Livro: O livro do
amor para os corações solitários
Capítulo
7 - Um novo amor no colegial
Chegou o terceiro colegial (1993) e,
para variar, as coisas foram bem turbulentas no início. Era uma classe nova, um
misto de alunos de várias classes dos anos anteriores. Meu caráter
introvertido, provavelmente, foi confundido com arrogância por parte de algumas
pessoas, sendo que cheguei até a receber ameaças, por telefone, de alguns novos
colegas de classe. Cara, é muito louco pensar nisso hoje, já que considero
esses colegas, atualmente, pessoas muito queridas e especiais. A juventude,
realmente, é uma fase onde todos nós fazemos coisas impensáveis, coisas que nos
dias de hoje sempre são motivo de arrependimento. Lembremos daquela famosa
frase do David Bowie: “Envelhecer é um processo extraordinário em que você se
torna a pessoa que você sempre deveria ter sido”.
O que penso da minha timidez, que
sempre me acompanhou durante a época do colegial? Bom, posso dizer que não era
um sentimento muito confortável. Eu, volta e meia, questionava: “Cara, essa
timidez está pegando mal para mim”. Enfim, não era algo do qual eu me
orgulhava. Hoje em dia, pelo contrário, apesar de não ser tão tímido como
antes, acho a timidez algo bastante “cool”. É um sentimento de tranquilidade e,
por que não dizer, uma opção pessoal. Se estou quieto e não estou dizendo nada
em determinada situação, é meramente por opção pessoal, não por causa de algum
sentimento desconfortável. Hoje, não me sinto nenhum pouco incomodado com isso.
Inclusive, um dos meus ídolos, o ator James Dean, era um cara muito tímido
algumas vezes, acreditem ou não. Mas no colegial, tenho que ser sincero, ser
tímido era algo que me incomodava muito. Bom, pensando nisso, preciso falar
agora da minha amiga Fab.
Fab se aproximou de minha pessoa lá
pelos tempos do primeiro colegial, mas não posso dizer, com certeza, que foi
por um motivo de simpatia. Tinha uma amiga dela também, que agora não me
recordo o nome, que era tão sarcástica quanto ela. Percebendo que eu era uma
pessoa tímida, Fab ”meio que achou” esse fato um motivo legal para me provocar,
uma diversão que, para ela, deveria ser inofensiva. Mas não foi, era algo muito
constrangedor! Ela dizia que eu era namorado de uma amiga dela, uma coisa que
eu achava totalmente sem sentido. Não estávamos na mesma classe nessa época,
porém, no terceiro colegial, aquele fato iria mudar. Agora, não só estávamos na
mesma classe, como sentávamos próximos um do outro.
Pois bem, no meio de todas essas
circunstâncias, uma nova amiga começou a me chamar a atenção. Além de ser muito
simpática, ela tinha um sorriso lindo, fato que notei logo na primeira vez em que
eu a vi. Ingvill era o seu
nome e, para a minha felicidade, eu percebia que ela tinha uma certa simpatia
por mim, diferente de Fab. Algumas vezes ela, inclusive, se sentava ao meu
lado, na classe. Outras vezes, vinha conversar comigo no ponto de ônibus...
Enfim, na minha concepção, era uma nova amizade que estava nascendo ali. Eu podia
perceber também, para meu deleite, que a minha timidez não era algo que
incomodava Ingvill, pelo menos no início. Uma imagem que eu guardo em minha
mente, até os dias de hoje, foi em uma ocasião em que teve uma espécie de
“palestra” com alguns políticos, referente à votação do tipo de governo que
seria incorporado no Brasil, naquela época (monarquia, parlamentarismo ou
presidencialismo). A “palestra” aconteceu no pátio do Objetivo, ao ar livre. A
imagem, a qual me refiro, foi avistar Ingvill sentada em um dos bancos do pátio.
Ela estava tão linda! O sol fazia com que o seu rosto e os seus cabelos
tivessem um certo brilho, algo realmente angelical e, para a minha felicidade,
aquele anjo me avistou e acenou para mim, com aquele sorriso lindo de sempre.
Ingvill, realmente, sem exagero, poderia ser considerada um anjo, se levarmos
em conta a sua beleza. Mas, e quanto à sua personalidade?
Ingvill não era uma pessoa ruim,
muito pelo contrário: era uma garota que tinha bons sentimentos. Porém, os
referidos sentimentos caminhavam, lado a lado, com uma espécie de insensatez.
Ou seja, ela era uma mistura de sentimento com uma certa insensatez ou, em
outras palavras, de uma maneira mais popular, uma “doidinha com sentimentos”. É
a melhor definição que podemos estabelecer. Não estou querendo dizer, de
maneira alguma, que essa insensatez era uma espécie de loucura (Ingvill nunca
foi louca), era apenas um pouco de falta de juízo, por causa da sua idade. Por
outro lado, a referida insensatez a tornavam uma pessoa muito engraçada. Mas os
professores, apesar de gostarem muito dela, às vezes precisavam tomar algumas
atitudes mais drásticas. Foram inúmeras vezes, por exemplo, em que ela foi
convidada a se retirar da classe, por causa de suas “aprontações”. Uma vez, ela
estava pensando em soltar uma barata “voadora” na classe, para assustar todo
mundo. Ingvill acabou não realizando a referida proeza. Mas, na ocasião em que
entrou um rato na nossa classe, não teve como eu não questionar se foi ela quem
trouxe aquele roedor para amedrontar a todos. É claro que não foi ela, mas ao
me lembrar do lance da barata “voadora”, não teve como eu não pensar nessa
possibilidade, na época. Um fato curioso: minutos antes do rato entrar na
classe, recebi um bilhetinho de amor de alguma garota misteriosa, que dizia
“Fui tirar um raio x, imagine a confusão, o seu nome estava escrito, dentro do
meu coração”. Vocês devem estar achando a referida frase muito brega, mas na
época eu achei algo muito “fofo”. Até que entrou aquele rato na classe e
estragou todo o clima. A garota assinava os bilhetinhos como “5AA3”, “código”
que, até hoje, eu não sei o que significa e que é um dos grandes mistérios da
minha vida. Já fiz até uma música com o nome de “5AA3”. As duas letras “A” do
código eram escritas em forma de triângulo, então eu não sabia se eram
realmente duas letras “A” ou se eram dois símbolos de delta. Enfim, amigos
leitores, se alguém conseguir decifrar o que significa “5AA3”, coloque aqui nos
comentários e esclareçam um dos grandes enigmas de toda a minha vida. Sempre
tive curiosidade em saber o significado.
Bom, mas aquele bilhete que recebi
no dia do rato não havia sido o primeiro. Já fazia algum tempo que eu estava
recebendo vários bilhetes dessa tal de “5AA3”. Meu grande e velho amigo dos
tempos de São José, o Laurence, havia ingressado no Objetivo e estava na minha
classe do terceiro colegial. Inclusive, aquela pendência relativa às ameaças
que recebi por telefone foi resolvida por ele, que conversou com os autores dos
trotes telefônicos e acabou selando uma espécie de “tratado de paz” entre as
duas partes (no caso, eu e os bullies). Informei Laurence sobre os bilhetes,
mas ele não conseguiu, assim como eu, decifrar o que significava “5AA3”. Não
conseguiu descobrir, também, quem era a autora dos bilhetes. Na opinião de
Laurence, no código “5AA3” não se tratava de duas letras “A”, e sim de dois
símbolos de delta, como eu também havia notado.
Uma grande curiosidade: naquela
época (1993), não existia acesso à internet (pelo menos para o “povão”
brasileiro). A internet existia, mas era mais para fins científicos e boa parte
do grande público não tinha nem conhecimento da existência da rede. Mas esse
fato nunca impediu Laurence e eu de manter uma conexão via computador, isso
desde meados de 1989. Sério, não estou brincando! Qual era o procedimento? Nós,
por acaso, éramos “hackers”? Calma, vou explicar! Na verdade, não era
propriamente a internet, e sim uma espécie de “ancestral” da mesma, chamado
Videotexto. A partir dos nossos computadores MSX, conectávamos um modem na
linha telefônica (na verdade, o modem era uma espécie de cartucho conectado no
computador, do qual saía um fio que era conectado, por sua vez, na linha
telefônica). Assim procedendo, tínhamos acesso à essa “primitiva internet”, que
apresentava serviços de bate-papo, horóscopo, estórias de terror, jogos, notícias,
etc. Como Laurence faltava muito às aulas, as nossas conversas eram realizadas,
na maioria das vezes, através do bate-papo do Videotexto. Para os padrões de
hoje, comparado à internet, o Videotexto era algo bem rudimentar. Mas, para a
época, era algo impressionante.
Bom, vamos voltar aos acontecimentos
da nossa classe. Continuei recebendo os misteriosos bilhetes e, por incrível
que pareça, uma garota misteriosa publicou uma mensagem de amor para mim, no
jornal da escola. Não posso dizer, com certeza, que a mensagem foi publicada,
também, pela “5AA3”, pois ela não assinou. Pretendo falar um pouco mais sobre
os referidos bilhetes, que ainda estão comigo, no próximo capítulo. Sim, os
bilhetes estão em meu poder há quase 26 anos! Mas, antes, preciso contar algo
extraordinário, que aconteceu logo depois do período das férias. Percebi que
Ingvill, nesse período, havia estabelecido uma forte amizade com algumas
garotas que eu tinha mais afinidade, ou seja, minhas melhores amigas. As
mesmas, inclusive, sentavam perto de mim, na classe. Certo dia, algo incomum aconteceu,
algo que mudou totalmente os rumos da minha vida e, por que não dizer,
repercute até os dias de hoje: entre as
várias carteiras vagas que haviam na primeira fileira onde eu sentava, Ingvill escolheu a que estava justamente ao meu lado
para se acomodar. As meninas aproveitaram para tirar um “sarrinho”, tipo: “Ah,
fez questão de sentar do lado do Billy, hein?”. Ingvill, então, encosta a carteira dela na minha, olha para
mim com um grande sorriso sedutor e me diz: “Só que hoje, Billy, nós vamos
sentar bem pertinho um do outro, tá bom?”. Nunca soube se aquela atitude foi um
fato premeditado, por parte de Ingvill, ou se foi influenciada pela brincadeira das meninas. Só sei que aquilo
foi surreal! Não preciso nem dizer que, naquelas circunstâncias, me apaixonar
por Ingvill foi algo quase automático. Para variar, foi uma paixão
repleta de problemas, como vou explicar no próximo capítulo.
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