Livro: O livro do
amor para os corações solitários
Capítulo
2 – O primeiro amor
Até os seis anos de idade eu não dava a
mínima, mas, a partir dos sete anos, lembro que foi a época em que comecei a
gostar das mulheres.
Sou um pouco inseguro no que diz
respeito às tatuagens (acho bonito nos outros, mas não tenho coragem de fazer
uma em meu próprio corpo). Mas, se eu fosse fazer uma tatuagem, com certeza
seria o desenho de uma mulher. Claro, se você vai se tatuar, obrigatoriamente é
necessário escolher uma ilustração de algo (no caso, alguém) que você ame
muito. E eu amo as mulheres!
Aproveito para contar um caso, para
exemplificar essa adoração: na época da faculdade, tive uma disciplina (não me
lembro ao certo o nome, se era modelagem ou materiais plásticos) em que
deveríamos esculpir todas as peças de um jogo de xadrez. Mas não no formato
tradicional: escolheríamos um universo de personagens que pudessem ter relação
entre si e que, também, pudessem representar cada peça do jogo de xadrez. O
esculpimento (que termo horrível, mas é assim mesmo que se escreve) deveria ser
feito em sabão de pedra (sim, aquele de lavar roupa), em seguida o sabão
esculpido seria utilizado para fazer um molde em silicone e, finalmente, o
molde de silicone seria utilizado para compor as peças em massa plástica. Um
processo bastante trabalhoso, mas o resultado final ficaria muito bom. O meu
grupo de trabalho era composto, além de mim, pelos meus amigos Marky e John. Combinamos
que, se iríamos passar um semestre inteiro esculpindo, deveríamos escolher um
universo de personagens que nós três realmente gostássemos muito (por exemplo,
não gosto dos Simpsons, imagine só que horrível ter que ficar esculpindo o
Homer ou o Bart durante um semestre inteiro). Depois de muita discussão, decidimos
que iríamos esculpir o Batman e os personagens pertencentes ao universo do
mesmo. John ficou encarregado de esculpir o próprio Batman (que, das peças do
xadrez, seria o rei) e o Batmóvel (que seria o cavalo). Marky ficou com o
Alfred (que seria o bispo) e com a Mansão Wayne/Batcaverna (que seria a torre).
Eu fiquei com Batsinal (que seria o peão) e, comprovando aquela minha opinião
de que eu deveria esculpir aquilo que eu realmente gostava, fiz questão de
ficar com a Mulher-gato (a rainha). Não podia ser diferente, não é? Mas o
pessoal da minha classe aproveitou para me “zoar”: “Billy, tudo bem que o
trabalho vai utilizar silicone, mas você não precisava exagerar tanto no
tamanho dos seios da Mulher-gato”. Olha só que mente poluída a dos meus amigos!
Bom, vamos voltar aos meus sete anos de
idade. Era 1983, eu estava na primeira série e já curtia muito os Beatles e o
Creedence, fato que contribuiu para me deixar uma pessoa muito romântica. O meu
primeiro amor foi uma garotinha oriental chamada Naomi. A primeira coisa que me
impressionou nela, além do seu rosto bonitinho, foi o seu cabelo negro e
comprido. A paixão foi uma novidade para mim, pois nunca havia amado nenhuma
garota em toda a minha vida. Antes dela teve Adrian, que eu considerava minha
namorada, mas que não amava como eu amei Naomi posteriormente. Considerava
Adrian minha namorada, pois meus parentes gostavam de brincar comigo a respeito
disso, mas eu não a amava verdadeiramente, apesar de gostar muito dela. Era
apenas uma brincadeirinha da minha família esse lance de namoro (claro, eu era
muito novo para namorar).
Comecei a amar Naomi imediatamente
depois de ter sonhado com ela, uma noite qualquer. Não me lembro ao certo do
sonho, só lembro que era uma coisa bem bobinha. Não, não pensem que foi alguma
sacanagem que eu sonhei, eu sempre fui uma criança muito pura de coração. Para
vocês terem uma ideia, certa vez, minha professora escreveu no meu boletim,
naquele campo sobre o caráter do aluno, a seguinte observação a meu respeito:
“Têm poucos amigos, às vezes prefere ficar isolado, mas é uma criança boa e
carinhosa”. Essa observação foi escrita no ano anterior: agora, em 1983, eu já
não era uma criança que vivia tão isolada. Assim, o fato mais legal dessa minha
paixão por Naomi é que não existia nenhuma timidez de minha parte. Eu
conversava muito com ela, procurava sempre estar junto dela e, o melhor, eu era
correspondido: Naomi também gostava muito de mim. Não posso dizer com certeza que
ela também me amava, mas pelo menos ela sempre me tratou bem e nunca me
ignorou. Nunca! Para minha sorte, na classe, eu sentava perto da carteira de Naomi.
Porém, chegou certo momento em que minha professora teve que nos colocar em
lugares distantes, pelo fato de eu e Naomi conversarmos muito, atrapalhando a
aula. Aquilo acabou comigo, mas não estremeceu nenhum um pouco a nossa amizade.
Cara, outra coisa legal, naquela época,
é que não existiam concorrentes. Ou seja, não havia nenhum desgraçado para dar
em cima de Naomi e estragar a minha relação com ela. Claro, éramos todos
crianças, nem sei se algum de meus colegas também estava apaixonado por alguém
nesse período (provavelmente não). A única coisa que achei muito decepcionante,
nesse sentido, foi na festa junina, onde minha professora não me colocou para
dançar com Naomi: colocou ela para dançar com um dos meus melhores amigos, o
Bit. Mas foi um sofrimento aceitável, visto que foi uma escolha da professora e
não de Naomi.
Quando o ano terminou, a minha grande
preocupação era se Naomi estaria estudando na mesma classe que eu no ano
seguinte (no caso, a segunda série). Quando as férias terminaram e as aulas
recomeçaram, foi grata a minha surpresa em saber que ela continuaria na minha
classe. Mas, aquele amor que eu sentia por ela, tenho que ser sincero, aos
poucos foi se esvaindo, apesar de continuarmos amigos. Ainda assim, digo sem a
menor sombra de dúvida que Naomi, meu primeiro amor, foi uma das melhores
pessoas que eu já conheci nessa vida. Sem querer me gabar, digo que escolhi
muito bem a minha primeira paixão: uma garota meiga, delicada, simpática, bonita...
E, o melhor: foi minha melhor amiga dos tempos de infância, sem sombra de
dúvida. Como sempre digo, é uma sensação muito confortável imaginar que, sendo
o nosso planeta tão grande, o nosso destino foi tão generoso em reunir Naomi e
eu em uma mesma região do Globo: na mesma cidade, na mesma escola, na mesma
classe.
Nota:
Para preservar a identidade dos verdadeiros personagens, como já foi dito,
sempre escolho nomes fictícios. Escolhi o nome Naomi, pois, segundo a internet, ele
“significa ‘meu deleite’, ‘minha doçura’ ou ‘aquela que é bonita e honesta’, ‘a
honestidade bela’. O nome Naomi tem origem no hebraico...”. O nome Naomi
representa muito bem a garota que foi o meu primeiro amor.
A professora que escreveu aquela observação sobre você só pode ser a maravilhosa Tia Eloá. Não estou preservando as identidades kkkkk
ResponderExcluirEu adorava essa professora, muito amável e acolhedora com as crianças.
Camélia, sim, é a tia Eloá mesmo... Saudades dela! Ela tem facebook, mas não usa muito... Adicionei ela, mas ela nem viu ainda... kkkkk Grande abraço!
ExcluirEu adoro suas narrativas, Alê. É sempre muito agradável ler qualquer texto seu e conhecer um pouco mais da sua alma. Não tenho a menor dúvida que você, além de um dos meus melhores amigos, é uma das pessoas mais doces que tive o prazer de conhecer nessa vida.
ResponderExcluirChavelli.
Obrigado Chá. Também gosto muito de você, minha amiga! Grande abraço!
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