segunda-feira, 28 de março de 2011

Capítulo 4 - As temporadas da Vida - Diários de Billy Winston


Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 4 – As temporadas da vida):

Swallow My Pride (Ramones) 

http://www.youtube.com/watch?v=TnrNV_7qc5M

CAPÍTULO 4 – AS TEMPORADAS DA VIDA

Escrito entre: 26 de setembro
Período: 24 e 25 de setembro


             Graças a Deus: Lucia acabou me contando que o médico, o qual ela havia visitado, era um psiquiatra! As coisas não podiam estar melhores! E, já que é assim, fico mais convencido de que deverei calar a minha boca durante o Chá Bar, caso minha aparência seja questionada. Mas ainda estávamos na sexta-feira (um dia antes da referida festa) e, nesse dia específico, como é de costume, fui até à Escola de Desenho Artístico, pertencente ao meu amigo John, para continuar a minha pintura dos “Banana Splits” (utilizando tinta guache).
            Comentei algo interessante com ele, ao lhe revelar a minha árdua tarefa em escrever o presente livro: a nossa vida é como um seriado, dividido em temporadas. A cada temporada, os personagens (que são nossos amigos) vão se modificando. Além disso, os referidos personagens vão aumentando ou diminuindo a sua participação em nossas vidas. Por exemplo: antes de 2005 (ano em que comecei a cursar Desenho Industrial, na Unesp), a participação de John, em minha vida, se limitava aos “episódios” de sábado a tarde, quando nos encontrávamos no curso de Desenho do nosso professor Mitsu. Passou um tempinho e John acabou abandonando o curso (e, consequentemente, o meu “seriado”, fazendo apenas algumas “participações especiais” quando nos encontrávamos eventualmente). Quando 2005 chegou e comecei a faculdade, John se tornou um dos personagens principais do meu “seriado”, pelo fato de nos encontrarmos na mesma classe (com participações obrigatórias nos meus “episódios” noturnos de segunda à sexta e, também, no sábado de manhã). Atualmente, como já estamos formados, as participações de John, na minha “série” diminuíram um pouco, se resumindo aos “episódios” de sexta a noite, com algumas participações especiais nos “episódios” de sábado (durante algum evento).
            Juntamente com John e sua namorada Liria, os personagens principais, presentes na atual temporada da minha vida, são Carl, Bibi, Cyrinda, Diane e Eugene. No passado, a maioria dos meus amigos (presentes nos meus dois livros anteriores, “Cicatrizar e Recomeçar” e “Jimball Bilangs”), que eram os personagens principais, hoje estão praticamente ausentes do meu “seriado”. A minha amada Vicky, por exemplo, esteve presente, apenas, na temporada de 1993. Lang, por sua vez, abandonou a “série” em meados de 1995. Todos são personagens marcantes e especiais que hoje, infelizmente, participam de minha vida apenas por meio de “flashbacks”, lembranças antigas ou até mesmo sonhos.
            Em se tratando de sonhos, ouvi falar, certa vez, que não existe distinção entre a nossa realidade e os nossos próprios sonhos (agora não me lembro a fonte de onde extraí tal informação). Ou seja,  os nossos sonhos também podem ser considerados pura realidade, consistindo em aventuras vividas em outros mundos, onde qualquer personagem de nossa vida (independente da época) pode participar. Como o presente livro não tem um roteiro pré-determinado (e nunca sei qual vai ser o rumo da história, por se tratar de um diário), a única maneira de incluir os personagens antigos seria encontrá-los, eventualmente, no decorrer dos meus dias (mundo real), ou em sonhos ou lembranças. Munido dessas novas ideias, aproveito para relatar o retorno de Adam Ball em minha “série”, por meio de um dos inúmeros sonhos que tive na noite de sexta para sábado.
            Porém, antes de tratar do referido sonho, gostaria de comentar que grande parte da história de Adam Ball está devidamente relatada no meu livro “Cicatrizar e Recomeçar”. No entanto, conheci Adam (e também seu irmão Sylvain) bem antes dos episódios contados no referido livro: foi por volta de 1984, quando finalmente estabeleci residência no Vista Alegre (Grass Valley). A primeira vez em que vi Adam e Sylvain, o primeiro estava na garupa da bicicleta do meu amigo Regie, enquanto o segundo se encontrava na garupa da bicicleta do meu amigo Roy (irmão mais velho de Regie). A primeira vez que conversei com eles, foi em uma novena realizada na casa de August. Ainda éramos muito novos: eu devia ter uns 8 anos de idade e, Adam e Sylvain, 5 anos e 4 anos, respectivamente. A partir dessa época, Adam tornou-se um dos personagens principais da minha vida, diminuindo sua participação no meu “seriado” em meados de 2005 (quando casou-se com Evelyn e mudou-se do Grass Valley) e saindo definitivamente da “série” em 2008, quando deixei a Empresa de autopeças, a qual nós dois trabalhávamos juntos. Depois disso, fez apenas duas pequenas participações especiais: a primeira, durante a festa de final de ano, na referida Empresa de autopeças (onde fui convidado a participar, em 2008); a segunda, quando veio visitar seus pais no Grass Valley e me encontrou no ponto de ônibus (em 2009). Depois disso, “paradeiro desconhecido”, utilizando uma das frases preferidas do próprio Adam Ball, ditas num tom de voz calmo e pausado.
            O enredo do sonho, o qual me referi, teve início quando Adam veio até a mim, dizendo que havia um belo carro antigo a venda. Não se tratava de um Karmann Ghia (o carro dos meus sonhos), estava mais próximo de um Alfa Romeo, mas me interessei pelo veículo mesmo assim. Então fomos, de repente, “teletransportados” ao local onde o carro estava sendo vendido. Assim, do nada, já estávamos no meu Uno vermelho, estacionados na Alameda dos Heliótropos, perto do bar de um antigo conhecido, o finado Fernando. A rua estava lotada, com carros estacionados dos dois lados e várias faixas amarelas, que proibiam o estacionamento. No próprio sonho, acabei lembrando de um conselho de um tio, que também já havia falecido (no mundo real): “Nunca mostre interesse em algo que você esteja interessado, na hora da compra”. Então, para não mostrar o interesse pelo Alfa Romeu (que estava estacionado em uma oficina, quase na frente do bar do Fernando), entramos em uma loja de tapetes que havia por perto. E o que uma loja de tapetes tem a ver com o fato de não mostrar interesse pelo carro? Não sei: nos sonhos, é normal tomarmos atitudes idiotas e sem sentido. Depois de um tempo, eu e Adam Ball saímos da loja e voltamos para o Uno, onde acabei percebendo que a embreagem estava quebrada. P... que pariu! Quase dois dias inteiros para arrumar a porcaria da embreagem, quase R$ 700,00 desembolsados no conserto (essas lembranças são provenientes do mundo real) e ela me quebra novamente? Finalmente, um belo momento de lucidez, no próprio sonho: “De que adianta eu comprar um Alfa Romeu (ou até mesmo um Karmann Ghia)? Não consigo dar conta nem do meu Uno! Vou querer arranjar mais um carro velho só para me dar dor de cabeça?”. Depois que esse pensamento surgiu em minha mente, acabei acordando e, aliviado, pude lembrar que, como tudo havia sido um sonho, a embreagem do Uno ainda estava intacta, no mundo real.
            Na parte da manhã fui, como de costume, na aula de gaita do senhor Cash. Quase na hora do almoço, quando estava retornando da aula, acabei vendo Jim (personagem de “Cicatrizar e Recomeçar” e “Jimball Bilangs”), chegando do serviço. Ele me acenou e eu retribuí o aceno. Nos velhos tempos, estávamos sempre juntos, escrevendo nossas poesias, trocando nossos discos de vinil, brigando pelo amor de Pam (outra personagem dos livros citados anteriormente) e agora, na atualidade, éramos apenas meros vizinhos, que raramente se viam. Para completar o sentimento de nostalgia, na parte da tarde, aquele jovem loiro, que mora em frente de casa, estava recebendo os amigos, todos na maior algazarra (talvez estivesse organizando uma festa, quem sabe). Então, recordei que, no passado, era eu quem recebia os amigos na esquina de casa, gritando, contando piadas e nos divertindo: Adam Ball, Jim, Lang, Micky, Jordy, Turky, Cindy, Pam e muitos outros. Senti um enorme desgosto, vindo das profundezas da minha alma. Tive vontade de ligar para cada um deles (não importa onde os mesmos estivessem), armar a bateria (e os outros instrumentos) na garagem e tocar o nosso rock n´roll, como nos velhos tempos. A ideia foi frustrada pela lembrança de que, cada um deles, nos dias de hoje, tinham outros interesses (e problemas) completamente diferentes dos meus. Por que se preocupariam com um velho amigo (tolo e sentimental) que estava, apenas, sentindo saudades?
            Mas eu tinha outros amigos agora (conforme expliquei, a partir do lance do seriado e das temporadas), que estariam me esperando no aguardado Chá Bar, na parte da noite. Acabou sendo um evento divertido, com poucas críticas referentes à minha aparência. Assim, não precisei me esforçar muito no teste de paciência. Que bom seria se todas as festas fossem assim! A única coisa ruim é que não terei mais nada de interessante para escrever, a respeito da referida festa. Talvez seja verdade o pensamento que diz que, para fazer boa arte, é necessário sofrer. Que saco!

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