Livro: O livro do
amor para os corações solitários
Capítulo
8 - E o colegial acabou (mas o amor permaneceu)
Bom, vamos começar o
presente capítulo com um trecho do meu primeiro livro, o polêmico “Cicatrizar e
recomeçar”: “Eu me lembro de certa vez em
que eu saí da escola e estava a caminho do ponto de ônibus. Estava com o
coração extremamente partido e uma angústia que não consigo definir. Há alguns
dias atrás, uma garota (que não se identificou) começou a me mandar alguns bilhetinhos
me dizendo que havia gostado de mim. Fiquei, de início, muito surpreso e feliz,
pois fazia tempos em que não me acontecia algo do tipo. Porém, nesse dia em que
eu estava caminhando até o meu ponto de ônibus, comecei a ter ideias
pessimistas a respeito do assunto. Antes do Laurence se mandar, cheguei a
mostrar os bilhetes para ele, que se propôs a tentar descobrir os autores. Mas,
como eu disse, ele foi embora e acabou não descobrindo nada. Um outro amigo
meu, o Caz, sabia quem era mas não quis me dizer e eu, na minha santa
inocência, resolvi não perguntar. Ele somente me disse o sobrenome dela (que
agora não me lembro) e eu, verificando um dos bilhetinhos em que a suposta
garota havia escrito seu telefone, juntei as informações e acabei descobrindo
seu endereço. Não tive coragem de ligar por causa da minha enorme timidez
(sempre ela), mas eu, junto com o Walter e o Sylvain (irmão mais novo do Adam
Ball), chegamos a passar em frente à casa dela, mas não descobrimos nada de
diferente, pois eram mais de meia noite e precisávamos voltar para casa”. Assim
estava o meu estado de espírito, até que Ingvill começou, supostamente, a
tentar me seduzir.
Vamos
falar sobre a ansiedade, mais uma vez, que sempre aparece quando enfrento uma
situação desconhecida para mim. Uma garota linda com Ingvill tentar supostamente
me seduzir era algo totalmente desconhecido, fora da minha realidade (ainda que
pudesse ser apenas uma brincadeira da parte dela). Ela foi muito mais ousada
que Ashley (vide capítulo 4) que, apesar de ser um pouco rebelde, ficou somente
nos telefonemas e olhares mais apaixonados. Ingvill foi mais incisiva com seus
beijos, abraços e “declarações de amor” um pouco mais “picantes”. É claro que
muita gente vai dizer “E qual o problema, bobão? Você não estava apaixonado por
Ingvill?”. Pois é, mas temos que analisar as circunstâncias que me impediam de
agir de alguma maneira: além da ansiedade, eu tinha aquela timidez enorme que
sempre me acompanhava. E, para piorar, Ingvill procurava sempre me “provocar”
em público, ou seja, nunca tivemos um momento só nosso, mais reservado.
Acredito que, se estivéssemos sozinhos, mesmo nessas circunstâncias não muito
favoráveis para minha pessoa, talvez até tivesse “rolado” algum sentimento mais
forte entre nós, mesmo não sendo algo realmente sério (pelo menos da parte de
Ingvill, já que eu a amava mais que tudo). Cheguei a cogitar que Ingvill estava
com o mesmo pensamento de Fab em relação a mim, ou seja, se aproveitar de minha
timidez para se divertir. Mas, analisando melhor a situação, talvez não: apesar
de eu ser vítima da sua insensatez, havia momentos em que os sentimentos de
Ingvill falavam mais alto e ela “meio que maneirava” nas brincadeiras quando
estas atingiam um patamar muito constrangedor para minha pessoa. Como eu disse
no capítulo anterior, Ingvill era uma “mistura” de sentimento com uma certa
insensatez.
Apesar
de todo o constrangimento, confesso que eu comecei a gostar daquele assédio de
Ingvill em relação a mim. Mesmo não tendo coragem de reagir, eu pensava:
“Ingvill, continue tomando a iniciativa”. Eu imaginava que, em certo momento,
aquele assédio se tornaria algo comum e, assim, a ansiedade haveria de se
extinguir, por completo, me deixando mais a vontade para tomar uma atitude. Eu
achava Ingvill realmente linda e sua personalidade, por mais que me
intimidasse, era simplesmente maravilhosa. Vou dizer algo, agora, em primeira
mão: a beleza de Ingvill lembrava muito a beleza de minha mãe (tirando o fato
de que minha mãe tinha olhos verdes e Ingvill não, o que não representava, para
mim, problema nenhum, já que as duas eram lindas de qualquer jeito).
Agora,
existiu algum tipo de conversa séria entre Ingvill e eu, nessa época? Quase
teve, e, primeiramente, foi algo relacionado à minha timidez, que até o momento
não tinha sido nenhum incômodo para Ingvill. Talvez ela tenha se chateado com o
fato de eu não tomar nenhuma iniciativa em relação a ela. Certo dia, ela me
chamou de sua carteira (naquele dia ela não estava sentada ao meu lado). Quando
ouvi a sua voz, achei que ela havia me chamado para ficar me mandando beijos,
como ela sempre fazia. Mas não! Ela estava muito séria e, apontando o dedo
indicador para mim, perguntou: “Eu quero saber o motivo de você ficar tão
incomodado quando você está perto das pessoas. E eu quero uma resposta”. Na
verdade, não era que eu ficava incomodado em estar perto das pessoas, eu
simplesmente me achava mais a vontade quando eu estava longe delas. Porém, no
caso de Ingvill, sua presença me intimidava pelo fato dela ser muito bonita e,
o mais importante, pelo fato de eu estar apaixonado por ela. Assim como foi com
Desiree, minha antiga paixão dos tempos de primário (vide capítulo 3).
Estranhamente, Ingvill não ficou sabendo de minha resposta, pois parece ter se
esquecido do assunto posteriormente.
Quero
tecer algumas considerações sobre os bilhetinhos que eu estava recebendo que,
de certa forma, dizimaram a minha amizade com Ingvill, infelizmente. De início,
achei que ela fosse a misteriosa “5AA3”, porém quando Ingvill me mandava
bilhetinhos de amor, ela sempre assinava o seu nome. Então tive minhas dúvidas.
Verificando as caligrafias existentes nos bilhetes (sim, estou com eles aqui na
minha frente, enquanto escrevo o presente capítulo), podemos perceber que a
caligrafia de Ingvill é um pouco diferente da misteriosa “5AA3” (apesar de
conter algumas leves semelhanças como, por exemplo, a letra “A”, que é escrita
em forma de triângulo ou delta). Será que Ingvill teria duas caligrafias
diferentes? Será que ela era a “5AA3”? Segundo a própria justificativa de
Ingvill, ela não era a “5AA3”. Vamos explicar, chegando, finalmente, à parte
mais triste do presente capítulo.
Era
aula de língua portuguesa, ministrada pelo professor Gi. Ele era muito legal,
mas, em determinadas ocasiões, ele era muito debochado. De repente, a “5AA3” me manda um bilhetinho que, infelizmente, não
veio parar em minha mão. Pior: foi parar na mão do próprio professor Gi, que
leu o mesmo em voz alta, para a classe. Fiquei muito envergonhado, não sabia
onde enfiar minha cara de tanto constrangimento. Enquanto isso, os garotos da
minha classe, que já tinham conhecimento do assédio de Ingvill em relação a
mim, começaram a “zoar” a mesma, dizendo que ela era a autora do bilhetinho de
amor. Eu mesmo achei que fosse ela, porém um fato inédito aconteceu, me
deixando com muitas dúvidas em relação ao caso. Depois do acontecido, Ingvill
veio até a minha carteira, sentou perto de mim e pude perceber que ela estava
muito chateada. Achei que ela estivesse arrependida e fosse até pedir desculpa
por ter mandado o bilhete, porém ela afirmou que não havia sido ela a autora.
Vou colocar aqui as suas palavras, ditas de maneira muito triste: “Olha Billy,
eu sei que você deve estar achando que fui eu quem mandei o bilhete, mas eu
juro que não foi. Esses babacas da classe me acusam de tudo o que acontece por
aqui. Eu até pensei em começar a sentar aqui na frente, do seu lado, e ser
quieta como você é, pra ninguém falar mal de mim”. Ingvill, falando naquele tom
tão abatido, provavelmente estava falando a verdade. Eu disse a ela que para
esquecermos tudo aquilo e seguirmos em frente. Porém, Ingvill não se convenceu
de que eu estava acreditando nela. Então ela revelou: “Eu sei quem foi a autora
do bilhete. Foi a Fab”. Sim, exatamente: Fab era a misteriosa “5AA3”.
O
que aconteceu nos dias seguintes foi o que levou à ruína todo o meu
“relacionamento” com Ingvill. Ela simplesmente se afastou de mim: nunca mais
sentou ao meu lado, nunca mais me mandou beijos, enfim, nunca mais trocou uma
palavra comigo. Provavelmente, Ingvill achou que eu ainda estava chateado com
ela, achou que eu ainda imaginava ser ela a autora do fatídico bilhete. Fab,
sem saber, acabou tirando de mim a garota que eu amava. A partir dali, foram
dias terríveis para mim, de muita solidão e saudade. Mesmo o constrangimento
causado pelo assédio de Ingvill em relação a mim, praticado em público, era
muito melhor do que estar longe dela. Longe dela para sempre...
Felizmente,
naquele difícil momento, algumas boas ideias começaram a surgir em minha mente.
Eu não ligava muito para a minha aparência naquela época e, ainda assim, consegui
chamar a atenção de Ingvill. Então,
resolvi começar a cuidar melhor de meu aspecto físico: primeiramente, voltei a
usar aparelho nos dentes. Depois, ao cortar o cabelo, mantive o topete, porém
comecei a pedir para a cabeleireira passar a máquina nos lados (sugestão da
própria Ingvill). Alguns anos depois, fiz a minha mudança mais radical: uma
plástica no nariz, que alterou completamente o meu rosto. Além do lance da
aparência, não posso deixar de lembrar da influência de Ingvill relacionada ao
meu amor pelas artes. Antes de Ingvill, eu não produzia praticamente nada, do
ponto de vista artístico. A partir da ausência dela, comecei a escrever
poesias, desenhar e, o mais legal, pensar seriamente em montar uma banda de
rock, já que eu estava começando a tocar guitarra naquela época. Foram
procedimentos cruciais para me preparar para o melhor ano da minha vida, que
foi 1994. Um ano repleto de paixões, diga-se de passagem. Ainda assim, o
colegial acabou e a minha paixão por Ingvill permaneceu. Jamais me esqueci
daquele seu sorriso lindo! A minha paixão por Ingvill foi, realmente, um
“divisor de águas” em minha vida...
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