Livro:
"A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem
censura"
Capítulo 17 – Gases
Estranhos
Eu adorava estar na faculdade, e
fazia o possível (e o impossível) para não faltar às aulas (se vocês repararem
no meu histórico, constatarão que tive poucas faltas durante o curso). Mas
havia algumas exceções (principalmente aquelas aulas teóricas em que o
professor ficava falando sempre a mesma coisa). Nessas ocasiões, eu, Marky e
John aproveitávamos para fazer uma “expedição” pela Unesp, nos aventurando por
lugares onde nunca tínhamos passado anteriormente. Na referida época, inclusive,
nós três havíamos montado um grupo de trabalho, que duraria até o final do
curso.
“Qual o melhor lugar da Unesp pra
gente visitar primeiro?”, pergunta que tinha a resposta mais óbvia do mundo:
“Ora essa, os laboratórios de Biologia!”. Sempre tive um fascínio por
laboratórios de Biologia (e também de Química), com todos os seus aparatos,
cadáveres para dissecar (e olha que eu não aguento ver sangue), espécimes de
todo o tipo (do reino vegetal e animal) para serem analisados... Sinceramente,
fiz Design (ou Desenho Industrial) mais pelo “lado artístico da coisa”
(disciplinas como Desenho de Observação, História da Arte, Fotografia e
Modelagem). Mas, sinceramente, a minha grande paixão (além das Artes) é a
Química e a Biologia, e isso desde os tempos de criança (imagino a cara de
espanto dos meus amigos leitores, ao lerem essa minha declaração). Sei lá, é um
lance meio “Leonardo da Vinci” (antes que alguém me “xingue”, não estou, de
maneira alguma, querendo me igualar ao grande mestre): apesar de não ter a
genialidade do famoso pintor, sempre tive aquela mesma “mania” do mesmo, a de
conviver harmoniosamente no campo das artes e das ciências, procurando sempre
encontrar as “entranhas” interessantes de tudo o que “existe no mundo” (e que
esteja ao meu alcance). Mas não sou apenas eu: conheço várias pessoas (e não
são poucas) que pensam dessa mesma maneira, o que torna essa “maneira de pensar
e agir” até mesmo corriqueira (apesar de toda a felicidade que a mesma proporciona
às nossas vidas).
Bom, voltando à narrativa sobre as
“expedições” na Unesp: chegando ao laboratório de Biologia, olhamos pela janela
(é claro que não teríamos a “cara de pau” de entrar) e vimos uma gaiola cheia
de ratinhos. “Uau, que bacana!”. Depois, em outro laboratório, colocamos a “cara”
na janela e (segundo diz Marky, eu não consegui identificar nada) havia alguns
cadáveres em cima de uma mesa, mergulhados na escuridão da sala vazia.
“Grande porcaria, o que tem de
interessante em visitar um mero laboratório?”, o leitor deve estar perguntando.
Calma! Vou explicar toda a curiosidade da história agora... Passaram-se alguns
dias, e eu (junto com Marky e John) contamos... Bem, na verdade, nos
vangloriamos de nossa “aventura”, contando a todos a nossa “peripécia
ultra-super-descolada de visitantes de laboratórios durante as aulas
repetitivas”. Dilis ficou curiosa e, naquele seu sotaque agradável e
inconfundível, disse: “Aaahh, eu também quero ver o ratîînho!”. Então, um pouco
antes da aula de Física, resolvemos visitar o laboratório mais uma vez (com
Dilis e mais alguns amigos). Ao colocar a “cara” na janela, senti um negócio
estranho vindo no meu rosto, que me fez recuar. Fiquei cego por alguns
instantes, com os olhos ardendo, uma sensação realmente estranha. Quando me
recuperei, vi que os meus outros amigos também estavam com a mão no rosto (pois
haviam sofrido as conseqüências do mesmo “fenômeno” que vinha da janela). Sem
entendermos nada, já recuperados, a única coisa que era possível concluir a
respeito do fato era “uma armadilha armada pelos Biólogos na intenção de punir
as pessoas que bisbilhotavam seu laboratório” ou “mais uma conspiração contra o
curso de Design” (antes éramos “perseguidos” pelo curso de Engenharia, agora
pelo curso de Biologia também).
Para terminar o capítulo, quero
dizer que... “Peraí, vai finalizar o capítulo sem esclarecer o que aconteceu no
laboratório? Vai tomar no ...”. Caaalma, leitor! Como todo capítulo (segundo a opinião
da maioria dos leitores) possuí sempre uma “gracinha” de minha parte, no
presente capítulo não poderia faltar também. Dias mais tarde, outro amigo (o
Ned) esclareceu todo mistério: sua namorada (que estava no curso de Biologia,
se não me engano) disse que os laboratórios haviam sido interditados, por causa
de um tremendo vazamento de gás.
Ah, agora não estou querendo fazer
“graça”: eu realmente estava para terminar o capítulo, mas lembrei de uma
situação muito engraçada (que aconteceu algum tempo depois). Eu disse que
apenas olhamos pela janela do laboratório, pois não teríamos a “cara de pau” de
entrar. Será que não? Acredito que, pelo menos, um de nós teria a “cara de
pau”, com certeza. Mudemos apenas a época e o lugar. Peço que vocês imaginem a
cena: o pessoal do curso de Rádio e Tv filmando em seu estúdio, toda aquela
tensão de sempre (“scripts” decorados, câmeras “milimetricamente” posicionadas)
e, eis que alguém abre a porta, de repente (ignorando o aviso “Não entre,
estamos filmando”). Em seguida, o “estúdio inteiro quase vem abaixo”, com “todo
mundo” perdendo a concentração (atores e equipe) e o diretor gritando “Corta,
peloamordedeus, corta!”. Olham para a porta, e adivinhem quem está lá: “Gente,
por favor, eu preciso falar com a Anita!”, Marky diz, com aquela cara de “estou
atrapalhando alguma coisa?”. Concluindo: Marky só não entrou no Laboratório de
Biologia porque a porta estava fechada, caso contrário...
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