domingo, 10 de abril de 2011

Capítulo 7 - O Casamento

Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 7 – O Casamento)

Get Over You (The Undertones) 

http://www.youtube.com/watch?v=4PbRr2XHs9s

CAPÍTULO 7 – O CASAMENTO
           
Escrito entre: 24 de outubro de 2010
Período: 23 de outubro de 2010


            Finalmente chegou o dia do matrimônio de Carl e Bibi. Tirei a sexta (dia anterior ao evento) e o sábado (dia do evento) para descansar, arrumar minha roupa, enfim, me dedicar exclusivamente para o casamento dos meus queridos amigos.
            Mas, na sexta, na parte da noite, tive tempo de passar na casa de Dezones e lhe entregar o presente livro (até onde o mesmo havia sido escrito, ou seja, tudo menos o atual capítulo, que estou escrevendo agora). Dezones gostou do livro, se emocionou em várias partes e até grifou algumas frases legais, para poder refletir sobre as mesmas com mais calma, posteriormente. Achou o livro bastante leve e filosófico, também. Depois, aproveitou para me contar que ele e Burt Caldwell (outro grande amigo nosso) conheceram uma garota (durante o retorno da viagem, referente ao show da banda “Los Hermanos”) que toca violão e também gosta de gaita. Preciso conhecer essa menina!
            E no sábado, ao adentrar na igreja (juntamente com Cyrinda) para prestigiar o casamento, foi inevitável aquela percepção, a qual eu e Dezones comentamos certa vez: “Esse tipo de felicidade (casamento) parece não ter sido feito para nós, os verdadeiros marginalizados do amor”. Mais ou menos aquela ideia citada por Álvarez de Azevedo, em um dos seus poemas mais célebres: “Só tu à mocidade sonhadora / Do pálido poeta deste flores... / Se viveu, foi por ti! e de esperança / De na vida gozar de teus amores.”. Ah, a mocidade! Como a mocidade me foi cruel! Lá se vai aquela bela percepção dos tempos de infância: carrões, rock e uma bela garota me amando! Atualmente, tanto a agressividade como amabilidade não fazem a menor diferença: não sei qual das duas é a mais inútil para se conquistar uma mulher... E o desejo pelo amor se resumindo naquela (sempre presente) melancólica utopia, que por sua vez é provada na prática, ao me “jogar na cara” que sou, na verdade, a incompetência ambulante dos relacionamentos: a criatura sem “sex appeal”, sem corpo definido, morto de desejo por uma massa corporal maior (e consequentemente, por dias melhores), com um cabelo que é apenas lindo quando estou no interior do meu lar (e que se desmancha justamente quando boto o meu pé para fora de casa). E lá se vão, também, os meus anos de paixão por Vicky e Pam, as prováveis chances desperdiçadas: tempos onde parecia não existir a necessidade de possuir um corpo de “deus grego” para poder agarrar alguma menina ou uma tatuagem para contaminar a minha pele ou alguns “piercings” para me deixar repleto de buracos (fora os que eu já tenho por natureza, incluindo esse buraco dentro da minha própria alma).
            Todas essas sensações, apresentadas até aqui, parecem se tratar de uma grande lamentação de minha parte. Mas, na verdade, não é: basta recordar o que foi escrito no início do parágrafo anterior, onde digo “E no sábado, ao adentrar na igreja (juntamente com Cyrinda) para prestigiar o casamento, foi inevitável aquela percepção...”. Ou seja, mesmo consciente desses pormenores da minha vida errante, foi apenas uma percepção, uma lembrança desagradável. Na verdade, eu estava me sentindo muito bem durante a cerimônia, orgulhoso pela felicidade de Carl e Bibi, já que adoro os dois e tenho certeza que ambos também gostam muito de mim.
            A festa de casamento também foi maravilhosa, com poucos momentos de desconforto. Pude rever amigos e amigas que não vejo com tanta frequência: Tim (irmão de Diane), Vince (primo de Bibi), Diana Lee, Melanie, Lucky (noivo de Melanie, muito legal, com quem pude conversar pela primeira vez), Felícia Mendel, Felícia Nelly, Cilla (juntamente com sua filha), Julie, entre outros. Foi divertido, inclusive foram registradas várias fotos desse encontro histórico. Mas confesso que me senti incomodado apenas uma vez: quando a aparência (e o vestido) de uma garota (que não sei ao certo quem é) foi colocada em julgamento, sem dispensar as baixarias e palavras de baixo calão. Não sei por que esse tipo de atitude ainda me causa tanta dor. Talvez seja pelo fato de, algumas vezes, eu já ter sido a vítima (em uma intensidade menor) ou, quem sabe, pelo sentimento doloroso de imaginar as autoras das críticas me “rechaçando” da mesma maneira (pelas costas), ao criticar a minha aparência (será que eu estava bem de terno?). Mas sem ressentimentos: ao contrário de outros eventos (onde eu sempre me perguntava “Quem será que vai me magoar dessa vez?”), fico feliz de ninguém ter me deixado triste durante a comemoração. Assim, posso dizer que o casamento de Carl e Bibi vai ficar registrado, na minha mente, como uma das ocasiões mais felizes de minha vida.
            Agora, vamos às novidades: novas experiências, novas visões de mundo, novos “satoris” (ou iluminações súbitas). Num determinado momento, o Dj anunciou, através do som, que havia chegado a hora das danças e, da mesma forma que fiz no casamento de Eugene e Diane (outro evento maravilhoso, diga-se de passagem), resolvi ficar contemplando toda a festividade (pois não gosto muito de dançar, não me sinto muito bem). E, ao contrário de outras festas, não me senti atraído por nenhuma garota (apesar de muitas solteiras estarem por ali): uma espécie de interrupção súbita de libido (quem sabe, seja este o referido “satori”?). Acredito que nem mesmo Vicky, naquele momento, poderia quebrar esta “crise celibatária” e me trazer algum tipo de prazer. Resumindo, eu estava me sentindo muito bem: não amar e não sentir prazer é chave de toda a minha liberdade. E, também, é o momento certo para se investir em alguma garota (!?). Como assim? É muito fácil explicar essa situação, comparando-a com o meu ingresso na faculdade. Nos três anos em que fiz o curso pré-vestibular (e nos quais eu estudei muito), aquela ideia de “Meu Deus, investi uma nota no cursinho, preciso passar no vestibular de qualquer jeito” acabou fazendo com que eu ficasse muito mais nervoso durante a prova (e, consequentemente, tomasse “bomba”). Já aquele ano posterior, onde não fiz o cursinho (e estudei muito pouco), foi justamente o ano em que passei no vestibular, pois estava muito mais tranquilo (já que não tinha feito nenhum investimento para poder passar na prova, ou seja, o curso). Pensando dessa maneira, para mim é muito mais fácil tentar algo com uma garota quando eu não estou “transbordando” de paixão (em um estado de tranquilidade), ao invés de tomar alguma atitude quando estou apaixonado (em um estado de ansiedade). O que vou narrar a seguir, a respeito da minha modesta “empreitada”, talvez não signifique nada para alguém já experiente em relacionamentos. No entanto, para mim (a incompetência ambulante dos relacionamentos), foi um grande passo, já que nunca havia me comportado daquela maneira (pois sou muito tímido).
            Era uma garota muito bonita e, apesar de não ser o meu tipo, tenho certeza que era uma garota de espírito superior (devido a sua nobre ocupação, que não pretendo revelar aqui). Comecei a olhar para ela diretamente, sem tirar os meus olhos por um segundo sequer: se ela se sentava, eu olhava em direção à sua mesa; se ela dançava, eu dirigia o olhar para a pista de dança. Ela ficou muito encabulada, principalmente quando estava dançando, ao substituir a naturalidade dos movimentos de seu corpo por uma postura mais contida. Comecei ficar com pena dela, pois é difícil me afastar daquele pensamento que sempre carrego comigo, do tipo “amar é ofender”. Ou seja, como nunca consegui nada com as garotas que eu amei, adquiri esse trauma absurdo. A minha mente até entende que eu tenho o mesmo direito de amar como qualquer outra pessoa. No entanto, ainda carrego comigo aquele pensamento “Como você ousa me amar, seu ‘serzinho’ inferior?”, ao imaginar o que a garota em questão, talvez, esteja pensando ao meu respeito. Até comentei com tio Ned (pai de Diane e Tim) que estava com pena, pois a menina estava ficando muito encabulada, e ele me disse, com seu bom humor, algo do tipo: “Não tenha pena!!!”.
            Infelizmente, tive a certeza de que tudo aquilo ficaria só na troca de olhares, pois não foi difícil de perceber que a garota era tão tímida quanto eu. E, conforme a tradição, é sempre o homem quem precisa “chegar” na mulher, de forma que nem cogitei tal atitude (talvez seja por isso que eu abomino as tradições, como o arroz e as gravatas). Tio Ned, antes de ir embora, me disse que lamentava muito pelo fato das coisas não terem dado certo para mim, referentes àquela linda garota (que não lhe revelei quem era). Mas fiquei feliz com a minha modesta atitude em tentar alguma coisa: é bem melhor seguir essa vertente do “passo a passo” ao conquistar uma mulher do que aquela outra, onde algum amigo “arranja” alguém para você (independente de você se sentir atraído por aquela pessoa ou não). Mas, devo citar, aqui, outro grande motivo para toda essa minha dificuldade em “chegar” na garota: o fato de Pam (minha grande amiga do passado) ter me deixado muito mal acostumado, já que eu nunca precisei “chegar” nela (a própria Pam chegava me agarrando). Bons tempos!
            Quando a festa finalmente chegou ao fim, dei um abraço em Carl e Bibi, me despedi do pessoal e finalmente me dirigi para minha casa. E acabou sendo inevitável a lembrança do meu finado amigo Bret, por dois motivos: o primeiro, pelo fato de sua prima Naty (também minha amiga das antigas, dos tempos da “galera do Grass Valley”) estar presente na comemoração; o segundo, devido algumas músicas dos anos 50 que tocaram na festa, as quais Bret adorava (“Jive Bunny and Mastermixers” e “La Bamba”). Quando cheguei em casa, essa lembrança me deixou muito confuso e desnorteado: pedi a Deus para colocar um pouco de juízo na minha cabeça e me fazer entender, de uma vez por todas, que a morte é algo natural e vem para todos. Mas nada dessa ideia entrar na minha mente, e acabei chorando muito, antes de dormir. Bem patético de minha parte, infelizmente.
            Bret foi o primeiro amigo meu que partiu para a eternidade. Ele faleceu em 2003, justamente no dia do segundo “Mega evento”, realizado na casa de minha amiga Louise. Foi uma espécie de estreia da Máfia de Memphis (apesar de Caleb e Burt estarem ausentes). Naquela noite, de coração partido, toquei “Basket Case”, em homenagem a Bret, enquanto pensava: “por que você teve que ir embora tão cedo, meu amigo? Eu, assim como todo mundo, adorava você!”. Depois de alguns dias, eu viajei para Curitiba e, em uma das noites, Bret apareceu para mim em um sonho, onde me deu um grande abraço, como quem estivesse dizendo: “Também gosto muito de você Billy, fica com Deus! E vê se não demora muito!”. Sinto muito Bret, mas acho que pretendo permanecer mais algum tempo aqui no planeta Terra: é muito doloroso pensar na ideia de morrer e abandonar Carl, Bibi, Cyrinda, Diane, Eugene, Dezones, enfim, todos os meus amigos. Ah, acho que agora comecei a entender o porquê de esquecermos, com frequência, o fato dessa vida não ser a definitiva... Talvez seja mais algum “satori” transmitido por Bret, já que o meu amigo era Budista.

PRÓXIMA POSTAGEM: O Último Capítulo (Primeira Fase) de “Diários de Billy Winston”.

5 comentários:

  1. Parabens grande amigo,no capitulo vc comenta que gosta muito da gente.Quero lhe dizer que tambem gostamos muito de vc e que esse sentimento de amizade é sincero.Parabens pelo capitulo e por estar presente em nossas vidas.Abraços.

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  2. César e Bia, obrigado pelo carinho mais uma vez! Grande abraço!

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  3. Como é bom ler e reler, lembrar e relembrar uma noite tão especial. Obrigada por ter eternizado isso tudo com tão belas palavras.
    Ah, eu já te disse mas vou repetir... vc ficou mto bem de terno.
    Abraços.

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  4. Valeu Chá! Com certeza, foi uma das melhores noites dessa nossa breve existência, no planeta Terra... Só uma correção: não fui eu quem ficou bem de terno, foi o Billy! Rssss Brincadeira! Beijo e obrigado mais uma vez pela participação!

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  5. Rsrsrsrsrs... faz sentido!
    Corrigindo então: Billy ficou mto bem de terno.
    Bjos.

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