sábado, 31 de agosto de 2019

Capítulo 3 – Bota ortopédica na canela dos Bullies - Livro: O livro do amor para os corações solitários

Livro: O livro do amor para os corações solitários

Capítulo 3 – Bota ortopédica na canela dos Bullies



Existia uma época em que eu atraía multidões. Não, confesso que estou exagerando um pouco (falar de multidões é falar de gente “pra caramba”). Na verdade, eu atraía uma boa quantidade de pessoas quando eu armava algum “rolê”. Já não posso dizer o mesmo hoje em dia. É, os tempos mudaram! Mas isso é apenas um desabafo, não tem nada a ver com o presente capítulo. Pretendo falar disso mais para frente, talvez. Bom, vamos ao assunto principal então.
A segunda garota por quem me apaixonei foi uma francesinha chamada Desiree. Isso foi depois de mais ou menos dois anos em que eu havia me apaixonado pela primeira, que foi Naomi, a minha amiga oriental. Sim, minhas primeiras paixões foram uma japonesa e uma francesa! Dá para acreditar?
Desiree era muito bonita e delicada, assim como Naomi. Me apaixonei por ela depois de um sonho que tive à noite (sim, da mesma maneira como foi com Naomi). Deixo claro, mais uma vez, que o sonho não teve nada de tão espetacular, ou seja, não teve nenhuma “sacanagem”, como os mais safados devem estar pensando. Nem lembro do referido sonho. Aliás, preciso dizer uma coisa para vocês. Uma coisa pela qual já fui tachado de bobo quando relatei a mesma. É o seguinte: não adianta, por mais que as pessoas evitem falar no assunto, todos tem ou já tiveram alguma fantasia relacionada ao amor (sim, aqui estou falando das mais fantasias mais picantes). Mas, no meu caso, tem um pequeno detalhe: eu não consigo pensar em um tipo de fantasia sexual mais picante com garotas que eu amei verdadeiramente. Podem me xingar, mas estou falando a verdade! Eu só consigo enxergar as garotas que eu amei de uma maneira mais romântica, ou seja, em um tipo de fantasia que seja um pouco mais saudável (ou seja, não consigo pensar em sacanagens mais explícitas com garotas amadas). Sim, pode ser que eu não seja desse mundo, como muitos devem estar pensando agora (até mesmo já pensei nessa possibilidade). Mas, pelo menos, ninguém pode dizer que eu não seja um cara sincero. E, também, o que eu tenho a perder relatando essas coisas? Não dizem que, numa relação, os homens fazem simplesmente sexo e as mulheres, corretamente, fazem amor? Se concordo com o ponto de vista das mulheres, nesse sentido, então estou no caminho certo, com certeza.
Bom, voltando ao meu amor por Desiree, não posso dizer que teve aquela leveza, aquela espontaneidade, aquela inocência e, porque não dizer, aquela felicidade dos tempos de convivência com Naomi. E qual o motivo dessa diferença? Simples resposta: a timidez. Enquanto eu só considerava Desiree mais uma garota bonita da minha classe, tudo estava indo muito bem (até chegamos a fazer um trabalho de classe juntos). Porém, a partir do momento em que me apaixonei por ela, fiquei inseguro até mesmo de me aproximar dela para simplesmente conversar. A beleza estonteante de Desiree me intimidava! Por exemplo, a sua estatura majestosa era algo que me deixava prostrado, sem ação (ela era bem mais alta que eu, diferente de Naomi, que tinha a minha mesma estatura). Vou contar uma coisa: naquela época (1986) tinha uma música do programa do palhaço Bozo que dizia que “quando a gente gosta de alguém, nossa vida fica mais feliz”. Eu ouvia aquela música horrível e pensava: “Como assim a nossa vida fica mais feliz? Quando eu amo alguém, minha vida vira um pesadelo!”. Que “musiquinha” mais mentirosa era aquela? O Bozo estava de brincadeira, não é? Era um tapa na minha cara ouvir aquela canção.
Mas... De onde surgiu aquela timidez nefasta? O que aconteceu com toda aquela desenvoltura existente durante os tempos de amizade com Naomi? Já perdi o sono pensando nisso. Mas acredito que tudo começou no ano anterior (1985), durante os tempos de terceira série. Aquele ano foi realmente terrível, em todos os sentidos. Mas vamos focar no período em que realmente passei na escola, pois, se eu for contar tudo o que aconteceu naquele ano, vou precisar de um livro inteiro para relatar tanta história.
            Eu já conhecia Jimmy desde os tempos do pré-primário, mas não tínhamos muito contato, já que estudávamos em classe separadas. Sinceramente, ele não parecia ser um cara desagradável. A coisa mudou quando, finalmente, em 1985, na terceira série, passamos a estudar na mesma classe. Por um motivo de esquecimento dos meus pais, comecei a frequentar as aulas mais ou menos uma semana mais tarde do seu início. A classe era bastante mista, ou seja, uma mistura de vários alunos de várias classes diferentes (estou me referindo às classes de 1984, ou seja, da segunda série). Achei que aquele seria um ano bastante promissor, pois fui recebido muito bem pelos meus colegas de classe, tipo “Poxa, que legal, achávamos que você havia mudado de escola, mas você ainda continua aqui com a gente”. Infelizmente, algo aconteceu: Jimmy desenvolveu uma antipatia muito grande por mim, por um motivo que até hoje não descobri o porquê. Foi um tipo de antipatia zombeteira, principalmente pelo fato de eu ser o garoto mais baixo da turma. E Jimmy, posso até dizer, sem exagero, conseguiu manipular a maioria dos alunos da nossa classe no sentido de que eles também desenvolveram essa antipatia zombeteira em relação à minha pessoa.
O Bullying que eu sofria (termo que ninguém nem sabia da existência) era num sentido mais psicológico, mas de vez em quando eu recebia algumas agressões físicas também (nada muito grave, mas devo relatar que aconteciam alguns “leques na cabeça” às vezes). Porém, quanto às agressões, uma solução surgiu: a bota ortopédica. Eu nem sei se ainda existem nos dias de hoje, mas as referidas botas eram extremamente resistentes e o solado era de madeira maciça, ideal para chutar a canela dos caras folgados que vinham mexer comigo. Confesso, era uma cena linda ver aqueles brutamontes gemendo e chorando depois de tomarem um belo “bicudo” na perna e, o melhor, saber que eram vítimas da sua própria ignorância. Mas a felicidade acabou quando os pais dos Bullies começaram a reclamar das pernas roxas dos seus filhos mal-educados para a professora. Não concordei quando a professora disse que eu tinha a intenção de machucar as pernas dos meus colegas, na verdade a minha intenção era quebrar a perna deles. É diferente! Calma, é só uma ironia, pessoal! Até minha mãe foi alertada para o fato, por parte da professora e, assim, fiquei proibido de chutar os outros. Simples assim!
Atualmente, muitos reclamam da predominância do “politicamente correto”, daquele lance de não pode dizer ou fazer nada mais ousado sem que os outros deixem de ficar ofendidos. Isso é um fato, mas eu tenho que admitir que, apesar de todo esse “mimimi”, as pessoas de hoje em dia possuem muito mais bom senso do que as da década de 80. Sim, se eu estava machucando os meus colegas com botinadas, é claro que eu deveria ser repreendido por causa disso (sou totalmente contra a violência, a não ser no caso de autodefesa, que justamente era o que eu estava praticando). Porém, todavia, contudo, os meus colegas também deveriam ser proibidos de mexerem comigo. Nada mais justo, não? Se ninguém viesse mexer comigo, eu jamais eu teria motivo para chutar alguém. Por exemplo, um amigo meu chamado Barral era um cara muito nervoso, mas se eu não fosse provocar ele, o mesmo jamais teria motivo para me agredir. Mas não foi isso o que aconteceu: só proibiram os meus chutes, ou seja, não existiu nenhuma proibição no caso do Bullying praticado contra a minha pessoa. Eu gostava muito das professoras daquela época (uma delas até deixou de dar aula por algum motivo misterioso que nunca descobri), mas devo confessar que elas não tinham o mínimo bom senso de ver “os dois lados da moeda” (eu sozinho contra os Bullies). Não preciso nem dizer que o acontecimento foi uma glória para o meu rival Jimmy.
O engraçado era que Jimmy era um cara muito querido e popular pelas outras pessoas, até mesmo um cara legal, de bom coração. Seu suposto ódio era somente para comigo. Realmente, me senti muito sozinho naquela época, pois gostaria de ter uma boa relação com as outras pessoas, assim como Jimmy tinha. Provavelmente, toda a minha timidez e insegurança surgiu daí. Lembro que naquele ano eu precisei fazer uma cirurgia para extrair as amígdalas. Quando a enfermeira me pegou no colo para levar na sala de cirurgia (pensem no meu corpinho pequeno, delicado e frágil), eu confesso que chorei. Não só pelo fato de estar com medo da operação, mas também por lembrar, naquele momento, dos meus colegas de classe (que supostamente não gostavam de mim) e imaginar que, se eu morresse ali, no centro cirúrgico, ninguém nem iria se importar.
 Bom, devo ser justo com Jimmy, pois talvez ele não me odiasse tanto assim, visto que, quando retornei às aulas após o período de repouso médico, ele veio conversar comigo, para perguntar se eu estava bem. Foi uma conversa amistosa e, não sei o porquê, contei a ele que eu havia chorado a caminho da sala de cirurgia (só não falei o motivo). Jimmy disse que eu não precisava me envergonhar por causa disso, pois ele também chorava quando, por exemplo, tinha que tomar injeção. Se bem me lembro, após essa conversa, as atitudes ruins de Jimmy para comigo amenizaram um pouco (não creio que chegaram a se extinguir, mas diminuíram bem). Até que tudo culminou no dia do meu aniversário. Era um festival no auditório do colégio, onde teve um momento onde foram chamadas as crianças aniversariantes e, acreditem, subiram no palco, juntos, eu e Jimmy! Sim, havíamos nascido no mesmo dia, no mesmo ano, no mesmo hospital! Algo marcante, nessa ocasião, foi reparar no semblante sereno de Jimmy, olhando para mim, maravilhado, como se estivesse querendo dizer: “Billy, chegamos ao mundo no mesmo dia, cara! Isso é sensacional”. Assim, não devemos guardar mágoa das pessoas, acho que todos merecem uma segunda chance. Reencontrei Jimmy muitos anos mais tarde, em 1994, época em que fizemos o cursinho pré-vestibular na mesma classe. E ele mostrou, finalmente, a pessoa maravilhosa que ele era: educado, simpático, um verdadeiro “gentleman”. E tinha, agora, um grande respeito por mim, que também era recíproco.
Bom, voltando à 1986, quando conheci Desiree, devo reconhecer mais uma vez que, provavelmente, a timidez e insegurança surgiram no referido ano por causa dos problemas do ano anterior. É a única explicação plausível que posso dar. Mas, sabe de uma coisa? Mesmo sofrendo por causa de Desiree (pelo fato de não conseguir me aproximar dela), 1986, no geral, foi um ano maravilhoso! Me tornei um cara mais introspectivo, é verdade, mas foi um fato que resultou no fim de todo e qualquer Bullying. E, a partir daquela época, consequentemente, comecei a me dar muito bem com meus colegas de classe, que acabaram virando meus melhores amigos. Enfim, como sempre digo, nunca é tarde para mudar, nunca é tarde para evoluir, nunca é tarde para amar verdadeiramente.


Nota: Segundo a internet, o nome Desiree “...significa ‘desejada’, ‘a querida’. Desiree é um nome francês que tem origem a partir do latim”.

4 comentários:

  1. Oi Alê! Sobre a falta de bom senso nos anos 80, eu acho que algumas vezes nós tentamos falar com com os adultos o que acontecia e eles simplesmente não conseguiam entender. Era falta de habilidade mesmo. Outras vezes, nós nos calávamos porque sabíamos que era inútil reclamar. De qualquer forma, talvez isso nos tenha fortalecido. Não sei o que vai ser desta geração das minhas filhas, onde são superprotegidos. Será que serão adultos frágeis ou pessoas quase sem nenhum trauma ?
    Um abraço e continue escrevendo.

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    1. Oi, Camélia, tudo bom? Obrigado por acompanhar o blog.
      Gostei muito da sua opinião, algo muito bem lembrado: como não tínhamos sempre uma superproteção (apesar que minha mãe às vezes exagerava na proteção dela), hoje provavelmente nos tornamos mais fortes por causa disso. Lembro que no nosso tempo de prézinho (olha que loucura), teve uma festa junina e o expediente da escola terminou mais cedo. Eu lembro que eu fiquei sozinho na rua Bandeirantes, mais ou menos uma hora e meia, esperando a perua escolar chegar. Uma criança de 6 anos, sozinha na rua, sem nenhum adulto por perto! Olha que absurdo! Kkkkk Algo desse tipo, hoje em dia, é fora de cogitação. Os tempos eram outros mesmo! Grande abraço!

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  2. Oi Alê! Sobre a falta de bom senso nos anos 80, eu acho que algumas vezes nós tentamos falar com com os adultos o que acontecia e eles simplesmente não conseguiam entender. Era falta de habilidade mesmo. Outras vezes, nós nos calávamos porque sabíamos que era inútil reclamar. De qualquer forma, talvez isso nos tenha fortalecido. Não sei o que vai ser desta geração das minhas filhas, onde são superprotegidos. Será que serão adultos frágeis ou pessoas quase sem nenhum trauma ?
    Um abraço e continue escrevendo.

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    1. Oi, Camélia, tudo bom? Obrigado por acompanhar o blog.
      Gostei muito da sua opinião, algo muito bem lembrado: como não tínhamos sempre uma superproteção (apesar que minha mãe às vezes exagerava na proteção dela), hoje provavelmente nos tornamos mais fortes por causa disso. Lembro que no nosso tempo de prézinho (olha que loucura), teve uma festa junina e o expediente da escola terminou mais cedo. Eu lembro que eu fiquei sozinho na rua Bandeirantes, mais ou menos uma hora e meia, esperando a perua escolar chegar. Uma criança de 6 anos, sozinha na rua, sem nenhum adulto por perto! Olha que absurdo! Kkkkk Algo desse tipo, hoje em dia, é fora de cogitação. Os tempos eram outros mesmo! Grande abraço!

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