Apesar de ter errado, fiquei muito magoado com a professora (que eu gostava muito), pelo fato dela ter acabado comigo publicamente (inclusive, a cada “tirada” que ela me dava, a classe caia na gargalhada). Mas, francamente, não tinha como ela fazer de outra maneira. Tipo: “Billy, vem aqui, vamos em um lugar mais reservado para conversar, fora da classe”. Pelo menos ela foi legal em permitir que refizéssemos o trabalho. Fiquei abalado por um tempo, mas depois de alguns dias a mágoa, felizmente, passou. Só não entendi o que se passou com o humor da professora alguns dias depois. Ela não devia estar em uma boa fase, visto que ela se desentendeu com vários amigos meus (coisa que ela geralmente não fazia), confiscou o livro de meu amigo August (que era edição de professor) e obrigou que meu amigo Ricky refizesse seis vezes uma tarefa que ele havia deixado de fazer. Quando um aluno deixava de fazer a tarefa, ela obrigava, como castigo, que o mesmo refizesse a tarefa três vezes. Eu, inclusive, já havia sofrido a referida punição várias ocasiões. Como Ricky persistiu na atitude de não refazer uma tarefa (a qual ele já deveria refazer três vezes), a professora então “aumentou a pena” para seis vezes. E ficou uma grande mágoa da parte de Ricky em relação à professora.
Bom, passaram alguns dias e tivemos a nossa “missa de formatura”. Naquele ano, a escola estava em reforma e, provavelmente, por falta de espaço, não teve uma formatura mais tradicional (com entrega de diplomas, baile, aquelas coisas todas), apenas uma missa na catedral. Quem celebrou a missa foi o nosso querido Padre Jonas, que, muitos anos mais tarde (por volta de 2014), infelizmente, sofreria um grave acidente de carro em Tucumán (na Argentina) e faleceria. Bom, voltando a 1990, aquela ocasião da missa foi a última vez em que vi Ashley, que me olhou ternamente mais uma vez, visto que eu estava muito elegante, de roupa social. E ela estava linda também! Eu estava muito feliz naquele dia, pois fiquei sabendo que havia passado em matemática, matéria que eu tinha muita dificuldade. Meu amigo Barral, que também havia passado na referida matéria, chegou a me dizer: “Billy, se passamos em matemática, praticamente passamos em tudo”. Enfim, estava tudo em ordem, tudo em paz, até que chegou um dos últimos dias de aula. Aquele fatídico dia...
No Colégio São José, a coisa mais rara que podia acontecer era termos uma aula vaga. Ainda mais a última aula. E foi isso que justamente aconteceu, em um dos últimos dias de aula. Não tenho vergonha de dizer que foi algo muito difícil para mim, pois eu nunca havia andado de ônibus sozinho em toda a minha vida! Sério, eu era muito inocente! Lembro que conversei alguma coisa com August na saída e, muito assustado, me dirigi para o ponto de ônibus (pois levaria muito tempo para a minha condução normal chegar, então o mais prático seria ir embora de ônibus). Mais assustado ainda fiquei quando o cobrador do ônibus disse que o meu dinheiro não era suficiente para a passagem (faltavam algumas moedas). Mas ele foi legal: disse que eu poderia pagar no dia seguinte. Fiquei amargurado, pois eu sabia que não iria pegar ônibus no dia seguinte. Cheguei em casa e perguntei para o meu pai se, de repente, eu não poderia ficar no ponto de ônibus e pagar a quantia que eu devia ao primeiro cobrador que eu encontrasse, caso não pudesse localizar aquele que foi legal comigo. Minha honestidade era um pouco patética (e talvez ainda seja, até os dias hoje), mas, ainda assim, era uma honrada honestidade, algo de que me orgulho muito. Meu pai ficou com pena de mim e disse que não adiantaria eu pagar a passagem para qualquer um, que deveria fazer isso quando eu encontrasse o cobrador em questão. Ainda assim, meu pai também deve ter ficado muito orgulhoso com a minha atitude.
No dia seguinte, na aula de português, eis que a professora entra na classe de cara fechada, juntamente com a nossa diretora, a irmã Louise. E solta uma verdadeira “bomba”: ela aplicaria, para toda a classe, uma prova incluindo a matéria do ano todo, caso os culpados por furarem os pneus do seu carro e por estragarem a pintura do mesmo não se apresentassem. Eu não acreditei naquilo! Como assim, os culpados por furarem os pneus e estragarem a pintura do seu carro? Eu realmente não estava sabendo de nada a respeito daquela história! Se aquilo havia acontecido, porque ninguém me contou? Apesar da professora ter dito que tinha certeza que foram os alunos da minha classe, fiquei com medo dela estar enganada e, assim, estar cometendo uma tremenda injustiça. Algumas meninas protestaram, dizendo que, se os suspeitos eram os meninos, elas não mereciam fazer a prova. Ficou aquela discussão, ninguém se apresentou como culpado, então a irmã Louise autorizou a aplicação da prova. Como ela estava próxima da minha carteira, eu olhei para ela, suplicante, e disse: “Irmã, não faça isso!”. Ela não me respondeu, apenas me retribuiu um olhar um pouco triste e sem graça, como se quisesse dizer que não tinha outra escolha. Estava tudo perdido, meu mundo praticamente acabou ali! E pensar na minha felicidade anterior, por causa da minha aprovação em matemática! Como as coisas puderam chegar naquele patamar? Já estava sem nenhuma esperança, quando, de repente, meu amigo Casey levantou da carteira e disse: “Ninguém vai fazer prova!”. Achei que era um ato de rebeldia de sua parte, pois ainda não conseguia imaginar que algum de meus colegas pudessem ter realizado aquele delito. Mas realizaram! A pedido dos mesmos, Casey revelou os verdadeiros culpados: Ricky e Barral. Além de revelar, também, todos os que estavam presentes na ocasião, deixando bem claro que eu não havia participado de nada.
Tive um sentimento muito estranho na ocasião, que não consigo sequer definir.  Enquanto, no dia anterior, eu estava naquela minha ansiedade em relação ao ônibus, ao cobrador e à passagem incompleta, meus amigos estavam “vandalizando” com o carro da professora. Tudo foi explicado depois: eram comum, no final das aulas, todos se dirigirem ao apartamento de nosso amigo Pad, com a finalidade de se protegerem dos “veteranos” do primeiro colegial, que queriam raspar nossas cabeças (sim, havia trote contra os garotos da oitava série naquela época, fato que falarei com mais detalhes no próximo capítulo). Acharam o carro da professora próximo ao prédio de Pad e, devido aos fatos referentes ao seu mau humor dos dias anteriores, resolveram se vingar. Quem “dedurou” foi o porteiro do prédio, onde Pad morava. Barral e Ricky, arrependidos, pediram desculpas à professora, que chorou muito na ocasião (fiquei com muita pena dela). Ricky revelou, inclusive, que teve aquela desastrosa atitude pelo fato de estar muito nervoso por causa da tarefa, que ele deveria refazer seis vezes. A professora então disse que muitos outros alunos haviam sofrido aquela punição, e nem por isso haviam “depredado” o seu veículo. Então, algo surpreendente aconteceu. Ela se voltou para mim e disse, para exemplificar tudo: “Billy, você que já teve de refazer sua tarefa três vezes, em várias ocasiões, alguma vez foi estragar meu carro por causa disso?”. Confesso que fiquei emocionado com aquela pergunta e, para não chorar, apenas balancei a cabeça negativamente. Na verdade, eu gostaria de ter dito: “Não, professora, eu jamais pensei em fazer isso, pois eu realmente sempre gostei muito de você, mesmo depois de você ter me repreendido duramente pelo trabalho de literatura”. São pensamentos e percepções que jamais saíram de minha mente. Por fim, Barral e Ricky, arrependidos, se prontificaram a pagar todo o dano causado.
Assim terminou a nossa história dentro do Colégio São José, de maneira um pouco “caótica”. Só não imaginava que aqueles dias confusos seriam os últimos em que eu veria meu amigo Barral pessoalmente, já que o mesmo, infelizmente, faleceria por volta de 2005. Que Deus o tenha! Mas, e quanto à nossa querida turma de 1990? Continua firme e forte, até os dias de hoje, sempre combinando algum encontro, quando possível, para reunir os amigos e amigas novamente. Não tenho palavras para exprimir o amor que eu sinto por cada um deles, sem exceção.

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