quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Capítulo 3 – Qual a garota mais bonita? - Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Livro: Triste ao sonhar com os anjos

Capítulo 3 – Qual a garota mais bonita?



            No começo de 1994, finalmente eu já estava com 18 anos e, como era de se esperar, virei criança de novo (fato que é muito normal nessa idade). Meu novo brinquedo: o carro.  Provavelmente, quase todo mundo que atinge a maioridade fica naquela ânsia de poder dirigir pela primeira vez e comigo não foi diferente.
            Nesse contexto, em certa ocasião, eu estava na esquina do Grass Valley com meu livrinho de legislação de trânsito, estudando as placas e as leis. No outro quarteirão, estavam Roy, Paul e mais alguns garotos conversando com as irmãs July e Clau, em frente à casa das mesmas. Se não me engano, acho que Lucy e Sandy estavam também. Enfim, eu folheava meu livrinho quando ouvi Roy me chamar. Eu nunca freqüentava o círculo de amizade deles com aquelas garotas, então fiquei um pouco surpreso por Roy estar me convidando a me juntar ao grupo. Aquilo foi muito estranho, tão estranho como o dia em que vi, pela primeira vez, uma ilustração mostrando o Calvário com as cruzes: Jesus crucificado entre dois ladrões igualmente martirizados. Na verdade, o motivo da estranheza foi o fato de eu sempre ver a imagem de Jesus na cruz, normalmente, pendurada em alguma parede (nas igrejas ou na casa de cristãos). Nunca havia visto uma representação real da cena, com o monte Calvário, as três cruzes fincadas no solo, o céu nebuloso, os soldados repartindo os pertences de Jesus, Maria e os apóstolos arrasados pela dor da perda. Enfim, em minha mente (nessa época, quando vi a imagem pela primeira vez, eu deveria ter uns 6 anos de idade), eu imaginava a cruz sempre pendurada à alguma parede e nunca em uma situação real.
            Quando cheguei à casa de July e Clau, Roy me apresentou a elas, apesar de eu conhecer as mesmas de vista já fazia muito tempo. Por algum motivo, fiquei bastante encabulado com a presença daquelas meninas. Talvez por eu considerar as mesmas muito avançadas, confiantes, “donas de si” e, principalmente, pelo fato delas serem bastante críticas e terem resposta para tudo (algumas vezes, respostas bastante irônicas). Apesar de notar o meu acanhamento, July foi simpática comigo, ao mesmo tempo que, percebendo a minha vergonha, fazia algumas leves piadas sobre o fato. Ainda assim, fiquei contente de poder iniciar uma amizade com aquele pessoal: era uma experiência nova e estranha (assim como a cruz de Jesus fincada ao Calvário, sob o céu nebuloso). Diferente de toda essa experiência, estar com a outra turma (Lang, Adam Ball, Jim, Walter, etc) me deixava muito mais a vontade e confiante, assim como July e Clau eram na outra turma.

*****

            Notícias corriam que uma nova garota havia se mudado para o Grass Valley, em frente a um campo de futebol que construímos com nossas próprias mãos. Quando vi Pam pela primeira vez, notei que era uma garotinha nova (deveria ter uns 12 anos), magra, cabelos negros até os ombros, com os seus óculos sempre ao rosto e suas poesias sempre ao colo, escritas com todo zelo em um caderno. Paul havia se interessado por ela e dois sempre ficavam juntos, como um casal de namorados, apesar de não o serem.
            Passou um tempo e, ainda em 1994, eu e meus amigos tínhamos o costume de ouvir rock no quintal de minha casa. Ficávamos dublando as músicas, imitando nossos “astros do rock”, enquanto meu amigo Ohara filmava toda a “palhaçada”. Denominamos estas ocasiões como sendo “Concertos Death” (“Death” era o nome de nossa banda fictícia). Lang era o “astro”, com suas piadas infames e suas imitações. Nunca havíamos chamado as garotas para participarem dos “concertos” e não me lembro quem teve a ideia de chamá-las para o “Sexto Concerto Death”.  Como era de se esperar, ficamos bastante acanhados com a presença das garotas: as irmãs Lisa e Lane eram amigas de Sandy, e as mesmas (com exceção de Lane) tinham um certa rivalidade (sem sentido) com Pam.
            Se Lang era o garoto “astro” dos “Concertos Death” com o seu comportamento anormal, Pam era com a sua beleza. Nos meses que se passaram desde quando a vi pela primeira vez, Pam passou por uma transformação radical: com os seus 12 anos, Pam agora já estava virando uma mulher, com os seus caracteres sexuais femininos em pleno desenvolvimento. Seus cabelos negros haviam crescido e agora já passavam da altura dos seus ombros. Seu corpo, anteriormente magro, agora era marcado por formas curvelíneas e delicadas. Sem os seus óculos, era possível observar em Pam olhos negros e penetrantes. A garota mais bonita do Grass Valley, naquela época, era Sandy. Porém, com o desenvolvimento mais do que rápido de Pam, ficava dúvidas em escolher qual das duas era a mais bonita. A aparência de Pam lembrava um pouco a beleza de Sammy, nossa amiga desaparecida.

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