segunda-feira, 9 de maio de 2011

Capítulo 11 - O Capítulo dos Mortos

Trilha Sonora sugerida para o presente capítulo (Cap. 11 – O Capítulo dos Mortos):

Sludgefeast  (Dinosaur Jr.) 

http://www.youtube.com/watch?v=yi1LrNtVltg

CAPÍTULO 11 – O CAPÍTULO DOS MORTOS

Escrito entre: 18 de novembro de 2010
Período: 11 de novembro a 16 de novembro de 2010


          Domingo à noite, mais uma reunião agradável no apartamento de Carl e Bibi. Levei meu notebook e aproveitamos para jogar alguns jogos. Estávamos até pensando em comprar um velho (e bom) Nintendo 64, para podermos jogar durante as nossas reuniões. Na hora de ir embora, eu e Cyrinda nos despedimos dos amigos (Carl, Bibi, Eugene e Diane) e partimos rumo ao bairro Mary Dota (Cyrinda ficaria na casa de sua prima).
        Não contei para Cyrinda, mas eu estava prevendo que toda a minha “frieza benigna” finalmente iria virar pó durante aquele trajeto até o Mary Dota: o bairro onde meu finado amigo Bret morava. E a lembrança daquela festa de quinze anos (de uma das irmãs do meu amigo Little Lang), realizada em 1995, voltaria com tudo na minha mente e, quem sabe, talvez pudesse até me arrancar algumas lágrimas. Vou relatar alguns detalhes do final da festividade, para a melhor compreensão do leitor.
No ano de 1995, ao terminar a referida festa, eu dei uma carona para Bret e para o meu primo Andrew Gar (que pude rever no casamento de Ann Polly e Marty, recentemente). Não sei explicar como uma coisa tão corriqueira (uma simples carona) acabou me marcando tanto (e isso muito anos antes de Bret morrer). Será que era alguma previsão de que Bret não ficaria com a gente por muito tempo?
Mas não foi só isso: alguns anos antes da festa mencionada, em uma noite sombria do final da década de 80 (mais ou menos uns 13 anos antes de Bret partir), estávamos brincando na rua (juntamente com nossa turma de amigos) e, ao olhar para o rosto de Bret, uma estranha melancolia tomou conta de mim. E acabei perguntando algo do tipo: “Bret, porque a noite é tão triste? Por que as coisas são tão tristes à noite?”. Bret disse, um pouco surpreso com aquela estranha pergunta, que a noite não era triste para ele e não sabia o porquê da noite ser triste para mim. Na verdade, eu também não sabia: só fui descobrir, anos depois, o motivo da noite (às vezes) ser triste, quando ele finalmente partiu para a eternidade.
            Bom, retornando ao ano de 2010: durante o trajeto rumo ao Mary Dota, nenhum tipo de desconforto me atingiu, já que eu e Cyrinda viemos conversando e, consequentemente, nos distraindo com a nossa conversa. Apenas a lembrança da reportagem que vi pela manhã (daquela garota que foi assassinada na cidade de Bauru, em 1970) estava me incomodando um pouco. Cheguei a comentar com Cyrinda que temia sonhar com a pobre garota, durante o meu sono daquela noite. Por fim, depois que me despedi de Cyrinda e tomei o caminho de volta para casa, tive a consciência de que o meu “grau de frieza” estaria sendo testado a partir daquele momento (já que, agora, eu estaria solitário, percorrendo as mesmas ruas por onde eu, Bret e Andrew Gar nos aventuramos, em 1995). Todas as referidas lembranças a respeito do meu amigo (e citadas até aqui) vieram a tona, mas a minha “frieza benigna” permaneceu inalterada! Fiquei impressionado comigo mesmo: nenhum lamento, nenhuma lágrima; apenas um sentimento de respeito para com Bret, nada mais que isso! E, na hora de dormir, não sonhei com a pobre garotinha assassinada!


        Bret não foi o único dos poucos amigos meus que faleceram. Na noite de Segunda para Terça, tive um sonho com a participação de Barral que, talvez, tenha sido o meu segundo amigo que partiu para a eternidade. Foi um sonho totalmente desconexo: Barral estava fazendo uma prova e o tempo previsto para a mesma estava terminando; assim, eu pedi para o responsável deixá-lo terminar a referida prova, ainda que o prazo da mesma estivesse esgotado. Uma possível interpretação do sonho poderia ser o fato de Barral ter partido tão cedo, sem a chance de poder completar as provas que esta vida havia lhe preparado. Acredito que Barral era apenas um ano mais novo que eu, vindo a falecer quando já estava atingindo a casa dos 30 anos.
            Estudei na classe de Barral, praticamente, quase todo o período em que estive no San Joe (9 anos). Quando conheci o mesmo, ainda no primário, ele era uma criança que apresentava uma tendência muito forte em apresentar “explosões” de raiva, podendo até mesmo se tornar violento. Por isso, nessa época, eu não gostava muito dele, não éramos lá muito amigos. No entanto, apesar do seu gênio difícil, Barral era um dos nossos, já que não se misturava aos garotos “casca-grossa” do Colégio, que praticavam até mesmo Bullying. Ou seja, Barral pertencia à turma dos “mocinhos” (eu, Skat, Casey, Ronnie, etc), mais ou menos como o polêmico Wolverine integrando a equipe dos X-men.
       Na quarta série, finalmente, eu e Barral começamos a nos entender e, assim, nos tornamos amigos. E passei a ter uma grande admiração por ele, visto que, apesar de não concordar muito com a sua personalidade agressiva, ainda assim o considerava um exemplo de resistência à autoridade (muitas vezes injusta) imposta no Colégio. Barral era um verdadeiro inconformista diante de tudo o que ele não concordava: por exemplo, a arrogância das meninas (com exceção de Maggie e de uma pequena minoria), citada anteriormente. A partir do ponto de vista que eu apresento na atualidade, considero muitas dessas atitudes de Barral excessivas e sem sentido (já que poderiam ser resolvidas de maneira mais amigável); no entanto, como na época eu era mais novo (e, consequentemente, um pouco mais rebelde), não questionava muito as atitudes polêmicas de Barral, considerando-as, simplesmente, uma questão de justiça (assim como tudo em “Jimball Bilangs”). A última vez que vi Barral foi em 1990, no nosso último ano no San Joe. Depois disso, tive notícias dele por volta da década de 90, quando eu conversava com o seu irmão pelo MIRC, aquele famoso programas de bate-papo via Internet. Segundo ele, Barral, agora, morava em uma chácara, juntamente com a esposa e já tinha um filho.
            Em meados de 2007, meu amigo Ricky posta um comentário na comunidade “Turma de 90”, a qual criei no Orkut, informando que Barral havia falecido. Parece que Barral tinha alguma espécie de problema renal, alguma coisa desse tipo. Fiquei chocado, pois ele era um dos amigos que eu mais desejava rever, algum dia. Inclusive, achei uma pena ele não ter comparecido ao encontro que realizamos em 2006 (não tínhamos informações suficientes para entrar em contato com ele). Então, bastante comovido, postei um poema (escrito por Dezones) na comunidade “Turma de 90”, em homenagem a Barral, além de outros “scraps”.
         Passou algum tempo e, finalmente, pude visitar o meu grande amigo Laurence em seu apartamento (ele também havia se ausentado no encontro de 2006). E foi uma grande satisfação para mim, pois ele ainda era o Laurence dos velhos tempos: a sua aparência, além do seu bom humor, estavam praticamente inalterados. Conversamos sobre vários assuntos: pessoas do passado, os nossos velhos computadores MSX, etc. Num dado momento, Laurence disse que precisava me entregar algo: surpreendentemente, era um livro de jogos de MSX que eu tinha emprestado pra ele, ainda na década de 90. Nunca pensei que iria rever, novamente, aquele livro (um dos meus preferidos), mas Laurence teve todo o cuidado de guardá-lo para mim.
       Então, toda a descontração e o bom humor de Laurence sucumbiram no dado momento em que comentei sobre a morte de Barral. Era do meu conhecimento que os dois nunca se deram muito bem, mas não imaginava que Laurence havia guardado tanto mágoa. E, diga-se de passagem, um tipo de mágoa totalmente justificável, conforme as coisas horríveis que Laurence me contou logo em seguida: o quanto Barral o havia prejudicado no passado e o fato de Barral ter arruinado a vida de milhares de pessoas (incluindo alguns membros de sua família e várias mulheres que ele adulterou). Ou seja, Laurence não tinha nenhum motivo para lamentar a morte do indivíduo.
         Mas, e quanto a mim? Bom, eu acabei ficando totalmente confuso, já que eu desconhecia essas atitudes ilícitas de Barral, ocorridas na década de 90: conforme comentei, foi justamente a época em que eu não tinha muito conhecimento do seu exato paradeiro (referente a isso, Laurence chegou até a comentar: “Sorte sua!”). No entanto, o que mais me incomodou, de início, foi o fato de ter postado vários comentários na comunidade do Orkut, lamentando a morte de Barral (além da poesia de Dezones). Ou seja, eu praticamente estava lamentando a morte de um psicopata! Assim, num primeiro momento, pensei em apagar todas essas postagens feitas no Orkut, pois aquilo não poderia pegar bem para mim. Mas, depois, pensando melhor, resolvi manter todas as minhas opiniões na comunidade, já que eu estava me referindo ao meu amigo Barral da década de 80, e não ao “delinquente juvenil” que eu sequer conheci, na década de 90. E, acrescentando algo ao que Laurence disse, realmente isso foi muita sorte minha, visto que a imagem que ficou de Barral, na minha concepção, foi a daquele amigo que, pela sua personalidade agressiva, poderia ter feito parte da turma dos garotos “casca-grossa”, mas que, ainda assim, optou por fazer parte da turma dos garotos de boa índole.
            Portanto, levando em consideração o sonho que tive, Barral acabou partindo muito cedo desse Planeta, não tendo uma segunda chance de mostrar para todos o quanto ele era uma pessoa especial, ou seja, não teve a oportunidade de voltar a ser aquele cara legal que conheci na década de 80, no San Joe.

2 comentários:

  1. Acontece, Alê. Alguns personagens precisam "morrer" para que a história possa continuar...

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  2. É verdade, Bruno... A morte faz parte da vida... E um dia a gente vai partir também... No entanto, por mais que a vida seja difícil, eu confesso que sou feliz... Grande abraço, amigo!

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