Capítulo
15 - Hoje é o dia dos namorados... E o que minha banda tem a ver com isso?
Quando 2004 chegou, a minha banda, a
Máfia de Memphis, já estava com a sua formação definida. Burt entrou na banda e
se tornou nosso guitarrista solo. Como Rog saiu para se tornar nosso agente,
Caleb (irmão de Burt) assumiu o baixo. Então a formação ficou assim: eu na guitarra base, Burt na guitarra solo,
Caleb no baixo, Andrew na bateria e Aaron no vocal. A Máfia de Memphis foi a
primeira banda que montei que finalmente fez um pequeno sucesso local. Não
éramos os melhores músicos do mundo, porém conseguíamos apresentar um show
espetacular, tamanha a nossa energia no palco. Eu, por exemplo, treinei por
horas para conseguir tocar guitarra e pular ao mesmo tempo e, também, tocar
guitarra e dançar ao mesmo tempo. Aaron conseguia, por sua vez, imitar com
muita maestria os trejeitos e danças do Elvis. A energia era a marca registrada
de nossa banda, sem dúvida.
Muitas pessoas que assistiam a
nossos shows vinham me perguntar se eu era o líder da banda. Eu não me via,
sinceramente, como um líder: eu me considerava mais como um organizador. Eu
decorava o repertório, muitas vezes ajudava os integrantes quando alguém
esquecia alguma parte da música e, o mais importante: zelava pela manutenção do
tom correto durante a execução das canções. Não sou muito bom em teoria musical
e também não sou um músico muito virtuoso, mas se houver algo que não está
correto em uma canção, eu consigo identificar imediatamente o problema. Então
fui muito útil nesse sentido, organizando os tons corretos, afinações dos
instrumentos, vocais e outros pontos importantes. E sem ser um ditador, como eu
era em tempos mais remotos. Eu havia melhorado muito como pessoa e como músico
também.
Por falar em não ser mais um ditador
dentro da banda, eu fui o que menos me envolvi em conflitos mais sérios e
discussões. Quando algum problema ocorria, eu procurava resolver tudo através
de um diálogo amigável, sem brigas. Certa vez, Caleb chegou dizendo que tinha
arranjado algo para dar uma boa incrementada no show. Fiquei curioso e
perguntei o que seria. E ele me mostrou duas enormes “pantufas pé de urso”. Não
acreditei naquilo! Então, com bastante tato, expliquei para ele que, para uma
banda cover do Elvis, a utilização de duas “pantufas pé de urso” durante os
shows, não iria combinar com o estilo da banda. Não era um show dos Mamonas
Assassinas, e sim de uma banda de rock dos anos 50. Caleb ficou um pouco
decepcionado, mas entendeu os motivos, desistindo da ideia das pantufas
posteriormente.
Infelizmente, para quebrar toda
aquela minha paz de espírito e, como uma exceção à minha regra de evitar os
conflitos através de um bom diálogo, acabei me desentendendo com todos os
outros integrantes da banda, justamente no último show com aquela formação.
Apesar de toda a minha serenidade, devo admitir que paciência tem limite. E
perdi minha paciência naquela ocasião. Vou explicar melhor.
Foi um show no chamado Anthigus Bar
e, por coincidência, aquele show caiu bem no dia dos namorados. Enquanto
estávamos arrumando todo o som, na parte da tarde, os meus quatro amigos,
integrantes da banda, me chamaram para conversar. Disseram que estavam com uma
nova ideia para o show, durante a música “Can't Help Falling In Love”, a música mais lenta e
romântica do nosso repertório. Como o bar possuía vários bancos próximos ao
palco, me perguntaram o que eu achava de, durante a referida canção, tocarmos
sentados, num clima mais intimista, como em um show acústico. Um número
executado dessa maneira para, inclusive, celebrar o dia dos namorados. Achei a
ideia sensacional! Apesar de toda a nossa energia no palco, “Can't Help
Falling In Love” era um momento onde essa energia era substituída por um clima
mais calmo, mais romântico. Assim, tocarmos sentados, como um acústico, durante
a referida canção, não atrapalharia de maneira alguma a nossa performance mais
“selvagem”, mostrada nas outras músicas. Inclusive, me comprometi em levar meu
violão elétrico, para que Burt o utilizasse durante a canção. Terminamos de
conversar e cada um foi cuidar dos seus afazeres e instrumentos, para o show
daquela noite.
Passou
mais alguns minutos e, de repente, meus quatro amigos voltam e dizem que
precisavam conversar comigo mais uma vez. Haviam mudado de ideia: ao invés de
tocarem sentados apenas em “Can't Help
Falling In Love”, haviam decidido tocar sentados o show inteiro, por causa da por**
do dia dos namorados. Eu não acreditei que estava ouvindo aquilo! Era sério?
Incrédulo, expliquei que o nosso show perderia toda a energia, se procedêssemos
daquela maneira. Então Andrew, nosso baterista, explica que “era essa a
intenção”. P*** que pariu! Os caras, por acaso, estavam de brincadeira com
minha cara? Vejam bem: como eu disse, a marca registrada de nossa banda era a
energia no palco. Como abrir mão de nossa maior qualidade? Ainda mais por causa
de um mero dia dos namorados? E quanto as pessoas, as muitas pessoas que veriam
o nosso show pela primeira vez? Que raio de banda era aquela onde todo mundo
tocava sentado? Aquilo era uma ideia absurda e procurei explicar todo o meu
ponto de vista, mas ninguém quis concordar com os meus argumentos. Nem mesmo
Aaron! Então perdi a boa, e resolvi falar a real: o dia dos namorados não
significava nada para mim! Nada! Era um dia que só me trouxe desgosto, durante
toda a minha vida. E, para completar todo o desgosto, aquela comemoração,
agora, queria estragar todo o show da nossa banda! Como uma espécie de vingança
final! Falei, ainda, que a dia dos namorados foi criado pensando no comércio,
uma maneira de lucrar com a compra de presentes. O desgraçado que inventou essa
data não estava nem aí com você ou sua namorada. Era tudo uma questão de lucro,
apenas. Tocar sentado por causa do dia dos namorados? Quer dizer então que, no
dia da independência, dia 7 de setembro, deveríamos todos tocar de verde e
amarelo? E a discussão seguiu e, como não estava chegando a nenhum resultado
favorável, como parecia não terminar nunca, então resolvi dizer: “Tudo bem, se
vocês quiserem tocar sentados, podem tocar, sem problemas. Eu, porém, vou tocar
em pé, como eu sempre fiz, por amor à nossa banda”. Meus quatro amigos, então,
me viraram as costas, me deixando sozinho. E, com muita raiva, disseram que eu
era muito “estrelinha”. E era “estrelinha” mesmo, coisas que eles também
deveriam ser. Claro, aquilo era um show, meu Deus do céu! Ser “estrelinha”
fazia parte de toda aquela empreitada. Não tinha como ser diferente! Mas as
coisas ainda iriam piorar mais...
Na parte da noite, cheguei ao Anthigus Bar, com minha
guitarra, e um dos funcionários disse que tinha alguém querendo falar conosco.
Eu era o único membro da banda que estava no bar, naquele momento, então fui
conversar com o cidadão. Era um velho, muito mal-humorado, dizendo que era da
Ordem dos Músicos. E queria ver minha carteirinha de músico. Eu disse que não
tinha carteirinha nenhuma. Então o velho, muito arrogante, disse que eu seria
autuado caso eu subisse no palco. Tentei argumentar, mas o velhote foi
irredutível. Perguntou se alguém da minha banda possuía a carteirinha e que,
caso a resposta fosse afirmativa, liberaria nosso show. Eu sabia que ninguém
tinha a carteirinha. Porém, para ganhar tempo, eu disse que, talvez, o nosso
vocalista tivesse. Então o velho afirmou que iria esperar Aaron chegar, para
conferir. Entrei no setor do bar onde ficavam as mesas e já tinha muita gente.
Inclusive minha mãe. Cumprimentei todo mundo e chamei minha mãe de lado,
dizendo que, talvez, o show seria cancelado naquela noite, por causa da Ordem
dos Músicos. Minha mãe, então, foi conversar com o velho, que disse para ela
ter paciência, pois ele estava esperando o restante da banda chegar para ver o
que seria decidido. Resolvi ligar para Rog que, como eu disse, agora era o
nosso agente. Rog disse para que eu ficasse tranquilo pois, se o suposto membro
da Ordem proibisse nosso show naquela noite, ele simplesmente mandaria fechar
as portas do bar, mantendo o público que lá estava, e tudo seria como se fosse
um show particular.
Fui para fora do bar, para refrescar as ideias, quando
Aaron e os outros finalmente chegaram. Expliquei toda a situação e Aaron ficou
muito chateado. Fomos então conversar com o temido velho. Chegando na recepção,
onde o cidadão estava, o mesmo olhou para Aaron, muito surpreso, e disse “então
você é membro da banda, também?” Sim, o velho conhecia Aaron! A partir daí, o
velhote abandonou sua arrogância habitual e começou a explicar, amigavelmente,
a necessidade da lei ser cumprida. E que, em consideração a Aaron, não
impediria a nossa apresentação. Somente disse para providenciarmos a
carteirinha, para evitar problemas futuros. A situação estava resolvida!
Quando o velho foi embora, fui conversar com Aaron sobre toda
aquela situação da Ordem e o mesmo, sorrindo, me disse: “Você não sabe da
maior. Ele nem é da Ordem dos Músicos”. Na verdade, aquele velho era apenas um
grande “dedo-duro”, um verdadeiro “estraga-prazeres”, que em nome da lei
gostava de infernizar a vida dos outros. P*** que pariu! Quer dizer que ele
havia ficado todo aquele tempo no Bar (mais ou menos 1 hora e meia), esperando
a banda chegar, sendo que ele nem era da Ordem? Desperdiçou 1 hora e meia do
seu tempo, no intuito de impedir um bando de garotos de tocar num Bar? Meu
Deus, como existem pessoas sistemáticas nesse mundo! Aquilo era inacreditável!
Por incrível que pareça, aquele foi um dos nossos
melhores shows. Toquei em pé, conforme eu havia decidido. E pulei muito! E
dancei muito! No decorrer da apresentação, os demais integrantes, meus queridos
amigos, quase meus irmãos, decidiram tocar em pé também. As diferenças e mágoas
foram superadas a partir daquele momento. Não questionei o porquê daquela
mudança brusca de opinião. Provavelmente, devem ter entendido meu ponto de
vista. Não é a questão de querer ser o “dono da verdade”: muitas vezes nós temos
a convicção de que estamos com a razão. E eu estava com a razão, a energia era
um fator fundamental em nossas apresentações. Depois do show, eu e Aaron
conversamos e eu pude explicar para ele, com um pouco mais de argumentação,
todas as desvantagens de se tocar sentado. E ele entendeu melhor meu ponto de
vista a partir daquele momento. Era nossa banda, cara! Jamais poderíamos abrir
a mão de nossa qualidade... Jamais! Infelizmente, aquela formação da banda
acabou se dissolvendo. Porém, ainda faríamos um último show, na Cervejaria dos
Monges, com uma nova formação. Ainda não sabíamos que seria o último show.
No referido show,
na Cervejaria, fui acompanhado de uma linda garota. Não era Jenny, que eu
confesso ainda estar amando. O nome dela era Katy e, finalmente, tive a
oportunidade de poder tratar uma garota da maneira que ela merecia: como uma
verdadeira princesa. Isso pelo fato de Katy ter ficado o tempo inteiro comigo,
no camarim, o qual tinha muitas e muitas comodidades: bebidas e aperitivos a
vontade, ambiente lindo e agradável, poltronas de todos os tipos e tamanhos...
Sempre quis proporcionar esse tipo de conforto a uma mulher e, naquela noite,
na cervejaria, tive a oportunidade de realizar esse sonho. Após o show, tudo
terminou, no meu carro, com um longo e romântico beijo ao amanhecer, ao som de
“Anna (Go to him)”, na versão dos Beatles. A minha noite na companhia de Katy,
com certeza, foi melhor do que qualquer dia dos namorados, data que nunca me
deu nada de especial.
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