Livro: O livro do
amor para os corações solitários
Capítulo
4 – Um olhar que a gente nunca esquece
Queridos amigos leitores, antes de mais
nada, observem o título do presente capítulo. Não o significado “sentimental”
da frase (a qual iremos explicar no decorrer dos próximos parágrafos), mas sim
as palavras. Gostaria de alertar vocês de um erro muito grave que muitas pessoas
cometem, principalmente ao escrever alguma coisa no facebook, por exemplo.
Estou falando da expressão “a gente”. Percebam a separação: primeiro a vogal
“a”, depois a palavra “gente”. Sim, isso mesmo: quando utilizarmos a referida expressão
para exprimir “nós”, a expressão “a gente” é escrita utilizando a separação
entre o “a” e a palavra “gente”. Ao escrevermos “agente”, no caso o “a” e o
“gente” sem a separação, estamos nos referindo, por exemplo, ao “agente da
polícia”, ao “agente do FBI”, ao “agente da natureza” e por aí vai. Errar é
humano (também cometo muitos erros de português às vezes), por isso, ao invés
de ficar criticando alguém que escreve algo errado, prefiro ensinar educadamente
a maneira correta, sempre que possível.
Bom, por volta de 1989, na sétima série,
resolvi mudar meu penteado. Antigamente, eu utilizava um cabelo estilo Beatles,
com uma franja. Confesso que, apesar de gostar dos Beatles, nunca me
identifiquei muito com esse penteado: eu gostava mais dos penteados do ano 50,
tipo o Elvis Presley. Em outras ocasiões, eu afirmei que eu nunca tive
influência no visual do Elvis, pelo fato de não conhecer a sua obra nessa
época, mas, pensando melhor, eu acho que teve a influência dele sim. Isso pelo
fato de eu assistir, de vez em quando, alguns de seus filmes que passavam na
sessão da tarde. Influência do James Dean não foi, pois eu nunca havia ouvido
falar dele naquele tempo. Então é mais provável que foram os filmes do Elvis
(aqueles em que ele tomava banho de mar e não desmanchava o topete) que
influenciaram meu visual. Agora, imaginem você usar um penteado estilo Beatles
por boa parte da sua vida e, de repente, do nada, você aparecer na escola com
um topete estilo Elvis Presley. O resultado vocês já sabem, não é? “Dá-lhe
Bullying” mais uma vez, algo que não acontecia já fazia muito tempo. Minha vida
se tornou um verdadeiro inferno! Meu cabelo novo gerou uma espécie de reação em
cadeia, onde eu fui insultado (ou “zoado”) até mesmo pelos meus colegas mais
próximos. Lembro que Ros, que era um dos meus melhores amigos, certa vez pegou
uma régua e inseriu dentro do meu novo topete, para medir a altura do mesmo. Em
determinado momento, já não aguentando mais as críticas e provocações, decidi
que o melhor seria voltar a pentear o meu cabelo no estilo dos Beatles. Mas,
calma! Por incrível que pareça, preciso falar agora do meu amigo Robert.
Conhecia Robert há muito tempo e, desde
essa época, tivemos um relacionamento, às vezes, um pouco conturbado. Era uma espécie
de relação de amor e ódio. Muitas vezes, ele criticava muito a minha aparência.
Ele dizia, por exemplo, que eu tinha braços muito finos. Mas preciso ser justo
com Robert, assim como fiz com Jimmy. Robert, no fundo, era um cara muito
legal! Muito legal mesmo, sem exagero! Suas atitudes erradas em relação a mim
(e também às outras pessoas) era só uma maneira dele manter “sua fama de mau” e
ser respeitado pelos amigos. Coisas de garoto! Ou seja, quando ele estava com a
sua turma, ele podia ser extremamente desagradável, mas, conversando a sós com
ele, não era difícil perceber que ele era um cara excelente, bem-humorado e,
por que não dizer, de “bem com a vida”. Isso não é apenas opinião minha, muitos
outros amigos também relataram esse fato relacionado à personalidade de Robert.
Pois bem, eis que, certo dia, conversando com Robert no intervalo de uma aula (e eu naquela paranoia, pensando em desmanchar meu topete e voltar com a franja), ele me faz o seguinte elogio: “Billy, seu cabelo ficou muito bom penteado desta maneira”. Meu Deus! Senti como se o mundo tivesse parado naquele momento! Aquilo foi arrebatador: Robert me elogiou e, o mais impressionante, elogiou o meu cabelo, que era a causa dos meus problemas naquele período. Justo o Robert que, muitas vezes, havia criticado a minha aparência! Sabe, aquele elogio dele foi uma espécie de alívio, por descobrir que, talvez, pelo menos uma vez na vida, ele não estava zangado comigo e tinha encontrado algo em mim que ele achava legal. E ele estava falando sério, de maneira nenhuma estava sendo irônico. Assim, sabe o que eu pensei? Foi meio que “dane-se as críticas e ofensas” e mantive o meu topete, isso até os dias de hoje. Se Robert falou que o meu cabelo estava bom, então não tive mais dúvidas em manter o meu novo visual da maneira que estava. Impressionante, não é? Mas o melhor ainda estava por vir.
Pois bem, eis que, certo dia, conversando com Robert no intervalo de uma aula (e eu naquela paranoia, pensando em desmanchar meu topete e voltar com a franja), ele me faz o seguinte elogio: “Billy, seu cabelo ficou muito bom penteado desta maneira”. Meu Deus! Senti como se o mundo tivesse parado naquele momento! Aquilo foi arrebatador: Robert me elogiou e, o mais impressionante, elogiou o meu cabelo, que era a causa dos meus problemas naquele período. Justo o Robert que, muitas vezes, havia criticado a minha aparência! Sabe, aquele elogio dele foi uma espécie de alívio, por descobrir que, talvez, pelo menos uma vez na vida, ele não estava zangado comigo e tinha encontrado algo em mim que ele achava legal. E ele estava falando sério, de maneira nenhuma estava sendo irônico. Assim, sabe o que eu pensei? Foi meio que “dane-se as críticas e ofensas” e mantive o meu topete, isso até os dias de hoje. Se Robert falou que o meu cabelo estava bom, então não tive mais dúvidas em manter o meu novo visual da maneira que estava. Impressionante, não é? Mas o melhor ainda estava por vir.
Bom, antes de tudo, preciso relatar aqui
um fato que é muito difícil de falar (pelo menos para mim), mas é extremamente
necessário comentar sobre o assunto. Estou me referindo à inveja. Quando uma
pessoa nos ofende, tomando por base o lance da aparência e visual (que relatei
anteriormente), não necessariamente é porque o nosso estilo está errado. Ou
porque estamos feios. Vejam o meu caso: a escola inteira me “zoando” por causa
do meu novo penteado e justamente o Robert, que já havia criticado a minha
aparência, veio me elogiar. E realmente meu novo cabelo não estava ruim e,
justamente por causa disso, aquilo incomodou várias pessoas, gerando uma
espécie de inveja coletiva. Veja bem, também não posso afirmar com certeza que
100% das pessoas que me criticavam estavam com inveja, mas boa parte eu sentia
que estavam sim. Mas, ainda assim, podemos pensar na possibilidade da opinião
de Robert ser um fato isolado e das outras pessoas estarem certas em relação ao
meu novo cabelo. Tive algumas dúvidas a respeito disso, porém, tempos depois,
tive certeza absoluta que a opinião de Robert estava correta, ou seja, meu
visual estava muito bom pois, pela primeira vez na vida, eu chamaria a atenção
de uma menina. Só não imaginei que seria a menina mais linda da escola, que só
foi reparar em mim quando eu mudei o cabelo. Sim, Robert estava certíssimo, eu
havia mudado para melhor. Vamos então comentar sobre Ashley, a garota em
questão, por quem acabei me apaixonando posteriormente.
Ashley, apesar de sua beleza
estonteante, nunca havia me chamado tanto a atenção, visto que estudávamos em classe
separadas. Mesmo assim, eu percebia que ela era uma garota muito avançada,
“dona de si”, de personalidade forte, muito diferente das minhas paixões
anteriores (Naomi e Desiree), que possuíam uma personalidade um pouco mais
tranquila e delicada. Ashley nunca havia
reparado em mim, mas, eis que em um determinado intervalo entre aulas, esse
fato iria mudar. Eu estava sentado em minha carteira e notei que alguém estava
na porta, me encarando. Era Ashley! Ela me olhava de uma maneira tão terna e ao
mesmo tempo tão sedutora, que tive que desviar o olhar, pois fiquei muito
encabulado. Aquilo era surreal! Nunca nenhuma garota havia me olhado de uma
maneira tão apaixonante! Quando ela se foi (a aula estava para recomeçar),
fiquei com aquela imagem de Ashley na mente por um tempo. Qual era a sua
intenção? Será que ela havia gostado de mim? Depois desse impacto inicial, não
pensei mais no assunto e continuei a levar minha vida normalmente.
O sábado chegou, já era noite, e eu
estava jogando algum jogo no meu velho computador MSX, uma das minhas paixões
na época. De repente, o telefone tocou. Achei que era Laurence, um dos meus
melhores amigos, que também tinha um MSX. Quando eu atendi, não acreditei: não
era Laurence, era uma voz feminina que falava do outro lado! E era a voz de
Ashley, inconfundível! A garota mais linda do colégio estava me ligando, aquilo
era algo extraordinário! Mais extraordinário ainda foi o que ela me disse (vou
colocar as palavras na íntegra, pois jamais me esqueci delas): “Oi Billy, aqui
é a Ashley, eu peguei o seu telefone com a Debby. Eu queria saber se a gente
podia se encontrar no colégio, na segunda, para conversar.” E eu, ingênuo do
jeito que era, perguntei: “Mas porque você quer conversar comigo?”. E ela, com
ternura e paciência, me respondeu: “Bem, eu gostei de você e queria te conhecer
melhor. E aí, que hora e em qual lugar eu posso te encontrar?”. Fiquei
extremamente tenso, mas respondi: “Bom, que tal na hora da saída?”. E ela
topou: “Pode ser, segunda a gente se fala então, beijão.” E desligou.
Fiquei com o telefone na mão por um
tempo, totalmente desnorteado. Foi a primeira manifestação de um problema que
tive tempos mais tarde de maneira um pouco mais grave: a ansiedade. A
ansiedade, no meu caso, sempre aparece quando eu enfrento uma situação
desconhecida para mim. No caso, uma linda garota ligando para mim, querendo me
conhecer, era uma situação muito desconhecida. Nunca havia vivenciado uma
situação daquelas. Vamos lembrar que, naquela época, final dos anos 80, os
relacionamentos não eram tão liberais como hoje, em tempos de “lacração”. Ah,
não! Essa horrível palavra novamente! De qualquer modo, naquela época não
existia ainda aquele lance de “ficar”, pelo menos nunca conheci ninguém que
marcou o encontro com uma garota com essa intenção. Enfim, sofrendo os efeitos
da ansiedade, nem consegui dormir direito aquela noite.
No domingo, fui ao parque de diversões
juntamente com meu amigo Roy e sua família. Da vizinhança, provavelmente Roy
era o garoto que fazia mais sucesso entre as mulheres: loiro, de olhos verdes,
personalidade forte... Pensei em conversar com ele a respeito de Ashley e do
encontro (quem sabe ele poderia me dar alguns conselhos), mas no fim acabei
desistindo da ideia. Conversar com Laurence também estava fora de cogitação,
visto que ele era um pouco debochado em relação às mulheres e ficava me
“zoando” por eu amar Desiree, anteriormente. Ashley e Desiree, inclusive,
estudavam na mesma classe de Laurence.
Finalmente, segunda-feira chegou e
passei a manhã inteira ainda em estado de pura ansiedade. Quando as aulas se
encerraram, percebi que não tinha condições nenhuma de conversar com Ashley.
Seria um vexame total, eu não estava nem um pouco preparado para articular as
palavras que eu gostaria de dizer para ela: como ela era linda, como aquele seu
olhar na porta da classe fez toda a diferença na minha vida, como aquelas
palavras ditas no telefone me fizeram tão bem para a alma... E, o principal:
como eu a amaria a partir daquele momento, quem sabe pelo resto de toda a minha
vida. Assim, na hora da saída, com um peso enorme na consciência, nem fui
encontrar com ela e simplesmente fui embora, arrasado pela minha falta de
maturidade, destruído pela minha própria ansiedade.
Achei que Ashley ficaria chateada comigo
pela minha “furada”, mas, nos dias seguintes, percebi que isso não aconteceu.
Não tivemos a oportunidade de conversarmos a sós, mas quando Ashley me avistava
(como aconteceu, por exemplo, quando eu estava em uma aula de educação física)
ela ainda me encarava com aquele olhar terno de sempre. Outras vezes, Debby
vinha me dizer que Ashley queria marcar um encontro comigo e eu sempre dava uma
desculpa para não comparecer, vítima da ansiedade. Tirando o telefonema, a única
vez que Ashley teve a oportunidade de me dirigir a palavra novamente foi,
também, da porta da classe, uma situação parecida com o dia da sua “primeira
encarada”. Ela estava conversando com alguém e, ao me avistar, sentado em minha
carteira, disse: “Menininho, você é lindo, eu adoro você”. E foi embora, me
deixando em estado de êxtase.
Em outros tempos, devo admitir que o
fato da minha incapacidade de ter estabelecido um vínculo mais forte com Ashley
foi uma grande decepção para mim. Foi como se eu tivesse perdido a melhor
oportunidade da minha vida, digamos, no campo dos relacionamentos. Hoje em dia,
ao imaginar toda a situação, consigo ver tudo pelo lado positivo: o interesse
de Ashley por mim foi muito importante para que eu percebesse que eu não era uma
pessoa tão medíocre quanto as pessoas diziam e, porque não dizer, uma pessoa
medíocre como eu mesmo imaginava ser. Inclusive, a lembrança do sentimento de
Ashley por mim seria essencial para passar pelas provações que viriam durante o
período do colegial (que falarei nos próximos capítulos). O que restou disso tudo,
atualmente, foi apenas uma curiosidade insana em saber os bastidores de toda
essa história com Ashley. Qual suas intenções em relação a mim? Namoro ou
amizade? Provavelmente amizade, mas sei que vou morrer e nunca vou descobrir.
Mas aquele olhar dela ficou e vai ficar estampado em minha mente até o fim dos
meus dias. Um olhar que a gente nunca esquece! Se você já recebeu um olhar
desse tipo, você sabe do que eu estou falando: é um privilégio, um verdadeiro
presente de Deus. Obrigado, Ashley! Você foi e ainda é muito especial para mim!
E obrigado também ao meu grande amigo Robert, que influenciou o visual que eu
uso até os dias de hoje.
Oi Alê! Realmente ousada essa nossa amiga! Kkkkk
ResponderExcluirMuitas meninas dessa turma se tornaram mulheres cheias de atitudes e correram atrás dos seus objetivos.
Obrigada por compartilhar suas lembranças conosco. Não tenha pressa de chegar nas memórias do colegial. Tenho certeza que você ainda tem muita coisa para contar sobre os tempos de São José! Um abraço!
Obrigado, Camélia!
ExcluirRealmente, nossa amiga era muito ousada para os padrões daquela época. Kkkkk Hoje em dia, talvez fosse algo normal. Grande abraço!