sábado, 18 de junho de 2016

Capítulo 9 – Esteja onde eu estiver - Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Capítulo 9 – Esteja onde eu estiver


            Passaram-se os anos e fui vendo cada vez menos Pam e Lang, até que chegou uma época em que o paradeiro dos dois se tornou desconhecido.
           Isso até que encontrei Lang novamente em meados dos anos 2000, no ônibus, e pudemos recordar juntos os bons momentos que vivemos com a nossa velha turma. Lang disse que foi a melhor época de sua vida, concordando com a mesma opinião que eu tinha a respeito de nosso passado. Depois desse encontro, não vi mais Lang, mas recebi notícias dele por intermédio de outras pessoas: ele trabalhava comprando roupas em São Paulo, depois revendia em outras localidades.
         Por volta de 2013, vi Pam em um escritório que vendia planos de saúde e que fornecia guias médicas para seus associados. Eu já sabia, por intermédio de Cindy, que Pam era casada e que tinha um filho. Não sei se ela me viu e, como eu estava com pressa, não tive a oportunidade de conversar com ela. Na ocasião, também não soube o porquê dela estar naquele escritório, provavelmente adquirindo uma guia médica, como pude constatar da pior forma, no futuro.
            Nessa mesma época, Vicky postou em sua rede social que estava no hospital e precisaria fazer uma cirurgia: estava com pedras na vesícula. Fiquei consternado quando vi a postagem e, sem pensar muito, mandei uma mensagem a ela perguntando como ela estava. Ela respondeu, dizendo que estava tranqüila e que eu não ficasse preocupado, pois era uma cirurgia simples.
            No meio de todos esses fatos, eu já estava trabalhando, na época, em uma assessoria de cobrança e, finalmente, em agosto de 2013, entrei de férias. As férias começaram tranqüilas, Vicky já havia feito a cirurgia e estava bem, mas Cindy me mandou uma mensagem desoladora, dizendo que Pam havia feito uma cirurgia, também na vesícula, porém não tinha sobrevivido. Lembrei na hora da ocasião em que vi Pam, pela última vez, no escritório de planos médicos (com certeza, estava cuidando da documentação referente à cirurgia).
           Depois de dois dias, após a mensagem de Cindy sobre a morte de Pam, algo ruim aconteceu comigo: minha narina direita e meu ouvido direito ficaram obstruídos, de modo que minha face direita ficou totalmente paralisada. Vicky e Pam, as duas garotas que eu mais amei, fizeram a mesma cirurgia e só uma delas sobreviveu: aquela ideia era aterradora. Assim, caí doente. Outro fato que me deixou ainda mais desconcertado foi lembrar que minha amiga Cyrinda também precisaria fazer uma cirurgia na vesícula. Temi pela vida dela, já que o seu plano de saúde estava demorando para marcar a cirurgia.
            Era um sábado e, desesperado, resolvi ir ao pronto socorro. Mas estava tão nervoso que o médico me deu apenas um calmante e nem se preocupou em analisar o problema mais grave, que era a minha paralisia. Ao chegar em casa, pensei em ligar para Cyrinda, para alertá-la da necessidade em fazer a cirurgia o mais rápido o possível. Mas como eu diria a ela que Pam morreu, sem deixá-la assustada? Então resolvi ligar para Carl e Bibi.
            Quando Carl atendeu o telefone, deve ter estranhado o meu desespero, visto que há uma semana atrás nós dois havíamos nos encontrado para comprar e fazer nossas prateleiras para carrinhos em miniatura. E estávamos muito felizes na ocasião. Contei para Carl que eu estava entrando em depressão e que precisaríamos, com urgência, falar para Cyrinda tentar agilizar a cirurgia da vesícula. Carl pediu para que eu me acalmasse, pois ele mesmo conversaria com Cyrinda assim que tivesse oportunidade.
        Na segunda, resolvi marcar uma consulta com uma otorrinolaringologista e foi constatado pela médica que eu estava com uma rinite muito acentuada. No mesmo dia, comprei os remédios e comecei o tratamento, de modo que os sintomas começaram a melhorar com os dias. Somente a depressão não estava melhorando. Eu estava lembrando muito do passado, do passado feliz, e lamentando o fato dele não voltar nunca mais.
            No final das férias, eu já estava completamente curado da rinite e a depressão já havia diminuído bastante a sua intensidade, apesar de ainda sofrer com a morte de Pam. Me lembrei de um cartão que ela me deu de aniversário, onde ela escreveu uma mensagem que nunca entendi direito. Resolvi consultar o cartão, depois de muito tempo, e finalmente entendi o que Pam quis dizer. Estava escrito assim: “Esteja onde eu estiver, eu sempre vou te adorar”.
            Depois de algum tempo, Cyrinda conseguiu fazer a cirurgia e tudo correu bem, para a felicidade de todos. E, em uma noite especial, mais ou menos na mesma época, sonhei com Lang e Pam, sonho onde pude conversar com os dois e dizer o quanto gostava deles. Ao acordar e constatar que tudo não passou de um sonho, fiquei triste. Muito triste. Triste ao sonhar com os anjos.

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