segunda-feira, 4 de julho de 2011

Capítulo 02 – 15 Miligramas - Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Livro: "A Era do ‘Make in Touch' – Os anos Unesp sem censura"

Agradecimentos especiais aos amigos Antônio Neto e Henrique Ferraresso pela pequena (mas importante) ajuda referente à produção do presente capítulo. Muito Obrigado!

 Capítulo 02 – Quinze Miligramas

 
            Buspirona: qual a dosagem máxima permitida por dia? Consultei a bula do medicamento e verifiquei que eram 15 miligramas. Perfeito: 15 miligramas para eliminar o estado de ansiedade e enfrentar os trotes do primeiro dia de aula numa boa. Naquela época, eu utilizava, no meu tratamento para ansiedade, 5 miligramas por dia, quantidade suficiente para me acalmar os ânimos. Com 15 miligramas, certamente me tornaria uma rocha inabalável. Assim, logo que terminou o meu expediente na empresa de autopeças, tomei as minhas 15 miligramas de Buspirona, calculando de antemão o tempo que a droga faria efeito, ou seja, eu teria tempo suficiente para dirigir meu carro até a Unesp antes de ficar “grogue”. E também poderia voltar para casa tranquilamente após os trotes, já que o efeito da droga, àquela altura, já estaria totalmente amenizado. Sim, eu lia todas as bulas dos remédios que eu tomava e tinha consciência total dos seus efeitos (meninão responsável, hein?).
            Por fim, chegando à Unesp, estacionei meu carro nas vagas localizadas próximas às salas “cinquentas” Foi uma coincidência, pois eu não sabia que as salas “de papelão” eram pertencentes ao Curso de Desenho Industrial. Tirei minha roupa de trabalho e me vesti com uma roupa bem vagabunda (no dia da matrícula, inclusive, eu tinha perdido a minha camisa preferida dos Ramones no maldito banho de tinta; assim, mudei as vestimentas para evitar algo semelhante). Só me esqueci de colocar algum tipo de tênis velho no pé (estava trajando um All Star novinho). Que saco! Sempre esqueço de alguma coisa!
            Depois de trocar as roupas, ao descer do carro, avistei August saindo detrás das salas “de papelão” (onde eu e os outros “bixos” iríamos, com certeza, passar por um “papelão”). Ele foi simpático como sempre, apenas um pouco mais “durão” (afinal, ele era meu “veterano”). Nos dirigimos para o pátio das “cinquentas” e eu entrei em uma fila de “bixos”, enquanto August foi dar os últimos retoques em minha fantasia (além de ir preparar uma plaquinha com o nome do meu personagem). Tentei cumprimentar o “bixo” que estava logo na minha frente (que seria um dos meus grandes amigos), mas ele apenas me olhou com desdém, como se quisesse me dizer “Tá pensando que é gente, seu imbecil?”. Já que a Buspirona, àquela altura, já estava começando a fazer o seu efeito, acabei não me sentindo (muito) mal com a atitude de meu futuro amigo.
            Uma “veteranete” passou recolhendo, de cada “bixo”, um “pé” de cada tênis (um dos “pés” de meu All Star foi embora) e, logo em seguida, outra “veteranete”, a Diana Pier, colocou em meu pescoço uma plaquinha com a indicação “Bixo Smurf”. Eu devia estar um pouco perdido em relação ao evento, visto que nem procurei protestar, tipo “Ei, eu já tenho dono, eu sou o ‘bixo’ de August, ele me ligou ontem, nós já combinamos, etc...”. Por falar em August, não entendia o porquê da sua demora com a minha fantasia.
            Todavia, eis que surge, do nada, o “veterano” Nathan, com um semblante de mau. Nathan olhou pra mim e disse que eu seria o seu “bixo”. Pensei: “Ah, com certeza ele fez a fantasia de Smurf em parceria com aquela moça bonita que, agora há pouco, colocou a plaquinha no meu pescoço; mas, aos diabos, onde se meteu August?”. Nathan, então, pediu que eu o acompanhasse até o banheiro. Ele parecia tão mal-humorado que eu imaginei que ele não tinha ido com a minha cara. Até pensei em dizer: “Ei cara, veja bem, eu sei que eu pareço um idiota à primeira vista, mas na verdade eu sou bem legal... Sério! O pessoal do cursinho do Objetivo me adorava, não conheci uma pessoa neste mundo (e olha que esse mundo é grande, hein?) que não gostasse de mim depois de me conhecer melhor, e...”. Por fim, acabei não dizendo nada, mas, “sem ressentimentos de minha parte”: 15 miligramas de Buspirona, o efeito já era de uma névoa ao redor de mim, que me protegia de todo o mal (nossa, “mó Xuxa” isso!)”. Então, quando chegamos ao banheiro, ele finalmente viu a minha placa “bixo Smurf”. “Porra, bixo, você já está com placa? Por que não me avisou?”. E eu (15 miligramas), tipo “Nossa cara, não esquenta com isso, vamos passar um corretivo nessa placa, coloca o nome do seu personagem aqui, posso ser seu bixo e... Porra, onde está August?”. Então Nathan me levou de volta à fila dos “Bixos” e foi procurar outro que já não tivesse dono. A fantasia que ele tinha confeccionado era a do “Seu Boneco” e seria Hughes quem a usaria, a partir de então. Bom, se August não voltasse a tempo, pelo menos eu seria “bixo” de Diana Pier, a moça bonita (e, aparentemente, mais “boazinha” que Nathan).
            Todavia, August finalmente apareceu e foi, tipo “Mas que porra de placa é essa no seu pescoço?”. E eu (15 miligramas): “É a placa do ‘bixo’ Smurf, cara!”. “’Bixo’ Smurf é o C..., você vai ser o ‘bixo” Megaman, a partir de agora”. Em seguida, August retirou a placa com a indicação “Bixo Smurf” do meu pescoço e a colocou no pescoço de Richard (que estava ali por perto).
            Quando eu e os outros “bixos” entramos em uma das salas “cinqüentas”, eu já carregava comigo a plaquinha “bixo Megaman”. Por fim, August trouxe a minha respectiva fantasia, que consistia em um capacete azulado e uma espécie de “bazuca de mão”. Trouxe, também, tinta guache da cor azul, que usaria para pintar o meu corpo. Quando comecei a me trajar, finalmente “saquei” (15 miligramas) qual seria o meu personagem: “Ah, agora entendi, aquele carinha azul da Nintendo, daqueles chatíssimos jogos de plataforma, onde se enfrentava uns outros carinhas de armadura, não é mesmo?”. Os fãs que me desculpem, mas eu nunca tive paciência de jogar os “games” do Megaman. No entanto, nada tenho contra o personagem em questão e, inclusive, achei que a fantasia confeccionada por August ficou realmente muito boa. Mas prefiro jogar “Pong” do que jogar “Megaman” (não que eu seja um cara velho).
            Mas, por fim, confesso não estava achando as coisas nem um pouco animadoras naqueles primeiros contatos com os trotes da Unesp. Em minha modesta opinião (como já comentei), eu entendia que a animosidade entre “bixos” e “veteranos”, a partir das minhas lembranças do final da década de 80, não havia mudado praticamente nada. Todos os acontecimentos desagradáveis, referentes ao trote, eram assustadores para mim, que tinha problemas de ansiedade. Mas as coisas estavam prestes a mudar!

Um comentário:

  1. Alê, eu também acho uma baboseira total esse tipo de "integração". enfim, é um rito de passagem, se vc nào for legal pode ficar marcado pro resto da faculdade, mas enfim... rs ainda bem que o seu remedinho te salvou, te deixou mais sossegado! hehe... abração alê!

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